AS DIFERENTES FORMAS DE LEITURA NA EDUCAÇÃO INFANTIL
Cristimar Carvalho Duarte
Sirlene Gomes Ferreira Grava
RESUMO
O presente trabalho é uma pesquisa bibliográfica acrescida de experiência pessoal como Auxiliar de desenvolvimento Infantil, e tem como objetivo, mostrar as várias formas de leitura, não só a leitura de histórias infantis (clássicos), mas também atividades e objetos que estimulem a mesma. Considera-se que a criança, ao frequentar uma instituição de Educação Infantil ou a escola, já traz consigo uma experiência de mundo, pois alguns pais, ao colocarem a criança numa dessas instituições, consideram que a mesma não possui qualquer tipo de afinidade com a leitura. Nesse sentido, mostra-se a importância da leitura com as crianças. Sabendo-se que as primeiras experiências na escola são decisivas para a visão que a criança tem de si, é necessário que o ensino da leitura seja feito de forma a estar relacionado com o interesse do aluno. Cabe também, ao professor, aguçar o interesse do aluno pelas atividades, valorizar a leitura de mundo que cada um traz dos fatos, os acontecimentos do cotidiano, enfim, tudo que possa instigá-lo a provar desse habito que é a leitura. Considera-se também, que a família contribui muito para que a leitura seja uma atividade valorizada e efetuada com gosto, pois o incentivo ou o momento da leitura faz com que a criança esteja oportunizando a sua própria aprendizagem.
Palavras-chave: Leitura. Criança. Educador.
A prática da leitura, nem sempre incentivada, é parte importante da formação das crianças como cidadãos pensantes e atuantes. A leitura pode ampliar os horizontes culturais e críticos do ser humano, pois através dela as pessoas podem desenvolver senso crítico e questionar o que há de errado, além de fazer o leitor viajar para dentro do livro durante a sua prática.
Portanto as crianças necessitam de um momento que possibilita as várias formas de leitura para que possam manusear ouvir e assistir à vontade mesmo quando as crianças ainda não sabem ler.
Dentro desta compreensão da importância da leitura na vida do cidadão, por ser a leitura uma das mais importantes exigências da sociedade moderna, este projeto se justifica a partir de algumas preocupações, como auxiliar de Educação Infantil.
Partindo desse pressuposto, a Educação Infantil é considerada a porta de entrada de toda criança no processo de construção da leitura e da escrita, assim como de seu processo contínuo de aperfeiçoamento a partir do uso social. Portanto, qual é o papel, o lugar da leitura na Educação Infantil?
A partir de a experiência de Auxiliar de Educação Infantil, experiência esta que já somam oito anos, e podendo atuar em todas as faixas etárias que a creche disponibiliza (atualmente com crianças na faixa etária entre 3 (três) anos a 3(três) anos e meio), foi realizado um trabalho de pesquisa bibliográfica, para a elaboração deste projeto, possibilitando a compreensão acerca do que é leitura e como esta prática se constitui no sujeito, como se dá a ligação entre a teoria e prática.
Até que ponto é importante o contato com diversas práticas de leitura antes da entrada na escola, e, consequentemente a garantia desse contato no ambiente escolar? Essas indagações se aguçam, pois, a curiosidade se define quanto ao saber se essas crianças já haviam tido contato com algum objeto ou atividades que as estimulassem na construção de práticas de leitura. A vivência em sala de aula leva a identificar crianças que se dispersam facilmente quando se contam histórias; ou mesmo, quando se distribui algum tipo de material para manusear, observa-se que essas crianças quando entram na escola/creche, já trazem consigo o seu conhecimento de mundo. Às vezes, por falta de estímulo elas não assimilam esses conhecimentos.
Portanto, através deste projeto que se tem o objetivo de mostrar que a leitura que esses pequenos fazem é muito prazerosa; cantar, ler e ouvir diariamente, forma leitores competentes, e isto acontecem à medida que a criança vai se envolvendo e se dando conta do prazer que a leitura o pode dar. Dessa forma, o professor precisa estar atento e envolvido com a atividade de classe. Como educadores, dificilmente se consegue ensinar aquilo de que não se gosta, e como gostar de ler é uma questão de hábito ou, de formação do hábito, se o professor ainda não o tem, precisa adquiri-lo.
O projeto será aplicado em uma instituição de ensino infantil sob a coordenação do corpo docente da instituição que se tornaram responsáveis para a organização das atividades a serem desenvolvidas no momento da leitura, as atividades a serem desenvolvidas serão articuladas com as propostas pedagógicas da instituição. As atividades serão avaliadas de forma contínua, através de observação e registro do desenvolvimento da criança.
Lembrando que não é só através de histórias infantis que essas crianças despertam o gosto pela leitura, mas também pelos objetos e atividades que irão estimulá-los, essas atividades podem ser desenvolvidas através de revistas, jornais, cantigas de ninar, brinquedos pedagógicos, brincadeiras de faz-de-conta, rótulos de embalagens, gibis etc., e que a sala de aula pode se tornar um campo fértil para essa formação.
Os conceitos de leitura são diversos e por isso é importante realizar um estudo sobre o tema, tendo como principais referências teóricas, as obras de Maria Helena Martins (1982), Maria das Graças Costa Val (2005), H. Brandão (1997), e outros, tendo Paulo Freire como mediador dessas discussões. Esta discussão se dá inicialmente no conceito de leitura e aborda ainda que a realidade da leitura no Brasil, não é classificada como satisfatória e que, segundo a autora Marta Morais da Costa, a leitura é básica não só para a literatura, mas para qualquer conteúdo da escola, e que o Brasil está longe de ser considerada uma nação de leitores, se complementando no enfoque quanto ao papel da Educação Infantil na construção do hábito da leitura. Portanto, nesse projeto, são descritas atividades que são desenvolvidas com as crianças da educação infantil, de uma escola pública onde o objetivo é oportunizar a elas vivencias de práticas de leitura.
Revisão Bibliográfica
A leitura é um acontecimento muito complexo que proporciona possibilidades variadas de entendimento da relação sujeito-sociedade. Essa não se limita, apenas, à decifração de alguns sinais gráficos. É muito mais do que isso, pois exige do indivíduo uma participação efetiva enquanto sujeito ativo no processo, levando-o a produção de sentido e construção do conhecimento. Ela é um dos instrumentos essenciais para que o indivíduo construa seu conhecimento
Devemos considerar alguns fatores importantes para despertar o ato de ler. Assim a autora Martins, (1994) apresenta em sua obra algumas concepções sobre níveis de leitura, mostrando que há a leitura Sensorial, Emocional e Racional. Na leitura sensorial notamos que é que começa a partir dos sentidos, de acordo com Martins, (1994, p.40) “os momentos iniciais da relação da criança com o mundo ilustram a leitura sensorial”.
Uma vez que é através dos sentidos que as crianças têm um prazer particular que está relacionado à sua curiosidade, pois antes do livro ser um objeto ele tem forma, tamanho e cores diferentes e que pode ser manuseado por cada indivíduo.
A cada página folheado encontram novas descobertas estimulando sua imaginação e novas possibilidades da linguagem. Quando elas começam a ter autonomia no ato de ler, as emoções são revividas a cada texto escrito que é lido. Já a Leitura Emocional, ainda para a autora em foco, envolve o leitor em emoções que provocam descobertas, lembranças que escapa do controle do leitor, que são guardadas em seu inconsciente. Nesse tipo de leitura, as pessoas entram no universo do texto, saindo da sua realidade e penetrando no mundo de ficção e/ou fantasia. Por sua vez, a leitura racional é a que permite ao leitor entrar no mundo reflexivo e dinâmico em que a todo tempo em sua leitura, seu conhecimento de mundo leva-o a interpretação. Cada história de vida representa um nível de leitura racional, pois a cada experiência e circunstância de vida apresentam um processo de amadurecimento do homem e consequentemente sua leitura e reflexão sobre ela.
A realidade da leitura no Brasil tem sido alvo de muitas discussões, principalmente porque para alguns autores e estudiosos as estatísticas apresentadas não correspondem à realidade existente no país.
Marta Morais da Costa[1], em entrevista ao jornal Gazeta do Povo (Jornal do Paraná www.gazetadopovo.com.br), falou à repórter Andréia de Morais, que o levantamento da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, divulgada recentemente pelo Pró-Livro/Ibope, sobre um salto na média de leitura dos brasileiros em relação ao levantamento anterior, feito em 2004, que afirma que o nível de leitura passou de 2,3 livros/ano por habitante para 4, 7, mascara o quadro real do país, que está longe de ser considerada uma nação de leitores.
E que apesar de ser divulgado na mídia que o país está evoluindo no campo da leitura a realidade é bem diferente, pois uma grande parte da população ainda continua não sabendo ler, e saber ler no sentido aqui apresentado é ter uma compreensão do que foi lido, pois existem aqueles que leem, mas não conseguem assimilar a leitura que fez.
Ela também acrescenta que a leitura é básica não só para a literatura, mas para qualquer conteúdo da escola. Segundo ela, a queixa dos professores de Matemática é que os alunos não entendem o problema que leem. A queixa dos professores de História é que eles não têm condições de autonomia de leitura para um texto da área. A queixa é geral em termos de compreensão de texto. Os alunos não entendem a informação se ela não for transmitida oralmente. E isso não é uma questão só de criança ou de adolescente, é de todos. “Eu vejo na universidade as dificuldades que os meus alunos têm de lidar com um texto técnico da área deles. Essas são consequências deste mascaramento da leitura”, diz a autora.
Segundo Costa, o que falta é interesse, principalmente dos professores, pois ela diz que até aos 10 anos, esse trabalho é mais fácil. Depois disso, a situação fica mais complicada e o que é pior, aquele adolescente que lê muito é até marginalizado no grupo.
Ela acrescenta ainda “se nós temos crianças estimuladas por professores e livros ilustrados, que leem muito até a quarta série, a partir daí o interesse pela leitura decaem muito”. Os professores que trabalham a partir da 5ª série se queixam muitíssimo de que não existe esse interesse. Isso ocorre até porque nesse período, os jovens estão sujeitos a requisitos sociais fortíssimos e nenhum deles aponta para a leitura.
Diante de tais fatos, o que se pode dizer é que se faz necessário renovar o interesse tanto de alunos, como de professores, para a leitura, o mais urgente possível, pois na disputa com outros países, na corrida contra o analfabetismo e a falta de leitura, o Brasil tem perdido para muitos deles. Como diz Marta Morais da Costa, “a Coréia do Sul já nos passou e estava numa situação muito pior. A Índia está melhor em termos de leitura e cultura”.
Conceito de Leitura
Segundo o Moderno Dicionário da Língua Portuguesa Michaelis, no site da Uol (Michaelis.uol.com.br no dia 20/03/13) a palavra leitura tem os seguintes significados: ‘sf (lat med lectura) 1 Ação ou efeito de ler. 2 Arte de ler. 3 aquilo que se lê. 4 Tip Ato de ler provas para descobrir e corrigir os erros de composição. 5 Ato de olhar e tomar conhecimento da indicação de um instrumento de medição ou de quaisquer sinais que indiquem medidas ou aos quais se atribui alguma significação: Leitura do termômetro. 6 Dado indicado por um instrumento de medição. L. explicada: lição sobre um texto. L. expressiva: leitura em voz alta com entonações variadas. L. silábica: a de principiantes ou pessoas pouco letradas; opõe-se à leitura corrente. L. silenciosa: a que se faz mentalmente sem pronunciar as palavras’.
Graça Paulino (2001), ao conceituar a palavra leitura se utiliza da etimologia da palavra “ler”, que vem do latim legere, e dentro desse princípio, ler tem três significados: primeiro, ler significa soletrar, agrupar as letras em sílabas; segundo, ler está relacionado ao ato de colher, a leitura passa a ser a busca de sentidos no interior do texto; nessa concepção os sentidos vivem no texto, basta que eles sejam retirados, colhidos como uvas no vinhedo; e, terceiro e último sentido apontado, vincula o ler ao roubar, isto é, o leitor tem a possibilidade de tirar do texto sentidos que estavam ocultos; o leitor cria até significados que, em princípio, não tinha autorização para construir. Nesta última acepção, o sentido nasce das vontades do leitor - o autor escreve o texto, mas quem lhe confere vida é o leitor (2001, p.11).
Já Brandão, ao citar Bakthin (BRANDÃO, 1997, diz que a leitura é um dos grandes, senão o maior elemento da civilização:
O ato de ler é um processo abrangente e complexo de compreensão e intelecção do mundo que envolve uma característica essencial e singular ao homem: a sua capacidade simbólica de interagir com o outro pela manifestação da palavra. Dessa forma ele afirma que ler não é unicamente decodificar os símbolos gráficos, é também interpretar o mundo em que vivemos. É, ao mesmo tempo, uma atividade ampla e livre, embora não seja uma prática neutra, visto que no contato de um leitor com um texto estão \envolvidas questões culturais, políticas, históricas e sociais, presentes nas várias formas de tradição. Deste modo, quando lemos, associamos as informações lidas à grande bagagem de conhecimentos armazenados em nosso cérebro e, naturalmente, somos capazes de interpretar, criar, imaginar e sonhar.
Segundo Leffa (1996), ler é extrair significado do texto, é atribuir significado ao texto e a compreensão é o resultado do ato da leitura, onde o valor da leitura só pode ser medido depois que a leitura terminou, e, a ênfase não está no processo da compreensão, na construção do significado, mas no produto final dessa compreensão.
Pode-se, então, afirmar que leitura é a construção que o sujeito faz do mundo que o cerca e consequentemente sua apropriação desse mundo no processo de construção de sua identidade, pois é isso que a criança faz quando constroem suas primeiras noções de leitura, ela está se apropriando de seu papel na sociedade na qual ela está inserida.
A criança interpreta o mundo a sua volta e sabe que para fazer parte dele ela precisa saber ler, já que esse ato, a leitura, é condição essencial para o ingresso nessa sociedade. Dentro de suas concepções, a criança acha que já possui o domínio dessa capacidade de comunicação, e, qualquer atitude ao contrário pode levar a um crescimento insatisfatório ou a uma falta de interesse por parte dessa criança para com a leitura, por não se sentir capaz de ler e consequentemente de fazer parte de um todo que é a sociedade que ela vive, já que segundo Vigotsky (1978), o desenvolvimento da criança está ligado ao seu relacionamento com as pessoas e acontecimentos que o cercam.
O significado que damos às coisas que estão a nossa volta é o resultado de nossas experiências anteriores com esses objetos; ao fazermos essa leitura de mundo através de nossas vivencias é que nos capacita para entendermos os códigos de conduta de nossa sociedade e a maneira que iremos viver melhor dentro da cultura que estamos inseridos. Independente de sermos letrados ou não, possuímos um conceito de leitura. O significado que se dá às coisas que estão à volta é o resultado das experiências anteriores com esses objetos; ao se fazer essa leitura de mundo através das vivencias é que se capacita para o entendimento dos códigos de conduta da sociedade e a maneira que se vive melhor dentro da cultura que se está inserido. Independentemente de ser letrado ou não, se possui um conceito de leitura.
Essa leitura é sociocultural, pois se baseia nas experiências e vivencias do indivíduo e nos sentidos que ele dá ao se apropriar dessa cultura que lhe é apresentada muito antes dos signos que ele irá encontrar quando for para a escola; porém, existe um choque entre o conhecimento que a criança traz consigo e o que ela aprende na escola. O que se propõem, é que seja quebrada essa barreira e que essa nova realidade seja apresentada à criança da mesma forma que ela adquire sua leitura de mundo, ou seja, com um significado e não como uma regra imposta e que precisa ser aprendida de uma maneira que está totalmente fora de sua realidade.
Segundo a autora Maria Helena Martins, muito antes de a criança chegar à escola ela já adquiriu todo um conceito de leitura próprio “(...) aprender a ler significa também aprender a ler o mundo, dar sentido a ele e a nós próprios, o que, mal ou bem, fazemos mesmo sem ser ensinados. ” (MARTINS, 1982, p. 34).
A leitura e seus significados no contexto escolar
Sabe-se que para aprender a escrever a criança terá de lidar com dois processos de aprendizagem paralelos: o da natureza do sistema de escrita da língua - o que a escrita representa e como – e o das características da língua que se usa para escrever. A aprendizagem da linguagem escrita está intrinsecamente associada ao contato com textos diversos, para que as crianças possam construir sua capacidade de ler, e às práticas de escrita, para que possamos desenvolver a capacidade de escrever autonomamente (PCNs, pg.53, Brasília, 1997).
Na escola, a leitura tem que seguir a norma padrão, tem que ser feita em voz alta, tem de seguir métodos, métodos esses que nem sempre têm significado para a criança. Esta prática é analisada por Maruny (2000, p. 222) quando ele destaca a grande dificuldade encontrada por eles para que pudessem ensinar crianças pelos métodos tradicionais:
O que víamos era que algumas crianças demoravam muito para alcançar o que se chama “maturidade” para a aprendizagem da língua escrita. Entretanto, deveriam repetir até a saciedade exercícios psicomotores nos quais não se via nenhuma palavra. Se nos arriscávamos a iniciar o ensino das letras, continuavam demorando muitíssimo para aprender o [p], o [l], o [m]..., de modo que se podiam passar meses, trimestres e inclusive o ano inteiro com elas.
Via-se nesse relato, segundo o autor citado, que muitas vezes os métodos utilizados pela escola dificilmente podem alcançar os objetivos de se construir um indivíduo leitor, pois muitas vezes, os métodos utilizados não fazem sentido para as crianças.
Ao ler Ana Teberosky e consequentemente conhecer suas teorias juntamente com Emilia Ferreiro, consegue-se entender os processos que a criança se utiliza para se apropriar da leitura e da escrita:
Aí nos ocorreu perguntar se não havia outras formas de propor a leitura e a escrita ás crianças pequenas. E alguém nos falou de Ana Teberosky, que junto com Emilia ferreiro havia publicado, há pouco (1979), os resultados de sua pesquisa...
Elas tinham pensado numas perguntas fantásticas: como as crianças aprendem a ler e a escrever fora do que a escola lhes ensina? Qual é o pensamento infantil – idéias, teorias hipóteses – sobre o que é escrever e ler?
E era isso mesmo. Comprovaram que todas as crianças elaboram teorias próprias – que parecem ser universais – sobre a linguagem escrita. E além do mais, que essas teorias têm pouco a ver com as formas escolares de ensinar a ler e a escrever... (FERREIRO e TEBEROSKY, p.11;1999).
Quando se fala em leitura, o que vem em mente é a decodificação da linguagem escrita. Sabe-se que atualmente o conceito de leitura vai muito além desta visão tradicional: “Aprender a ler significa também aprender a ler o mundo, dar sentido a ele e a nós próprios, o que, mal ou bem, fazemos mesmo sem ser ensinado” (MARTINS, 1982, p. 34).
A partir dessas palavras, pode-se dizer que, mesmo um indivíduo que não tenha o conhecimento do código escrito é capaz de ler.
Ao ir escrevendo este texto, ia “tomando distância” dos diferentes momentos em que o ato de ler se veio dando na minha experiência existencial. Primeiro, a “leitura” do mundo, do pequeno mundo em que nem sempre, ao longo de minha escolarização, foi à leitura da “palavra mundo”.
A retomada da infância distante, buscando a compreensão do meu ato de “ler” o mundo particular em que me movia – e até onde não sou traído pela memória -, me é absolutamente significativa. Neste esforço a que me vou entregando, re-crio, e re-vivo, no texto que escrevo a experiência vivida no momento em que ainda não lia a palavra (FREIRE, 2006, p.12)
Freire mostra nesse texto que a ideia de leitura na criança é anterior ao processo da escolarização e que ela acontece gradativamente na interpretação que a criança faz das coisas que ela vivencia.
Para outros, o conceito de leitura é amplo, começa com a decodificação e vai até a leitura compreensiva; esse processo é complexo e abrange várias operações. Alliende & Condemarin (1987, p. 26) chamam decodificação o reconhecimento de signos escritos e a transformação destes em linguagem oral.
Percebe-se então, que leitura é a capacidade de comunicação com o mundo, e essa capacidade é de relacionar-se em princípio com a aptidão para ler a própria realidade individual e social. A leitura mais cedo ou mais tarde sempre acontece, o que precisa ser feito é despertar o interesse da criança para a leitura.
Maria Helena Martins (1986), no seu livro “O que é leitura” defende que a ideia de leitura não deveria ser restrita às letras, mas sim a todas as nossas interpretações do que acontece ao nosso redor, pois estas condições exteriores ou objetivas influem diretamente nas nossas condições interiores ou subjetivas e esta segunda condição é a que define a forma que interpretaremos tanto o mundo quanto os textos escritos.
Segundo ela, existem muitas concepções de leitura e estas podem restringir-se a duas caracterizações, são elas (p 31):
- Como uma decodificação mecânica de signos linguísticos, por meio de aprendizado estabelecido a partir do condicionamento estímulo-resposta (perspectiva behavorista-skinneriana);
- Como um processo de compreensão abrangente, cuja dinâmica envolve componentes sensoriais, emocionais, intelectuais, fisiológicos, neurológicos, bem como culturais, econômicos e políticos (perspectiva cognitiva sociológica).
Através destas definições, fica claro que essas abordagens de leitura estão dependentes e interligadas, ou seja, uma necessita da outra para que a leitura seja realizada. Há, entretanto, uma reciprocidade de necessidades entre tais categorias. A autora tem muito cuidado em dar uma visão de leitura, pois é muito subjetiva esta questão. Cada indivíduo a vê de maneira diferente, e isto dificulta uma reflexão concreta. (BRITO & VERRI, 2004, p.58, ao comentarem a concepção que Maria Helena Martins faz dessa forma de leitura).
Podem também ser citados Sandroni e Machado (1991, p.12) que falam que “a criança percebe desde muito cedo, que o livro é uma coisa boa, que nos dá prazer”. As crianças bem pequenas interessam-se pelas cores, formas e figuras que os livros possuem; mais tarde, essas figuras serão identificadas e nomeadas.
A partir disso, ela começa a gostar dos livros, percebe que eles fazem parte de um mundo atraente, onde a fantasia apresenta-se por meio de palavras e desenhos. De acordo com Sandroni e Machado (1991, p.16) “o amor pelos livros não é coisa que apareça de repente”. É preciso ajudar a criança a descobrir o que eles podem oferecer.
Objetos que estimulam o hábito da leitura na educação infantil
Para que a leitura faça parte do cotidiano da criança é preciso tornar o ambiente alfabetizador: a sala deve ter livros, cartaz com listas de nomes e textos elaborados pelos alunos e com ajuda do professor, recorte de jornais e revistas de assuntos que chame a atenção dos alunos. A prática da leitura pelo professor em sala de aula é outro facilitador para que a criança possa adquirir o prazer pela leitura.
O envolvimento da família nessa pratica também é um ótimo começo para que a criança possa desenvolver sua aptidão pela leitura, pois muitas vezes, se trabalha a criança e deixa de fora os familiares, não se ouve falar de projetos pedagógicos de leitura que os pais façam parte. Se, se quer verdadeiramente desenvolver cidadãos leitores tem-se que trabalhar em todos os aspectos da vida dele criando hábitos de leitura, não só a leitura formal, mas também a leitura de mundo.
Com o poder de encantar e de criar um clima mágico, os contos de fadas desperta a imaginação. Muitas vezes, após a narração, as crianças costumam dizer: “Conta de novo?” Por que isso acontece? Uma série de pesquisadores se dedicou a compreender a relevância das histórias na infância. Entre eles, cita se Bruno Bettelheim (1980), Glória Radino (2003), Maria Antonieta Antunes Cunha (2003), Marisa B. T. Mendes (2003), Nelly Novaes Coelho (2005).
Para Coelho, essas narrativas se baseiam em “lições de vida” dadas pela sabedoria ancestral dos povos. A pesquisadora argumenta que a natureza humana não muda, apesar das transformações do mundo, promovida pelo homem. Assim, permanecem as “paixões da alma” (amor, ódio, amizade, medo, vontade de poder, ideias, desejos, inveja, ciúme, solidariedade, fraternidade etc.) e as “necessidades básicas” do ser humano (de respirar, de se alimentar e de proteger o corpo). As “paixões” e as “necessidades básicas” são a matéria-prima dos contos de fadas e todos os livros que venceram o tempo e continuam a interessar os leitores e ouvintes (200, p. 13).
Fonte de prazer e ensinamento, a literatura infantil já nasceu com o propósito de educar as crianças. Segundo Costa,
[...] histórias para crianças vão além da simples recreação, pois desenvolvem e enriquecem a linguagem oral, despertam o leitor para o prazer de ler e ouvir histórias desenvolve a imaginação e a fantasia, auxiliam a socialização e muitos outros benéficos (2008, p. 2).
É importante acreditar na capacidade das crianças de imaginar cenas e personagens, pois a contação de história é um momento de interação com a professora e com os colegas, além disso, as crianças podem ser incentivadas a fazer para os seus colegas de classe.
E para formar o gosto pela leitura depende muito de um mediador seja ele pai, mãe ou professor, entusiasmado, confiante, provocador, incentivador e apaixonado pelo que faz. Sabemos que crianças podem gostar de ler por iniciativa própria, mas não são todos que leem independentemente de o adulto incentivar. Torna se necessário criar o gosto primeiro, formado o gosto, o hábito de ler se instalará facilmente como ler bons livros e revistas.
Dificilmente se acha livros com formulas exatas de como se deve trabalhar para ter êxito junto à criança e sua família nesse processo, mas como todo fazer pedagógico se dá no dia-a-dia, nada mais lógico que o professor conheça a realidade de seus alunos e trabalhe a partir dessa realidade, seja ela fácil ou exija grandes esforços dele.
A tarefa de educar necessita esforço, que bem administrado podem gerar ótimos resultados. Mesmo que criança ainda não saiba ler ela pode ser estimulada quando é levada a ter contato com o livro.
Com base em Martins (1982), pode ser conceituada leitura como um processo de compreensão de expressões formais e simbólicas, não importando por meio de que linguagem. Ela é de suma importância para o aprendizado, pois este é adquirido através de métodos e técnicas bem estruturadas que levem o leitor ao conhecimento científico e a possibilidade de reflexão. É também uma das maiores potências do vocabulário e expressão envolvendo e informando o leitor com ideias as quais lhe darão enfoques abrangentes para o crescimento cultural do qual depende o seu progresso na vida. Ela é um dos instrumentos essenciais para que o indivíduo construa seu conhecimento e exerça a cidadania. Com ela, amplia a compleição do mundo, propicia o acesso à informação com autonomia, permite o exercício da fantasia e da imaginação e estimula a reflexão crítica, o debate e a troca de ideias. É através da leitura que a criança vai descobrindo o mundo, usando da imaginação, reflexão e criando significados.
De acordo com Kleiman (1995), a produção através da leitura consiste no processo de interpretação desenvolvida por um sujeito – leitor que depara com um texto, analisa-o, questiona-o com o objetivo de processar seu significado, projetando sobre ele uma visão de mundo para estabelecer uma interação crítica com o texto. A leitura é um processo interativo e para efetuá-la necessitamos da interação de diversos níveis de conhecimento de mundo. Para compreender um texto, o leitor utiliza o conhecimento prévio, que é constituído por todo o conhecimento reunido ao longo de sua vida, pois através desses conhecimentos o leitor pode atingir a total coerência, facilitando, assim a compreensão. Assim se posiciona Freire:
A leitura do mundo precede a leitura da palavra, daí que a posterior leitura desta não possa prescindir da continuidade da leitura daquele. Linguagem e realidade se prendem dinamicamente. A compreensão do texto a ser alcançada por sua leitura crítica implica a percepção das relações entre o texto e o contexto. (FREIRE, 2006, p. 11).
Quando lemos interagimos com nossas vidas, utilizamos todos os nossos sentidos e também nossos sentimentos e sensações. Medo, raiva, tristeza, alegria, vão construindo a história que ouvimos, imprimindo nossas marcas e experiências nos textos que não escrevemos, masque, ao escutarmos, foram refeitos e também questionados por nós. Como diz Jean Foucamben, na obra “A leitura em questão” (1989), “Ler é questionar o mundo e ser por ele questionado; é questionar se a si mesmo”.
Percebe se assim que há, a todo instante, um caminho de ligação uma estrada que liga o leitor ao narrador e ao texto, convidando o primeiro mergulho superficial ou profundo, dependendo da sua escolha. Diante disso, vemos que uma leitura também pode transformar nossa visão social ou até mesmo rever valores, conceitos predeterminados e, assim, permitir modificações importantes para nossas vidas.
Ler significa, então, refletir, pensar, contestar, discordar e diluir, sentimentos e opiniões que nos deixam tristes e aflitos. Lemos também para responder as nossas perguntas infinitas. Assim descobrimos que de uma única leitura podemos fazer muitas outras de diversas formas.
Considerações finais
Neste trabalho pretendeu-se mostrar as várias formas de se trabalhar a leitura na Educação Infantil. O professor deve propiciar meio e recursos para que a atividade obtenha êxito, pois se sabe que a Educação Infantil, enquanto fase inicial da educação formal, oportuniza à criança, o desenvolvimento do gosto pela leitura, escrita, pela matemática, entre muitas áreas do conhecimento.
O professor não deve buscar a leitura dos pequenos, somente em contos infantis, mas dispor em seu acervo, vários objetos que estimulem a curiosidade, o interesse por outros tipos de objetos (jornais, rótulos, álbum ilustrado, cartazes com figuras, livros ilustrados...)
Se o objetivo como professores, é formar leitores competentes desde pequeno, é preciso desde cedo, estar-se atento ao fato de que a leitura deverá estar presente no cotidiano, tanto na escola quanto na família.
REFERÊNCIAS
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[1]Marta Morais da Costa, especialista em Literatura e autora dos livros Mapa do mundo: crônicas sobre leitura e Metodologia do ensino da literatura infantil.