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A RELAÇÃO ENTRE O CRESCENTE ÍNDICE DE DIAGNÓSTICO DE AUTISMO NO PERÍODO PÓS PANDÊMICO: UM ESTUDO DE CASO A PARTIR DA EMEB SÃO SEBASTIÃO EM CUIABÁ-MT

Francieli Jesus de Souza[1]

Geisinete AparecidaPinto de Magalhães[2]

Gisele cristina borges[3]

Josidelma Nunes da Silva[4]

Liliane Cardoso da Silva[5]

 

 

RESUMO

O ano de 2020 certamente será lembrado pela humanidade por inúmeras razões, dentre as quais pela pandemia do Covid 19- SARS-CoV-2, fenômeno que colocou em xeque convicções, posturas e o próprio futuro. A pandemia atingiu de forma direta o contexto que envolve a educação, em especial no que diz respeito à dimensão psicológica de seus atores sociais e como consequência as escolas passaram a lidar com outras questões até então não experienciadas, como é o caso crescente do número de crianças diagnosticadas com autismo. Neste sentido, este artigo tem por objetivo refletir quanto à relação existente entre o crescente índice de diagnóstico do autismo no período pós pandêmico e o reflexo desta realidade na EMEB São Sebastião em Cuiabá-MT, uma vez que a pandemia desnudou a realidade perpassada pelas lacunas no processo formativo docente, que não possui expertise no atendimento especializado à crianças com o Transtorno do Espectro Autista - TEA, mais que carece realizar o atendimento junto àquelas que demandam de uma atenção específica nas escolas da rede municipal de ensino em Cuiabá MT. Metodologicamente o artigo em tela refere-se a uma pesquisa qualitativa, bibliográfica exploratória mediante experiência da escola em questão, que aponta para o processo de ressignificação das práticas docentes, ao lançarem mão da dimensão lúdica com especial atenção à música a fim de realizar o atendimento à crianças com TEA, tendo em vista que a música possibilita maior socialização e melhora na comunicação das mesmas.

 

 

Palavras-chave: autismo; período pós pandêmico; EMEB São Sebastião em Cuiabá- MT.

 

 

ABSTRACT

The year 2020 will certainly be remembered by humanity for numerous reasons, including the Covid 19-SARS-CoV-2 pandemic, a phenomenon that put convictions, attitudes and the future itself in check. The pandemic directly affected the context that involves education, especially with regard to the psychological dimension of its social actors and, as a consequence, schools began to deal with other issues that had not been experienced until then, as is the case of the growing number of children diagnosed with autism. In this sense, this article aims to reflect on the relationship between the increasing rate of diagnosis of autism in the post-pandemic period and the reflection of this reality in EMEB São Sebastião in Cuiabá-MT, since the pandemic exposed the reality permeated by the gaps in the teaching training process, which does not have expertise in specialized care for children with Autism Spectrum Disorder - ASD, but needs to provide care with those who demand specific attention in schools of the municipal education network in Cuiabá MT. Methodologically, the article in question refers to a qualitative, exploratory bibliographic research through the experience of the school in question, which points to the process of re-signification of teaching practices, by making use of the playful dimension with special attention to music in order to perform the service to children with ASD, given that music enables greater socialization and improves their communication. Keywords: Autism, Post Pandemic Period, EMEB São Sebastiaão in Cuiabá-MT.

 

 

INTRODUÇÃO

 

A pandemia, evento vivenciado em uma perspectiva planetária pela humanidade no período relativo ao ano de 2019 até início do ano de 2022, se apresenta como um tempo perpassado por muitas experiências até então desconhecidas pela sociedade. Muitas foram às crises que se materializaram em transformações ocasionadas em função de tal fenômeno.

No tocante ao contexto educativo, a crise implicou em processo de ressignificação e lida com novas realidades, uma vez que a pandemia deixou como conseqüências marcas profundas nas vidas das pessoas em diferentes ordens, dentre as quais psicológicas. Dentre essas marcas, um fenômeno crescente na realidade das Escolas Públicas em Cuiabá é o diagnóstico de crianças com o Transtorno do Espectro Autista TEA, que se trata de uma condição neurobiológica pertencente ao grupo dos transtornos do neurodesenvolvimento qualificado por déficits na linguagem e comunicação, com interação social e alterações no comportamento.

Na EMEB São Sebastião em Cuiabá-MT as aulas relativas ao ano letivo de 2020 com base no calendário da Rede Municipal de Educação de Cuiabá - SME tiveram início em 03/02/2020. Contudo, em 18/03/2020 mediante Decreto Municipal de nº 7846/2020, as escolas tiveram que suspender as atividades presenciais, a fim de cumprir com o artigo. 18 do referido documento, que suspendia temporariamente as atividades presenciais escolares das escolas públicas municipais, a partir do dia 23/03/2020, como forma de prevenção à disseminação do COVID-19.

No ano de 2022, mais precisamente no dia 07 de fevereiro, a rede municipal de ensino retoma suas atividades presenciais, porém, a realidade pós pandêmica trouxe com ela questões relativas ao novo, que inclui também a saúde, dentre tantas outras questões. A Escola que se localiza na regional Sul da capital, no Bairro São Sebastião atende 484 alunos distribuídos no ensino fundamental e desde fevereiro do corrente ano recebeu 09 laudos que comprovam o TEA em a com faixa etária entre 04 e 07 anos.

A nova realidade evidencia além das lacunas no processo formativo docente, também a imprescindibilidade da formação continuada docente. De Queiroz e Cardoso (2014) revelam que o professor no tempo atual, tem apresentado dificuldades no sentido de elaborar materiais didáticos que auxilie no desenvolvimento de sua prática na sala de aula, em especial no que diz respeito ao atendimento personalizado que algumas crianças demandam, deixando clara a necessidade de que haja formação contínua que permita conhecer formas de ação e o repensar quanto aos conteúdos e programas pedagógicos curriculares em uma perspectiva de inclusão.

 

 

Pandemia: Da Novidade ao Processo de Transformação da Realidade

 

A EMEB São Sebastião, trabalha com os conhecimentos formais, ao mesmo tempo em que incluem os conhecimentos sobre o significado social da cultura afro-brasileira e indígena em Cuiabá e a própria transmissão e transição do patrimônio cultural. A produção de conhecimentos é marcada pela história do lugar, quando as práticas culturais são produzidas nos percursos locais em conexão ou divergência com o contexto global.

Dessa maneira, o fazer pedagógico está intrinsecamente relacionado à realidade histórica, regional, política, sociocultural e econômica, uma construção pautada na realização de um registro da realidade da comunidade e de seu entorno. Tendo em vista o período pós pandêmico, os profissionais da educação têm buscado desenvolver uma proposta curricular inclusiva, sem perder o nexo com as transformações ocorridas na sociedade global pelo desenvolvimento das Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação.

Com base na organização curricular da rede municipal de educação do município de Cuiabá, que, conforme política educacional da Escola Cuiabana, é sustentada pelos Ciclos de Formação Humana, os docentes tem buscado desenvolver a aprendizagem dos estudantes na peculiaridade do desenvolvimento em seus tempos-Ciclos de Vida, de forma a considerar as consequências advindas do período pandêmico, uma vez que, conforme Segata apud Senhoras (2020), a “adoção de padrões comuns  e a tentativa de produzir uma saúde global se deu a partir de epidemias. Quando determinadas pestes deixam de ser locais, o conhecimento também atravessa fronteiras”

A EMEB “São Sebastião trabalha apenas com o ciclo de vida da infância, e a enturmarão das turmas ocorre da seguinte forma:

 

Educação Infantil

 

● 2ª Infância – Ciclo de Formação composto pelas crianças pequenas de 4 anos a 5 anos e 11 meses

 

Ensino fundamental

 

● 3ª Infância – 1º Ciclo de Formação: composto pelas crianças pequenas de 6 a 7 anos.

● • Meninice – 2º Ciclo de Formação: composto pelas crianças de 8 a 9 anos.

● Puberdade ou pubescência – 3º Ciclo de Formação: composto pelas crianças de 10 a 11 anos.

 

Fonte: PPP da EMEB São Sebastião.

 

O currículo para a Educação Infantil da instituição em tela é voltado para as Interações e a Brincadeira como eixos centrais para a consolidação das aprendizagens e propõe a organização do trabalho pedagógico a partir dos cinco Campos de Experiências, a saber:

--O eu, o outro e o nós.

--Corpo, gestos e movimentos.

--Traços, sons, cores e formas.

- Escuta, fala, pensamento e imaginação.

- Espaços, tempos, quantidades, relações e transformações.

Visando articular os saberes das crianças com os conhecimentos formais, esta unidade educacional utiliza as modalidades organizativas (Atividades permanentes, projetos didáticos e sequencias didática). Tais práticas são efetivadas por meio de relações sociais que as crianças desde bem pequenas estabelecem com os professores e as outras crianças, e afetam a construção de suas identidades.

Em se tratando do Ensino Fundamental, a unidade de ensino, a exemplo de escola ciclada, procura fazer opção por "um desenvolvimento curricular dialético, voltado para uma metodologia globalizada e interdisciplinar" (CUIABÁ, 1999, p. 50)

A estrutura do currículo do Ensino Fundamental, em consonância com a Base Nacional Comum Curricular - BNCC (2017) e a política da Escola Cuiabana (2019) divide-se em quatro áreas do conhecimento, no sentido de favorecer a comunicação entre os conhecimentos e saberes dos diferentes componentes curriculares, como será apresentado neste documento. Estas áreas de conhecimento têm seu papel na formação integral dos estudantes, considerando as características específicas de cada um e as demandas pedagógicas de cada fase do processo de escolarização.

Os conteúdos são organizados por áreas de conhecimentos e carga horária, de forma que são garantidos aos alunos os duzentos dias letivos, oitocentas horas/aulas, em conformidade com Lei Federal Nº 9.394/96.

 

 

Autismo: Um Fenômeno Crescente.

 

O transtorno do espectro autista (TEA), em geral conhecido como autismo, consiste em uma condição neurobiológica cujas características evidenciam déficits na interação social, dificuldades na comunicação e linguagem e alterações no comportamento. Tendo em vista tratar-se de um transtorno que causa prejuízos consideráveis, o mesmo requer um tratamento especializado.

O (TEA), refere-se a uma condição neurobiológica, que integra o grupo de transtornos do neurodesenvolvimento, evidenciado mediante dificuldades constantes na comunicação e na interação social em múltiplos contextos, padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses ou atividades, os sintomas causam prejuízos clinicamente significativos (APA, 2014). Tais características fazem parte da tríade de sintomas do funcionamento autista.

Silva, Gaiato e Reveles (2012, p.173) destacam que “a origem do transtorno estaria relacionada a um grupo de genes e da interação entre eles, e não a um gene único como causador do problema”, isto é, uma das causas é a genética. Outros fatores, tais como os ambientais também podem ser levados em consideração, “como a idade parental avançada, baixo peso ao nascer ou exposição a ácido valproico, pode contribuir para o risco de transtorno do espectro autista” (APA, 2014, p.56).

Pelo fato de se tratar de um transtorno do neurodesenvolvimento, "os primeiros sintomas do autismo manifestam-se, necessariamente, antes dos 3 anos, o que faz os profissionais da área da saúde busquem incessantemente o diagnóstico precoce”. (SILVA; GAIATO; REVELES, 2012, p.20). Tais sinais e sintomas podem ser observados na primeira infância e os mesmos se apresentam na perspectiva de prejuízo na atenção compartilhada, pouco contato visual, falta do gesto de apontar, mostrar objetos, comportamentos repetitivos (p.ex., abanar as mãos), fala repetitiva (p.ex., ecolalia), necessidade de rotinas e rituais, andar na ponta dos pés, processamento sensorial diferenciado, entre outros. (APA, 2014).

Dada a complexidade que perpassa as dimensões do TEA, o acompanhamento das fases do desenvolvimento da criança é de fundamental importância para a identificação de alterações logo na primeira infância, a fim de que se possa dar início a um tratamento adequado.

Em se tratando dos critérios diagnósticos específicos, relativos a área de déficit da interação social, as pessoas diagnosticadas com Espectro Autista, podem apresentar dificuldades nas habilidades socioemocionais, além de dificuldades em dar início e manter uma interação sociais (APA,2014).

Na EMEB São Sebastião, existem 09 crianças diagnosticadas com autismo, mediante laudo médico e 02 crianças em processo de análise por especialistas da área médica. Somada a esta questão, ao todo, a escola em questão, possui 19 crianças com necessidades educacionais específicas.

Silva, Gaiata e Reveles (2012) afirmam que pessoas autistas possuem “dificuldades de compartilhar momentos ou interesses com outras pessoas”, também a falta de contato visual, atenção compartilhada e o isolamento é considerado como sintomas do autismo (SILVA; GAIATA; REVELES, 2012). Contudo, as habilidades sociais originam do pensamento social, o qual é nutrido pela tomada de perspectivas, flexibilidade, curiosidade, autoestima, visão abrangente e comunicação (NOTBOHM, 2014). Neste sentido, tendo em vista que as pessoas diagnosticadas com o espetro autista apresentam déficit nas habilidades sociais, as mesmas poderão apresentar dificuldades. Tendo em vista que cada ser humano é único, algumas pessoas apresentaram menos ou mais dificuldades, nas subáreas de habilidades.

No que diz respeito à dificuldade de comunicação, pessoas autistas podem apresentar déficits nos comportamentos de comunicação verbais e não verbais, dificuldade para desenvolver, manter e compreender relacionamentos (APA,2014). De forma mais específica Notbohm (2014) afirma que autistas podem apresentar dificuldades na comunicação vocálica, comunicação cinestésica e na comunicação proxêmica. Também consiste em uma particularidade do autismo a repetição da linguagem que é nomeada de ecolalia (SIILVA; GAIATA; REVELES, 2012)

De maneira particular, as alterações no comportamento evidenciadas pelo autismo consistem em: padrões limitados e repetitivos de comportamento, interesses estáveis, persistências nas mesmas coisas, inflexibilidade de mudança da rotina, apego a objetos, hipo ou hiper sensibilidade a estímulos sensoriais (APA,2014).

Silva, Gaiata e Reveles (2012) afirmam que as alterações do comportamento com foco nos hiperfocos, apego a rotina, andar nas pontas dos pés, pensamento concreto, dificuldade de coordenação motora fina, estimulação vestibular, hipercinesia, entre outros, são sintomas do autismo presentes na área específica do comportamento.

No que se refere às alterações do comportamento, Notbohm (2014) destaca que é necessário identificar os desencadeantes de crises de pessoas autistas, os quais dessas causas podem ser a sobrecarga sensorial, desencadeantes físicos/ fisiológicos, causas emocionais ou maus exemplos de adultos. Tendo em vista que pessoas autistas possuírem um processamento sensorial diferenciado, qualquer um desses desencadeantes mencionados até aqui podem ocasionar alterações nos comportamentos.

Importante se faz destacar que, no que tange ao funcionamento do cérebro autista, Grandin e Panek (2016) chama a atenção para o fato de que inexiste lesão, ou rompimento dos circuitos. Na verdade, o que acontece são falhas na transmissão das informações cerebrais de forma a causar prejuízos em algumas áreas específicas do cérebro.

 

 

A Utilização da Música na lida com o aluno autista

 

Estudos confirmam que o autismo não tem cura, mas pode ser tratado, mediante atendimento especializado e em conformidade com cada caso em particular. Conforme Silva, Gaiato e Reveles (2012, p.207) “é preciso que uma equipe multidisciplinar (psiquiatras, psicólogos, fonoaudiólogos, psicopedagogos, educadores) trabalhe de forma integrada e que haja muito empenho e engajamento familiar”.

O período pós pandêmico permitiu aos educadores da EMEB São Sebastião em Cuiabá-MT, compreenderem que a música se apresenta como uma das possibilidades para o tratamento de pessoas autistas. Bernardinho (2013, p.22-23) destaca que: “a música favorece o desenvolvimento da coordenação motora, o equilíbrio sócio-afetivo e emocional, promovendo a comunicação e a socialização, face às necessidades de cada um”. Ou seja, “Há milênios a música tem sido usada nos rituais de cura e para o tratamento de estados físicos e emocionais por distintas civilizações e culturas tradicionais do planeta” (WEBER, 2010, p.17).

Conforme Pereira (2021) a música, mediante os desdobramentos de suas possibilidades, consiste em um valoroso mecanismo para o tratamento de diferentes condições neurológicas e neuropsiquiátricos, dentre os quais o Transtorno do Espectro Autista (TEA) (GFELLER, 2008; KOELSCH, 2014).

Diante do exposto, a utilização da musicoterapia como uma das possibilidades no tratamento do TEA pode ser visualizada como um mecanismo inovador e ao mesmo tempo lúdico tendo em vista suas características. Conforme Muszkat, Correa e Campos (2000),

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A música, mais que qualquer outra arte, tem uma representação neuropsicológica extensa. Por não necessitar, como música absoluta, de codificação linguística, tem acesso direto à afetividade, às áreas límbicas, que controlam nossos impulsos, emoções e motivação.” (MUSZKAT, CORREA, CAMPOS, 2000, p.72)

 

É possível constatar que a musicoterapia se apresenta como uma modalidade terapêutica que utiliza o som e os seus elementos. O sentido de seu uso reside no fato de que ela apresenta diferentes métodos, abordagens, técnicas e objetivos terapêuticos (FREIRE, 2015). Tendo em vista de sua variedade, as experiências musicais na perspectiva terapêutica dividem-se em audição, recriação, improvisação e composição (BRUSCIA, 2016).

Conforme Batista (2016),

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A música é um processo de construção do conhecimento, favorece o desenvolvimento da sensibilidade, criatividade, senso rítmico, do prazer de ouvir música, da imaginação, da memória, da concentração, da atenção, do respeito ao próximo, da socialização e afetividade, também contribuindo para uma efetiva consciência corporal e de movimentação. (BATISTA, 2016, p.2)

 

Em se tratando dos aspectos relativos à especificidade do uso da musicoterapia a existência do aspecto não verbal, se apresenta como uma importante maneira de engajamento de parte considerável das pessoas com TEA na musicoterapia.

Nesta direção, a musicoterapia,

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[...] é a utilização profissional da música e seus elementos, para a intervenção em ambientes médicos, educacionais e cotidianos com indivíduos, grupos, famílias ou comunidades que procuram otimizar a sua qualidade de vida e melhorar suas condições físicas, sociais, comunicativas, emocionais, intelectuais, espirituais, de saúde e bem estar. Investigação, a educação, a prática e o ensino clínico em musicoterapia são baseados em padrões profissionais de acordo com contextos culturais, sociais e políticos”. (WORLD FEDERATION OF MUSIC THERAPY, 2011).

 

Tendo em vista que o ser humano não pode ser separado em partes, a musicoterapia trata o corpo e a mente, psique e soma, matéria e espírito, uma vez que o ser humano é um todo. Assim, a Musicoterapia age na totalidade do ser humano.

A percepção de Benenzon (1988, p.15) é a de que:

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O ser humano não é corpo e mente ou corpo mais mente, nem psique e som ou psique e alma, nem matéria e espírito; é um todo; e a musicoterapia (que, praticamente, entre todas as especialidades médicas utiliza elementos abstratos que não se veem e que somente se perceberem com o transcorrer do tempo), é a técnica que mais se dirige à totalidade do indivíduo.

 

O docente, ao fazer uso da música, faz uso também das propriedades musicais a saber: som, ritmo, melodia e harmonia-, objetivando criar canais de comunicação com seu(s) alunos(s). Ou seja, este profissional mesmo não tendo domínio da formação tradicional – erudita – para o domínio dos conceitos de teoria musical, para acompanhar musicalmente o aluno, faz uso da música no sentido de possibilitar condições para criar, a partir da sua própria musicalidade, a liberdade tão necessária para lidar com a demanda do aluno (CRAVEIRO DE SÁ, 2003).

Ou seja,

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A música engloba toda uma combinação de elementos sonoros, entre o som e o silêncio, destinados a serem percebidos pela audição. Esta combinação inclui variações nas características do som (altura, duração, intensidade e timbre) que podem ocorrer sequencialmente (ritmo e melodia) ou simultaneamente (harmonia). Ritmo, melodia e harmonia são aqui entendidos, apenas, no seu sentido de organização temporal, pois, a música pode conter propositadamente harmonias ruidosas (que contêm ruídos ou sons externos ao tradicional) e arritmias (ausência de ritmo formal ou desvios rítmicos) (SILVA, 2012, p.44).

 

Importante se faz destacar que a música tem por objetivo aumentar a relação de auxílio ao aluno, uma vez que a música, em seu aspecto macro, se apresenta como objeto estimulador e integrador. Ou seja, a música tem a capacidade para desenvolver o tratamento global do sujeito, oportunidade em que suas funções são visualizadas como parte de um todo não dissociado, ou seja, a pessoa, assim como a música, são partes de um todo.

A música está necessariamente vinculada a capacidade de criar e recriar do ser humano. Nesta direção, a música se apresenta como um elo da superfície com a profundidade de nós mesmos. Assim, ao utilizar a música como elemento terapêutico, a ideia não está em aprender música, mais fazer uso dela como tratamento para as tensões diversas que perpassam a vida humana. Neste sentido, a música tem como preocupação transformar a vida das pessoas e torná-las mais harmônicas. (BRUSCIA, 2000).

A música, conforme salienta Pereiria (2021), em uma perspectiva terapêutica, assume papel lúdico, criativo. Trata-se de oportunidades únicas e focam no som, na beleza e na criatividade (BRUSCIA, 2016).

Weber (2010, p.49) chama a atenção para o fato de que “a música é um meio de intervenção muito poderoso em diversas áreas do desenvolvimento de uma criança, tanto a nível mental como físico, sensorial, emocional, psicomotor e social”.

Diante do exposto, pode-se compreender que:

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Torna-se importante que a criança tenha contacto com a música e que esta surge na sua vida de uma forma organizada e recorrente, de forma a possibilitar a criação e a ampliação das suas conexões cerebrais, mediadas de experiências significativas com a música (WEBER,2010, p. 45).

 

Diante de tais evidências, é possível compreender que a música pode influenciar nas possibilidades de aprendizagem de pessoas com TEA. No que diz respeito à influência da música na aprendizagem, Silva (2012, p.46) explica que “aprender com música possibilita a integração de experiências que envolvem a vivência, a percepção e a reflexão, desenvolvendo as crianças para níveis mais concisos”, Batista (2016, p.4) evidencia que:

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A música também permite às crianças atingirem uma aprendizagem favorável ao seu conhecimento apresentando maior significação para o desenvolvimento da cognição e a interação entre as crianças auxiliando- a no desenvolvimento de suas potencialidades, utilizando seu próprio corpo como meio de comunicação e expressão.

 

Contudo, a fim de que aconteça de forma efetiva o processo de aprendizagem com pessoas autistas, Silva, Gaiato e Reveles (2012, p.211) destacam que “um objetivo importante do tratamento é tornar o aprendizado divertido”, ou seja, ao fazer uso da música, na perspectiva da terapia, é de fundamental importância motivar o autista durante o processo de aprendizagem. Razão pela qual, com crianças e adolescentes usa-se muitos recursos lúdicos e do interesse para auxiliá-los no desenvolvimento de novas habilidades.

Em síntese, os autores evidenciados nesse capítulo, ressaltam a respeito da influência da música na aprendizagem de pessoas com Transtorno do Espectro Autista, sendo exposto inicialmente a música, a intervenção terapêutica com a musicoterapia e por último a música como efeito positivo como possibilidade de desenvolvimento de aprendizagem em pessoas autistas.

 

 

Considerações Finais

 

Tendo em vista que o Transtorno do Espectro Autista se apresenta como sendo uma condição neurobiológica que pode trazer prejuízos no processo comportamental, de socialização e comunicação do aluno autista, a prática pedagógica desenvolvida por um grupo de docentes da EMEB São Sebastião em Cuiabá-MT após a pandemia do Covid 19, evidencia a necessidade de articular ao tratamento de pessoas diagnosticadas com o TEA, alternativas metodológicas a serem realizadas mediante desenvolvimento de atividades lúdicas em articulação com os recursos terapêuticos tais como a música.

A música refere-se a uma dimensão da arte, neste sentido, confere às pessoas o contato direto com o som, ritmo, melodia e harmonia, dimensões que auxiliam na melhoria da qualidade de vida em especial das crianças e que na perspectiva de um recurso terapêutico possui capacidade para transformar as conexões que promovem alterações no humor, no desenvolvimento intelectual e emocional.

Diante da experiência vivenciada pelos docentes na EMEB São Sebastião em Cuiabá-MT, é possível afirmar que a música, além de uma possibilidade artística, possui poder transformador mediatizado pelo ritmo, pelo som e pela melodia. Trata-se de elementos que auxiliam no tratamento do autismo, mediante melhoria da capacidade de aprendizagem, comunicação e socialização.

 

 

REFERÊNCIAS

 

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[1] Pedagoga formada pela Universidade Federal de Mato Grosso-UFMT. Especialista em Educação Infantil e Alfabetização pela Associação Varzeagrandense de Ensino e Cultura das Faculdades Integradas de Várzea Grande – FIAVEC. Docente da Educação Básica (1° ano do ensino fundamental) na EMEB São Sebastião da Secretaria Municipal de Cuiabá. O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.

[2] Pedagoga formada pelo Instituto Cuiabano de Educação – ICE. Especialista em Educação Infantil. Docente da Educação Infantil da EMEB São Sebastião da Secretaria Municipal de Cuiabá. O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.

[3] Pedagoga formada pelo Centro Universitário de Patos de Minas (UNIPAM) Especialista em Psicopedagogia pelo Centro Universitário Internacional (UNINTER). Docente da Educação Básica (1 ano) na EMEB São Sebastião da Secretaria Municipal de Cuiabá. O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.

[4] Pedagoga formada Pela Universidade de Cuiabá- UNIC. Especialista em Educação Infantil pela Faculdade de Educação Tecnologia e Administração de Caapó- FETAC . Docente da Educação Infantil na EMEB São Sebastião da Secretaria Municipal de Cuiabá. O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.

[5] Pedagoga formada Pelo Univag Centro Universitário. Especialista em neuroeducacão. Coordenadora Pedagógica da EMEB São Sebastião da Secretaria Municipal de Cuiabá. O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.