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O ENSINO REMOTO NA EDUCAÇÃO INFANTIL: RELATO DE EXPERIÊNCIA

Katia Rosana de Oliveira 1
Angélica Patrícia Lopes de Barros 2
Adenilze Lara Araújo Carlos 3



RESUMO

O presente artigo busca retratar a experiência e desafios vivenciados por educadores da Educação Infantil do CEIC Lucila Ferreira Fortes, no município de Cuiabá, estado do Mato Grosso, frente a Pandemia de Covid19. O novo contexto trouxe a necessidade e desafios, em adequar ações pedagógicas dentro da Educação Infantil, prioritariamente pautadas nas interações e brincadeiras, em ações que trouxessem o mesmo encanto, estímulo, diversão e construção de saberes, antes vividos no espaço educativo do CEIC Lucila Ferreira Fortes, e que de forma repentina tornaram-se distante.

Palavras-chave: Ensino remoto. Educação Infantil. Educadores. Pandemia. Desafios.

INTRODUÇÃO

O ano de 2020 trouxe um dos maiores desafios enfrentado pela população mundial da atualidade, uma pandemia que traria conforme publicação da Fiocruz, “repercussões não apenas de ordem biomédica e epidemiológica em escala global, mas também repercussões e impactos sociais, econômicos, políticos, culturais e históricos sem precedentes na história recente das epidemias”.
O surto do novo corona vírus, de potencial grave e alta transmissibilidade entre pessoas, que recebeu o nome de SARS-CoV-2, teve início na cidade de Wuhan na China, em dezembro de 2019, e logo se espalhou pelo mundo, sendo declarado no dia 11 de março de 2020 pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como uma pandemia.
E para conter o avanço da doença pelo mundo, foram tomadas medidas emergenciais e temporárias de prevenção ao contágio pelo novo coronavírus. Cidades, Estados, Países, por meio de seus governantes, adotaram lockdown em seus territórios, determinando o fechamento do comércio, escolas, fronteiras, limitando a circulação de pessoas, interrompendo bruscamente a interação social.
 Diante do novo contexto, nós educadores, tivemos que adequar nossas ações pedagógicas, para uma realidade até então não imaginada para a etapa escolar da Educação Infantil, o ensino no formato remoto. Tivemos que nos afastar por tempo ate então indeterminado, dos olhinhos curiosos dos nossos pequenos alunos, dos “porque?”, das risadas diante do novo, das invenções e reinvenções de brincadeiras e da escuta curiosa nas histórias de faz de conta, das expressões únicas diante de uma nova descoberta ou conquista, da superação de uma dificuldade, de um novo aprendizado.
Obviamente nos surgiram muitos questionamentos, dúvidas, medos; medo do novo, da perda, do inevitável. E diante dessa mudança em nossas vidas, da nossa rotina, como realizar dentro da Educação Infantil, que tem como sua principal característica, a interação, se durante a emergência de saúde decorrente da pandemia de Covid19, justamente as interações sociais ficaram suspensas? Como proporcionar a distancia, as mesmas vivências e experiências oportunizadas nos espaços das unidades de ensino, e tão necessárias ao desenvolvimento integral da criança, conforme orienta a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) da Educação Infantil? Dúvidas, dúvidas e mais dúvidas. E como bem traduz o poema José (1942), de Carlos Drummond de Andrade, “E agora?” Qual caminho tomar?
Este artigo tem por objetivo explanar, os desafios enfrentados por educadores da Educação infantil, etapa creche, do CEIC Lucila Ferreira Fortes, durante a suspensão das atividades presenciais e o estabelecimento temporário do formato de aulas remotas, no município de Cuiabá, Mato Grosso, Brasil.

UM NOVO CAMINHO PEDAGÓGICO A TRILHAR

O CEIC Lucila Ferreira Fortes, cumprindo a determinação do prefeito Emanuel Pinheiro que em decreto, suspendeu as atividades presenciais nas instituições públicas e privadas de ensino do município de Cuiabá, durante a emergência de saúde, e sob orientação e supervisão da secretaria municipal de educação do município de Cuiabá, nos anos de 2020 e 2021, aplicou de forma remota, suas ações pedagógicas junto as crianças atendidas na Unidade escolar e suas famílias.
Com a suspensão das atividades presencias escolares, a convivência entre criança/educadores e criança/criança, o contato e a rotina estabelecida na sala de aula não foram possíveis, assim, as vivências planejadas pelos educadores durante o período de pandemia foram compartilhadas semanalmente com as famílias por meio de grupos de whatsapp, por turma, por meio de vídeos/fotos/mensagens.
A adequação do ensino presencial para o ensino remoto, não ocorreu de forma linear, fomos nos adaptando, nos reinventado, e aprendendo com cada erro e acerto no decorrer do percurso, afinal haviam tantos fatores a se considerar. Foi um processo de autodescoberta dentro da profissão do magistério e das relações humanas.
O ensino remoto nos tirou de um lugar comum, causou desconforto frente ao novo e incerto período em que vivemos, mas também possibilitou a descoberta de novos caminhos e talentos dentro do fazer pedagógico.   
Primeiro partimos do ponto: E agora como dar prosseguimento as atividades pedagógicas, as vivências, as experiências, as interações e brincadeiras, por meio de uma tela de computador ou celular, dentro do ambiente familiar?
Ainda que sob orientação dos educadores, as famílias, ao menos em sua maioria, não possuem formação técnica ou acadêmica para o trabalho com a Educação Infantil. E por outro lado, nos educadores também não tínhamos conhecimento ate a época, com o ensino de forma remota. Tantos fatores precisavam ser considerados para torna-lo possível e funcional, como: a aplicação das orientações da BNCC e da Escola Cuiabana, as competências que as crianças devem assimilar, a manutenção do vinculo e rotina escolar, o desenvolvimento social por meio das interações, proporcionar situações de brincadeiras e experiências significativas, avaliar os marcos de desenvolvimento das crianças com informações advindas apenas por meio do feedback das famílias, e o maior de todos os nossos desafios, tornar tudo isso possível, por meio de vídeos curtos de até três minutos e mensagens encaminhadas nos grupos de whatsapp das turmas, contando com a colaboração das famílias para a realização das atividades, mantendo o mesmo encanto, estímulo, diversão e construção de saberes, antes vividos no espaço educativo do CEIC Lucila Ferreira Fortes.


DESAFIOS: PROFISSIONAL X PESSOAL

Para além dos muitos questionamentos que tínhamos em como tudo iria de remontar dentro do novo cenário que vivemos com a pandemia, tivemos que acalmar nossas incertezas, estruturar nossas ideias e seguir de um ponto de partida e assim iniciamos as questões práticas que foram a de adaptar nossos planos de aula, para aulas remotas, produzir aulas e materiais que pudessem ilustrar e dar suporte as nossas vídeo aulas, ter um ritmo de trabalho que conseguisse contemplar as necessidades de atendimento dos alunos, e acompanhar a produção/dificuldades/avanços das crianças atendidas em nossa unidade.
Assim começou os nossos desafios de conciliação de tempo x trabalho x rotina pessoal.
Com o novo modelo de ensino, e nós educadores estarmos trabalhando a partir de casa, conciliar a rotina doméstica, filhos, tempo dedicado ao nosso descanso, com toda a nova rotina de trabalho foi desafiador, uma vez que com o trabalho remoto houve uma carga significativa de trabalho, além da estipulada legal.
Enfrentamos dificuldades tecnológicas, de acesso a internet e a equipamentos (celular, tablet, computador), assim como em lidar com novas tecnologias, equipamentos, filmagem e edição de vídeos, os quais até então não se faziam tão presentes em nossas ações pedagógicas, ao menos não de forma prioritária, figuravam apenas como recurso didático.
Tivemos que dedicar mais tempo a pesquisa para elaboração de atividades que contemplassem as necessidades pedagógicas dos alunos, e adequar o atendimento individualizado as famílias dos alunos, a horários e dias possíveis dentro da rotina de cada família.
As famílias dos alunos, também em muitos casos, tiveram dificuldades tecnológicas, como o acesso a internet e equipamentos (celular, tablet, computador) das famílias das crianças atendidas, que em sua maioria possui um celular, com plano de dados, geralmente para trabalho, ou que   era priorizado para atender as atividades dos filhos matriculados nas series iniciais do ensino básico. Também nos deparamos com a dificuldade das famílias em conciliar a realização das atividades encaminhadas pelos educadores, com a rotina familiar e de trabalho.
As relações se modificaram, mas ainda que fisicamente à distância, nos aproximamos das crianças e suas famílias por meio de ligações telefônicas, vídeo chamadas, mensagens e vídeos de cunho didático e motivacionais, disponibilizados nos grupos de whatsapp formados para interação. Recebemos semanalmente o feedback das famílias com a realização das atividades encaminhadas para serem desenvolvidas com as crianças e por meio delas conseguimos dar prosseguimento ao acompanhamento do desenvolvimento escolar das crianças atendidas.  
Infelizmente não conseguimos atingir um êxito de 100% de acompanhamento com as crianças, devido a muitos obstáculos e acirramento das dificuldades anteriormente relatadas, que a pandemia nos trouxe, mas ainda sim consideramos ter, na medida do que nos foi possível, dado continuidade e de certa forma obtido sucesso nesse período desafiador.
Ainda assim, mesmo diante de todas as incertezas e dificuldades perante o novo momento que vivemos nos fortalecemos enquanto profissionais, buscando sempre entregar o melhor de nosso trabalho aos nossos pequenos alunos e suas famílias.


CONSIDERAÇÕES FINAIS

Adaptação foi a palavra de ordem nesse período pandêmico. Foi preciso se adaptar a um “novo normal”. E adaptar-se ao desconhecido, ao novo, não foi fácil e ainda não está sendo, mas o tempo acaba colocando tudo em seu devido lugar e aos poucos tudo vai se acalmando.
O retorno das atividades presenciais ao ambiente escolar também foi e ainda é desafiador. Voltar a ter uma interação próxima e segura, ainda que planejada, veio repleta de medos, ansiedade, e sensação de perda. Aprender a acolher sem toque, a criar um espaço de escuta empática para ouvir os medos e fragilidades do outro, a sorrir com os olhos, frente a impossibilidade de demonstrar um sorriso com o uso das máscaras de proteção, e principalmente demonstrar esperança e confiança no futuro, é uma busca diária
Obviamente não podemos negar que para além as perdas pedagógicas com o fechamento das unidades escolares por tempo ate então indeterminado, terá a médio e longo prazo, um déficit e preço a ser pago no pós pandemia: a saúde mental e socioemocional dos alunos, familiares, comunidade escolar e demais envolvidos nesse processo, são algumas dessas perdas, e o caminho para supera-las virá com o comprometimento e empenho de todos.
O aprendizado também fica, de que nada é imutável. As relações humanas mudaram, o ensino mudou, o mundo mudou e nós também mudamos. Descobrimos novos talentos, e possibilidades de ensinar e de aprender.


REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL. Fiocruz. Impactos sociais econômicos culturais e políticos da pandemia. Disponível em: https://portal.fiocruz.br/impactos-sociais-economicos-culturais-e-politicos-da-pandemia

CORDEIRO, Karolina Maria de Araújo. O Impacto da Pandemia na Educação: A Utilização da Tecnologia como Ferramenta de Ensino. 2020. Disponível em:
<http://repositorio.idaam.edu.br/jspui/handle/prefix/1157><http://repositorio.idaam.edu.br/jspui/handle/prefix/1157>

 

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¹ Graduada em Pedagogia (FAIARA ), Especialista em Educação infantil (Faculdade Invest), Técnica em Desenvolvimento Infantil na Rede Municipal de Ensino de Cuiabá, atualmente Gestora na Creche Municipal Lucila Ferreira Fortes. E-mail: O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.

² Graduada em Pedagogia (UFMT ), Especialista em Docência na Educação infantil (UFMT), Técnica em Desenvolvimento na Rede Municipal de Ensino de Cuiabá, atualmente Coordenadora Pedagógica na Creche Municipal Lucila Ferreira Fortes. E-mail: O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.

³ Graduada em Pedagogia (UFMT), Especialista em Docência na Educação Infantil (UFMT). Técnica em Desenvolvimento na Rede Municipal de Ensino de Cuiabá, no CEIC Lucila Ferreira Fortes. E-mail: O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.