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AFETIVIDADE E VÍNCULO NO PROCESSO PEDAGÓGICO DE ADAPTAÇÃO E CONSTRUÇÃO DA APRENDIZAGEM NA EDUCAÇÃO INFANTIL PARA OS PROFESSORES DA E. E. “GERMANO LAZARETTI”

Juliana do Nascimento Piske Condack
José Aparecido da Silva

             

             

RESUMO

A pesquisa a seguir tem como objetivo trazer a visão dos professores da educação infantil da E.M Germano Lazaretti, sobre a afetividade e vinculo no processo pedagógico de adaptação e construção da aprendizagem, como fator favorável a contribuir para o processo de ensino aprendizagem, nesse contexto realizar pesquisa bibliográfica e de campo para também analisar e reter conhecimentos essenciais ao enfrentar o processo de alfabetização, tendo o propósito de refletir sobre os aspectos relacionados às principais dificuldades encontradas no ingresso da criança na escola, foi entrevistado três professoras, da educação infantil utilizando-se de entrevistas semi-estruturadas. As entrevistas e sua análise baseiam-se em reflexões dos aspectos vinculares e da Afetividade como podem contribuir ou não na Educação Infantil, tendo como referência trabalhos de autores como Wallon, Piaget e Vygotsky dentre outros. A análise e discussão dos dados coletados nas entrevistas com as professoras do segmento da educação infantil mostraram a presença dos aspectos favoráveis da Afetividade como contribuição na prática pedagógica desses professores. Todavia, a visão de alguns profissionais ainda é limitada dada a falta de conhecimento dos aportes teóricos sobre essas temáticas sendo associados os aspectos da afetividade com uma visão do senso comum. Percebe-se, portanto a necessidade da busca constante e da atualização de conhecimentos para melhorar a qualidade de práticas pedagógicas. Por fim esta pesquisa trará análise de dados e conclusão, seguida por uma relação de referências bibliográficas que foram utilizadas.

 

Palavras-chave: Afetividade, ingresso, criança.

 

 

INTRODUÇÃO:

 

Esta pesquisa visa abordar as questões da afetividade no contexto pedagógico da educação infantil sendo a afetividade um dos elementos que colabora com o desenvolvimento do indivíduo, se torna algo primordial ampliar conhecimentos neste contexto. Por meio do contato com o outro e da vida social, a criança estabelece vínculos afetivos e se desenvolve. A afetividade pode contribuir para se criar melhores condições de aprendizagem no ambiente escolar, tanto quanto para uma prática pedagógica de qualidade.

A proposta deste trabalho é apresentar reflexões sobre a importância da afetividade e dos vínculos afetivos na aprendizagem e adaptação de crianças, da Educação Infantil. Para fundamentar a construção deste trabalho, busquei informações nos referenciais teóricos baseados nas idéias de Wallon[1], e Vygostky[2]. Da mesma forma, as contribuições de Piaget[3] reforçaram como a afetividade pode contribuir para se criar melhores condições de aprendizagem no ambiente escolar, tanto quanto para uma prática pedagógica de qualidade e, ao mesmo tempo, que a aprendizagem deve ser significativa para o aluno, onde ele possa trazer suas experiências, fazer trocas, interagir, enfim estabelecer vínculos.

A partir deste trabalho pude perceber e constatar como é importante ter uma educação pautada por afetos e também um educador comprometido, competente e afetivo, desta forma o professor influencia, de forma significativa, a vida de seus alunos, a criança, em geral, o vê como alguém que protege, ajuda, ensina, transmite segurança, enfim um espelho onde a afetividade torna um dos elementos de colaboração com o desenvolvimento do indivíduo.

Uma melhor compreensão pelo professor do papel da afetividade na educação infantil pode fazer toda a diferença para a adaptação, aprendizagem e desenvolvimento da criança, no contexto da sala de aula, favorecendo assim a formação da autonomia e da auto-estima do aluno, o ajudando a ter mais desenvoltura, sociabilidade e avanços.

Desse modo, é importante destacar que os aspectos afetivos devem ser trabalhados cuidadosamente pelos professores na relação ensino-aprendizagem, pois não há aprendizagem desvinculada do afeto.

A presente pesquisa buscou investigar também qual a visão dos professores da educação infantil sobre a afetividade, na perspectiva da qualidade nesse contexto. Para tanto, foram realizadas entrevistas com três professoras da área, com o intuito de verificar o que elas conhecem sobre: a função da educação infantil e a afetividade nesse segmento.

Para isso o desenvolvimento desse trabalho estará organizado com abordagem das questões metodológicas e as práticas pedagógicas no processo de ingresso e adaptação de criança na escola com contribuições dos autores ressaltando vínculo afetivo como fator de importância ao desenvolvimento da criança para educação infantil, mostrando como a afetividade se torna um fator de qualidade nesse contexto.

Por fim, trará análise de dados e considerações finais, sendo esta pesquisa uma análise reflexiva das principais dificuldades encontradas e ou vivenciadas no processo de adaptação e ingresso da criança na escola e como a afetividade pode contribuir para sanar essas dificuldades nos anos iniciais da Escola Municipal Germano Lazaretti, onde tive a oportunidade refletir também sobre a ação pedagógica frente a esses problemas apontados.

Pois o educador precisa ter comprometimento político com o que faz para que sua ação contribua no processo de construção da aprendizagem no ensino.

 

 

MAPEANDO OS CAMINHOS

 

 

TEMA:

AFETIVIDADE E VÍNCULO NO PROCESSO PEDAGÓGICO DE ADAPTAÇÃO E CONSTRUÇÃO DA APRENDIZAGEM.

 

 

DELIMITAÇÃO:

AFETIVIDADE E VÍNCULO NO PROCESSO PEDAGÓGICO DE ADAPTAÇÃO E CONSTRUÇÃO DA APRENDIZAGEM, NA EDUCAÇÃO INFANTIL PARA PROFESSORES DO PRÉ I DA E. M. “GERMANO LAZARETTI”

 

 

PROBLEMATIZAÇÃO

Quais são as principais dificuldades encontradas e ou vivenciadas no processo de adaptação e ingresso da criança na escola? Como a afetividade pode contribuir para sanar essas dificuldades?

 

 

Hipótese:

Será que o vínculo afetivo pode contribuir para a adaptação no ingresso da criança na escola?

 

 

OBJETIVO GERAL

 

  • Investigar as principais dificuldades encontradas e ou vivenciadas no processo de adaptação e ingresso da criança na escola quanto aos aspectos da afetividade bem como propor meios para superá-las.

 

 

OBJETIVOS ESPECÍFICOS

 

  • Verificar as principais dificuldades no processo de adaptação e ingresso da criança na escola encontrada e apontada pelos professores do pré I da E. M. Germano Lazaretti;
  • Buscar meios para identificar como a questão da afetividade pode contribuir para o sucesso do educando;
  • Analisar os fatores que interferem no processo ensino-aprendizagem;

 

 

JUSTIFICATIVA

 

Analisar afetividade e vinculo no processo pedagógico de adaptação e construção da aprendizagem não é uma questão fácil, mas se torna imprescindível e instigante, pois educar é um desafio que implica parar e reconhecer a necessidade de aprender e de refletir sobre a educação que se pretende oferecer e sobre as condições dessa oferta.

As relações de afetividade na escola podem ser consideradas uma das causas que podem conduzir o aluno ao fracasso escolar, por isso é necessário que o trabalho educativo vá além do espaço de sala de aula, mas que também possamos refletir sobre os fatores que interferem no processo ensino aprendizagem que estão presentes em nossa sociedade atual. São muitos os desafios que vivenciamos nos últimos anos na busca da garantia de uma educação de qualidade para todos e neste contexto faz-se necessário reflexões dessas práticas educativas como nos argumenta Silva (1996),

 

Num processo de constituição do indivíduo como sujeito de um determinado tipo e de seu múltiplo posicionamento no interior das divisões sociais, nossa prática pedagógica não poderá ser construída sem uma profunda reflexão sobre a dimensão política de nossas ações.

 

Reflexões estas que nos leva a pensar que o ingresso da criança na escola deverá ser dinâmico numa construção social fundada nos diferentes modos de participação sendo a afetividade um dos elementos que colabora com o desenvolvimento do indivíduo se tornam algo imprescindível ampliar conhecimentos neste contexto. Por meio do contato com o outro e da vida social, a criança estabelece vínculos afetivos e se desenvolve. Assim a opção por esta temática levou em consideração que este estudo poderá ensejar uma revisão fundamentada da realidade que envolve as múltiplas relações de vínculos e de afetividade com suas respectivas abordagens. Espero dessa forma, contribuir para que as decisões educacionais passem a considerar mais os resultados de experiências vivenciadas pelos professores ao longo de seu desenvolvimento profissional.

Foi refletindo sobre estes aspectos que despertou em mim o desejo de pesquisar e analisar o tema desta proposta de investigação. Acredito que será de grande relevância a realização desta pesquisa no sentido de poder socializar os conhecimentos apreendidos.

Espero que esta pesquisa possa ser utilizada como fonte de agregar um conhecimento que foi produzido para trazer contribuições à sociedade no sentido de provocar reflexões, investigar novas pesquisas e favorecer tomadas de decisões mais sólidas e eficazes à educação.

 

 

METODOLOGIA

 

Este estudo foi realizado por meio de pesquisa bibliográfica. A pesquisa bibliográfica é feita por meio da análise de documentos, sejam livros, revistas, internet, publicações, etc. Esse tipo de pesquisa é imprescindível a todos os outros tipos. Os objetivos deste trabalho apontam também para um desenvolvimento da pesquisa de estudo de campo podendo esta obter dados e mediar situações. Para tanto o estudo terá como alvo as experiências e relatos dos professores das três turmas entrevistadas nesta escola.

Nessa abordagem os significados precisam ser interpretados pelo pesquisador, que é influenciada ao mesmo tempo, pelos textos lidos e pelos valores e crenças que possui resultado das experiências vivenciadas. Dentro das ideologias que norteiam os pensamentos dos autores citados anteriormente é impossível realizar uma pesquisa mantendo-se neutra, na pesquisa bibliográfica existe uma interlocução constante entre o pesquisador e o texto possibilitando a produção de conhecimento.

As escolhas dos aspectos metodológicos de um trabalho de pesquisa são de suma importância, pois há inúmeras metodologias de trabalho e a melhor adequação dos meios indicará a eficácia da pesquisa. Como se pretende analisar, afetividade e vinculo no processo pedagógico de adaptação e construção da aprendizagem, na educação infantil para professores do pré I da E.M “Germano Lazaretti” e visto que procurará descrever opiniões na forma de coleta de informações, de maneira a entender os processos dinâmicos adotados pelos sujeitos da pesquisa este trabalho terá caráter qualitativo, descritivo e dialético.

 

 

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA: A CONCEPÇÃO DE AFETIVIDADE NA EDUCAÇÃO:

 

Esta pesquisa será baseada nas teorias de Wallon, Vygostky,Piaget, entre outros. Da mesma forma, a contribuição de pesquisa bibliográfica foi resultante da consulta em livros, revistas, sites, artigos, enfim em diversos estilos de dados que concerne a respeito do tema pesquisado. Segundo Ferreira, (1999, p. 62) afetividade significa: “Conjunto de fenômenos psíquicos que se manifestam sob a forma de emoções, sentimentos e paixões, acompanhados sempre da impressão de dor ou prazer, satisfação ou insatisfação, de agrado ou desagrado, de alegria ou tristeza”.

A afetividade é, então, a parte psíquica responsável pelo significado sentimental de tudo que vivemos. Se algo que vivenciamos está sendo agradável, prazeroso, sofrível, angustiante, causa medo ou pânico, ou nos dá satisfação, todos esses conceitos são atribuídos pela nossa afetividade. Segundo ROSSINI (2001 p.9): “A afetividade acompanha o ser humano desde o nascimento até a morte”.

Assim, a afetividade se manifesta ao decorrer da vida em todos os momentos e em todas as relações sociais sendo essencial em qualquer momento da vida do ser humano. Podemos indagar como ocorrem estas manifestações nos primeiros anos de vida da criança? A resposta logo vem, demonstrada pelo impulso emocional podendo ser sorriso, choro então chamando atenção para o cuidado e presença da mãe buscando ainda que inconsciente uma manifestação afetiva.

Segundo Henri Wallon apud Isabel Galvão (1999. P. 43) [4]

 

No estágio impulsivo-emocional, que abrange o primeiro ano de vida, o colorido peculiar é dado pela emoção, instrumento privilegiado de interação da criança com o meio. Resposta ao seu estado de imperícia, a predominância da afetividade orienta as primeiras reações do bebê as pessoas, as quais intermediam sua relação com o mundo físico; a exuberância de suas manifestações afetivas é diretamente proporcional a sua inaptidão para agir diretamente sobre a realidade exterior.

 

Entretanto a afetividade está intimamente ligada à aprendizagem, nas relações que o indivíduo tem entre ele e o outro. A construção do “eu” em sua teoria depende essencialmente do outro, isso não ocorre de maneira simples, a atividade emocional é complexa é também social e biológica, capaz de realizar a mudança entre o estado orgânico do indivíduo em seu aspecto cognitivo, racional, só sendo atingido por meio do social. E através da afetividade cria-se um vínculo poderoso, entre a ação do sujeito e os instrumentos intelectuais dessa forma o indivíduo começa desenvolver a capacidade cognitiva. De acordo com Wallon apud Galvão (1995 p. 40-41):

 

Mais determinante no início, o biológico vai progressivamente cedendo espaço de determinação ao social. Presente desde a aquisição de habilidades motoras básicas, como a preensão e a marcha, a influência do meio social torna-se muito mais decisiva na aquisição de condutas psicológicas superiores, como a inteligência simbólica. É a cultura e a linguagem que fornecem ao pensamento os instrumentos para a sua evolução. O simples amadurecimento do sistema nervoso não garante o desenvolvimento de habilidades intelectuais mais complexas. Para que se desenvolvam, precisam interagir com alimento cultural, isto é, linguagem e conhecimento.

 

Sendo assim o grau de conhecimento ou inteligência do indivíduo, não pode ser estabelecido, pois estas só se dão através do convívio com a sociedade e o desenvolvimento individual de cada um.

A afetividade é importante e necessária na formação de pessoas felizes, éticas, seguras e capazes de conviver com o mundo que a cerca. De acordo com Rossini (2001, p.10): “Podemos então, dizer que a afetividade é essencial, para que haja o pleno desenvolvimento das características do ser humano, afetividade que domina todas as ações do sujeito”.

Não é exagero afirmar que a afetividade contribui para o funcionamento da inteligência, pois sem o afeto não haveria interesse, necessidade e motivação, conseqüentemente os problemas não seriam questionados, sendo assim, não haveria inteligência. De acordo com Piaget apudd Seber, (1997, p. 216):

 

As construções intelectuais são permeadas passo a passo pelo aspecto afetivo e ele é muito importante. Tal aspecto diz respeito aos interesses, motivações, afetos, facilidades, esforço, ou seja, ao conjunto de sentimentos que acompanha cada ação realizada da criança. A afetividade é o motor das condutas. Ninguém se esforçará para resolver um problema de matemática, por exemplo, se não se interessar em absoluto pela disciplina.

 

Percebemos então que os aspectos afetivos e cognitivos se relacionam mutuamente, em cada situação eles estão presentes influenciando as ações do sujeito. A escola é um espaço amplo, onde se encontra diferentes valores, experiências, concepções, culturas, crenças e relações sociais se misturam e fazem do cotidiano escolar uma rica e complexa estrutura de conhecimentos e de sujeitos.

Essa rica heterogeneidade que permeia a escola acaba por se confrontar com uma estrutura pedagógica que está baseada num padrão de sociedade e de homem, onde a diferença e vista de forma negativa, gerando assim uma pedagogia excludente. Cada dia mais as relações no cotidiano escolar têm se mostrado mais difíceis e conflitantes. Segundo Piaget apudd Seber, (1997, p. 216):

 

No cotidiano escolar são comuns as situações de conflito envolvendo professor e alunos. Turbulência e agitação motora, dispersão, crises emocionais desentendimentos entre alunos e destes com o professor são alguns exemplos de dinâmicas conflituais, que com frequência deixam a todos desamparados e sem saber o que fazer. Irritação, raiva, desespero e  medo são manifestações que costumam acompanhar as crises, funcionando como “termômetro” do conflito.

 

O educador pode transformar essa trágica realidade em que se encontra a educação. Sendo assim o ser humano vive em constante dilema, no aprendizado, de como lidar com as emoções, de como viver de forma harmônica na sociedade. Portanto conviver em sociedade não é fácil, mas devemos partir do princípio de que em educação, como em qualquer outra área profissional, e a valorização do indivíduo deve vir em primeiro lugar, pois seja ele, professor, aluno, vigilante ou servente o cidadão é acima de tudo uma pessoa dotada de capacidades, desejos e de sentimentos, buscando ver no outro a confirmação do bem e do carinho natural que deve existir entre os seres.

 

 

AFETIVIDADE E A APRENDIZAGEM NA CONCEPÇÃO DE WALLON

 

Henri Wallon além de acadêmico foi um homem político, sua vida foi marcada mais por sua dedicação como pesquisador, do que pelos cargos políticos que chegou a assumir, nasceu em Paris em 13 de junho de 1879, numa família republicana., militante apaixonado, o médico, psicólogo e filósofo francês mostrou que as crianças têm também corpo e emoções (e não apenas cabeça) na sala de aula, Com essa preocupação, atribui um papel básico à emoção e sobre ela elaborou uma teoria psicogenética que ocupa lugar central fundamental em toda a sua obra.

É necessário, ver a criança como um ser completo, pensar em sua educação prepara-lá para a vida. Wallon (1992) afirma que desde as primeiras fases da infância, as relações afetivas estabelecidas, são determinantes na construção da identidade e do caráter da criança. Os vários estágios de desenvolvimento da criança, caracterizados por Wallon, desde o início da infância, até a vida adulta, tem como característica central a predominância alternada dos aspectos afetivos e cognitivos que no decorrer do desenvolvimento humano, a história da construção da pessoa será constituída por uma sucessão pendular de momentos dominantes afetivos ou momentos dominantes cognitivos. De acordo com Wallon (1992, p. 90):

 

O ser humano foi, logo que saiu da vida puramente orgânica, um ser afetivo. Da afetividade diferenciou-se, lentamente a vida racional. Portanto no início da vida, afetividade e inteligência estão sincreticamente misturadas, com a predominância da primeira. A sua diferenciação logo se inicia, mas a reciprocidade entre os dois desenvolvimentos se mantém de tal forma que as aquisições de cada um a repercutem sobre a outra permanentemente. Ao longo do trajeto, elas alternam preponderâncias, e a afetividade reflui para dar espaço à intensa atividade cognitiva.

 

Podemos destacar então que, de acordo com Wallon, no início da vida predomina o aspecto afetivo e que no desenvolver do sujeito, os aspectos afetivos e cognitivos se entrelaçam em suas perpétuas interações recíprocas.  

Wallon ressalta ainda que a afetividade fosse tão importante quanto à inteligência, alertando para o fato de que para evoluir, ela depende de conquistas realizadas no plano da inteligência e vice-versa, uma vez que se constituem num par inseparável na evolução do indivíduo, já que “à medida que o indivíduo se desenvolve, as necessidades afetivas se tornam cognitivas”. (ALMEIDA, 1999, p. 23). O autor reforça que o aspecto cognitivo e afetivo, são dependentes um do outro e que no desenvolver da consciência haverá uma reciprocidade.

 

 

AFETIVIDADE E A APRENDIZAGEM NA CONCEPÇÃO DE PIAGET E VYGOTSKY

 

Jean Piaget (1896-1980) foi um renomado psicólogo e filósofo suíço, conhecido por seu trabalho pioneiro no campo da inteligência infantil. Piaget passou grande parte de sua carreira profissional interagindo com crianças e estudando seu desenvolvimento. O cientista suíço demonstrou que a capacidade de conhecer não é inata e nem resultado direto da experiência. Ela é construída pelo indivíduo à medida que a interação com o meio o desequilibra, exigindo novas adaptações que possibilitem reequilibrar-se, num processo evolutivo.

Segundo a teoria de Piaget, o desenvolvimento intelectual é formado por dois componentes: cognitivo e afetivo. O desenvolvimento afetivo encontra-se paralelo ao desenvolvimento cognitivo. Sobre isso Wadsworth afirma que (1997, p. 37):

 

É impossível um comportamento oriundo apenas da afetividade, sem nenhum elemento cognitivo. È, igualmente impossível encontrar um comportamento só de elementos cognitivos... Embora os fatores afetivos e cognitivos sejam indissociável num dado comportamento, eles parecem ser diferentes quanto à natureza... É óbvio que os fatores afetivos estão envolvidos mesmo nas formas mais abstratas de inteligência. Para um estudante resolver um problema de álgebra ou para um matemático resolver um teorema, deve haver um interesse intrínseco, um interesse extrínseco ou uma necessidade de partida. Enquanto trabalha, estados de prazer, desapontamento, ansiedade tanto quanto sentimentos de fadiga, esforço, aborrecimento, etc., entram em cena. Ao finalizar o trabalho sentimentos de sucesso ou fracasso podem ocorrer; e finalmente, o estudante pode experimentar sentimentos estéticos fluindo da coerência de sua solução.

 

Assim de acordo com o autor, os fatores cognitivos e afetivos se entrelaçam no decorrer do desenvolvimento humano, formando uma só unidade no funcionamento intelectual, sendo um dos primeiros autores a questionar esse dualismo entre afetividade e cognição, defendendo a idéia de que há um notável paralelo entre os dois aspectos.

De acordo com (apud Souza 2002, p. 32), no que se refere à afetividade, Piaget:

 

[...] reconheceu sua importância para o desenvolvimento psicológico, fazendo uma correspondência entre as evoluções afetivas e cognitivas ao longo da vida dos indivíduos. Sua conceituação de afetividade é para muitos polêmica. Para ele, a afetividade está indissocialmente ligada à inteligência e se manifesta nas ações e condutas dos indivíduos, sendo responsável pelo rumo que as ações tomam em direção aos objetos. A afetividade dá os objetivos e as metas para as ações de conhecimento do mundo, estando associada aos interesses e escolhas que o sujeito .

 

Nessa perspectiva para Piaget, todo comportamento apresenta ambos os elementos: afetivo e cognitivo, ou seja, é impossível encontrar um comportamento afetivo puro, sem a presença de elementos cognitivos não existe um mecanismo cognitivo sem interferência de elementos afetivos.

Lev Semenovitch Vygotsky, (1896-1934 foi um cientista bielorrusso. Pensador importante em sua área e época foi pioneiro no conceito de que o desenvolvimento intelectual das crianças ocorre em função das interações sociais e condição de vida criticava a tendência predominante de sua época de se buscar explicações mecanicistas para a emoção.

Para ele essas tendências trouxeram sérias e trágicas conseqüências, para toda a psicologia moderna, pelo fato de ela não conseguir “encontrar uma maneira de compreender a verdadeira ligação adequada entre nossos pensamentos e sentimentos, de um lado, e a atividade do corpo, de outro lado.” (VYGOTSKY apud van der Veer e Valsiner, 1996. P.384). Vygotsky Afirma que uma compreensão completa do pensamento humano só é possível quando se compreende sua base afetivo-volitiva, buscou elaborar uma nova perspectiva que tratasse de outro modo as relações entre mente e corpo entre cognição e afeto. VYGOTSKY apudd ARANTES, 2003, p. 26 18,):

 

Quando o pensamento é separado do afeto desde o início, fecha definitivamente a possibilidade de explicar as causas do pensamento, porque na análise determinista pressupõe descobrir seus motivos, os interesses e as necessidades, as tendências e os impulsos que dão sentido ao movimento do pensamento em ambos os sentidos. De modo igual, quem separa afeto do pensamento, nega a possibilidade de verificar a influência inversa do pensamento afetivo, volitivo da vida psíquica, porque uma avaliação e determinista desta incluem tanto adicionar ao pensamento um poder fantástico e capaz de fazer depender, um comportamento exclusivamente humano de um sistema do indivíduo, como transforma o pensamento em um apêndice inútil do comportamento em uma sombra sua desnecessária e impotente.

 

Para Vygotsky os termos utilizados para designar processos que denominamos cognitivos são “funções mentais” e “consciência”. O termo função mental refere-se aos processos como pensamento, memória, atenção e percepção. Sendo esses, portanto, pelos quais o afeto e intelecto estão inteiramente enraizados em suas influências mútuas.

 

 

ANÁLISE DE DADOS

 

Dados coletados cujo objetivo foi investigar as principais dificuldades encontradas e ou vivenciadas no processo de adaptação e ingresso da criança na escola quanto aos aspectos da afetividade bem como propor meios para superá-las.

As competências de aprender a conviver em sociedade é um dos objetivos da educação. Para isso, esta pesquisa visando abordar as questões da afetividade no contexto pedagógico da educação infantil e sendo a afetividade um dos elementos que colabora com o desenvolvimento do indivíduo se torna algo primordial ampliar conhecimentos neste contexto. Contribuíram para a coleta de dados as seguintes pessoas:

Professora da Pré I-A que será referida como X;[5]

Professora da Pré I-D que será nomeada como Y;[6]

Professora da Pré I-F que será chamada de Z;[7]

Neste contexto, coletaram-se os seguintes dados, após observações de sessenta (60) alunos, junto às professoras entrevistadas.

Alunos

Dificuldades verificadas

Quarenta (30)

Não apresentam dificuldade em sua adaptação.

vinte (20)

São faltosos e família ausente implicando atraso em sua adaptação e aprendizagem.

dez (10)

Apresentaram dificuldade em se desprender da família e se adaptar.

 

Esses dados foram coletados segundo avaliação e fichas de acompanhamentos realizados pela escola a cada bimestre analisando os dados coletados do questionário realizado com as professoras destes alunos obteve-se o seguinte resultado segundo as perguntas: Quais são as principais dificuldades encontradas e ou vivenciadas no processo de adaptação e ingresso da criança na escola? Como a afetividade pode contribuir para sanar essas dificuldades?

Observa-se que após a análise 1° bimestre, quase todas as crianças já haviam se adaptado isso se deve as buscas constantes da implantação de novas metodologias e conhecimento, feito com muito afeto e carinho para com as crianças com dinâmicas de socialização e atividades lúdicas sempre presentes, tornando, assim, prazeroso o ingresso dos pequenos na escola, segundo relata a professora “X”.

Ensinar não significa, simplesmente, ir para uma sala de aula, onde faz presente uma turma de alunos e 'despeja' sobre ela uma quantidade de conteúdo. O professor precisa possuir habilidades, na utilização e aplicação de procedimentos de ensino. É como nos diz Vigotsky. “O único bom ensino é aquele que adianta ao desenvolvimento”.

A professora “Y” do Pré I-D ressalta que a maior dificuldade está no aspecto familiar, pois a maioria dos alunos são filhos de pais separados e ou filhos de mães solteiras sendo que uma hora está com as mães, outra com a avó e ainda algumas com tios ou vizinhos, segundo a professora este aspecto traz influência negativa repercutindo fortemente na sala de aula onde os alunos se mostram desatentos, e as vezes agressivos e com muita dificuldade no seu ingresso principalmente em relação a afetividade e socialização com os amigos.

Assim, entende-se que fica difícil para o professor compreender a natureza dessas dificuldades, pois além, de estarem relacionados a uma pluralidade de fatores, e que estão presentes na rotina escolar, podendo esses fatores ser atribuídos às mais variadas causas orgânicas, psicológicas, pedagógicas e socioculturais. É Preciso trazer a família para a escola, pois a convivência entre escola - família tem sido um grande desafio, desabafa a professora, por não haver a troca de ideias.

 

A relação família – escola é a mais conflitante, porque apesar de ambas terem como objetivo central a educação de uma criança, os papeis de cada uma devem ser diferenciadas durante esse processo. A família, de maneira generalizada, delega algumas obrigações da educação ao filho à escola e ao professor, eximindo-se do seu papel fundamental de parceira da instituição de ensino na educação da criança. Os professores, frente a essa nova obrigação, se vêm forçados a responder pelo comportamento positivo ou negativo do aluno, além de se preocupar com o programa curricular, provas, exercícios e ect. (CECON et al. 2001, s/p apud JARDIM, 2006, p.44)

 

Nessa perspectiva fica evidenciado que família e escola precisam caminhar juntas.  

Segundo a professora “z” do Pré I F, a principal dificuldade é conseguir criar nos alunos vínculos afetivos com e na escola, a professora relata ainda que  é primordial para sua adaptação, a afetividade então o professor precisa ser mais acessível na educação infantil, infelizmente alguns ainda não tem compreendido isto, logo o aluno não consegue desprender da família. Segundo a professora fica o professor frustrado por não entender a necessidade do aluno e o aluno desmotivado para vir à escola.

Assim do ponto de vista teórico-metodológico, muitos autores vêm, ao longo da história, defendendo que o afeto é indispensável para o ato de ensino-aprendizagem.

Embora os fenômenos afetivos sejam de natureza subjetiva, por muitos compreendidos no senso comum, isso não os torna independentes da ação do meio sociocultural, pois se pode afirmar que estão diretamente relacionados com a qualidade das interações e relações entre sujeitos, enquanto experiências vivenciadas. Rubem Alves (2000)[8] enfatiza que o professor, aquele que ensina com alegria, que ama sua profissão, não morre jamais. Ele diz: “Ensinar é um exercício de imortalidade. De alguma forma continuamos a viver naquele cujos olhos aprenderam a ver o mundo pela magia da nossa palavra. O professor, assim, não morre jamais...” (ALVES, 2000 p.5)

Logo, é importante que o professor alfabetizador possa compreender a dinâmica da aprendizagem e com a realização deste trabalho foi possível constatar o quanto é complexa esta compreensão, pois muito são os fatores que interferem no processo de aprendizagem:

  • Ausência de uma prática pedagógica adequada;
  • A atenção ao desenvolvimento cognitivo afetivo e social;
  • Aos problemas familiares;
  • A omissão de situações motivadoras.

 

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS:

 

Após a análise dos dados obtidos através das entrevistas, verificou-se a presença das relações afetivas no ambiente escolar, assim como a importância destas para o processo de ensino-aprendizagem. Os vínculos afetivos estão presentes no cotidiano da escola e se refletem nas questões de ordem cognitiva e motora, a partir do momento que os indivíduos se identificam e buscam, coletivamente, soluções frente às necessidades dos alunos, suas possibilidades e potencialidades. Os resultados alcançados sinalizam ainda que a metodologia ideal seja aquela direcionada com afeto.

Para isso, é preciso que, cada vez mais, os profissionais da educação se dediquem ao estudo, não somente destas dificuldades envolvendo o ingresso e adaptação da criança na escola, mas também quanto à continuidade de seu processo de ensino- aprendizagem.

Fica evidente a necessidade de comprometer as famílias nessa aprendizagem. É evidente que nem todas poderão responder da mesma maneira, mas deve-se procurar fazer com que entendam a importância de sua colaboração e obter delas alguns compromissos básicos: mostrar interesse por aquilo que seus filhos fazem na escola, conversar muito com eles, estar atento às suas perguntas, elogiar suas primeiras escritas.

Uma vez mais, fica evidente a importância dos gestos primordiais, dos atos nos quais os estímulos e as emoções são preponderantes. Não podemos conceber a educação separada das paixões e dos desejos que regem a vida.

Assim as reflexões aqui apresentadas constatam que a escola, deve estar atenta aos aspectos que cognitivos indissociáveis do afetivo, pois o processo de ensino-aprendizagem precisa favorecer os conhecimentos prévios do aluno e suas múltiplas vivências, e o afeto neste contexto proporciona não somente um ambiente agradável para professor e aluno, mas sim uma educação humanizadora voltada para a transformação, centrada na solidariedade

 

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

 

ALMEIDA, A. R. S. A emoção na sala de aula. Campinas: Papirus, 1999.

 

ALVES, A. R.  A Alegria De Ensinar Campinas: Papirus. 2000

 

ARANTES, Valéria Amorim. A Afetividade no Cenário Educacional. São Paulo: Moderna, 2002.

_______. (Org.). Afetividade na Escola: Alternativas Teóricas e práticas. São Paulo: Summus, 2003.

 

FERREIRA, A. B. H. Novo Aurélio XXI: o dicionário da Língua Portuguesa. 3 ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999.

 

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.

 

GALVÃO, Isabel;,WALLON, Henri. Uma concepção dialética do desenvolvimento infantil. 13ª ed. Petrópolis: Vozes, 2004.

 

ROSSINI, M. A. S. Pedagogia afetiva. Petrópolis: Vozes, 2001.

 

SEBER, Maria. O diálogo com a criança e o desenvolvimento do raciocínio. São Paulo: Scipione, 1997.

 

SILVA, Tomaz Tadeu. Identidades terminais. Petrópolis: Vozes, 1996.  P.40

 

SOUZA, Maria Thereza Costa Coelho de. Cultura, cognição e afetividade: Interrelações em diferentes perspectivas. A interação social e os objetos “afetivos” na perspectiva piagetiana de construção do conhecimento. São Paulo: Ed. Casa do Psicólogo, 2002.

 

VEER, R Vander; VALSINER, J. Vygotsky: uma síntese. São Paulo: Loyola, 1996.

 

VYGOTSKY, Liev Semionovich. Psicologia pedagógica. São Paulo: Editora Martins Fontes, 2001. _______. Psicologia Pedagógica. Porto Alegre: Artimed, 2003.

 

WADSWORTH, B.J. Inteligência e afetividade da criança na teoria de piaget. São Paulo: Pioneira, 1997.

 

WALLON, Henri. Origens do pensamento na criança. São Paulo: Maneie 1989.

 

 _______. Psicologia e educação da infância. Lisboa: Editorial Estampa 1975.

 

[1] Henri Wallon nasceu em Paris, França, em 1879. Graduou-se em medicina e psicologia. Fez também filosofia trouxe grandes contribuições para educação com estudos da afetividade.

[2] Lev Semenovich Vygotsky foi um psicólogo bielo-russo, Pensador importante foi pioneiro na noção de que o desenvolvimento intelectual das crianças ocorre em função das interações sociais e condições de vida.

[3]  Jean Piaget Um dos mais importantes pesquisadores de educação e pedagogia, Jean Piaget nasceu na cidade de  Neuchâtel (Suíça) em 9/08/1896 e morreu em 17/9/1980. 

[4] Izabel Galvão é pedagoga formada pela USP, onde também cursou mestrado (com dissertação sobre aspectos da teoria de Henri Wallon) e doutorado.

[5] Professora efetiva da rede municipal De ensino no município de campos de Julio, Licenciada em pedagogia, especialista em Educação Infantil, Psicopedagoga institucional e clínica.

[6] Professora efetiva da rede municipal De ensino no município de campos de Julio, Licenciada em pedagogia, especialista em Educação Infantil e Educação Inclusiva.

[7] Professora efetiva da rede municipal De ensino no município de campos de Julio, Licenciada em pedagogia, especialista em Educação Infantil

[8] Rubem Azevedo Alves foi um psicanalista, educador, teólogo e escritor brasileiro, é autor de livros religiosos, educacionais, existenciais e infantis.