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INFORMÁTICA NO PROCESSO DE LETRAMENTO

Andréa Bezerra Ferreira1

Dayane Ferreira de Amaral Côrtes ²

Maria José Nunes Mota Gomes³

Rebeca Sara Serra Costa Nascimento4

Taysa Delarcos de Oliveira5

 

RESUMO

O processo de letramento - onde a atuação social do texto do alfabetizado é considerável - desde a invenção da tecnologia de impressão esteve à margem dessa cultura elaborada pelas editoras e gráficas, onde a forma de comunicar e de estruturar o conteúdo esteve a cargo de um grupo de pessoas. Com o advento das tecnologias digitais, ocorreu a retomada em massa do poder de inferência do leitor, já que nas mídias digitais esse sujeito interage de forma ainda mais rápida e constante no texto, tanto em sua estrutura, quanto em significância. Além de esclarecer aspectos inerentes, este trabalho leva à reflexão dos rumos que estão levando o uso da informática e demais atuais tecnologias digitais no processo de letramento, discutindo mesmo a viabilidade de sua aplicação em sala de aula. 

 

Palavras-chave: Informática. Letramento. Educação.

 

Introdução

           

Ensinar, aprender e dominar a escrita capaz de representar a linguagem humana em símbolos, seguindo certo procedimento, é o que conhecemos como alfabetização. Para o indivíduo, é necessário memorizar conhecimentos e procedimentos, também exercitar suas capacidades motoras e cognitivas, para dizer-se alfabetizado.

Vinda do conceito de alfabetizar, por sua vez o letramento é quando o conjunto de experiências e conhecimentos envolvidos no uso da língua (aprendida da alfabetização) são postas em prática, levando a pessoa letrada a participar ativamente e efetivamente na cultura escrita. Essa participação se refere ao ativo exercício social onde a escrita é necessária.

O letramento, então, aparece como característica do efeito de impacto da escrita. Não é esperado, com a escrita, apenas a capacidade de codificar e decodificar ideias e o mundo natural, mas que isso seja feito de maneira coerente e competente, em textos que comuniquem. Assim, é perceptível o atrelamento e interdependência entre os processos de letrar e alfabetizar. Como expõe Soares (2004):

 

Dissociar alfabetização e letramento é um equívoco porque, no quadro das atuais concepções psicológicas, linguísticas e psicolinguísticas de leitura e escrita, a entrada da criança (e também do adulto analfabeto) no mundo da escrita se dá simultaneamente por esses dois processos: pela aquisição do sistema convencional de escrita – a alfabetização –, e pelo desenvolvimento de habilidades de uso desse sistema em atividades de leitura e escrita, nas práticas sociais que envolvem a linguagem escrita – o letramento. Não são processos independentes, mas interdependentes, e indissociáveis: a alfabetização se desenvolve no contexto de e por meio de práticas sociais de leitura e de escrita, isto é, através de atividades de letramento, e este, por sua vez, só pode desenvolver-se no contexto da e por meio da aprendizagem das relações fonema/grafema, isto é, em dependência da alfabetização.

 

Em se tratando da apresentação e divulgação dos textos escritos, objeto da alfabetização e letramento, a evolução adquirida com a tecnologia de impressão moldou e permitiu estabilidade ao processo de escrita. Com ela, o texto pôde ser reproduzido em cópias idênticas, numerosas e em materiais duráveis. Porém, esteve sempre a cargo de um grupo de pessoas (geralmente autores, editores e conselhos editoriais) a seleção do que é importante para ser impresso - filtrando e determinando os critérios de qualidade.

Em geral, nas tecnologias digitais esse controle não existe. Com a Internet, as pessoas podem inserir seus textos e ter sua validade e qualidade julgadas pelo leitor (acentuando a curta distância, comum nesse meio, entre quem escreve e quem lê). Segundo Soares (2002):

 

Por outro lado, na cultura da tela, altera-se radicalmente o controle da publicação: enquanto, na cultura impressa, editores, conselhos editoriais decidem o que vai ser impresso, determinam os critérios de qualidade, portanto, instituem autorias e definem o que é oferecido a leitores, o computador possibilita a publicação e distribuição na tela de textos que escapam à avaliação e ao controle de qualidade: qualquer um pode colocar na rede, e para o mundo inteiro, o que quiser; por exemplo, um artigo científico pode ser posto na rede sem o controle dos conselhos editoriais, dos referees, e ficar disponível para qualquer um ler e decidir individualmente sobre sua qualidade ou não.

 

A variedade permitida gera problemas quanto a segurança da informação, e capacidade de crivo por parte do leitor. A abundância de informações exige que a própria tecnologia forneça meios para lidar com essa situação. Para Campello (2003), os bibliotecários - agentes classificadores de material impresso - devem compreender a força das tecnologias digitais e devem planejar estruturas para que elas embasem a aprendizagem significativa e não a substitua.

Estamos vivenciando a forte influência que os meios digitais estão produzindo na escrita e na forma geral de se comunicar. Com o uso de emoticons e abundância de informações ao alcance de um hyperlink, a escola e os educadores devem estar preparados para serem capazes de lidar com esse novo formato de escrita (ARAÚJO; BIASI-RODRIGUES; 2005).

 

Processo de Letramento

 

Na sala de aula, o aluno desenvolve as habilidades de leitura e escrita ano após ano, orientado pelo professor. Durante esse processo de alfabetização, lhe é apresentado gêneros literários e propostas de atividades, como a elaboração de recomendação de leitura e resenhas, ou outros que o levem a analisar e contextualizar em seu cotidiano e contexto social os temas que identificar nas obras. Esse tipo de construção responsabiliza o docente e o currículo a sensível tarefa de auxiliar na formação de um senso crítico que seja, ao mesmo tempo, capaz de ser expressado e inédito - partindo da visão do estudante, nunca imposto.

Todo o currículo escolar deve ser pensado de forma a atender o processo de letramento a fim de que não se torne instrumento de alienação. Atualmente, o sistema dominante que indica que a ordem dos conteúdos apresentados devem ser dos considerados “fáceis” aos “difíceis” tem que ser repensado.

Em hipótese alguma pode ser admitido um empobrecimento das práticas de letramento por razão de incompatibilidade do currículo, em termos de sua programação e rigidez. Segundo Kleiman (2008):

 

Assim, o professor que adotar a prática social como princípio organizador do ensino enfrentará a complexa tarefa de determinar quais são essas práticas significativas e, consequentemente, o que é um texto significativo para a comunidade. A atividade é complexa porque ela envolve partir da bagagem cultural diversificada dos alunos que, antes de entrarem na escola, já são participantes de atividades corriqueiras de grupos que, central ou perifericamente, com diferentes graus e modos de participação (mais autônomo, diversificado, prestigiado ou não), já pertencem a uma sociedade tecnologizada e letrada.

 

Essa tarefa de auxílio à apresentação de formas e contextos se torna mais efetiva quando há participação de distintas formas de ver e pensar, que se complementam e criam uma rede de auxílio e compartilhamento de práticas. É nesse momento que o papel das redes sociais de Internet, por exemplo, pode se tornar fundamentais no enriquecimento do processo de letramento.

 

Informática e Letramento

 

Nos computadores e demais meios informáticos, a educação vem a se aproveitar de seus inúmeros recursos - que além de multimídia, acende a ideia de interconexão dos textos exibidos em tela, por meio de links. Assim, o leitor tem à sua disposição diferentes conteúdos e textos que se inter-relacionam e que se comunicam à distância de um clique.

Quando se recebe um programa de computador produzido em outra instituição, ou se pela internet têm-se em poder textos gerados à milhares de quilômetros de onde se acessa, é que se percebe a beleza do compartilhamento e disponibilidade que os meios informáticos trazem, trazendo a cargo para apenas o leitor selecionar o que lhe é de interesse, reforçando e levando o processo de letramento a acontecer efetivamente.

 

A introdução do computador pode enriquecer os ambientes escolares, proporcionando e estimulando trocas e interações. São novas possibilidades que a leitura na tela do computador nos faz experimentar. A leitura não precisa mais ser de forma linear, podemos interagir com as diferentes partes do texto, com os outros, vários textos ao mesmo tempo. Com as transformações da era digital, passa-se a ter novas formas de pensar, comunicar e criar (XAVIER, 2002).

 

No mundo atual ler, escrever e refletir textos apresentados nas plataformas digitais não é raro, por isso educadores e educandos devem estar atentos às ferramentas que podem tornar o processo de educação, de ensino e aprendizagem, de letramento, ainda mais efetivos e alinhados a cultura da interconexão disponível.

Nas tecnologias digitais, principalmente com os computadores e smartphones, o letrado e o texto interagem de forma diferente do que com os textos impressos. O texto digital é dinâmico, facilmente editável, onde a escrita e a leitura possuem características hipertextuais. As ligações com hipermídia (como áudio, imagens e vídeos) tornam o caminho da leitura não linear, ou seja, o leitor é quem escolhe o caminho da leitura e o conteúdo a ser lido, “explorando o espaço virtual de acordo com seus interesses e suas necessidades e construindo seu conhecimento com base nas escolhas que vai realizando” (MAGNABOSCO, 2010).

O gênero digital, no letramento digital, faz a interface entre as práticas sociais e os eventos de letramento. Um exemplo de evento foi o lançamento dos aplicativos de acesso à conta bancária on-line, capazes de serem acessados pelos dispositivos informáticos com acesso à Internet. No início, esse método não foi preferido pelos usuários, tanto por clientes físicos quanto jurídicos, por questões de segurança e usabilidade. Porém, com a prática social, hoje é uma das formas mais comuns utilizadas pelos clientes bancários para a comunicação com a empresa bancária.

A Figura 1 representa a harmonia que há quando um tipo de letramento passa a ser mais comum.

Figura 1 - Articulação dos três elementos do letramento (XAVIER, 2002).

 

Considerações Finais

 

A intenção deste trabalho é a de fomentar e trilhar o processo de letramento utilizando a informática e seus meios. A escrita conjura com as consequências na sociedade, tanto políticas, quanto culturais, econômicas, cognitivas e linguísticas, no grupo social que está introduzida e mesmo no indivíduo que aprende a usá-la (Soares, 2001). Conclui-se que o letramento pode dar-se em tela de dispositivos computacionais tranquilamente e é esperado que isso ocorra nos tempos de hoje.

Também é esperado que educadores e educandos se preparem para utilizarem-se do potencial informático para fazer do processo de letramento efetivo na comunidade em que o alfabetizado está inserido. Capaz de filtrar e interagir com o texto da forma que considere melhor, que esse leitor transponha o conhecimento adquirido e a sua crítica na sociedade.

 

Referências Bibliográficas

 

ARAÚJO, Júlio César; BIASI-RODRIGUES, Bernadete. Interação na Internet: novas formas de usar a linguagem. Rio de Janeiro: Lucerna, 2005.

CAMPELLO, Bernadete. O movimento da competência informacional: uma perspectiva para o letramento informacional. Ciência da informação, v. 32, n. 3, p. 28-37, 2003.

KLEIMAN, Angela B. Letramento e suas implicações para o ensino de língua materna. Signo, v. 32, n. 53, p. 1-25, 2008.

MAGNABOSCO, Gislaine Gracia. Hipertexto e gêneros digitais: modificações no ler e escrever?. Conjectura: filosofia e educação, v. 14, n. 2, 2010.

SOARES, Magda Becker. Letramento e alfabetização: as muitas facetas. Revista Brasileira de Educação. n. 25, p. 5-17, jan./abr. 2004.

______. Letramento: um tema em três gêneros. Autêntica Editora, 1998.

______. Novas práticas de leitura e escrita: letramento na cibercultura. Educação e Sociedade, v. 23, n. 81, p. 143-160, 2002.

XAVIER, Antônio Carlos dos Santos. Letramento digital e ensino. 2002. Disponível in: <http://www.ufpe.br/nehte/artigos/Letramento%20digital%20e%20ensi no.pdf>.  Acesso em 03 de abr. de 2016, v. 16, 2009.

 

[1] Graduação: LICENCIATURA EM PEDAGOGIA/ Faculdades Integradas de Diamantino, e-mail: O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo..

² Graduação: LICENCIATURA EM PEDAGOGIA/ Universidade federal de Goiás, e-mail: O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo..

³ Graduação: LICENCIATURA EM PEDAGOGIA/ Universidade Paulista, e-mail: O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.

4 Graduação: LICENCIATURA EM PEDAGOGIA na Universidade Panamericana de Ji-Paraná, e-mail: O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.

5Graduação: LICENCIATURA EM PEDAGOGIA/ Faculdades Integradas Mato-grossenses de Ciências Sociais e Humanas, e-mail:O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.