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LUDICIDADE NO ENSINO DE MATEMÁTICA

Franciele Berti Chefre
Glaucineia Lauriano
Lílian Regina Sousa de Andrade Oliveira

 

RESUMO

Falar da aprendizagem e desenvolvimento nos leva a uma constatação essencial ao seu estudo: a importância da aprendizagem na transformação do ser humano em uma pessoa integra ao ambiente sociocultural. A matemática está presente no nosso dia a dia, nas atividades, nas práticas de distintas culturas, em situações de contagem, medição e cálculo, que são facilmente reconhecidas como Matemática, mas também em outras que envolvem processos de classificação, localização, representação, explicação, organização, planejamento e em atividades lúdicas, como jogos e brincadeiras infantis. A matemática faz parte dos currículos escolares em todos os países, não importando sua cultura ou nível de desenvolvimento social e econômico. Este trabalho tem como objetivo pesquisar e relatar experiências vivenciadas por alunos do primeiro ciclo de alfabetização. A metodologia utilizada foi a observação das atividades aplicadas, sendo estas, jogos diversos para o ensino da matemática, pesquisa de campo e questionário qualitativo. Os resultados foram satisfatórios.

 

Palavras chave: Ensino da matemática. Jogos. Aprendizagem.

 

RESUME

Talking about learning and development leads us to an essential finding in your study: the importance of learning in transforming the human being into a person is part of the socio-cultural environment. Mathematics is present in our daily lives, in activities, in the practices of different cultures, in situations of counting, measuring and calculating, which are easily recognized as Mathematics, but also in others involving processes of classification, location, representation, explanation , organization, planning and recreational activities, such as games and children's games. Mathematics is part of school curricula in all countries, regardless of their culture or level of social and economic development. This work aims to research and report experiences lived by students of the first literacy cycle.. The methodology used was the observation of the applied activities, these being several games for teaching mathematics, field research and qualitative questionnaire. The results were satisfactory.

 

Keywords: Teaching of mathematics. Games. Learning.

 

Introdução

 

Uma das funções da matemática escolar é o desenvolvimento de competência para resolver os problemas cotidianos que as pessoas encontram. Na última década intensificou a busca por alternativas que possibilitassem uma maior compreensão deste ensino e um conhecimento significativo que ocasiona benefícios para a vida profissional de qualquer estudante. Proporcionar situações desafiadoras, agradáveis e significativas em sala de aula, motivar o aluno para o aprendizado da matemática e aprimorar a didática usada durante as aulas, proporcionam qualidade na arte de ensinar e melhorar a receptividade por parte dos estudantes.

SOUZA (2002, p.132), expressa a importância de se trabalhar com os jogos na sala de aula dizendo que:

 

A proposta de se trabalhar com jogos no processo de ensino aprendizagem da matemática implica numa opção didática metodológica por parte do professor, vinculadas às suas concepções de educação, de Matemática, de mundo, pois é a partir de tais concepções que se definem normas, maneiras e objetivos a serem trabalhados, coerentes com a metodologia de ensino adotado pelo professor.

 

O jogo pode ser considerado como um meio pelo qual os educandos expressam suas qualidades espontâneas e que permitem ao educador compreender melhor seus alunos. Nas palavras de SANTOS (1997, p. 9):

 

Jogo é uma palavra, uma maneira de expressar o mundo e, portanto, de interpretá-lo. Precisamos, pois reconhecer que estamos tratando de uma concepção complexa na medida em que, em torno de um nó de significações, giram valores bem diferentes: a noção aberta a interpretação e, sobretudo, a nova possibilidade de análise. Pode se descobrir um paradigma dominante em torno da oposição ao trabalho, mas também potencialidades diversas conforme se favoreça essa ou aquela direção de seu desenvolvimento.

 

Kamii, Devries (1991), baseando-se nas concepções de Piaget, explicam o sentido de cooperar nos jogos em grupo, pontuando que “cooperação” significa “cooperar”, ou seja, “operar junto” ou “negociar”, para estabelecer um acordo que parece adequado a todos os envolvidos (jogadores). Cooperando o indivíduo está coordenando diferentes pontos de vista, sendo capaz de “descentrar”, ou seja, de ver uma situação a partir do ponto de vista do outro (adversário ou parceiro).

             Macedo et al. (1997), analisando o jogo de regras, ressalta o seu valor grupal:

 

No caso de uma modalidade competitiva, o jogo mantém seu valor grupal, pois desafia um jogador a coordenar seu ponto de vista com o de seu adversário, realizando, por exemplo, jogadas simultaneamente ofensivas e defensivas.  (Macedo et al,1997, p.27)

 

É por isso que observamos que, muitas vezes, durante as atividades com jogos, as crianças (adversários) se ajudam durante as jogadas, esclarecendo regras e, até mesmo, apontando melhores jogadas (estratégias). A competição fica minimizada. O objetivo torna-se a socialização do conhecimento do jogo.

Explorar sobre a influência dos jogos de matemática como didáticas diferenciadas para favorecer a aprendizagem. Conhecer as principais dificuldades dos educandos em sala; o papel do educador como mediador desse conhecimento; as didáticas diferenciadas utilizadas em sala; os jogos como aliado do educador.

 

CONCEPÇÕES DE JOGOS NO ENSINO DA matemática

 

Cabe ressaltar na educação matemática, tem utilizado novas estratégias a fim de possibilitar uma aprendizagem mais poderosa.

Recentemente, diversos pesquisadores vêm se debruçando sobre as potencialidades pedagógicas do uso de jogos no ensino de forma geral e em particular na Educação Matemática.

Ressaltando a importância dos jogos de estratégia como recurso didático, está presente nos PCN’s (Parâmetros Curriculares Nacionais) o seguinte argumento:

 

Nos jogos de estratégia (busca de procedimentos para ganhar) parte-se da realização de exemplos práticos (e não da repetição de modelos de procedimentos criados por outros) que levam ao desenvolvimento de habilidades específicas para a resolução de problemas e os modos típicos do pensamento matemático.  ( MEC, 1998: p.47 )

 

  As crianças pequenas, segundo Kamii e Declark (1994) ficam muitos motivados em jogar, em interagir e gostam muito de estabelecer e cumprir regras .as atividades desenvolvidas por meios dos jogos possibilitam a criança ser criativa, desenvolvendo a autoconfiança e a autonomia muito discutida atualmente.

Devemos ter cuidado na escolha dos jogos, eles devem atender aos objetivos almejados, uma importante questão a ser destacada é que não basta simplesmente escolher um bom jogo, é preciso, fundamentalmente, saber aplicá-lo, para a construção ou para a fixação de conceitos. Isso é ratificado por Macedo ET al (2000), afirma que:

 

Qualquer jogo pode ser utilizado quando o objetivo é propor atividades que favorecem a aquisição de conhecimento. A questão não está no material, mas no modo que como ele é explorado. Pode-se dizer, portanto, que serve qual-jogo, mais não de qualquer jeito ( MACEDO et AL, p. 24, 2000 ).

 

Segundo Flemming (2003), o jogo quando adequadamente conduzido pelo professor, pode tornar-se desafiante e eficiente para o desenvolvimento do processo  de ensino e de aprendizagem.

Destaca, também, que o jogo na educação matemática, passa a ter caráter de estratégia didática de ensino quando é considerado promotor e facilitador da aprendizagem dos alunos. O aluno, colocado diante de situações lúdicas, aprende a estruturar a lógica da brincadeira e, deste modo, aprende, também, a estruturar a Matemática presente no tema.

Relata, ainda, que o jogo é visto como estratégia quando tem por finalidade o desenvolvimento de habilidades com vistas à resolução de problemas. O jogo, também, possibilita ao aluno a oportunidade de estabelecer planos de ação para atingir determinados objetivos, executar jogadas e avaliar o efeito nos resultados obtidos. Desta maneira, o jogo ajuda o aluno na compreensão dos conceitos da matemática, via desenvolvimento de habilidades para a resolução de problemas e mais, permite trabalhar os conteúdos culturais inerentes ao próprio jogo.

 A idade escolar em que a criança se apresenta é fundamental, destaca RAPPAPORT (1981), apud CARNEIRO, MARTINELLI e SISTO (2003, p. 429):

Começa a experimentar situações e vivências que terão implicações na formação do seu autoconceito, no sentido de se sentir apta, produtiva, capaz e competente na realização de suas tarefas ou não.

 

Para ALMEIDA JR.(1957), apud BARRETO & MITRULIS (2001, p. 105), Entendia ele que nem a “promoção em massa”, nem a “promoção por idade”, nem tampouco a “promoção automática” convinham de pronto ao caso brasileiro.

Segundo ARROYO (1999, p. 1) “A nova LDB incorporou essa modalidade de organização da educação básica no art. 23, consequentemente os ciclos não são mais uma proposta inovadora isolada de algumas escolas ou redes, (...)” para o autor é uma alternativa para formar os processos educativos, sistema com grande defasagem de ideia e que merece atenção dos “formuladores de políticas e de currículos, de administradores e de formadores” (ARROYO, 1999, p,1 ). O autor fala ainda que o ciclo foi encarado por muitos professores como uma ameaça a sua posição de educador, ferindo uma história já acostumada por todos que é a escola dividida em seriado. A mudança e a forma que o ciclo foi encarado contribuíram para sua dificuldade de fixação nas escolas brasileiras.

 

Os ciclos compreendem períodos de escolarização que ultrapassam as séries anuais, organizados em blocos cuja duração varia, podendo atingir até a totalidade de anos prevista para um determinado nível de ensino. Eles representam uma tentativa de superar a excessiva fragmentação do currículo que decorre do regime seriado durante o processo de escolarização. A ordenação do tempo escolar se faz em torno de unidades maiores e mais flexíveis, de forma a favorecer o trabalho com clientelas de diferentes procedências e estilos de aprendizagem, procurando assegurar que o professor e a escola não percam de vista as exigências de educação postas para o período.  (BARRETO & MITRULIS, 2001, p. 103)

 

O brinquedo estimula a representação, é um objeto pelo qual as crianças estabelecem relações com o mundo que as cerca.

 

Ao assumir a função lúdica e educativa, o brinquedo educativo merece algumas considerações: função lúdica: quando propicia diversão, prazer e até desprazer, quando escolhido voluntariamente e função educativa: o brinquedo ensina qualquer coisa que complete o indivíduo em seu saber, seus conhecimentos e sua apreensão do mundo ( Kishimoto, 2003, p. 37 )

 

O brinquedo assume formas e significados de acordo com a necessidade das crianças, é um objeto que pode ser transformado quando ligado á sua realidade ou a manipulação desta. Por meio do brinquedo a criança reorganiza, constrói e reconstrói relações entre situações no pensamento e situações reais.

 

MATEMÁTICA- TEORIA E PRÁTICA

 

Na matemática, relacionar teoria e prática é um dos caminhos para se obter ensino de qualidade, para que os alunos consigam visualizar e entender na prática sua aplicabilidade. Para isso é necessária uma formação adequada aos professores, conscientizando da sua importância no processo ensino-aprendizagem e capacitando-os com o intuito de formá-lo bons educadores, para que obtenha êxito no processo de educar.

Muito se tem discutido sobre o que fazer para melhorar o processo ensino-aprendizagem em matemática. Uma excelente opção é aliar conteúdos matemáticos com a realidade do aluno, proporcionando uma interação entre a escola e o contexto em que o aluno está inserido.

Diante disso surge por iniciativa do Governo Federal, os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s), que traz uma nova proposta de ensino, um ensino mais crítico e próximo da realidade dos alunos, respeitando as especificidades de cada contexto. De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais:

 

A matemática precisa estar ao alcance de todos e a democratização do seu ensino deve ser meta prioritária do trabalho docente. A atividade matemática escolar não é “olhar para as coisas prontas e definitivas”, mas a construção e a apropriação de um conhecimento pelo aluno, que se servirá dele para compreender a transformar sua realidade. No ensino de matemática, destacam-se dois aspectos básicos: um consiste em relacionar observações do mundo real com representações (esquemas, tabelas, figuras); outro consiste em relacionar essas representações com princípios e conceitos matemáticos. ( PCN’s, 2000, p.19 )

 

De acordo com Libanêo, a interação professor-aluno é um aspecto fundamental para alcançar os objetivos do processo ensino-aprendizagem em matemática.

 

A relação ensino-aprendizagem revela-se pelo conjunto de atividades organizadas pelo professor e pelos alunos, objetivando a apropriação de um saber historicamente acumulado, tendo como ponto de partida o nível atual de conhecimentos, experiência de vida e maturidade dos alunos. Antes de tudo, essa relação é de socialização, de troca de conhecimentos aprendidos e transformados na interação. É uma relação dinâmica, dialógica, portanto, construtiva de aprendizagem pela troca de saberes. (LIBANÊO, 1994. p.05)

 

Segundo Libanêo o processo ensino-aprendizagem se dá pela troca de saberes. O bom professor respeita o conhecimento prévio de seus alunos, suas experiências de vida, sua maturidade e utiliza essa relação de socialização para construir o conhecimento juntamente com os mesmos. Libanêo considera o processo ensino-aprendizagem como uma troca de conhecimento entre aluno e professor, onde o professor não é o dono do saber e o aluno não precisa apenas aprender, mas onde os saberes do professor e do aluno se completam para a construção da aprendizagem. 

Segundo Dante “A história da matemática é também uma importante ferramenta de contextualização ao enfocar a evolução e as crises pelas quais determinados conceitos matemáticos passaram ao longo da História”.

 

Ao revelar a matemática como uma criação humana, ao mostrar necessidades e preocupações de diferentes culturas, em diferentes momentos históricos, ao estabelecer comparações entre os conceitos e processos matemáticos do passado e do presente, o professor tem a possibilidade de desenvolver atitudes e valores mais favoráveis do aluno diante do conhecimento matemático. ( PCN, 2000, p 45 )

 

Segundo Dante Tratar os conteúdos de ensino de forma contextualizada significa aproveitar ao máximo as relações existentes entre esses conteúdos e o contexto pessoal ou social do aluno, de modo a dar significado ao que está sendo aprendido ( DANTE, 2004, p.7 ).

A contextualização ajuda a desenvolver no aluno a capacidade de relacionar o apreendido com o observado, fazendo um paralelo entre a teoria com suas aplicações práticas. Valorizar a contextualização da matemática sobre o conhecimento escolar e valorizar o conhecimento do aluno, sua cultura, o meio em que está inserido. Para Ubiratan D’Ambrósio isso é etnomatemática, onde etno: referente ao contexto cultural; matemática: explicar, conhecer, entender e tica: vem de techne (arte e técnica).

 

A utilização do cotidiano das compras para ensinar matemática revela práticas apreendidas fora do ambiente escolar, uma verdadeira etno matemática do comércio. Um importante componente da etnomatemática é possibilitar uma visão crítica da realidade, utilizando instrumentos de natureza matemática. Analise comparativa de preços, de contas, de orçamento, proporciona excelente material pedagógico.                                  ( D ’AMBRÓSIO 2001, p.23 )

 

De acordo com que foi colocado por Ubiratan D’Ambrósio, o estudo de atividades fora da sala de aula, proporciona uma construção por parte do aluno de um significado para o que está sendo estudado, com isso o aluno transforma a teoria exposta em sala de aula em conhecimento prático.

Considerando a importância da Matemática para a vida cotidiana e acadêmica, o estudo dessa área do conhecimento deve ser instigante e desafiador e possibilitar ao estudante a criação de suas próprias estratégias de resolução de problemas ou execução de exercícios que envolvam o raciocínio lógico-matemático. Trabalhar com a matemática engloba, antes de tudo, proporcionar ao estudante a possibilidade de resolver situações desafiadoras e utilizar estratégias e mecanismos que favoreçam essas ações.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

Após o estudo teórico e observações da pratica de jogos pedagógicos, comprova-se que vários autores, na área da educação matemática, evidenciam a importância da utilização dos jogos no processo de ensino-aprendizagem de matemática. O jogo possibilita ao aluno a construção do seu saber, se tornando mais crítico e confiante, expressa o que pensa e ira suas próprias conclusões.

É evidente que o jogo deve ser utilizado em sala de aula, portanto, antes de iniciar a atividade o professor precisa elaborar seus objetivos, analisando as potencialidades educativas que o jogo apresenta e pode oferecer.

 

REFERÊNCIAS

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MENDONÇA, Erasto Fortes – Educação e Sociedade Numa Perspectiva Sociológica.

 

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