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LEITURA, ESCRITA, FALA E REGIONALISMO NO AMBIENTE EDUCACIONAL

Luzinete da Silva Mussi[1]

Lúcio Mussi Júnior[2]

 

Através da leitura é possível ter acesso a uma ampla gama de informações em todas as áreas do conhecimento. Por meio dela o leitor pode tomar conhecimento de fatos, opiniões e teorias que ignorava, além de se deparar com novos pontos de vista a cerca do que lhe era familiar.

Deste modo, incentivar a leitura, sobre tudo de indivíduos em idade escolar, é uma forma de enriquecer culturalmente o indivíduo e consequentemente a sociedade. Uma criança que é estimulada a adquirir o hábito da leitura, certamente será um adulto com uma visão de mundo mais ampla e uma bagagem mais sólida de conhecimentos que sempre serão úteis em suas tomadas de decisões.

Neste sentido, Silva e Mendes (s.d.) acrescentam que:

 

... cultura é uma expressão da construção humana. A cultura é construída através do diálogo entre as pessoas no dia a dia. Nessa interação social é construído gradativamente símbolos e significados que tem sentido a essas pessoas, e são compartilhados entre elas. A construção de uma cultura está repleta de elementos e significados que vão identificar esse povo como pertencente a uma determinada comunidade ou região, diferenciando-os de outras comunidades, surge assim, a identidade cultural. (SILVA; MENDES, s.d., p.1)

 

A diversidade cultural mostra-se como um fator a ser valorizado, lembrando que a leitura também é um veículo para se conhecer outras culturas. Neste cenário, mostra-se fundamental conhecer outras culturas, bem como saber respeitá-las.

Assim, ao conhecermos culturas diferentes, temos contato com novas formas de ver o mundo e de levar a vida em todas as esferas. Tal fato é capaz de nos enriquecer como seres humanos.

Contudo, o Colégio Arnaldo (2021) destaca diversos fatores constituintes da cultura de um povo:

 

Existem muitos elementos que fazem parte da representação de um povo, como: religião, idioma, costumes, folclore, manifestações culturais, entre outros. Com isso, as pessoas que pertencem a um determinado grupo conseguem se identificar com essas características comuns e, a partir disso, construir as suas próprias identidades. (COLÉGIO ARNALDO, 2021, p.1)

 

Ao se abordar as questões culturais através da análise da língua falada, os níveis de linguagem abordam estudos sobre as variedades linguísticas do português. Observa-se que do ponto de vista da gramática tradicional, há apenas a variedade padrão (norma culta) em oposição a popular.

A primeira corresponde à variedade que segue as regras da gramática normativa, enquanto a segunda seria o desvio ou oposição a tais regras. No entanto, é fundamental observar e considerar a pluralidade linguística como consequência de variações de região, faixa etária, sexo ou outra característica do grupo. Seguindo essa variação da linguagem, o texto também varia trazendo características que o tornam formal, informal, jornalístico, publicitário, didático, entre outros.

Entende-se, portanto, que os textos trazem características estruturais de acordo com os propósitos para os quais foram compostos. Estas características marcam os gêneros textuais. Alguns gêneros adotam a linguagem culta, outros podem requerer linguagem técnica ou mesmo linguagem popular.

Na formação do docente a relação entre teoria e prática ocupa um dos papéis mais importantes. A teoria traz a base que alicerça a docência, ao passo que apenas a prática pode trazer ao licenciando a maturidade necessária para estar, sozinho e por sua responsabilidade, à frente de uma sala de aula.

Abordando a contextualização na escrita é possível perceber que muitos textos se tornam temporais justamente por este fator. O perfeito entendimento de um texto, na maioria das vezes, só é possível a partir de uma gama de conhecimentos anteriores sobre o assunto abordado. Uma crônica sobre política é um bom exemplo disso. Caso o leitor não conheça o momento político em que foi escrita a crônica não será capaz de entender o texto.

Quanto à sociedade e o indivíduo, essa relação pode ser mostrada de maneira cíclica. Quando um novo indivíduo, uma criança, está se desenvolvendo, ele encontra uma sociedade pronta. Essa sociedade já possui suas culturas, normas e costumes e a educação desse novo indivíduo se dá de acordo com tudo isso. Por outro lado, a sociedade é composta de indivíduos, sendo justamente estes que moldam a sociedade.

Assim, entende-se também que:

 

Entender que existem formas distintas de pensar, sentir, viver e agir é importante para conhecer a própria história e assumir uma postura respeitosa diante do outro. Isso precisa ser estimulado desde a infância, para que as crianças cresçam empáticas e sem preconceitos, o que contribui para garantir o seu pleno desenvolvimento. (COLÉGIO ARNALDO, 2021, p.1)

 

Os estudos linguísticos em uma esfera científica buscam analisar uma série de fatores relativos a evolução da língua e consequentemente da sociedade e do falante, podendo abordar ainda fatores de influências culturais e linguísticas.

Neste sentido, destaca-se que:

 

É importante ressaltar que no contexto da comunicação também há outras formas de aprendizagem da cultura. O ensino escolar é apenas uma parte onde ocorre a aprendizagem cultural do aluno. A escola tem uma contribuição bem especifica nessa aprendizagem, pois é na escola que o aluno vivência diariamente a diversidade cultural, no contato com professores, colegas e outros. Por ser um assunto tão complexo a forma de aprendizagem se faz de maneira formal e informal. Quando o aluno vem para o ambiente escolar já traz consigo informações, vivências e experiências culturais... (SILVA; MENDES, s.d., p.1)

 

Contudo, percebe-se ainda que o significado atribuído aos vocábulos em uma língua podem sofrer variações ao longo do tempo ou mesmo de acordo com a região, classe social ou grupo do falante. A semântica busca uma análise da relação entre o que o falante queria dizer e o que o ouvinte entendeu com o enunciado utilizado.

Seguindo tal raciocínio, percebe-se que a linguística se preocupa com as variantes linguísticas não como um desvio da norma culta, mas como características regionais, de faixa etária ou grupos sociais. Torna-se importante notar que estas variantes sempre cumprem o papel fundamental da língua – transmitir informações. Deste modo, linguisticamente, não se aponta como um erro, sendo encarada e estudada como uma variante.

Oliveira (2017) destaca que:

 

Em relação a tal problematização, pode-se, ressaltar através de estudos aprofundados sobre o tema, que há uma necessidade muito grande da parte da escola, dos educadores e funcionários em geral, em contemplar as diferenças culturais de forma ética, inclusiva e comprometida com a realidade sociocultural dos alunos. Contudo, os discentes precisam ser valorizados, pois ao chegar à escola, os mesmos já trazem conhecimentos, crenças, tradições culturais, e valores fundamentais para viver em sociedade. (OLIVEIRA, 2017, p.1)

 

Já a sintaxe busca a organização de ideias e opiniões segundo as regras que norteiam o idioma. Assim, coloca cada palavra em seu lugar buscando clareza nos enunciados. Baseado na gramática sintagmática tem-se os chamados sintagmas – conjunto de elementos constituídos de uma unidade significativa e organizados em torno de um elemento significativo, o núcleo. A natureza do sintagma depende exclusivamente do seu núcleo. Deste modo, o sintagma verbal tem como núcleo um verbo, ao passo que o sintagma nominal tem um nome como núcleo.

Com relação à sintaxe, acrescenta-se que:

 

... a sintaxe é o estudo da maneira como as palavras se combinam em estruturas chamadas frases. A sintaxe é responsável, juntamente com a morfologia e o léxico, por parte fundamental da organização das frases. A sintaxe trata dos mecanismos gramaticais que estruturam internamente o período a partir das palavras. (UFSM, s.d., p.6)

 

Contudo, é preciso traçar um paralelo junto aos estudantes de forma a respeitar o regionalismo também na maneira de falar e se expressar e, ao mesmo tempo, trabalhar a norma culta da Língua Portuguesa. Deste modo, é preciso deixar claro para o aluno que, ainda que ele fale e escreva de acordo com as especificidades de sua região em ocasiões informais, existem as ocasiões formais que exigem o cumprimento das normas ortográficas, gramaticais e sintagmáticas da língua.

Neste sentido, destaca-se que:

 

Ao encontrarmos pessoas de regiões diferentes do Brasil, não raro nos deparamos com expressões linguísticas diferentes. Na fala de interioranos de São Paulo, por exemplo, o r é retroflexo, como em porta, celular; já na região Nordeste temos o uso das vogais o e e abertas, como em Rónaldo, sémente. (ASSUNÇÃO, s.d., p.1)

 

Destaca-se assim, a necessidade e a importância de se respeitar às culturas e costumes regionais, entretanto, é preciso destacar que regionalismo na fala não deve ser confundido com erro de português e, neste sentido, nem o regionalismo pode ser considerado erro e nem o erro pode ser aceito como se fosse regionalismo, principalmente no ambiente escolar, onde a proposta central é levar a educação formal aos indivíduos.

 

 

REFERÊNCIAS:

 

ASSUNÇÃO, Ana Lúcia. Variação linguística, uma realidade de nossa língua. Monografias Brasileiras. S.d. Disponível em: https://monografias.brasilescola.uol.com.br/educacao/variacao-linguistica-uma-realidade-nossa-lingua.htm. Acesso: abr. 2022.

 

COLÉGIO ARNALDO. Por que a diversidade cultural é essencial para o desenvolvimento da criança? 2021. Disponível em: https://blog.colegioarnaldo.com.br/diversidade-cultural/. Acesso: abr. 2022.

 

EDITORA ABRIL. Vanguardas Europeias – resumo, dicas e questão comentada. Guia do Estudante Abril. 2021. Disponível em: https://guiadoestudante.abril.com.br/estudo/vanguardas-europeias-resumo-dicas-e-questao-comentada/. Acesso: abr. 2022.

 

OLIVEIRA, Rosane Machado de. Diversidade Cultura: a importância das diversas culturas no ensino-aprendizagem, no desenvolvimento da cidadania e na preservação de valores éticos e morais. Núcleo do Conhecimento. 2017. Disponível em: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/educacao/diversidade-cultural. Acesso: abr. 2022.

 

SILVA, Susie Barreto da; MENDES, Rosicléia Lopes Rodrigues. Brasil Escola. S.d. Diponível em: https://meuartigo.brasilescola.uol.com.br/artes/a-importancia-das-raizes-culturais-para-identidade-.htm. Acesso: abr. 2022.

 

UFSM. Sintáxe do Português. Universidade Federal de Santa Catarinha. S.d. Disponível em: https://repositorio.ufsm.br/bitstream/handle/1/16412/Curso_Let-Portug-Lit_Sintaxe-Portugues.pdf?sequence=1&isAllowed=y. Acesso: abr. 2022.

 

VIEIRA, Eduardo de Almeida. Entender outras culturas e repeitar seus hábitos e costumes são as armas contra o etnocentrismo. Brasil Escola. S.d. Diponível em: https://meuartigo.brasilescola.uol.com.br/atualidades/entender-outras-culturas-respeitar-seus-habitos-costumes-sao.htm.  Acesso: abr. 2022.

 

[1]     Diretora do Instituto Saber de Ciências Integradas e Coordenadora do Polo Sinop do Grupo PROMINAS (instituição que oferece cursos de Pós-graduação, Graduação e Complementação Pedagógica). Pedagoga. Licenciada em Educação Física. Psicopedagoga Clínica e Institucional. Especialista em Sociologia e Filosofia e em Gestão Educacional. Mestra em Ciências da Educação. O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.

[2]     O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.