AFETIVIDADE NO PROCESSO PEDAGÓGICO
Luzinete da Silva Mussi
RESUMO
Percebe-se nítida e enfaticamente o descaso com o sentir do educando, a frieza do trabalho de muitos educadores que, talvez na preocupação com o excesso de conteúdo a ser trabalhado, acabam se negligenciando com o pensar e o sentir de seus alunos. Deixam de humanizar suas ações para que se tornem mais agradáveis e compreensíveis, levando o aluno à obrigação da ação e não a satisfação com a mesma. Alguns explicitam o esforço para “o aprender” e não “o prazer em aprender”. O foco de minha pesquisa tem como base a não aceitação do fracasso e a busca pelo sucesso, mas principalmente, no acreditar ser capaz de fazer e de conseguir alcançar objetivos, independente dos obstáculos a serem encontrados. A interação professor-aluno deve acontecer com afetividade, muito respeito e compreensão com o tempo do aprender do educando. Tomarei como referência os teóricos, Augusto Cury e seu foco no ser, Vygotsky, Piaget, Freire, entre outros.
Palavras-chave: Afetividade. Sensibilização. Aluno. Professor.
ABSTRACT
Perceives clearly and emphatically the neglect of the student experience, the coolness of the work of many educators that perhaps the concern with excessive content to be worked, neglecting end up with the thinking and feeling of his students. Fail to humanize their actions so that they become more enjoyable and understandable, leading the student to the obligation of the action and not pleased with it. Some explicit effort to "learning" and not "happy to learn." The focus of my research is based on not accepting failure and the quest for success, but mostly, believe in being able to do and achieving goals, regardless of obstacles to be found. The teacher-student interaction should happen with affection, respect and understa nding over time of learning of the student. Take as reference the theoretical, Augusto Cury and its focus on being, Vygotsky, Piaget, Freire, among others.
Keywords: Affection. Awareness. Student. Teacher.
Introdução
Ainda que eu falasse as línguas, dos homens e a dos anjos (...) se eu não tivesse amor. Eu nada seria. (Primeira carta de São Paulo aos Coríntios, cap. 13)
O presente estudo tem como tema a sensibilização e a afetividade no processo de construção do conhecimento, e por objetivo mostrar a influência da sensibilização na relação afetiva entre professor e aluno no processo ensino-aprendizagem que, segundo Augusto Cury, é necessário se fazer aceitar que se é capaz para se conseguir fazer. Cabe a nós educadores estimularmos a capacidade em nossos alunos, fazer despertar a criticidade e o gosto pelas descobertas, pelo aprendizado. Mas, muitas vezes, por um desequilíbrio nesta ação, se tem visto alunos desmotivados, assustados, bloqueados e revoltados com a escola, e, consequentemente com dificuldades para conseguir construir seu próprio conhecimento. Faz-se necessário transformar medo em confiança e frieza em compreensão e entrar em uma condição tanto de aceitação do processo de ensino-aprendizagem, quanto de facilitação da construção do conhecimento para se conseguir resultados satisfatórios.
Se quisermos que os alunos recordem melhor ou exercitem mais o pensamento, devemos fazer com que as atividades sejam emocionalmente estimuladas. A experiência e a pesquisa têm mostrado que um fato impregnado de emoção é recordado mais sólido, firme e prolongado que um feito indiferente. Cada vez que comunicarem algo ao aluno tente afetar seu sentimento. A emoção não é uma ferramenta menos importante que o pensamento. (VYGOTSKY, 1994, p.117-119)
É necessário priorizar ações de aproximação, de interação, de descobertas, de diálogos, de motivação, de traçar metas juntos, de mostrar-se tolerante e compreensivo, pois tolerância e compreensão terão como resposta o não medo do erro e a confiança na busca por acertos. A valorização do ponto positivo de cada um fortalece o grupo e leva à atrofia dos pontos negativos. Através da afetividade se tem um ambiente de harmonia onde haverá prazer na construção do conhecimento e confiança na busca de resultados. O fortalecimento dos pontos positivos é uma das ferramentas essenciais para o desenvolvimento humano. Segundo Augusto Cury, em seu livro “O Código da Inteligência”, é necessário instigar a formação de pensadores, para que sejam criativos e eficientes.
É prioritário trabalhar o processo de ensino-aprendizagem aliados á afetividade, onde a sensibilidade para compreender o educando favorecerá para que ele se torne agente neste processo. O objetivo é que ele se torne crítico em seu pensar, independente em suas ações e confiantes de que caso não tenha conseguido desenvolver o necessário em um primeiro momento, terá sempre suporte e estímulo para tentar novamente.
A afetividade exerce grande influência no processo ensino-aprendizagem sob a ótica psicopedagógica. A Psicopedagogia se preocupa com a educação significativa, onde o professor sempre utilize de estratégias que são ligadas à afetividade para estimular o desenvolvimento intelectual e a autonomia dos alunos. (PIVA, 2010)
Percebe-se um descaso muito grande com o processo de formação do educando, que deveria ter como prioridade a formação do ser com ênfase no desenvolvimento de habilidades, socialização e descobertas do saber, que proporcione melhor condição de compreensão, maior criticidade, maior autonomia e melhor interação com o mundo.
Para Chalita:
O amor é um conceito diverso, repleto de contrastes, antíteses, paradoxos e que o tornam tão singular quanto complexo. (...) amor transcende qualquer ciência. Ele nasce, cresce e se multiplica, ocupando espaços maiores ou menores, mas sempre edificados com o que há de mais nobre no espírito e no coração do ser humano. (CHALITA, 2003 P.22)
São necessárias, prioritariamente, ações de aproximação, de descobertas uns dos outros, de diálogos, de traçar metas juntos, de busca, de mostrar-se tolerante e compreensivo, pois tolerância e compreensão terão como resposta o não medo do erro e a busca por acertos. A valorização e o aproveitamento do ponto positivo de cada um fortalece o grupo e leva à atrofia dos pontos negativos. Havendo harmonia e compreensão, haverá prazer no desenvolvimento do processo ensino-aprendizagem e confiança para conseguir bons resultados. Cury em seu livro “Pais Brilhantes, Professores Fascinantes” nos mostra que a utilização da prática pedagógica afetiva pelo professor pode estimular não só a relação afetiva, como a questão cognitiva, social do aluno (2008, p. 48)
Desenvolvimento
Neste trabalho, o foco é o processo de ensino-aprendizagem com sensibilização e afetividade, onde o educando é agente ativo no processo. O objetivo é, de que ele se torne confiante em suas ações, independente dos resultados que possam vir a ter, tendo sempre a certeza de que, caso não tenha conseguido desenvolver o necessário, terá suporte e estímulo para uma nova tentativa. A motivação, a necessidade, a emoção e o afeto se dá através do pensamento. Wygotsky classifica o aspecto emocional como influência da educação no sentimento.
O projeto propõe já em seu início, a mudança estrutural no interior da sala de aula, colocando as carteiras em forma de “U” ou em círculos, facilitando as intervenções e também para que haja melhor aproveitamento do potencial de cada um em cada ação desenvolvida.
Ações desenvolvidas:
1- Descaracterização da sala de aula convencional;
2- Nova estruturação adequando ás necessidades de interação entre os educandos durante suas ações;
3- Uso da música como ferramenta de ensino/aprendizagem explorando-a das mais diversas formas com o objetivo de estimular e envolver o aluno na construção desse novo saber de forma a conciliar seu desenvolvimento também com as atividades musicalizadas e outras que instiguem a participação na descoberta de novos conhecimentos;
4- Fazer uso de materiais trabalhados e construídos pelos próprios alunos, os quais terão que pesquisar e interagir entre si, para conseguir resultado. Deste modo, estarão desenvolvendo não só o didático-pedagógica, mas também o psicológico e o social em suas intervenções em grupos de trabalho;
5- Disponibilizar laboratório de informática para pesquisas e também locais da biblioteca como espaço para oficina do conhecimento;
6- Poderá, de acordo com o tema e a disponibilidade de espaço/tempo, vir a fazer intervenção através de entrevista como complementação do tema trabalhado, ou desenvolver uma peça teatral;
7- Cada oficina trabalhada terá a apresentação e o fechamento coordenado por cada um dos grupos envolvidos.
8- Ter o aluno como agente ativo em seu processo de ensino-aprendizagem, certamente lhe abrirá um leque de conhecimento e de oportunidade que instigará sua necessidade de crescimento cultural e social, ao mesmo tempo em que se fortalece e se estrutura para assumir seu papel na sociedade,
9- O aluno que se sente valorizado descobre capacidades inimagináveis. Enquanto que, se inseridos em um processo educativo de proibições e silêncio, não tendo o direito de se expressar, argumentar, discordar, descobrir ou criar, pode estar sendo colocado em uma condição de aceitação sem o direito de questionamento, o que lhe será prejudicial para o desenvolvimento.
10- O educando em organizadas ações de descobertas e encontros, se redescobre, e, neste novo momento, como participante de seu próprio construir.
Wallon nos diz: “A educação da emoção deve ser incluída entre os propósitos da ação pedagógica, o que supõe o conhecimento íntimo do seu modo de funcionamento” (1962, apud DANTAS, 1992, p.71).
Os autores (Fernandez, 1991; Dantas, 1992; Snyders, 1993; Codo e Gazzotti, 1999, e outros) vêm defendendo que o afeto é indispensável na atividade de ensinar, entendendo que as relações entre ensino e aprendizagem são movidas pelo desejo e pela paixão, e que, portanto, é possível identificar e prever condições afetivas favoráveis que facilitem a aprendizagem.
Atuando em sala de aula desde 1976, tive a oportunidade de presenciar e vivenciar diversos paradigmas educacionais. Posso afirmar que a humanização, a sensibilização e a afetividade são fatores prioritários no processo dialógico de ensino-aprendizagem. Freire acrescenta que:
...o diálogo é uma exigência existencial. E, se ele é o encontro em que se solidarizam o refletir e o agir de seus sujeitos endereçados ao mundo a ser transformado e humanizado, não pode reduzir-se a um ato de depositar ideias de um sujeito no outro, nem tampouco tornar se simples troca de ideias a serem consumidas pelos permutantes. (FREIRE, 2005, p. 91)
Silêncio total, jamais existiria em minha sala de aula, sempre valorizei o ser como ser social que têm necessidades de diálogo e convívio em grupo. O diálogo no debate de ideias, jamais deve ser confundido com bagunça, sempre elogiei meus alunos, embora não fossem silenciosas, mas eram críticos e criativos. Sempre fazia questão de elogiá-los, valorizá-los, enaltecê-los. Muitas vezes fui criticada por colegas vizinhos de sala que me pediam para manter a porta de minha sala fechada, visto que, eu não era capaz de manter meus alunos calados. Essa jamais foi minha intenção, o silêncio é necessário no momento da exposição de conteúdos, fora isso se torna submissão e anulação de capacidades, um crime contra a capacidade mental humana.
Sensibilizar e humanizar leva o aluno a assumir suas responsabilidades, o que o tornará consciente, produtivo, mais tolerante, mais compreensivo, e consequentemente mais afetivo. Freire, (1996, p. 89) em Pedagogia da Autonomia, diz:
...preciso descartar como falsa a separação radical entre seriedade docente e afetividade. Não é certo, sobretudo do ponto de vista democrático, que serei tão melhor professor quanto mais severo, mais frio, mais distante e "cinzento" me ponha nas minhas relações com os alunos, no trato dos objetos cognoscíveis que devo ensinar. A afetividade não se acha excluída da cognoscibilidade. (Freire, 1996, p. 89)
Na busca de uma mudança comportamental do educando em sala de aula, visando à transformação do espaço educacional, busca-se não só a valorização do educando, como o desenvolver da valorização dos seres e de mundo. Precisamos deixar no passado o antigo espaço de total obediência e silêncio, fazendo existir um novo espaço, agora prazeroso, de diálogo, de argumentação, de questionamentos, de criticidade, de troca de opiniões, conhecimentos e descobertas, lugar onde se tenha prazer em estar e se sinta bem em fazer parte e, principalmente onde se consegue questionar, argumentar, compartilhar e construir, onde não se é constrangido nos erros e sim instigado à busca por acertos.
A prática pedagógica deve ser baseada no diálogo entre professor e aluno, permitindo que o mesmo desenvolva amplamente seu potencial criador, a socialização, a afetividade, a imaginação e a espontaneidade. (PIVA, 2010)
Piaget (1998) reforça que o principal objetivo da educação é criar homens capazes de inventar coisas novas e não criar meros repetidores de modelos preestabelecidos. A meta deveria ser formar homens criativos, inventivos e descobridores; pessoas capazes de criticar, deduzir, analisar, refletir, pessoas livres e autônomas.
Espera-se que o educando consiga nesse espaço/tempo de construção de saberes e desenvolvimento intelectual, psicológico, afetivo e social, consiga se fortalecer no sentido de transformação, sempre com consciência e autonomia na busca de seu melhor e de novas descobertas, que sempre siga em frente se aliando a outros que dividem os mesmos ideais, sempre acreditando que ser possível ou não, depende primeiro de seu pensar, de seu querer, se achar que será possível, aí então, é partir para a ação de concretização do seu pensar. Segundo Leite:
Estudos mostram que as relações entre o professor, o conteúdo escolar e o aluno são profundamente marcados pela afetividade, podendo gerar impactos de aproximação ou distanciamento entre o aluno e o conteúdo. Todas as atividades planejadas e desenvolvidas pelo professor possuem influencias na afetividade e na aprendizagem dos alunos. A maneira que o professor apresenta o conteúdo em sua sala de aula pode afetar cada aluno de uma maneira particular, repercutindo de diversas formas na sua aprendizagem. Os mesmos esquecem-se da afetividade e muitas vezes se preocupam apenas com o conteúdo e com as metodologias, podendo criar marcas profundas. (LEITE, 2012)
Claparède (1954), citado por Saltini (2003), afirma que, para falarmos de inteligência e afetividade precisamos nos referir também, e sempre, a emoção, as ligações e inter-relações afetivas. Seria impossível entender o desenvolvimento da inteligência sem um desenvolvimento integrado por aquilo que nos desperta o interesse e prazer em realizar.
Nesse processo de construção ensino-aprendizagem, todo funcionário da Instituição Escolar faz parte do processo, então é primordial que consigam impor limites e fazer respeitar hierarquia e regulamento, mas com valorização e com o mesmo respeito que almejem para si próprios, e, que os dirigentes vejam os alunos como capazes de compreender e sentir, assim sendo, ao envolvê-los em situações escolares saudáveis, teremos parceiros em seu próprio desenvolvimento. Percebe-se deste modo que fundamentar o relacionamento com o educando em cobranças e críticas fará com que tenhamos insatisfeitos e conflitantes alunos na busca de serem enxergado, mesmo que seja através de rebeldias.
De acordo com Freire:
A tarefa coerente do educador que pensa certo é, exercendo como ser humano a irrecusável prática de inteligir, desafiar o educando com quem se comunica e a quem comunica, produzir sua compreensão do que vem sendo comunicado. Não há inteligibilidade que não seja comunicação e intercomunicação e que não se funde na dialogicidade. O pensar certo por isso é dialógico e não polêmico. (FREIRE, P.,Pedagogia da Autonomia.p21)
Goleman (1995) enfatiza a necessidade de se trabalhar a inteligência emocional do aluno para que este saiba gerir suas emoções e situações de conflito e, na resolução de problemas, saiba se relacionar com seus pares e encontre situações criativas na resolução dos conflitos.
Conclusão
Terminado este processo de trabalho, tendo sido realizado as intervenções necessárias, e obtido resultados dentro do previsto, notou-se ter contribuído para que o sistema educacional nesta instituição tenha um novo olhar, um novo direcionamento da atuação professor-aluno em sala de aula. Como produto desta mudança têm-se alunos reflexivos, confiantes, estimulados e estimulantes, capazes de produzir mais e com mais qualidade. Os alunos envolvidos neste trabalho, certamente desenvolveram-se em sua totalidade, aguçaram sua autoconfiança, sendo consequentemente tidos como exemplo de ações que deram certo.
Neste trabalho mostra-se nítida a atuação do educador em seu fazer. Deve partir dele todo estímulo para a ação vir a acontecer, todo respeito para que o respeito permeie toda ação e toda valorização para que todos interajam com reciprocidade.
Referências
CHALITA, G; Pedagogia do Amor: a contribuição das histórias universais para a formação de valores das novas gerações. São Paulo, 2003.
CURY, A. O código da Inteligência. Rio de Janeiro, 2008.
FERNANDEZ, 1991; DANTAS, 1992; SNYDERS, 1993; CODO e GAZZOTTI, 1999, (citados).
FERNANDEZ, Alícia. A inteligência aprisionada. Porto Alegre 1991.
FREIRE, P. Pedagogia da Autonomia. São Paulo 1996.
LEITE, S. A. S. Afetividade nas práticas pedagógicas. Temas em Psicologia. V.20, nº. 2 Ribeirão Preto, 2012.
PIVA, J. E. M. Psicopedagogia e a influência da afetividade no processo ensino aprendizagem. Rei Revista de Educação do Ideau. v.5, n.10, janeiro-junho 2010.
VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente. São Paulo, 1994.