O PAPEL DO DIRETOR EM TEMPOS DE PANDEMIA - RELATO DE EXPERIÊNCIA
Angélica Patrícia Lopes de Barros¹
Adenilze Lara Araújo Carlos²
Kátia Rosana de Oliveira³
RESUMO
Aqui abordaremos o relato do papel do diretor escolar frente as dificuldades e desafios instaurada com a COVID 19, onde impactou todos os setores da sociedade, inclusive da educação, pois o "mundo" parou diante da pandemia, gerando incertezas, o medo do contágio, com isso aqui na nossa capital Cuiabá/MT as aulas presenciais da rede Municipal foram suspensas em 20 de março de 2020, após 46 dias de início do ano letivo.
Palavras chaves: Educação Infantil. Pandemia.CEIC. Ensino remoto.
INTRODUÇÃO
O decreto nº 7.839 de 16 de Março de 2020, que Dispõe sobre a adoção, no âmbito administrativo, pública direta e indireta do Município de Cuiabá, de medidas temporárias e emergenciais de prevenção de contágio pelo Coronavírus (COVID 19), institui o comitê de enfrentamento ao novo Coronavírus, e das outras providências. Após esse decreto ficamos de quarentena, pensando ser apenas alguns dias, mais o Covid 19 veio de forma arrasadora levando muitas pessoas á óbitos, a internação, ao desemprego, além de gerar nas pessoas a ansiedade, o medo da contaminação, o stress, a depressão, uma enxurrada de incertezas, nesse contexto papel do diretor escolar trás alternativas para acompanhamento, organização, orientação, adequação aos novos processos que a unidade educacional irá desenvolver nas mais diversificadas formas do trabalho pedagógico.
Para que a educação não tivesse prejuízo todos tivemos que reinventar, criar uma nova dinâmica para dar continuidade nas atividades escolares, não podíamos ficar de braços cruzados, ficar parados, perante tantas incertezas o papel do diretor escolar como chefe imediato, mediador, orientador, principal ponte entre família, servidores, crianças e a comunidade escolar, levou a proposta a coordenadora pedagógica e assim a equipe gestora tomou decisões rápidas para que não houvesse um maior impacto após a suspensão das aulas presenciais. Aí vieram os questionamentos: Como oferecer aulas remotas para crianças de creches, com idade de 0 a 3 anos? Como fazer com que os pais pudessem ser o elo entre professores e crianças? Como fazer com que as crianças aprendessem de forma satisfatória pelo ensino remoto? Como auxiliar aquelas famílias que não tem acesso a internet? Como auxiliar as famílias e profissionais que não tem familiaridade com o uso da tecnologia? Diante deste cenário essas foram as primeiras indagações, dificuldades e desafios encontrados e para agilizar o processo ensino/aprendizagem das crianças a primeira decisão da equipe gestora foi criar grupos de WhatsApp para que pudesse ser o principal canal entre a família e creche, onde todas as ações, atividades, lembretes, comunicados seriam postado nos grupos. Também foi criado um grupo com todos os servidores para auxiliar na comunicação interna, gerenciamento de planejamentos, projetos, reuniões, rodas de conversas que durante a pandemia foram todos realizados remotamente. O primeiro desafio foi fazer com que toda a comunidade escolar engajasse nesse novo processo e que todos pudessem caminhar juntos, aprender, conviver e colocar em prática esse novo formato de ensino remoto. Aqui na nossa unidade educacional CEIC Lucila Ferreira Fortes todos abraçaram e aceitaram caminhar juntos nessa causa em prol das crianças.
Após a abertura dos grupos de WhatsApp com os pais e servidores a equipe gestora iniciou a desenvolver todo o processo antes realizado dentro da unidade educacional, agora realizados virtualmente como reuniões, formações continuadas, os processos pedagógicos, as demandas dentro da unidade, envio de ofícios, solicitações, pagamentos, compras e trocas de experiências. Neste processo pudemos sentir tanto pelos pais como pelos profissionais, algumas dificuldades, mas com muito profissionalismo conseguimos solucionar esses entraves através do diálogo, da empatia, da resiliência, para que todos os envolvidos pudessem estar bem durante essa pandemia, tanto na esfera escolar como no ambiente familiar e que seu psicológico não tenha sido abalado.
Com essa nova forma de se trabalhar, usando a tecnologia, tiramos a conclusão de que o espaço escolar e o trabalho presencial é impar na vida de uma criança, pois são nesses espaços e com os profissionais que contribuímos para o desenvolvimento, crescimento, apropriação do conhecimento e as trocas de experiência, respeitando a diversidade e o tempo de cada criança/individuo.
Com a nova realidade, das aulas serem através de uma tela de celular, plataformas digitais( Google Meet, Google Forms, Inshot, entre outros aplicativos), a falta de recursos tecnológicos não atinge somente as famílias e sim também profissionais que além de não disporem de recursos tecnológicos, acesso a internet e familiaridade com a tecnologia, além de uma despesa a mais em seu orçamento, tudo isso foi posto na vida desse profissional para realizar um bom trabalho. Pudemos acompanhar de perto o desempenho desses profissionais ao realizarem atividades remotas para as crianças, a criatividade em montar vídeos, realizar as gravações, inventar e reinventar atividades on line, pois antes o celular que era apenas para realizar ligações e acesso a algumas redes sociais de um dia para o outro se tornou o principal instrumento de trabalho.
E ainda mais a problemática de como alcançar 100% da participação das crianças, as observações durante todo esse período foi que as respostas eram claras e concisas: pais não tinham tempo de realizar as atividades com as crianças, muitos no seu entendimento achavam que o espaço "creche" é apenas um espaço onde se deixa seu filho para que eles possam trabalhar, sem levar em consideração que a creche é um espaço de educação onde a criança aprende brincando, muitos pais não tinham familiaridade com a tecnologia, outros não tinham acesso a internet, outros as crianças ficavam aos cuidados de terceiros, entre outros motivos da não participação das crianças nas atividades proposta pelos educadores, pois o uso dos recursos digitais pelas crianças dessa faixa etária não são aconselhados, e se forem utilizados precisa ser utilizados com supervisão dos pais agora nesse momento de pandemia foi a maneira encontrada de adequar as propostas educacionais e planejamentos repassados de forma remota.
Durante esse processo as intervenções eram realizadas pelas educadoras diariamente junto aos pais que não participavam das atividades postadas nos grupos, foram realizadas também intervenções pela equipe gestora, que a cada semana era postado nos grupos postagens em forma de pedidos, solicitações e colaboração para que todos participassem, mostrando a importância da criança em participar das atividades, mesmo remota, a criança iria aprender, que através das brincadeiras há uma intencionalidade e um objetivo a ser alcançado, dessa forma muitos pais puderam perceber a importância do brincar na vida do seu filho (a).
Um dos papeis da diretora foi ter que administrar o despreparo dos profissionais no uso da tecnologia para as aulas remotas e também a falta desses recursos pelas famílias, mas para que o ensino tivesse uma continuidade e as aulas pudessem ser ministradas através dos vídeos gravados pelos professoras, a direção teve que incentivar os pais a participarem pois essa foi a forma encontrada de dar continuidade ao acesso a educação, mesmo tendo obstáculos e dificuldades encontradas pelo caminho.
O "ensino" remoto é empobrecido não apenas porque há uma "frieza" entre os participantes de uma atividade síncrona,dificultada pelas questões tecnológicas. Seu esvaziamento se expressa na impossibilidade de ser realizado um trabalho pedagógico sério com o aprofundamento dos conteúdos de ensino, uma vez que essa modalidade não comporta aulas que se valham de diferentes formas de abordagem e que tenham professores e alunos com os mesmos espaços, tempos e compartilhamentos da educação presencial. ( SAVIANI; GALVÃO, 2021, p. 42).
Diante os acontecimentos da pandemia, com a paralisação de todos os setores, inclusive a educação, ficou evidente o quanto o gestor deve estar preparado para administrar os desafios, as dificuldades e os obstáculos que se apresentarem e ter a sensibilidade de ajudar o próximo a se preparar para esses momentos emergentes, dando direcionamento e planejando de forma conjunta como direcionar a busca de soluções.
Além da preocupação do diretor com os princípios democráticos, a qualidade do ensino e aprendizagem ofertados, ele deverá ter um olhar atento onde possa ajudar a acolher, a tranqüilizar, a ouvir os temores, perdas, medos, angústias e incertezas que os profissionais trouxeram como seqüela desta pandemia e propor para que todos possam estar em um mesmo propósito, os cuidados com a saúde física e emocional, as relações afetivas e sociais, trabalhando a equipe dessa forma: a empatia pelo próximo.
Diante de uma circunstância adversa podemos aprender com ela, mas, sobretudo, sem perder de vista a luta por uma escola pública de qualidade, onde esteja alicerçada no processo democrático, a qual toda a comunidade escolar possa crescer e desenvolver de forma sólida. (SILVA E WEINMAN, 202, p. 165).
A PRÁTICA DENTRO DA UNIDADE EDUCACIONAL - CEIC LUCILA FERREIRA FORTES
Com a paralisação das atividades presenciais aqui na nossa unidade educacional foram traçadas estratégias de atendimentos para pais, servidores, Assessores e comunidade externa.
Os atendimentos eram todos agendados e para o recebimento dessas pessoas passava-se por um processo de desinfecção para entrar na unidade, desde a de temperatura, tapete sanitizante, álcool em gel, utilização de máscaras (uso obrigatório), distanciamento social 1,5m, para que não houvesse contaminação e proliferação do COVID 19.
As reuniões com servidores, pais, rodas de conversas, formações continuadas, prestações de contas foram todas realizadas pelo aplicativo Google Meet.
Antes o alimento da criança dentro da unidade escolar, o Prefeito Emanuel Pinheiro decidiu doar esses alimentos ás Famílias beneficiárias do Bolsa Família, pois a pandemia trouxe a nossa sociedade o desemprego. E nas entregas desses Kits para as famílias beneficiarias foram realizados cronogramas, com todos os protocolos de segurança.
Como tínhamos que trabalhar dentro do Calendário escolar, a equipe gestora considerou a readequação do mesmo para que não houvesse nenhum prejuízo no desenvolvimento das crianças.
Foram realizadas algumas atividades presenciais no ano de 2020, usando todos os protocolos de segurança, em outubro em comemoração ao dia das crianças, foi realizado um Drive Thru com o tema: Cultura Cuiabana (Siriri, Rasqueado), incluindo também a Cultura Indígena e Africana. A cada dia foi trabalhado um tema, onde cada turma utilizou da decoração, músicas, vestimentas, adereços que compunha o tema do dia. O evento foi realizado na área externa da unidade foi toda decorada para que as crianças pudessem passar pela rua, dentro dos carros, motos para participarem das atividades. Tivemos uma boa participação das famílias, pois tanto tempo enclausurados pode-se rever os colegas e educadores mesmo de longe.
Em outubro de 2020 foi enviado o Roteiro para elaboração de plano de retorno às atividades presenciais das unidades educacionais: protocolos de biossegurança e educação hibrida, onde cada unidade educacional descreveria as suas peculiaridades para um retorno seguro, sendo elaborado com a colaboração de todos os servidores e com a validação do CDUE da unidade educacional.
Na nossa unidade educacional todos os servidores participaram da construção deste documento de suma importância, pois iríamos tratar do nosso retorno presencial e com segurança, foram estudos, discussões, rodas de conversas para que cada servidor de cada setor pudesse dar a sua colaboração. O referido documento foi entregue em Novembro/2020.
Em setembro de 2021, recebemos o decreto para o retorno presencial, onde todos os gestores tiveram que adequar as unidades para esse retorno presencial, cada unidade iria seguir seu Plano de Retorno homologado pela SME, e seguir também os orientativos enviados pela SME, o retorno seria de forma gradual, os pais tinham a opção de vir até a unidade educacional e assinar um Termo de atendimento Presencial ou Não, foram intensificadas todas as ações dos protocolos de saúde e higienização, aqui no CEIC todas as salas de aulas nas portas foram colocadas os tapetes sanitizante, álcool 70% para que fosse higienizado as mãos, brinquedos e quando necessário o uso, na entrada termômetros digitais para aferir temperaturas, tapetes sanitizante, álcool em gel, o uso obrigatório de máscaras, viseiras, capotes, adequando o espaço como colocação de pias em lugares estratégicos, totem com álcool em gel, sabonetes líquidos, papel toalha nos banheiros e cozinhas visando minimizar os riscos de contaminação do COVID 19.
As refeições foram servidas no refeitório por ser um espaço aberto e amplo, as crianças sentariam em lugares demarcados, respeitando o distanciamento social, os pais não teriam acesso dentro da unidade educacional, a criança seria entregue no portão do CEIC, respeitando todos os protocolos exigidos pelos órgãos sanitários, em caso de algum servidor ou criança testasse positivo após confirmação de exame, a sala seria isolada por 14 dias e todos que tiveram contato com a pessoa positivada, a orientação seria observar e se apresentasse algum sintomas também realizar o exame.
Tivemos casos positivos de COVID 19 foram poucos, agimos com rigidez com os protocolos de biossegurança, tanto com os servidores, quanto com pais e responsáveis das crianças, assim conseguimos manter um atendimento de qualidade e tranquilo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante de todo esse novo processo que tivemos que nos adaptar durante a pandemia podemos concluir que todos nós estamos em um processo de transformação diariamente, que estamos tendo novos desafios, conhecimentos e para que pudéssemos alcançar êxito nas atividades pedagógicas tivemos que reinventar, trilhar novos caminhos. E o gestor está se adequando a essa nova realidade de acordo com as necessidades apresentadas nesse tempo de pandemia.
Um dos principais desafios do diretor nessa pandemia foi propiciar a todos um ambiente acolhedor, pois muitos foram impactados direta ou indiretamente pela pandemia com perdas de ente queridos, diagnósticos de ansiedade, depressão, medo do contágio, medo da morte, e como encontrar um equilíbrio nesse quadro, pois tanto como servidores, pais e crianças saíram com alguma sequela desta pandemia.
Pode-se perceber que o gestor nesse processo de pandemia foi um grande colaborador nessa jornada, auxiliando a equipe de servidores, pais e crianças a se adequarem ao nosso processo pós pandemia, buscando adequar um ambiente saudável onde todos pudessem voltar sem sentir o medo do contágio.
Concluímos que o diretor foi um grande incentivador para que a equipe se adequassem as novas práticas e costumes da nova rotina apresentada pós pandemia, tanto emocionalmente quanto na aquisição de equipamentos de EPIs, produtos e equipamentos de biossegurança, para que o retorno fosse tranqüilo, o diretor nesse novo processo acabou assumindo múltiplas tarefas, adequando a unidade educacional a realidade dentro do contexto da pandemia.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
https://rd.uffs.edu.br/bitstream/prefix/2052/1/GRZYBOWSKI.pdf, acesso em 15/05/2022
https://ischolar.com.br/blog/educacao-em-tempos-de-pandemia, acesso em 01/06/2022
https://blog.rhemaeducacao.com.br/qual-o-papel-do-gestor-escolar-em-tempos-de-pandemia/, acesso em 08/06/2022
CUIABÁ. Prefeitura Municipal. Política Educacional e Diretrizes da Secretaria Municipal de Educação de Cuiabá./ Cuiabá: Central de texto/ Secretaria Municipal, 2008.
BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de Dezembro de 1996. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Brasília, 1996.
BRASIL. Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educação. Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Infantil. CNE/CEB Nº 22/1998.
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¹ Graduada em Pedagogia (FAIARA ), Especialista em Educação infantil (Faculdade Invest), Técnica em Desenvolvimento Infantil na Rede Municipal de Ensino de Cuiabá, atualmente Gestora na Creche Municipal Lucila Ferreira Fortes. E-mail: O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.
² Graduada em Pedagogia (UFMT ), Especialista em Docência na Educação infantil (UFMT), Técnica em Desenvolvimento na Rede Municipal de Ensino de Cuiabá, atualmente Coordenadora Pedagógica na Creche Municipal Lucila Ferreira Fortes. E-mail: O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.
³ Graduada em Pedagogia (UFMT), Especialista em Docência na Educação Infantil (UFMT). Técnica em Desenvolvimento na Rede Municipal de Ensino de Cuiabá, no CEIC Lucila Ferreira Fortes. E-mail: O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.