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O LÚDICO NO PROCESSO DE ENSINO DA CRIANÇA COM TRANSTORNO DO DÉFICIT DE ATENÇÃO

 

Alezandra Patel

Yara Maria Lopes

Luciane Aparecida Dismann Lopes

Joelia dos Santos Bacco

Tania Carla Anerão



RESUMO

O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) é um dos transtornos neurológicos mais comuns da infância e adolescência. Caracteriza-se pela desordem mental, que inclui dificuldade de atenção, presença de hiperatividade e impulsividade. A inclusão da criança hiperativa na escola, exige uma atenção especial por parte do professor, que pode adotar estratégias didáticas e uma ação pedagógica voltada para as necessidades especiais do hiperativo mediado pelas atividades lúdicas. Destarte, o objetivo desse estudo foi apresentar as contribuições das atividades lúdicas no processo de ensino aprendizagem de crianças diagnosticadas com TDAH. Para tanto, foi realizada uma Pesquisa Bibliográfica Integrativa. Os principais resultados indicam que as atividades lúdicas são relevantes não somente para complementar o acompanhamento, seja este fonoaudiológico, psicológico ou psicopedagógico, de crianças portadoras do TDAH, como também beneficiar a aprendizagem das atividades propostas no dia a dia da sala de aula em escolas. Dentro desta perspectiva, conclui-se que o lúdico contribui para o desenvolvimento integral da criança, bem como favorece a inclusão. Nesse sentido, destacamos a necessidade de que os profissionais da educação estejam capacitados, em conhecimento e habilidades, para propiciar um ambiente facilitador que promova possibilidades de a criança criar, superar os desafios e caminhar com mais segurança.

Palavras-chave: Ensino-aprendizagem; Lúdico; TDAH.

ABSTRACT

Attention Deficit Hyperactivity Disorder (ADHD) is one of the most common neurological disorders in childhood and adolescence. It is characterized by mental disorder, which includes difficulty in attention, presence of hyperactivity and impulsivity. The inclusion of the overactive child in school requires special attention from the teacher, who can adopt didactic strategies and a pedagogical action focused on the special needs of the hyperactive mediated by the play activities. Thus, the objective of this study was to present the contributions of play activities in the teaching process of children diagnosed with ADHD. For that, an Integrative Bibliographic Research was carried out. The main results indicate that play activities are relevant not only to complement the follow-up, be it speech-language, psychological or psychopedagogical, of children with ADHD, but also to benefit from the learning of the activities proposed in the day-to-day classroom in schools. From this perspective, it is concluded that the playful contributes to the integral development of the child, as well as favors the inclusion. In this sense, we emphasize the need for education professionals to be knowledgeable and capable to provide a facilitating environment that promotes possibilities for the child to create, overcome challenges and walk more safely.

Palavras-chave: Teaching-learning; Ludic; ADHD.


INTRODUÇÃO


Diagnosticar uma criança com TDAH não é fácil, pois necessita de observação desde muito cedo, e seu diagnostico ou laudo somente poderá ser fornecido por uma pessoas da área da saúde. Mas esse aluno tem plena condição de desenvolver seu potencial criativo e através do processo de aprendizagem alcançando o desenvolvimento significativo, desse modo acredita-se que a utilização de materiais lúdicos servirá como estímulos a atenção do aluno.

Desse modo a problematização da presente pesquisa consiste em discutir se a utilização de atividades lúdicas contribuirá para a formação do aluno com TDAH, favorecendo a aprendizagem tanto dentro, como fora da escola?

O objetivo da pesquisa está em refletir sobre as contribuições do lúdico, no processo na formação das crianças com TDAH.

O trabalho com a criança TDAH, atraves do lúdico é relevante, pois essas atividades fazem parte do dia-a-dia, das crianças, é na escola, não poderia ser diferente. A adoção das atividades lúdicas na escola para a criança deve fornecer informações que contribuem para atingir objetivos e estimular o desenvolvimento integral da criança. O objetivo do trabalho é descrever a importância da inclusão do lúdico no processo de ensino aprendizado para o educando com TDAH.

O estudo sobre o lúdico é importante, pois se acredita que a mesmo é fundamental para o desenvolvimento da criançaTDAH, para resolver problemas e alternativas para transformar sua realidade, pois é um espaço criado para favorecer a brincadeira e estimular crianças com baixo rendimento escolar e adquirir conceitos, socialização, respeito a regras e atenção.


DESENVOLVIMENTO

Antigamente muitas crianças com TDAH eram taxadas como a baderneira, indisciplinada, desinteressada e até considerada uma má influencia para os colegas. Muitas vezes as famílias não notavam as dificuldades que certas crianças vivenciavam. É na escola que os sintomas do transtorno tornam-se mais evidentes.

Brown, (2007) descreve que a identificação da criança com TDAH surgiu em 1902, com George Fredrick Still, através do estudo do comportamento de crianças agressivas, desafiadores, excessivamente emotivas. Segundo, o pesquisador estas crianças não tinham controle sebe a moralidade, por isso eram rotuladas de portarem defeitos em relação ao controle moral, pois os mesmos tinham dificuldade em aderir regras sociais.

A discriminação ocorria devido ao fato de que crianças com TDAH possuírem maior dificuldade na realização nos trabalhos escolares devido à alteração das funções executivas. Barkley (2008, p.54), descreve “as funções executivas como atividades mentais necessárias para planificar, organizar, guiar, revisar e monitorar o comportamento necessário para alcançar metas”.

A criança com TDAH possui características como a impulsividade, hiperatividade e distração, fazendo com que a mesma peca muito fácil o que está fazendo e logo perde o interesse abandonando a atividade.

Crianças que apresentam o TDAH podem ser rotuladas como mal educados, desinteressados, com problemas familiares, ou até mesmo com dificuldades de enxergar e ouvir, ou problemas de aprendizagem que dificultam seu desempenho acadêmico, não pode dizer que tais crianças não são capazes de aprender, e que, em geral, têm níveis normais ou elevados de inteligência. (MATTOS, 2007, p.45)

Muitas vezes a dificuldade de inclusão da criança com TDAH com o meio educacional e social, ocorre muitas vezes por considerarem incapazes de aprender, ou seguir o ritmo dos outros alunos e serem excluídas pelos outros colegas nas brincadeiras, trabalhos em grupo, etc.

Só em 2008, com a criação da Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva, garantiu-se por lei a inclusão de crianças com necessidades educativas especiais em escolas regulares, mas essa Lei que incluiu acabou também excluindo , pois não houve uma preparação dos profissionais da educação e nem do ambiente escolar para o acolhimento das crianças nas redes de ensino.

Para que haja inclusão se faz necessário referências à capacidade da escola em relação a sua estrutura organizacional como um todo, de modo a atender as necessidades de cada um dos seus alunos (...). Se antes a Educação Inclusiva, limitava-se apenas à inserção física dos alunos com necessidades educativas especiais, a partir da década de 90, os sistemas educacionais passam a ser responsáveis por criar condições de promover uma educação de qualidade para todos e fazendo adaptações que atendam às necessidades educativas desses alunos, de acordo com a Declaração de Salamanca (1994) e a Declaração de Educação para Todos (BRASIL, UNICEF, 1990).


A criança com TDAH na adolescência, corre o risco ainda maior criando sentimentos para uso excessivo de álcool e abuso de drogas ilícitas, esse fato pode ser descrito como comportamentos irresponsáveis, que em parte são causados pela impulsividade. Em relação ao desempenho acadêmico das crianças que são portadoras do TDAH, Mattos (2007) descreve que

A intervenção da escola é muito importante e em alguns casos, pois pode facilitar o melhor convívio dessas crianças com colegas evitando que elas se desinteressem pelo colégio, fato comum nos adolescentes. O problema é que muitas escolas não desconhecem o TDAH como não têm possibilidade de participar do tratamento, pelas mais variadas razões (MATTOS, 2007, p. 43).

Depois da identificação da criança TDAH pela escola, a mesma deverá encaminhar a criança para uma avaliação médica. Após a constatação do transtorno, se faz necessário que toda a equipe técnica da escola auxilie no tratamento desse transtorno. Por isso se faz necessário que haja uma preparação dessa equipe em relação as informações necessárias e se os mesmos querer participar do tratamento.

Devido às dificuldades de concentração, impulsividade e agitação as crianças com o transtorno estarão sempre no seu limite e muitas vezes ficam de castigo ou são excluídos. A criança com TDAH constantemente irá se desculpar por ter quebrado algo, mexido ou ofendido alguém por ter falado algo sem pensar; muitas vezes acabam tendo que abrir mão do recreio para concluir atividades que não foram realizadas no tempo certo, ficar chateado por ter tirado nota baixa, tendo responsabilizado por coisas que não tem controle, esse fato faz com que gere nessa criança sentimentos de inferioridade, baixa autoestima e até desinteresse pelos estudos e ansiedade.

Mattos (2007, p.84), “o portador de TDAH é uma pessoa inquieta, que muda de interesses e planos o tempo todo, tendo dificuldades em levar as coisas até o fim, pois detesta coisas monótonas e repetitivas. Além disso, algumas são impulsivas no seu dia a dia, tendem a ter problemas na sua vida acadêmica bem como na vida profissional, social e familiar”.

O processo de aprendizagem da criança com TDAH não se limita a um sistema de decoreba de conteúdos, mas na significação dos mesmos, para que se utilize de diferentes capacidades cognitivas. Então, a escola é uma ferramenta importante no processo de aprendizagem para que essas crianças prestem atenção às explicações, concentrando-se ao máximo para ouvir o que está sendo ensinado, anotando o que está sendo dito, participando e interagindo com o outro, para que consiga armazenar todas as informações significativamente.

Para uma criança que sofre com o transtorno de déficit de atenção e hiperatividade é muito difícil prestar atenção às explicações e concentrar-se para ouvir o que está sendo ensinado e acabam ficando de lado e quando o problema não é percebido a tempo na adolescência acabam abusando de drogas, de bebidas alcoólicas e até se metendo em confusões ainda maiores.

Diante das dificuldades encontradas pelas escolas a velha ideia de integração foi reformulada garantido assim o processo da inclusão dessas crianças à educação, independente da suas limitações. Criaram-se então documentos como a: Declaração Mundial de Educação para Todos (1990), o Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA (1990), que dá a pais ou responsáveis a obrigação de matricular os filhos em escolas regulares, a Declaração de Salamanca (1994), que define as políticas, princípios e práticas da Educação Especial e influi nas políticas públicas da Educação. (MATTOS, 2007, p. 46).

Diante da leitura podemos observar que o processo de inclusão deve respeitar a individualidade de cada um, possibilitando a criança com TDAH uma educação igualitária. O entendimento das diferentes situações do cotidiano escolar poderá ajudar as crianças com dificuldades de aprendizagem.

Observa-se também que o caminho histórico percorrido para a inclusão das pessoas com necessidades especiais processo de inclusão deve ser encarado como uma nova maneira de auxiliar a função educativa na prioridade as relações igualitárias, que buscam promover um convívio harmonioso com a diversidade.

Um dos recursos utilizados pela escola na inclusão das crianças com TDAH está na utilização do brincar para desenvolver a linguagem, comunicação com o outro, através da invenção de brincadeiras e histórias, para que o mesmo possa criar sua personalidade. A utilização do lúdico com as crianças irá facilitar a aprendizagem, o desenvolvimento pessoal, social e cultural, colaborando para saúde mental facilitando os processos de socialização, comunicação, expressão e construção do conhecimento.

Todo profissional que trabalha com criança deve dar um espaço e tempo para a criança brincar, desse modo o professor deve provocar situações lúdicas em sala de aula. Trabalhar com o lúdico viabiliza ao professor valorizar a criatividade do aluno, deixar que crie regras para um bom andamento dos trabalhos, para tomar decisões e para que desenvolva a autonomia, ajuda o aluno a conhecer-se como pessoa, integrante de uma sociedade, em que, como todos tem o papel nela. (DOHME, 2003, p.65)

O brincar para as crianças com TDAH pode ser uma terapia, pois através do joga a criança entra em contato com outras crianças, passando a respeitar outros pontos de vistas, favorecendo a saída do seu egocentrismo.

Brougére (1998), destaca que o jogo dá a criança a oportunidade de descobrir informações sobre o nosso meio contribuindo para a visão de mundo, e aprendizagem é através do jogo e da brincadeira que são exercitados aspectos físicos e mentais do indivíduo. O jogo para a criança hiperativa proporcionará um aprendizado de forma prazerosa, interativa, conhecendo melhor a si mesmo e conviver de forma harmoniosa.

Atividades lúdicas através de vários materiais e recursos nas salas de aula ajudarão a satisfazer as necessidades individuais, desenvolvendo nas crianças com TDAH confiança imaginação e socialização. Através do lúdico e criatividade terá maior espaço e a criança desenvolverá as capacidades investidas e conduzir a convivências fraternas.

De acordo com Bruner (2008), qualquer ser que brinca atreve-se a explorar e ser além da situação dada, na busca de situações pela ausência de avaliação ou punição. Entende que a criança aprende ao solucionar problemas, e que o brincar contribui para esse processo. A aprendizagem centrada na criança permite a compreensão significativa da informação bem como sua transformação.

Através da brincadeira as crianças com TDAH aprenderão a utilizar os movimentos desenvolvendo estratégias para solucionar problemas. Com o lúdico será possível explorar o que vai ser aprendido e buscar soluções para os problemas enfrentados pelas crianças. Muitas a utilização do lúdico com as crianças com TDAH, não se obtém sucesso, devido a dificuldade de atenção, concentração e a impulsividade.

Segundo Barros (2002, p.67) “Sabe-se que o comportamento da criança com hiperatividade, em relação às crianças normais, se mostra muito deficitário devido à grande dificuldade de atenção, concentração e impulsividade causada pelo distúrbio”.

Ao utilizar os jogos com criança com TDAH, como estratégia pedagógica, o professor deve levar em consideração as características que deverá realizar as atividades, em relação aos auxilio ao aluno no desenvolvimento das habilidades necessárias no desempenho social, emocional e cognitivo.

Apesar dos grandes problemas que o TDAH pode causar nas crianças e nos adolescentes, por muito tempo, os pais e os profissionais da educação tiveram poucas informações sobre o assunto, principalmente sobre as consequências da hiperatividade e as dificuldades na capacidade de prestar atenção. Acreditava-se que seria um problema superado na adolescência, o que não é verdade, pois estudos realizados comprovam que a hiperatividade pode permanecer durante a adolescência e na vida adulta, e que os seus portadores continuarão sofrendo suas manifestações caso não haja um tratamento especializado. (FABRIS, 2003, p.87)

Em relação ao ensino-aprendizagem a criança com TDAH, devido ao seu comportamento hiperativo o aluno acaba se dispersando e desatento, prejudicando o seu rendimento escolar. A impaciência nas tarefas que exigem atenção, esforço, concentração e organização também são consideradas impedimento na realização das atividades propostas, pois os mesmos a realizam de maneira desorganizados e inacabados. e não cumprindo as regras muitas vezes por não saberem lidar com estes problemas.

Desse modo a utilização das atividades lúdicas como estratégia de ensino, pode ser considerada como uma ferramenta preciosa, que oferecerá oportunidade para a criança com TDAH no desenvolvimento das habilidades de imaginação, concentração, interação, socialização, atenção e autoconfiança e auxiliando os mesmos na resolução de problemas.


CONCLUSÃO






REFERÊNCIAS


BARKLEY, Russell A.. & colaboradores. Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade: manual para diagnóstico e tratamento. 3ª Ed. – Porto Alegre: Artmed, 2008.

BARROS, Juliana Monteiro Gramático. Jogo Infantil e Hiperatividade. Rio de Janeiro: Sprint, 2002.

BRUNER, Jerome. O Processo da Educação, São Paulo: Editora Companhia Nacional, 2008.

BROUGÉRE, G. Jogo e Educação. Porto Alegre. Artes Médicas, 1998.

BRASIL. UNICEF. Declaração Mundial de Educação para Todos e plano de ação para satisfazer as necessidades básicas de aprendizagem. Brasília: Fundos das Nações Unidas para a Infância, 1990.

BROWN, Thomas E.. Transtorno de Déficit e Atenção: a mente desfocada em crianças e adultos. Porto Alegre: Artmed, 2007.

CYPEL, Saul. A criança com déficit de atenção e hiperatividade: atualização para pais, professores e profissionais da saúde. 2.ed. São Paulo: Lemos, 2003.

DOHME, V. Atividades lúdicas na educação: O caminho de tijolos amarelos no aprendizado. Rio de Janeiro. Vozes, 2003.

FABRIS, Glaci Apolinário. Transtorno de Déficit de Atenção Hiperatividade/Impulsividade. Florianópolis: Ed. JC Dias, 2003.

MATTOS, Paulo. No mundo da lua: perguntas e respostas sobre transtorno do déficit de atenção com hiperatividade em crianças, adolescentes e adultos. São Paulo: Lemos Editorial, 2003.

ROHDE, Luís Augusto P.; BENCZIK, Edyleine B. P. Transtorno de déficit de atenção: hiperatividade, o que é? como ajudar?. Porto Alegre: Artmed, 1999.