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ENSINO DE ESPORTES DE LUTAS NAS ESCOLAS




Vagner Frozza

SUMÁRIO



1 INTRODUÇÃO 3

2 DESENVOLVIMENTO 4

3 CONCLUSÃO 11

REFERÊNCIAS 12




 

  • INTRODUÇÃO

 

Esse estudo de produção textual interdisciplinar, têm como objetivo integrar conhecimentos e saberes das disciplinas ofertadas no sexto semestre do curso de licenciatura em Educação Física, sobretudo, referente a disciplina de metodologias de lutas.

Para a execução deste projeto, dividiu-se o trabalho em duas partes distintas: a primeira parte denominada “produção de texto” e a segunda parte uma entrevista com professor da área.

Na produção de texto foram levantados dados bibliográficos a respeito da relevância da Educação Física na escola, assim como do ensino de esportes de luta dentro destas instituições.

Já na segunda parte, foi realizada uma entrevista com um professor de Judô a fim de levantar dados da situação da escola, dos estudantes, da prática da luta por estudantes, dentre outros quesitos.

 

  • DESENVOLVIMENTO

 

1ª Parte – Produção de Texto

Tema: Metodologia do Ensino de Lutas

A prática da educação física está cada vez mais importante no século XXI. “O esporte, as ginásticas, a dança, as artes marciais, as práticas de aptidão física tornam-se, cada vez mais, produtos de consumo” fomentadas “pelas novas condições socioeconômicas” que “leva um grande número de pessoas ao sedentarismo, à alimentação inadequada, ao estresse, etc” (BETTI e ZULIANE, 2002, p. 74).

Neste contexto, é primordial que as pessoas pratiquem exercícios físicos, não apenas isso, que as crianças e jovens sejam conscientizadas da importância desta prática. Referente a isso, pauta-se a educação física na escola. Nos dizeres de Betti e Zuliane (2002, p. 75), a Educação Física na escola tem como objetivo

 

Introduzir e integrar o aluno na cultura corporal de movimento, formando o cidadão que vai produzi-la, reproduzi-la e transformá-la, instrumentalizando-o para usufruir do jogo, do esporte, das atividades rítmicas e dança, das ginásticas e práticas de aptidão física, em benefício da qualidade da vida

 

No entanto, embora a Educação Física seja responsável pelos movimentos, atividades e esportes acima elencados, deve-se considerar as idades dos estudantes a fim de desenvolver as melhores metodologias de ensino.

A Educação Física no início do Ensino Fundamental (1º até 4º ano) possui o foco no desenvolvimento de habilidades motoras; a partir do 5º ano do Ensino Fundamental deve incentivar a prática de ginásticas, esportes, jogos, lutas e danças; já no ensino Médio a Educação Física possui maior caráter social e deve sempre inovar, cujo intuito além de promover o movimento é trabalhar a autoestima e a socialização dos jovens (BETTI E ZULIANE, 2002).

Neste sentido, pautam-se os esportes de lutas, promovidas e ensinadas por profissionais de Educação Física em algumas escolas.

As lutas estão presentes em diferentes culturas, sobretudo ocidentais e são responsáveis por carregar, durante séculos, ensinamentos, tradições, costumes e histórias de um povo. Nesta caminhada a luta já fez parte de preparações para guerra, religião, ritos, jogos, cerimônias, exercícios físicos, dentre outras atividades (ESPARTERO, 1999). 

Correia e Franchini (2009) definem as atividades de lutas como patrimônio cultural de diferentes povos e uma vez que carregam ensinamentos milenares designam sua prática como um conhecimento a ser estudado, compreendido e desmistificado.

O princípio da desmistificação das lutas pauta-se sobre a falsa ideia de que a sua prática é somente ofensiva. No século XXI a luta é considerada uma aliada que proporciona benefícios físicos e psicológicos, sobre estes é possível mencionar que: diminui o estresse, melhora a concentração, a flexibilidade, as dores nas costas, o desenvolvimento motor, a musculatura, dentre outros.

Não apenas isso, os japoneses utilizavam da luta para além dos objetivos físicos, mas também, espirituais. Sobretudo nos controles de impulsos, na manutenção da calma e na redução do estresse. Vale ressaltar que em algumas práticas, tal como no Karatê, está inclusa a prática da meditação juntamente ao esporte (GOMES, 2008).

No que tange a conjuntura educacional, encontra-se sugestões nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) de Educação Física para utilização das lutas/ artes marciais no contexto da Educação Infantil, no Ensino Fundamental e Médio, sendo consideradas atividades escolares extracurriculares (BRASIL, MEC, 1997). 

Já em nível superior de ensino as atividades de lutas/ artes marciais são fomentadas por órgãos de representação estudantil, tais como atléticas, centros acadêmicos e diretórios com intuito de, mediante a prática, agregar conhecimentos aos estudantes de Educação Física e fomentar aos demais cursos que realizem esportes e atividades físicas (CORREIA E FRANCHINI, 2009).

Dentro do contexto educacional, as lutas, os esportes de combate e as artes marciais são encontradas como disciplinas regulares de cursos de licenciatura e bacharelado em Educação Física (DEL VECHIO; FRANCHINI, 2006).

Não apenas nas escolas, os esportes de lutas são praticados por pessoas em diferentes fases da vida. Sendo cada vez mais fácil de encontrar essas práticas em “clubes, academias, institutos, condomínios, empresas, organizações não governamentais, centros esportivos municipais, praças públicas” (CORREIA E FRANCHINI, 2009). 

Numa perspectiva acadêmica, Gomes (2008, p. 25) em consonância a Paes (2002) menciona que  

 

as Lutas trazem para o mundo da educação física parcelas de tradição, cultura, filosofia, rituais, disciplina, além de aspectos relacionados ao corpo, movimento, passíveis de serem transmitidos, preservados e reorganizados no decorrer de suas atividades milenares”. 

 

As competições em esportes de combate ganham visibilidade e repercussão, sobretudo, devido aos Jogos Olímpicos, o que fomenta pessoas e profissionais da área a buscarem aperfeiçoamento de técnicas, seja para competir como atleta ou ocupar o lugar de técnicos, neste caso, os profissionais de Educação Física (CORREIA E FRANCHINI, 2009).

No que diz respeito as modalidades de combate, Gomes (2008) apresenta algumas diferenças que fazem com que as lutas divirjam-se entre si, demonstrando uma série de questões responsáveis por isso tais como “os objetivos de um combate, tipo de contato entre oponentes, suas ações motoras, distância entre oponentes, tipo de meta no enfrentamento”.

Não apenas isso, a autora denota que os critérios de movimentos utilizados em cada luta une as modalidades semelhantes e separa as diferentes. Tais concepções abordadas por Gomes (2008) permitiram-na apresentar alguns critérios já respaldados por Espartero (1999), que classifica os esportes de lutas em diferentes modalidades:

  • Com Agarre (Derrubar e/ou excluir, controlar e fixar): Luta leonesa, Judô, Luta Olímpica, Luta Canária;
    • Característica: O objetivo é derrubar, excluir ou fixar o oponente no local da luta.
  • Sem Agarre: (Tocar): Esgrima, Kendo, Palo Canário;
    • Característica: Pauta-se sobre ações motoras com objetivo de impactar ou golpear, sobretudo, através de chutes e socos.
  • Sem Agarre: (Golpear, impactar): Karatê, Kung Fu, Boxe, Taekwondo.
    • Característica: É uma outra modalidade onde o toque ao adversário depende de um implemento, como uma espada.

Já no que diz respeito às lutas, Gomes (2008) ao mencionar Bayer (1994) apresenta 5 princípios condicionais das lutas, que são eles:

  • Contato Proposital: São necessários para que a luta ocorra e se desenvolva, podem ser realizadas de diversas formas: através de mãos, punhos, braços, pernas e de forma continua ou intermitente.
  • Função Ataque/Defesa: Princípio básico de jogos ou atividades de oposição. Os autores mencionam que enquanto o adversário ataca o outro se defende, no entanto, a estratégia ataque e defesa podem ser realizadas simultaneamente.
  • Imprevisibilidade: Essa caraterística denota o fato de que não é possível prever a luta como um todo, afinal os movimentos estão condicionados as estratégias de defesas e ataques dos oponentes e moldam-se no decorrer da luta.
  • Oponente/ Alvo: Este princípio afirma que para o acontecimento da luta faz-se necessário a existência de um alvo, seja uma pessoa ou objeto. O fato é que no caso de indivíduos dá-se a característica da imprevisibilidade.
  • Regras: De acordo com os autores, as regras e normas que versam as lutas podem pautar-se sobre questões sociais, políticas ou éticas. O fato é que em todo esporte de luta existem regras. Neste sentido, pautam-se regras entre o que é permitido e proibido em combate, assim como os recursos a serem utilizados: pernas, mãos, braços, etc.

Pautadas as modalidades e características das lutas, menciona-se que é fundamental a presença de um educador formado em Educação Física para o ensino de lutas nas escolas, afinal, somente este terá a competência de ensinar a história e costumes por trás das práticas.

Logo, o ensino de lutas durante a educação infantil e no ensino fundamental são diferentes da metodologia aplicada ao ensino médio e para adultos. 

O ensino do esporte para crianças da educação infantil e ensino fundamental pauta-se sobre o lúdico. Assim, é comum verificar a presença de atividades de jogos, brincadeiras e encenações. De acordo com os parâmetros adotados os professores ensinam a história da luta, e alguns movimentos e gestos. Vale ressaltar que os movimentos de ataques e defesas devem ser ensinados da forma como devem ser executados, no entanto, devido à idade das crianças não deve-se cobrar que os executem de forma perfeita. Os professores, ainda, podem fazer adaptações de implementos em tamanhos e pesos menores quando ensinam crianças (GOMES, 2008).

Já no ensino de adolescentes e adultos os professores devem atentar-se ao ensino da história por trás da luta, as razões e porquês de lutar, o desenvolvimento de táticas desde iniciais até avançadas e a fomentação dos alunos em combate. Não obstante isso, devem motivar aos alunos que respeitem a hierarquia, obedecer aos mais experientes, realizar tarefas de limpeza do tatame, abrir e fechar a academia (ou sala de combate), dentre outras atividades (GOMES, 2008).

As artes marciais, portanto, além de promover atividades físicas e melhorar o condicionamento dos alunos, faz com que estes tenham condições de se defenderem frente a situações de perigo, aliviam o estresse, a raiva, proporcionam uma válvula de escape as dificuldades da vida, auxiliam no equilíbrio emocional, dentre outros benefícios.

É primordial, portanto, a existência de um educador formado em Educação Física nas escolas a fim de que passe os conhecimentos da forma correta, bem como aplique as regras das artes marciais aos estudantes de modo que estes entendam o verdadeiro significado do esporte.














2ª Parte:

Nessa segunda etapa encontra-se a entrevista realizada com o professor de educação física:

  1. Quais esportes de lutas e artes marciais olímpicas e não olímpicas desenvolvidos na escola?

R- Judô.

 

  • Quais são as metodologias para o desenvolvimento dessas modalidade? 

 

Inicia-se o ensino relatando acerca da teoria do Judô que versa sobre o local de criação e qual o ensinamento inicial que o mestre gostaria de passar aos seus aprendizes, é relatada também a história de sua vinda para o Brasil e é realizada a explanação das regras, neste quesito fala-se a respeito do que é permitido e o que é proibido durante a luta. A metodologia aplica, além de táticas de ataques e defesas são brincadeiras e atividades diferenciadas. A professora busca desenvolver, a cada aula, a prática de um novo golpe com os alunos, respaldando-se de conscientizá-los de que estes não devem ser utilizados fora da escola. A professora menciona ainda, que ao final de cada ano, fomenta competições entre alunos no intuito de dar visibilidade ao esporte e motivar aos alunos que se tornem competidores ou professores de Judô.

  1. 3. Como é a aceitação dos alunos na prática da modalidade de lutas nas aulas de educação física e principalmente o envolvimento de meninos e meninas? 

A professora menciona que as aulas de Judô na escola possuem aceitabilidade de 100% dos estudantes envolvidos, sendo a aula que os estudantes verbalizam “gostarem mais”. No quesito envolvimento de meninos e meninas a professora ressalta que a necessidade da prática em dupla faz com que os envolvidos interajam, independente do sexo. No entanto, no momento de competições a professora afirma separar as lutas entre masculinas e femininas. A professora ressalta que devido o dinamismo de sua aula, os alunos não sentem-se excluídos ou envergonhados, todos participam.

  1. Qual é a estrutura e quais são os materiais disponíveis na escola para o desenvolvimento da modalidade de lutas?

A estrutura necessária é uma sala, se possível climatizada, com um tatame e os kimonos. Neste quesito a professora ressalta encontrar todos estes disponíveis na escola em que leciona.

  1. Quais são as principais dificuldades encontradas para realização da modalidade lutas e artes marciais nas aulas de educação física?

A professora afirma não ter dificuldades no ensino de Judô. Ela afirma que isso é decorrente de uma rígida cobrança acerca das regras que versam os esportes de lutas.

  1. A respeito das capacidades motoras, procure através de um questionamento ao professor, qual ou quais capacidades motoras são mais relevantes e mais utilizadas na infância e adolescência para as modalidades de lutas e artes marciais que ele trabalha na escola (força, velocidade, resistência, flexibilidade ou coordenação).

A coordenação sobre o que é direita e esquerda, de onde e como atacar e de defender; a observação e velocidade para saber utilizar e se defender de golpes no momento correto; a força para desenvolver os golpes e pontuar, já neste sentido a professora ressalta que a força é utilizada para auto defesa, uma vez que o Judô tem maior relevância para defesa do que para ataque; flexibilidade para executar os golpes da maneira perfeita, sendo essa necessária para garantir o movimento do corpo, seja na esquiva ou no ataque.

A professora ressalta que as lutas para crianças são essenciais no desenvolvimento da coordenação motora, sobretudo no desenvolvimento de agilidades, de velocidade, da força e do condicionamento físico dos indivíduos. Já numa perspectiva de ensino para indivíduos mais velhos, a luta parte para o pressuposto de treinamento para combates, auxiliando nos ataques e defesas e preparando indivíduos para competições a níveis interescolares, intermunicipais, interestaduais e assim por diante.

 

  • CONCLUSÃO

 

Ao fim deste projeto foi possível concluir que os professores de Educação Física, precisamente os mentores de esportes de lutas, utilizam-se deste para desenvolver as capacidades motoras e o condicionamento físico dos estudantes.

Não obstante, através da observação das atividades desenvolvidas e da pesquisa junto ao professor, observou-se a motivação dos estudantes em participar de um esporte tal como o Judô. Motivação essa, vezes fomentada pela esperança de tornarem-se grandes competidores ou pelo prazer e interatividade das aulas.

Portanto, as artes marciais são responsáveis por causar benefícios físicos e psicológicos aos envolvidos, benefícios estes que vão além de uma atividade física, mas sim, que trabalham nos envolvidos características de empatia, diminuição do estresse, melhora na qualidade de vida, controle da raiva, dentre outros. E não apenas isso, abre portas para uma carreira de atleta aos estudantes. 

Vale ressaltar a importância da formação dos professores de esportes de lutas, uma vez que somente profissionais de Educação Física capacitados são capazes de transmitir todos os ensinamentos que demandam as disciplinas, ensinamentos estes tais como a história da luta, a cultura, o respeito, o equilíbrio emocional, dentre outros.

 

REFERÊNCIAS

BAYER, C. O ensino dos desportos coletivos. Lisboa: Dinalivro, 1994.

 

BETTI, Mauro, ZULIANE, Luiz Roberto. Educação Física Escolar: Uma Proposta de Diretrizes Pedagógicas. Revista Mackenzie de Educação Física e Esporte I (I): 73-81, 2002.

 

BRASIL. Ministério da Educação e Cultura. Parâmetros curriculares nacionais. Brasília: MEC, 1997.

 

CORREIA, Walter Roberto, FRANCHINI, Emerson. Produção acadêmica em lutas, artes marciais e esportes de combate. Artigo in Motriz. Revista de Educação Física, 2009.

 

DEL’VECCHIO, F. B.; FRANCHINI, E. Lutas, artes marciais e esportes de combate: possibilidades, experiências e abordagens no currículo de educação física. In: SAMUEL DE SOUZA NETO; DAGMAR HUNGER (Org.). Formação profissional em Educação Física: estudos e pesquisas. Rio Claro: Biblioética, 2006, v. 1, p. 99-108.

 

ESPARTERO, J. Aproximación histórico-conceptual a los deportes de lucha  In: VILLAMÓN, M.  Introducción al Judo. Barcelona: Editorial hispano Europea S.A., 1999.

GOMES, Maria Simões Pimentel. Procedimentos Pedagógicos para o Ensino das Lutas: Contextos e possibilidades. Dissertação de Mestrado in Universidade Estadual de Campinas- Campinas, SP: 2008.