Buscar artigo ou registro:

 

 

A IMPORTÂNCIA DA MUSICALIDADE NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Ilda de Lima Freitas
Christiani Mendes da Silva
Maria do Socorro Jerônimo
Maria Pereira Silva
Laura Cristina Castilho Gonçalves de Paula

 

 

RESUMO

O presente artigo tem por objetivo, apresentar a importância da musicalização na educação infantil, e como a utilização da música traz resultado significativo para a aprendizagem de bebês e crianças até seis (6) anos de idade.  Como o professor tem utilizado suas práticas pedagógicas, considerando que a música como suporte, contribui significativamente para integrar as diversas áreas de conhecimento, enfocando o desenvolvimento cognitivo e a socialização. Além de melhorar o ato de ouvir, a musicalização na Educação Infantil também ensina sobre a importância de respeitar o tempo e o espaço das outras pessoas, colaborando para que os pequenos se sintam capazes de conviver com os demais e de pertencer a um grupo com respeito e autoestima. Através de atividades pedagógicas na Educação Infantil, é possível estimulá-los a experimentarem diferentes sons e ritmos, garantindo todos os benefícios que a musicalização na primeira infância pode oferecer. De acordo com várias pesquisas, as crianças que crescem com o estímulo musical se desenvolvem de forma mais rápida: atividades musicais produzem transformações surpreendentes na estrutura cerebral, especialmente nos primeiros 6 anos de vida.

 

Palavras-chave: aprendizagem; significativa; educação musical.

 

 

Introdução

 

O presente trabalho propõe uma reflexão sobre a musicalização na educação infantil como um poderoso instrumento que desenvolve, na criança, além da sensibilidade à música, qualidades como: concentração, coordenação motora, socialização, disciplina pessoal, destreza de raciocínio, acuidade auditiva, equilíbrio emocional, respeito a si próprio, e outros atributos que colaboram na formação do indivíduo e no processo da aprendizagem significativa.

O trabalho com a música enriquece o repertório musical das crianças, propicia que estas conhecem vários estilos musicais de lugares e épocas diferentes.

É interessante destacar que a música esteja presente na escola como um dos elementos formadores do individuo. Para que isso aconteça é fundamental que o professor “[...] Seja capaz de observar as necessidades de seus alunos e identificar, dentro de uma programação de atividades musicais, aquelas que realmente poderão suprir as necessidades de formação desses alunos” (JOLY, 2003 p. 118)

Tudo o que a criança sente e vive é importante para ela. Essa vivência facilitará a compreensão das estruturas musicais que virá depois. A musicalização objetiva as práticas musicais e não o estudo de um instrumento. É vivenciando, som e ritmo, através de jogos e recreações, que o aprendizado musical chega, hoje, às crianças. O despertar musical na educação infantil, desde o berçário, é uma riqueza incalculável para a formação da criança. Através dessa vivência estaremos formando futuros ouvintes, artistas, ou pessoas sensíveis e equilibradas. A música, no âmbito escolar, vem sendo utilizada como suporte para formação de hábitos, atitudes e comportamentos. Presenciar uma criança sendo conduzida, através da música, para atividades como: lanchar, escovar os dentes, lavar as mãos, memorização de conteúdo, comemorações em datas específicas, são práticas corriqueiras, o que nos leva a refletir sobre a forma mecânica que é conduzida. Quando a música é tratada como se fosse apenas um produto pronto, que se aprende somente a reproduzir, deixa de ser uma linguagem cujo conhecimento se constrói. A linguagem musical, com seus conteúdos próprios, não pode ser direcionada, pela ação docente, de forma irresponsável, aleatória.

Entende-se que a maioria dos professores que trabalham com o público infantil, não tem formação musical, e isso implica em não respeitar o nível de percepção e desenvolvimentos das crianças em suas respectivas fases. O RCNEI orienta que cada profissional procure entender, de forma reflexiva, a respeitar cada fase de expressão da criança, e a partir daí, poderá fornecer os meios necessários: vivências, informações e materiais, para o desenvolvimento de sua capacidade expressiva.

 

 

Desenvolvimento

 

Pensando na presença da música na pré-história, alguns detalhes fascinantes foram descobertos por alguns historiadores. Por exemplo, a forma como viviam os homens primitivos e, utilizando como referência os registros nas rochas e objetos encontrados, chegaram à conclusão de que as primeiras manifestações musicais já aconteciam no período Paleolítico, há aproximadamente 25.000-30.000 anos.

Além de criar objetos instrumentos musicais de ossos de animais ou de caule de vegetais para omitir sons, tinha uma percepção auditiva aguçada em relação aos sons que o rodeava, pois, essa percepção era imprescindível para a sua sobrevivência. Isso por que, durante a caça, ele precisava dessa percepção auditiva para identificar os sons dos animais quando estavam se aproximando, se eram grandes ou não, a que distância estava etc. Os sons do vento, d chuva, do dia e da noite, os sons que criava coma própria voz para chamar os animais selvagens que desejava caçar, dentre outras situações em que o homem se apropriava dos sons da natureza como meio de comunicação e sobrevivência (COELHO, 2006).

Pensando nos sons naturais, os remetemos a Schafer (2001), famoso educador musical canadense, que menciona a paz proporcionada ao ser humano pelo som das águas de um riacho nas montanhas, das águas do mar quebrando as ondas, da correnteza de um rio, faz referência ao primeiro som que ouvimos, quando ainda estamos no útero materno, sons de líquidos, com águas de um riacho.

Segundo Schafer (2001, p. 34):

 

Todos os caminhos do homem levam á água. ela é o fundamento da paisagem sonora original e o som que, acima de todos os outros nos dá o maior prazer, em suas incontestáveis transformações. [...]Um riacho de uma montanha é um acorde de muitas notas soando estereofonicamente pelo caminho do ouvinte atento. O som contínuo da água dos riachos nas montanhas suíças pode ser ouvido a milhas de distância cruzando o vale silente.

 

Mas, e na educação, O aprendizado em músicas acontece? Como a música é concebida na escola?

Conforme consta no Referencial Curricular Nacional (BRASIL, 1998, p. 48, grifo nosso), a linguagem musical tem estrutura e características próprias, devendo ser consideradas:

Produção-centrada na experimentação e na imitação, tendo como produto musical, a interpretação, a improvisação e a composição;

Apreciação-percepção tanto dos sons e silêncios quanto das estruturas e organizações musicais, buscando desenvolver, por meio do prazer da escuta, a capacidade de observação, análise e reconhecimento;

Reflexão- sobre questões referentes á organizações, criações, produtos e produtores musicais.

Como professores, usamos a música em vários momentos, como um recurso para ensinar fórmula, para decorar sequencias numéricas; disciplinamos, ensinamos lições morais e injetamos motivações em nossas crianças. Entretanto, precisamos refletir sobre qual o valor do ensino da música na escola. Precisamos ter argumentos que possibilitem responder qual é a importância de se ensinar música nas escolas aliada as outras linguagens artísticas, como o teatro, as artes visuais e a dança.

Segundo Andrade e Cava (2007) apresenta alguns relatos, algumas concepções acerca da música na escola. De acordo com a autora, em 1991, o educador Funks realizou uma pesquisa com professores e futuros professores que atuariam na área de educação musical. As entrevistas coletadas durante a pesquisa apresentam uma realidade muito presente nas escolas americanas e brasileiras:

 

 Eu usava música como um artificio para acalmar as crianças; quando a música terminava, já estava todo mundo “dominado” [...] Fica bem mais agradável você dar uma ordem através de uma musiquinha do que dizer: Faz isso, faz aquilo [...]. O “gestinho” é para incentivar, porque às vezes tem crianças que não entendem a letra da “musiquinha”. Então é importante aquele “gestinho” (Fuks, 1991 apud HUMMES, 2004, p. 22, grifo do autor).

 

Sabemos que a música às vezes de acordo com o modo como é tratada, tem a capacidade de acalmar, concentrar e disciplinar, temos na musicalização uma riqueza que deve ser explorada em sua totalidade.

Del Bem e Hentschke (2003), também nos trazem informações sobre como a música é vista e utilizada nas escolas. A investigação com três professores de musica (especialistas) demostram a preocupação em inserir efetivamente a musica no currículo, ao mesmo tempo em que demostram a valorização desse ensino por motivo que estão fora do contexto musical, isso é, ensina-se a musica como meio (para amenizar agressividade, para ajudar na concentração, para disciplinar, acalmar, facilitar na aquisição de novos conhecimentos em outras disciplinas como português e matemática etc.) e não o ensino musical visando o conhecimento musical em si.

Beyer constatou que várias das concepções reveladas em relação a musicalização voltadas a um pensamento utilitarista:

 

Música é um importante coadjuvante no trabalho psicomotor, inglês, aprendizagem de números, cores etc.[...] a música vai ajudar a acalmar as crianças [...] vai organizar as crianças [...] música alegra as crianças [...] música é excelente marketing para a escola (BEYER, 2001, p.46-47 apud HUMMES, 2004, p. 23)

 

O processo de musicalização deve destinar-se a todos, buscando (desenvolver esquemas de apreensão da linguagem musical). Durante este processo, “[...] adquire-se uma sensibilidade que é construída num ambiente onde as potencialidades de cada indivíduo são trabalhadas e preparadas de modo a compreender e reagir ao estímulo musical” (PENNA, 1990, p. 22).

Musicalizar é ainda:

 

[...] Desenvolver os instrumentos de percepção necessários para que o indivíduo possa ser sensível a música, aprendê-la, recebendo o material sonoro/musical como significativo (PENNA, 1990, p. 22).

 

Musicalização é um “[...] processo bidirecional e integrado entre homem e música” (PENNA, 1990, p. 22). Este processo ocorre dentro e fora da escola. Por isso, é muito importante levar em consideração as experiências que ocorrem no dia a dia nas situações informais em que o ser humano está inserido.

A vivência musical promovida pela musicalização permite na criança o desenvolvimento da capacidade de expressar-se de modo integrado, realizando movimentos corporais enquanto canta ou ouve uma música. O canto é usado como forma de expressão e não como mero exercício musical.

 

O termo “musicalização infantil adquiri então uma” conotação especifica, caracterizando o processo de educação musical por meio de um conjunto de atividades lúdicas, em que as noções básicas de ritmos, melodia, compasso, métrica são, tonalidade, leitura e escrita musicais são apresentadas á criança por meio de canções, Jogos, pequenas danças, exercícios de movimento, relaxamento e prática de pequenos conjuntos instrumentais (BRITO 1998 apud JOLY, 2003, p. 116, grifo do autor).

 

É fundamental que o educar favoreça, por meio de atividades programadas, a exploração de diversos instrumentos de percussão, a demonstração de instrumentos de corda e de sopro, o contato corporal e os vínculos afetivos estingando a curiosidade pelo saber e fazer musical. Os conteúdos devem abordar melodias, ritmos, harmonia, som e silencio.

Sempre que possível, deve-se realizar um momento de musicalização infantil, em que o educador se programa para fazer uma abordagem musical mais significativa, utilizando os termos adequados para falar de música, dessa forma, desenvolvendo a inteligência musical da criança em uma linguagem apropriada á idade.

 

 

Conclusão

 

Com base na pesquisa apresentada, evidencia-se que as diversas áreas do conhecimento podem ser estimuladas com a prática da musicalização. Ao entender diferentes aspectos do desenvolvimento humano: físico, mental, social, emocional e espiritual, a música pode ser considerada um agente facilitador do processo educacional.

A presença da música na educação auxilia a percepção, estimula a memória e a inteligência, relacionando-se ainda com habilidades linguísticas e lógico-matemáticas ao desenvolver procedimentos que ajudam o educando a se reconhecer e a se orientar melhor no mundo.

O ensino de música caminha em direção ao fazer musical criativo, à escrita musical e seus conhecimentos são acessíveis a todos os indivíduos indistintamente.

A música é manifestação humana, seja em forma de ciência ou de arte, e sempre acompanhou o homem em seu progresso. Esteve ligada à vida religiosa e cívica, desde os tempos mais remotos. E entendendo-se que a música veicula a integração social e emocional com os grupos concluiu que a educação musical é imprescindível na vida das pessoas. Todos se unem pela música e são dominados pelo seu poder mágico e continuarão a amá-la se o desenvolvimento for feito atendendo às suas atividades normais, ou seja, valorizando a vivência a vivência, a bagagem musical que cada qual traz do seu meio e dentro de si.

Hoje, há uma enorme necessidade de compreensão da música e dos processos de ensino e aprendizagem dessa arte. Até que se descubra seu real papel, até que cada indivíduo em particular, e a sociedade como um todo, se convençam de que ela é uma parte necessária, e não periférica, da cultura humana, até que se compreenda que seu valor é fundamental, ela terá dificuldades para ocupar um lugar proeminente no sistema educacional.

 

 

Referências

 

ANDRADE. Klésia Garcia; CAVA Laura Célia S. Cabral. Fundamentos e metodologias do ensino das artes e da música. Londrina Paraná, 2007

 

COELHO, Raquel. Música. São Paulo: Formato, 2006.

 

HUMMES, J. As funções do ensino de música, sob a ótica da direção escolar: um estudo nas escolas de Montenegro/Rs.2004.

 

JOLY, Ilza Zenker Leme. Educação e educação musical. São Paulo: Moderna, 2003. P. 113-140

 

PENNA, M. Reavaliações e buscas em musicalização. São Paulo: Loyola, 1990.

 

SCHAFER, Murray. A afinação do mundo. São Paulo: Edunesp, 2001.