FERRAMENTA DE COMUNICAÇÃO ALTERNATIVA: O SISTEMA BLISS E AS POSSIBILIDADES DE INCLUSÃO
Fátima Aparecida Zingra Rocha Silva
Artigo científico apresentado ao Instituto Prominas, como requisito parcial para a obtenção do título de especialista em Psicopedagogia e Educação Especial.
RESUMO
A crescente necessidade de ampliação dos conhecimentos para melhor atender aos alunos portadores de necessidades especiais, trouxe a reflexão e interesse em buscar ampliar o horizonte de expectativas diferenciadas para o trabalho como professor alfabetizador. Também instigar os profissionais da área da educação para essa possibilidade um tanto inovadora em nosso meio, pois o sistema Bliss é pouco conhecido e divulgado em nosso contexto profissional. Ao estudarmos o assunto, melhoramos nossos conhecimentos sobre o Sistema e descobrimos que se trata de uma fonte bastante interessante para dar respaldo a nosso trabalho como profissionais da educação. Portanto, o Bliss, constitui-se numa nova opção para que os professores alfabetizadores possam pesquisar e adequar sua aplicação com nossos alunos portadores de necessidades especiais.
Palavras-chave: Comunicação não verbal. Necessidades. Conhecimento. Educação. Sistema bliss.
Introdução
A comunicação é uma necessidade primordial do ser humano para expressar seus anseios e necessidades. Diante desta perspectiva e da crescente busca por novos conhecimentos na área da educação para desenvolver trabalhos diferenciados no atendimento a alunos com necessidades especiais, e o relevante apoio que as ferramentas alternativas de comunicação podem proporcionar ao educador, trouxe o interesse pela busca de ampliação dos conhecimentos sobre o Sistema Bliss.
De acordo com Nunes (2003, p. 15), “a literatura sobre a comunicação alternativa tem apontado para uma série de sistemas de símbolos que permitem a comunicação de pessoas que não produzem linguagem oral.”
O sistema bliss apresenta uma possibilidade no desenvolvimento de um trabalho inclusivo de pessoas que por algum fator orgânico tem sua comunicação verbal comprometida e não conseguem se expressar através da fala ou por sinais, mas que mesmo com essas restrições apresentam um potencial cognitivo que estimulado por um trabalho diferenciado pode levar esses indivíduos a alcançar uma vida produtiva em sociedade.
Neste contexto, o objetivo deste trabalho é proporcionar ampliação de conhecimentos sobre o sistema bliss como uma ferramenta alternativa de suporte ao professor alfabetizador para o trabalho diferenciado com alunos especiais.
Nesta perspectiva, a ferramenta alternativa de comunicação do sistema bliss traz, aos profissionais da Educação, um campo produtivo e integrador aos alunos com dificuldades especiais que dependem de um conhecimento ampliado e aprimorado dos mesmos, que constituem o elo da inclusão desses indivíduos.
A metodologia utilizada para contemplar essa pesquisa, foi a leitura de outros artigos já produzidos por outros profissionais sobre comunicações alternativas com enfoque no sistema bliss.
Desenvolvimento
A inclusão bate às portas do mundo e sendo a escola essa via de acesso dos portadores de necessidades especiais, sentimos crescer a cada momento o dever de nos prepararmos para esses desafios, pois a cada dia, há um aumento significativo do número de alunos que precisam desse acompanhamento diferenciado para que suas limitações sejam atendidas.
Os sistemas braile e libras tornam se cada dia mais comuns aos profissionais da área da educação que buscam especializar-se nesses conhecimentos para trabalharem com segurança e competência, atendendo alunos portadores de cegueira e surdez.
O sistema de comunicação do ser humano é bastante complexo, já que para transmitir uma mensagem, utiliza-se de expressões verbais e não verbais.
Sendo assim, muitos indivíduos podem não desenvolver a fala, como os portadores de paralisia cerebral por exemplo. Nesses casos, o portador também possui outros comprometimentos motores que o impedem ou limitam a articulação de palavras e gestos.
Em casos mais graves, a pessoa apresenta dificuldades de controlar o ambiente que a cerca ou produzir efeitos no mesmo, devido aos déficits motores, controle postural e habilidades de manipulação, ficando, portanto, comprometido seu desenvolvimento de linguagem e comunicação.
Mediante uma variedade crescente de indivíduos que apresentam essas limitações, e das famílias que buscam apoio e desenvolvimento aos seus filhos com necessidades especiais, para que os mesmos sejam incluídos na sociedade e tenham possibilidades de promoção humana, muitos até conquistando seu espaço no campo de formação profissional, surgiram sistemas de comunicação alternativa.
Conforme Walter (2011, p. 01):
A comunicação alternativa teve início no Brasil na década de 70 na escola Quero-Quero em São Paulo com o uso do método Bliss por estudantes com deficiência motora, porém sem alterações cognitivas, possibilitando o uso de um sistema simbólico altamente abstrato. Mas foi na década de 90 que a Comunicação Alternativa começa a ser questionada e implementada no campo científico, passando a compor a metodologia utilizada por pesquisadores de programas de pós-graduação em educação especial, sendo colocados a prova diferentes métodos e recursos destinados a compensar a ausência de fala por sujeitos com diferentes deficiências.
Atualmente existem inúmeros trabalhos já publicados e os resultados vem apontando grandes melhorias no uso da comunicação alternativa nos diferentes contextos da vida. Novas técnicas e sistemas pictográficos estão sendo utilizados nas diferentes regiões do Brasil e daí a necessidade dos profissionais da área se reunirem e organizarem uma associação para divulgar e discutir a Comunicação Alternativa e sua aplicabilidade nos diferentes contextos e principalmente no modelo inclusionista.
Os sistemas de comunicação não verbal são todos aqueles que propiciam a expressão através de símbolos distintos da fala funcional de quem se comunica. Estes se classificam em: Sistemas de comunicação sem ajuda e Sistemas de comunicação com ajuda.
Sistemas de comunicação sem ajuda não requerem nenhum instrumento ou auxílio técnico externo, como gestos comuns, códigos gestuais não linguísticos, sistema de linguagem de sinais, alfabeto manual.
Já os Sistemas de comunicação com ajuda abrangem muitos elementos de representação, desde aqueles iconográficos até aos mais complexos e abstratos, como sistema com desenhos representativos: objetos, fotografias, desenhos; sistemas compostos por desenhos lineares: pictogramas; sistemas que combinam símbolos pictográficos, ideográficos e arbitrários como o sistema Rebus e o sistema Bliss.
De acordo com a autora Chun (1991), uma história detalhada sobre o desenvolvimento da Comunicação Suplementar e/ou Alternativa fica impossibilitada de ser realizada, visto que os primeiros trabalhos permanecem desconhecidos, por serem informais e sem registro.
A partir da década de 70, novas visões sobre o indivíduo com deficiência que passam a ser vistos em suas potencialidades, tendo o objetivo de sua integração e inclusão social.
Pesquisas foram desenvolvidas voltadas às dificuldades de comunicação com outro enfoque, além da preocupação com a oralidade.
Em 1971, profissionais da equipe do “Ontário Crippled Children’s Centre”, Toronto, Canadá, desenvolveram pesquisas destinadas a encontrar um meio alternativo de comunicação para crianças portadoras de distúrbios neuro-motores, que não manifestavam a fala funcional.
Várias investigações foram realizadas, porém, nada satisfatórias pois limitavam o desempenho linguístico a poucos contextos e desfavoreciam as diversas comunicações (CHUN, 1991).
Descobriram então, em “Signs and Symbols around the World”, de Elizabeth Helfman, um Sistema simbólico internacional criado por Charles k. Bliss (baseado na escrita chinesa e nas ideias do filósofo Leibniz), o Blissymbolics – Sistema Bliss de Comunicação. (VERZONI, 2011, p. 05).
O autor tinha como objetivo desenvolver uma forma de linguagem universal entre os homens, uma comunicação mundial, por isso este sistema não foi inicialmente direcionado a pessoas com dificuldades de comunicação, finalidade esta, que só aconteceu após adaptações feitas em conjunto com Charles Bliss em 1971, pela equipe canadense e especialmente por Shirley Macnaughton. (VERZONI, 2011, p. 05).
O primeiro uso do método foi com crianças sem oralidade portadores de paralisia cerebral, mas logo aplicado em outros tipos de patologias (autismo, retardo mental, afasia e outras)
A partir de 1974, o Sistema Bliss de Comunicação é ampliado para outros países e em 1975 foi criada a Blissymbolics Communication Foundation, atualmente Blissymbolics Communication International (Toronto). (VERZONI, 2011).
O Sistema Bliss é um sistema suplementar e/ou alternativo de comunicação. É constituído em um sistema simbólico gráfico visual. É dinâmico e capaz de representar conceitos abstratos. Cada símbolo é aprendido em relação à lógica que envolve o sistema como um todo. Por ele, podem ser expressas frases simples e complexas, também mensagens telegráficas que são determinadas pelo usuário e sua capacidade, e pelo contexto comunicativo. (VERZONI, 2011, p. 06).
Os símbolos são derivados de uma quantia básica de formas geométricas e de seus segmentos. O quadrado é a referência para desenhar cada símbolo. A linha superior corresponde ao céu e a inferior à terra.
A Blissymbolics Communication International criou réguas matrizes para a confecção dos desenhos, sendo caracterizado por seis categorias. Cada categoria é definida por uma cor específica que pode colorir o fundo do símbolo, o próprio símbolo ou ainda o contorno do quadrado.
Cada cor possui uma designação:
• Símbolos brancos: preposição, conjunções, adjuntos adverbiais, dias da semana, etc.
Figura 1- Símbolos do Sistema Bliss representando preposições
Fonte: TARJETAS BLISS (1985).
• Símbolos amarelos: pronomes pessoais e símbolos referentes a pessoas.
Figura 2- Símbolos do Sistema Bliss representando pronomes pessoais e pessoas
Fonte: TARJETAS BLISS (1985).
• Símbolos laranjas: substantivos concretos e abstratos.
Figura 3- Símbolos do sistema Bliss representando substantivos
Fonte: TARJETAS BLISS (1985).
• Símbolos verdes: verbos.
Figura 4- Símbolos do sistema Bliss representando verbos
Fonte: TARJETAS BLISS (1985).
• Símbolos azuis: adjetivos e advérbios.
Figura 5- Símbolos do sistema Bliss representando adjetivos e advérbios
Fonte: TARJETAS BLISS (1985).
• Símbolos rosas: expressões sociais (ex: gírias, etc).
O fato de as categorias serem distribuídas por cores, tornam mais atrativa agilizando sua localização e favorecendo a memorização e a aprendizagem. (Verzoni, 2011, p. 06).
Na parte superior da tabela dos símbolos está o alfabeto e na lateral direita a numeração. Cada símbolo, possui também, como parte integrante a palavra correspondente ao seu significado.
Quanto ao tamanho, os símbolos Bliss não possuem dimensões rígidas, mas, existem três medidas estabelecidas de acordo com os perfis dos indivíduos:
• Para indivíduos que tem boa visão e que precisam de vasto vocabulário: 2 cm por 2 cm;
• Para aqueles que estão iniciando no aprendizado do sistema ou que possuem problemas de visão onde é necessário pouco vocabulário: 2,5 cm por 2,5 cm, 5 cm por 5 cm.
O Bliss pode ser usado por pessoas de qualquer faixa etária, mas antes de sua introdução, é preciso avaliar as características do indivíduo, suas capacidades cognitivas, discriminação visual, capacidades motoras, acuidade e compreensão auditiva e visual.
CONCLUSÃO
Todo o percurso deste artigo científico, veio contribuir para aprimorar os conhecimentos sobre educação inclusiva voltada a pessoas com dificuldades na fala convencional e ainda restrições motoras, mas que possuem bom percentual cognitivo e visual podendo desenvolver seu potencial humano e tornar-se um indivíduo social.
O Sistema Bliss de comunicação não – verbal traz essa possibilidade a tantas pessoas que não puderam participar convencionalmente do processo ensino-aprendizagem desenvolvido em nossas salas de aulas.
Como pedagoga, vejo o quanto ainda enfrentamos barreiras para desenvolver um trabalho satisfatório com nossos alunos portadores de necessidades especiais.
A escolha foi feita para aprofundar os conhecimentos e também contribuir com outros profissionais da educação com essa pesquisa científica.
O Sistema Bliss possibilita esse horizonte ampliado para a melhoria dos trabalhos como alfabetizadores e formadores de futuros cidadãos da sociedade. Traz também às famílias, apoio e expectativas de verem seus filhos especiais serem respeitados em suas capacidades individuais e participativos na sociedade onde vivem.
Portanto, no Sistema Bliss, há um pertinente ponto de apoio na educação inclusiva das escolas.
REFERÊNCIA
CHUN, Regina Yu Shon. O desenvolvimento da comunicação não-verbal através dos símbolos Bliss em indivíduo não falante portador de paralisia cerebral. In: Distúrbios da Comunicação. São Paulo: 4 (2): 121-136, outubro, 1991.
NUNES, Leila Regina d’ Oliveira de Paula. Linguagem e Comunicação Alternativa: uma introdução. In: NUNES, Leila Regina d’ Oliveira de Paula. (Org.). Favorecendo o desenvolvimento da comunicação em crianças e jovens com necessidade educacionais especiais. Rio de Janeiro: Dunya, 2003.
TARJETAS BLISS: targetas para la elaboración de Tableros de Comunicación Blissimbólica. Madrid: Servicio de Publicaciones del MEC, 1985.
VERZONI, Luciana Della Nina. Bliss e PCS: Sistemas Alternativos de Comunicação. 2011. Disponível em: < http://www.bengalalegal.com/bliss-e-pcs>. Acesso em: 25 jun. 2018.
WALTER, Cátia Crivelenti de Figueiredo. A Comunicação Alternativa no Contexto Escolar Inclusão de Pessoas com Autismo. 2011. Disponível em: < http://www.ufrrj.br/graduacao/prodocencia/publicacoes/tecnologia-assistiva/SEMIN%C3%81RIO%20Textos%20professores%20do%20I%20SEMIN%C3%81RIO%20DE%20PESQUISA%20EM%20EDUCA%C3%87%C3%83O%20ESPECIAL%20E%20INCLUS%C3%83O%20ESCOLAR/Material%20Prof%C2%AA.%20C%C3%A1tia%20Walter.pdf>. Acesso em: 25 jun. 2018.