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O ensino de história local/regional como estratégia pedagógica, nas séries finais do ensino fundamental

 Marcolin,Ronise



RESUMO

 

O presente artigo tem por objetivo refletir sobre algumas questões relacionadas à integração da História local e regional no planejamento das aulas da disciplina de História, nos anos finais do ensino fundamental, ou seja, do 6º ano ao 9ºano. Nos dias atuais a disciplina de História nem sempre é atrativa aos alunos do ensino fundamental séries finais, muitas vezes ouve-se questionamento do porque de ter que se estudar História. Trata-se é claro de um questionamento justo, pois a disciplina parece distante, no passado. O fio condutor deste trabalho é o ensino da história local e regional como forma de atrair os alunos e despertar o interesse dos mesmos para o ensino de História.   Adota como metodologia uma pesquisa bibliográfica, e análise das políticas públicas existentes, procurando referencias que ofereça subsídios ao tema abordado. É possível buscar um melhor diálogo educativo entre a disciplina de História e a prática diária da sala de aula, fazendo com os alunos  se percebam enquanto sujeitos históricos ativos do processo da construção histórica. Utilizar-se da história local e regional sem, no entanto esquecer que está inserida na totalidade, na macro-história. O agente desse processo será o professor que desenvolverá estratégias pedagógicas necessárias, significando as aulas de História, aproximando a práxis pedagógica da vida cotidiana do aluno. 

Palavras-chave: Ensino de História. História local. História Regional. Fontes historiográficas.



1 INTRODUÇÃO

 

O ensino de História tem sido constantemente desafiado a provar a sua utilidade enquanto disciplina do currículo escolar. Despertar o interesse e curiosidade nos alunos, contribuindo para o seu desenvolvimento social e intelectual, bem como o despertar da consciência de sujeito ativo na construção do processo histórico tem sido há muito tempo causa de reflexões e debates por parte dos docentes. 

O professor de História precisa auxiliar o aluno a adquirir as ferramentas de trabalho necessárias: o saber-fazer, pensar e interpretar historicamente, dando se conta enquanto agente histórico, integrado no meio em que vive.  Ele é o responsável por ensinar o aluno a captar e a valorizar a diversidade dos pontos de vista. Ao professor cabe ensinar ao aluno a levantar problemas e a reintegrá-los num conjunto mais vasto de outros problemas, procurando transformar, em cada aula de história, temas em problemáticas. 

Ensinar História passa a ser, então, dar condições para que o aluno possa participar do processo do fazer, do construir a História. O aluno deve entender que o conhecimento histórico não é algo pronto e acabado, o conhecimento histórico se faz a todo o momento. 

Para tanto é necessário que a proposta pedagógica contemple a compreensão de alguns conceitos básicos para o ensino de história pelo aluno como forma de melhor entender a relação da história como parte integrante do cotidiano do aluno. A proposta deste estudo é construir conhecimento a partir da realidade mais próxima do aluno. O objetivo ao incluir história a local/regional no currículo escolar é uma forma de valorizar o cotidiano do aluno. Bem como o estudo do patrimônio histórico seja material ou imaterial, as saídas à campo, como em visitas a museus, exposições e monumentos históricos faz com que nossa práxis pedagógica se torne mais dinâmica e atrativa.

Trata-se então de valorizar as informações que o aluno já possui, construindo ou reforçando a formação de identidade e pertencimento a partir da inclusão no currículo escolar da história local ou regional, e do conhecimento sobre o patrimônio histórico material e imaterial.

A metodologia utilizada para a construção deste trabalho partirá da coleta de informações, por meio de pesquisa em livros e em artigos que tratam dos temas ensino de História local e regional, a utilização de diferentes fontes históricas em sala de aula como a educação patrimonial, visitas a museus e monumentos e exposições. No intuito de esclarecer como s políticas educacionais públicas tratam deste tema no currículo escolar, será analisado quais são as normativas sugeridas pelos Parâmetros Curriculares Nacionais e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação do 6ºano ao 9ºano do ensino fundamental.

Esperamos contribuir para tornar o estudo de História mais significativo, que ele possa realmente contribuir para a formação do aluno enquanto cidadão, fazendo com que ele perceba que embora já esteja nas séries finais do Ensino Fundamental, a história local/regional, não fica separado do processo histórico seja nacional ou mundial.

 

2 DESENVOLVIMENTO

 

  A muito já se vem discutindo a importância fundamental dos estudos históricos para a construção de uma identidade social do indivíduo, uma vez que possibilitam a percepção dele como sujeito e agente da História ao identificar as relações de diferentes grupos humanos em períodos de tempo e espaço diverso. 

O processo de aprendizagem deve ser contínuo e estimulante ao aluno, convidá-los em todas as aulas a descobrir e construir sua identidade cidadã. Para o aluno as aulas de História os remetem a estudar um passado, algo muitas vezes pronto e acabado, sem condições de fazê-los perceber que existe um dialogo entre o presente e o passado. 

A disciplina de história muitas vezes parece distante e indiferente aos alunos que não encontram vínculo de sua vida diária com os conteúdos históricos propostos pelo currículo escolar, estuda-se História Antiga, Medieval, Moderna e Contemporânea, sem, no entanto, muitas vezes o professor conseguir relacioná-las com o cotidiano do aluno.  

A própria disciplina passa por uma crise historiográfica e quer encontrar o seu sentido, buscando a renovação dentro de seu próprio processo historiográfico. Nesse processo de renovação encontra-se entre eles a inclusão do estudo de história local/regional, Caimi (2010,p.60), comenta que nesse contexto de renovação historiográfica, em que se redefinem os princípios e finalidades da história, situam-se as novas discussões a cerca dos processos de ensinar e aprender a história local e regional.

Se a história representa para o aluno uma ligação com o passado do qual ele não se sente parte, torna-se necessária uma ação educativa que aproxime e envolva o aluno num processo de reflexão e construção de uma postura consciente e crítica em relação à sociedade em que vive e sua contribuição e participação na construção histórica. 

Assim o ensino de História local/regional justifica-se como parte integrante do contexto. Somos seres históricos e tudo o que fizermos neste momento é decorrente de um mundo de experiências, conselhos, conversas e leituras que acumulamos ao longo de cada dia. 

Essa práxis pedagógica é reafirmada pela historiadora Caimi (2010p.60), os estudos de história local/regional podem, ainda, contribuir para estabelecer diferentes formas de resistência aos processos de padronização e homogeneização culturais, promovidos pela dinâmica da globalização. Trata-se de não apenas conhecer sua história local/regional, mas de contribuir para que o aluno se perceba como parte integrante importante para a continuidade dessa história.

Aproximar o cotidiano e história dos alunos dos temas tratados em sala de aula torna mais significativo o processo de aprendizagem, Rubem Alves explicita a ideia de que só aprendemos o que nos dá prazer e/ou o que nós é úteis. Sendo assim trazer a História local/regional dando significado ao contexto do qual o aluno está inserido. 

Fazer com que os alunos percebam que sua história, que seu cotidiano insere-se em um processo histórico coletivo, possibilitando que ele estabeleça relações, perceba mudanças, permanências e que seus estudos locais/regionais contribuam no processo de formação de sua identidade social e cultural. 

No mundo globalizado em que vivemos, a tendência é de perdermos nossa identidade coletiva. Criamos um individualismo extremo, assimilando e repetindo as mesmas manifestações culturais, hábitos e costumes de outros lugares. É nesse momento que precisamos resgatar o regional, pois segundo Martins (2010, p.139) o” lugar” e a “região” respondem a demandas individuais e coletivas por segurança, continuidade histórica e pertencimento a algum tipo de comunidade de destino.

Aproximá-lo da história local/regional, pode ajudá-lo a perceber-se como agente de transformação, entender o processo de organização das sociedades em seus processos de mudanças e permanências ao longo do tempo não somente como indivíduo, mas também como sujeito coletivo, que micro e macro história não são estudadas isoladas, mas que se fundem, se complementam para dar noção do envolvimento do sujeito histórico como um todo. 

O estudo da história não pode ser separado em compartimentos ou gavetas, onde temos o ensino de história periodizado, linear, desconectadas onde o aluno não consegue perceber a ligação de um determinado fato histórico com outros acontecimentos, onde o estudo da história local/regional fica separado do contexto histórico nacional ou mundial. 

Dessa forma o estudo da história local/regional não pode ser entendido como algo isolado, mas integrado, dentro de uma dimensão espacial e temporal que dialoga com as propostas de ensino de cunho nacional.

De modo mais amplo, o ensino de história deve levar o aluno à compreensão de conteúdos e conceitos básicos. A lei 9394/96 que estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional, em seu artigo 22, aponta o caminho a perseguir na educação básica:

 

(...) desenvolver o educando, assegurar-lhe a formação comum indispensável para o exercício da cidadania e fornecer-lhes meios para progredir no trabalho e em estudos posteriores”. Assim, as diretrizes, os princípios pedagógicos, os valores a serem transmitidos, as competências e capacidades visualizadas, a seleção dos conteúdos das diversas áreas do conhecimento, os conceitos fundamentais, as estratégias de trabalho e as propostas de intervenção do professor estão todas pautadas por esse princípio maior que vincula a educação a pratica social do aluno, ao mundo trabalho, à formação para a cidadania “.



A disciplina de historia tem ainda segundo alguns historiadores a responsabilidade de construir a identidade cidadã dos alunos, de fazê-los se perceberem enquanto agentes históricos.  Os Parâmetros Curriculares Nacionais reforçam essa preocupação:

 

O ensino e a aprendizagem de História estão voltados, inicialmente, para atividades em que os alunos possam compreender as semelhanças e as diferenças, as permanências e as transformações no modo de vida social, cultural e econômico de sua localidade, no presente e no passado, mediante a leitura de diferentes obras humanas. 

 

Os Parâmetros Nacionais Curriculares explicitam como eixo temático proposto o estudo da história local e do cotidiano, que permitem uma abordagem mais próxima do cotidiano dos estudantes. De acordo com Caimi (2010.p.60) nessa perspectiva, o ensino-aprendizagem da história local configura-se como um espaço-tempo de reflexão critica acerca da realidade social e, sobretudo, referência para o processo de construção das identidades destes sujeitos e de seus grupos de pertença.

O estudo da história local/regional também é contemplada na Lei de Diretrizes e Bases da Educação que orienta em seu artigo 26:

 

“Os currículos do ensino fundamental e médio devem ter uma base nacional comum, a ser complementada, em cada sistema de ensino e estabelecimento escolar, por uma parte diversificada, exigida pelas características regionais e locais da sociedade, da cultura, da economia e da clientela.”

 

Mesmo com a convicção da relevância do estudo da história local/regional, como construtora de uma identidade de pertencimento e cidadania no currículo escolar, a história local/regional, reconhecidas nessa tradição, respectivamente, como história do município e história do estado, são limitadas ao ensino fundamental nas séries iniciais, ou seja, de 1ª a 4ª série/1º ao 5ºano, onde segundo CAIMI (2010.p.69), nestes séries/anos, as crianças encontram-se numa faixa etária entre 8/11 anos, em condições limitadas para compreenderem a complexidade das abordagens político-econômicas e socioculturais. Nos anos finais do ensino fundamental e no ensino médio raramente as escolas contemplam em seus currículos a história local/regional, privilegiando a história nacional ou os conteúdos para Enem e vestibulares.

Apesar de enfatizar o estudo de história local/regional amparado tanto pelo PCN quanto pela LDB, o professor encontra dificuldades de colocar em seu planejamento atividades que o auxiliem a construir em sala de aula uma proposta de aproximação do cotidiano do aluno, de modo que ele consiga compreender, relacionar, interpretar num processo de conhecimento contínuo com a disciplina de história e o meio, a sociedade, o local em que ele vive e se relaciona.

Segundo Fonseca (2006.p.154) apesar dos consensos construídos acerca da importância da problematizarão e do estudo da história local para a formação das crianças e adolescentes, é possível deparar, no cotidiano escolar, com uma série de dificuldades para a concretização desses objetivos. 

Há muito que se considerar no estudo da história local/regional, inclusive nos valores escolhidos quanto à construção do conhecimento mediado pelo professor. 

Apontado por Nogueira et al  (2010,p.232) é que existe, uma parcela de preconceito e resistência quanto à história local. Uma destas resistências deve-se ao fato de ela ter ficado, durante muito tempo, a cargo de historiadores amadores, curiosos que se dispuseram a levantar dados e a escrever sobre a localidade onde moravam. Médicos, engenheiros, professores de disciplinas variadas ou pessoas sem formação acadêmica eram – e em muitos casos ainda são – os historiadores locais. Parte desses trabalhos não recebe a devida atenção da academia, que reivindica um maior rigor metodológico no trato da pesquisa em História.

Diferente problemática enfrentada é a falta de material didático apropriado principalmente no caso da história local, a produção historiográfica muitas vezes é restrita a registrar atos de governos locais e datas políticas. Essa dificuldade foi constatada por CAIMI (2010.p.70) que enfatiza a precariedade de subsídios disponíveis, tais como obras acadêmicas de qualidade, bons livros didáticos, mapas recursos iconográficos, fontes devidamente catalogadas e disponibilizadas etc. 

Outro aspecto que também oferece significativa dificuldade no trabalho pedagógico com história local/ regional é do ponto de vista de formação profissional, onde se constata que o ensino fundamental nas séries iniciais são ministrados aulas por professores com formação em pedagogia, que contempla todas as disciplinas, não tendo, portanto formação específica na área de história. Já aos professores graduados na disciplina de história, percebe-se que sua formação é restrita em história local/regional, pois segundo CAIMI (2010.p.70) nos cursos de graduação em História, os estudos regionais são consubstanciados, via de regra, em uma ou duas disciplinas, obrigatórias, e a história local fica circunscrita, ao rol de disciplinas eletivas/optativas. 

Entretanto, não se pode incorrer no erro de supervalorizar o ensino de história local/regional em sala de aula. Torna-se necessária a escolha de algumas estratégias metodológicas apropriadas para não desvincular a história local/regional da história do Brasil, da América e do Mundo. Segundo Schmidt (2009, p.138), ao propor o uso da história local no currículo escolar, é preciso considerar algumas questões:

 

Em primeiro lugar, é importante observar que uma realidade local não contém, em si mesma, a chave de sua própria explicação, pois os problemas culturais, políticos, econômicos e sociais de uma localidade explicam-se,também, pela relação com outras localidades, outros países, e até mesmo por  processos históricos mais amplos. Em segundo lugar, ao propor o ensino de história local como indicador da construção de identidade, não se pode esquecer, de que no atual processo de mundialização, é importante que a construção de identidade, tenha marcos de referência relacionais, que devem ser conhecidos e situados, como o local, o nacional, o latino-americano, o ocidental e o mundial. Schmidt, (Schmidt 2009, p.138)



Sendo assim, a história local/regional pode ser utilizada como uma estratégia pedagógica que busca articular a construção e compreensão do conhecimento histórico com o interesse do aluno, aproximando as práticas cotidianas do aluno com o saber histórico.

Schmidt (2009, p. 139) sugere ainda algumas possibilidades do trabalho com história local como estratégia de aprendizagem:

 

  • O trabalho com a história local pode produzir a inserção do aluno na comunidade da qual faz parte, criar a historicidade e a identidade dele.
  • O estudo da história local ajuda a gerar atitudes investigativas, criadas com base no cotidiano do aluno, além de ajudá-lo a refletir acerca do sentido da realidade social.
  • Como estratégia pedagógica, as atividades com a história local ajudam o aluno na análise dos diferentes níveis de realidade, econômico, político, social e cultural.
  • O trabalho com espaços menores facilita o estabelecimento de continuidades e diferenças com evidencias de mudanças, conflitos e permanências.
  • O trabalho com a história local pode ser instrumento idôneo para a construção de uma história mais plural, menos homogenia, que não silencie a multiplicidade de vozes dos diferentes sujeitos da História. Schmidt (2009, p. 139)

O estudo da história local/regional no ensino de História contribui para que o aluno possa refletir sobre as dinâmicas da história, suas rupturas, mudanças e permanências.  Esse estudo facilita também que o aluno conheça a história de pessoas comuns, experiências individuais e coletivas que dialogam com sua própria história. O estudo da micro-história contribui para que o aluno relacione suas práticas cotidianas com o conhecimento histórico adquirido, levando-o a construir suas próprias significações sobre a sua identidade. 

O uso da história local/regional como estratégia pedagógica, torna-se uma ferramenta importante como forma de articular os conteúdos de história em sala de aula. Entretanto é preciso que se estabeleça de forma continua a e sistemática uma articulação entre os conteúdos da história local/regional, da nacional e da universal.

 

Educação patrimonial como estratégia pedagógica no ensino de história local/regional.

 

Muito mais do que apenas inserir a história local/regional no currículo escolar no ensino de História, a busca pela compreensão e interpretação da história local/regional pode proporcionar aos alunos a ultrapassar os muros da escola, para produzir conhecimentos.  Fazer com que o aluno perceba que a teoria tem relação com a prática, conferir significados a objetos concretos ao que se visualiza no dia-a-dia. É oportunizar ao aluno a expansão de seu espaço escolar, a compreensão de que o aprendizado se dá a todo o momento, em qualquer lugar. Conhecer o que é nosso aprender a, valorizar, cuidar e respeitar, resgatar memórias e monumentos que caracterizam uma cidade, por exemplo. O aluno dessa forma é convidado a se envolver, a se identificar, possibilitando nesse resgate histórico a consciência da necessidade de preservação.

A visitação de exposição, museus e sítios arqueológicos, é uma intervenção que pode ser proporcionada pelo professor de acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) de História do 6º ao 9º ano, 

 

Uma visita pode suscitar o debate sobre como acontece a preservação do patrimônio histórico cultural da localidade onde vivem, relacionando-o com as memórias e as identidades locais, regionais, nacionais e/ou mundiais.



O ensino de história proporciona aos alunos um aprendizado e uma leitura do mundo em que vive. É profícua a tarefa de fazer com que o aluno realize sua aprendizagem histórica fora da sala de aula, pois segundo Schmidt (2009, p.150):

Quando aprendem história, os alunos estão realizando uma leitura do mundo onde vivem e, assim, o tempo presente pode se tornar o maior laboratório de estudo para a aprendizagem em história, pois é neste tempo, com as memórias que foram preservadas, que o aluno começa a entender que a história também se faz fora da sala de aula e que o passado se faz presente nas praças, nos monumentos, nas festas cívicas, nos nomes de ruas e colégios. Schmidt (2009, p. 150)

 

A educação para a compreensão da memória e do patrimônio alia-se perfeitamente ao estudo da história local/regional. Representa muitas vezes o concreto, possibilitando que a história tome forma palpável, em que o aluno possa aproximar os seus saberes com os saberes escolares.

É preciso que haja um diálogo entre o espaço de memória e o escolar. A memória e o patrimônio podem contribuir para que os textos históricos estudados em sala de aula tomem consistência, percebendo e construindo uma visão histórica do território e do mundo.

Memória e patrimônio contribuem de forma significativa no estudo da história local e regional. Mas não é apenas isso, ela também se preocupa e contribui para a formação da identidade de cidadão, e da construção do sentimento de pertencimento a que o ensino de História também objetiva. 

Sob o viés de formadora de identidade cidadã, Paim (2010,p.95) justifica a importância da educação patrimonial:

A educação para o patrimônio faz a mediação e propicia aos diversos públicos a possibilidade de interpretar bens culturais, atribuindo-lhes os mais diversos sentidos, estimulando-os a exercer a cidadania e a responsabilidade social de compartilhar, preservar, valorizar patrimônios material e imaterial. Ao trazermos estas questões para as nossas aulas talvez possamos despertar sentimentos de reconhecimento, pertencimento e identificação com os  diferentes patrimônios. Paim (2010,p.95)

 

Fica evidenciado o papel exercido pela educação patrimonial, enquanto articuladora de saberes, possibilitando a formação da e para a cidadania, pois como salienta Paim (2010,p.96), os alunos ao perceberem e entenderem que os monumentos, prédios, saberes e fazeres são seus, as pessoas passem a não pichar, quebrar, menosprezar e destruir os bens públicos (...).

Ao professor cabe a responsabilidade de facilitar o diálogo entre os alunos e o patrimônio histórico, entre os alunos e a história local e regional. Concomitantemente, o professor tem que ser o medidor desse processo, estabelecer relações do passado com o presente, despertar os alunos para questões da educação patrimonial, pelo viés da história local e regional, como forma de constituição de identidade e de pertencimento.

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2.1 METODOLOGIA

 

O trabalho foi desenvolvido basicamente pela pesquisa bibliográfica na área de história, metodologia de história, uso das fontes históricas em sala de aula e estudo da história local/regional, pelo levantamento e análise das legislações existentes que norteiam o currículo e o processo educativo, bem como os estudos de casos e intervenções pedagógicas realizadas e registradas. 

Foi realizada uma pesquisa e leitura em diversas produções historiográficas, livros, periódicos, artigos na internet, utilizando-se da crítica das fontes, de levantamento de estudos e opiniões, comparando os diversos autores consultados sobre a produção historiográfica existente. 

 

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

Não há como negar que um dos objetivos da disciplina de História é desenvolver no aluno uma consciência histórica no processo de construção da realidade, a perceber-se como sujeito histórico. A disciplina de História precisa contribuir para que o aluno consiga desenvolver uma análise crítica das relações existentes na sociedade, de forma que o aluno perceba a necessidade de ser sujeito no processo histórico de forma ética, consciente e cidadã, questionando o senso comum, reelaborando concepções, relacionando a construção do conhecimento histórico vinculado a seu passado e presente

Cabe então ao professor além de ser o mediador desse conhecimento, aproximar a História do cotidiano do aluno. Uma das estratégias apontadas foi o uso da história local e regional.  A utilização da história local e regional enriquece e aproxima os conteúdos da disciplina de História, despertando a curiosidade do aluno com temas que lhe são familiares.

Existem ainda algumas barreiras e dificuldades no ensino da história local/regional, que precisam ser superados pelo professor. De acordo com (Schmidt. p 160) as dificuldades serão superadas com uma construção pedagógica que tenha como principal pressuposto do ensino a investigação, a pesquisa, a produção de saberes. 

Nesse processo o professor desempenha um papel fundamental, pois precisa planejar a aula, pesquisar as fontes disponíveis, organizar e construir materiais pedagógicos a serem utilizados em sala de aula. Também segundo (Schmidt. p 160), ele será o coordenador, o gestor das ações, o orientador da pesquisa, o mediador, capaz de repensar, rearticular historiografia/pesquisa/ensino.

Nessa perspectiva, também é necessário que o professor proporcione aos alunos o contato com diferentes lugares e formas e preservação de memórias. Torna-se evidente que a educação patrimonial contribui de forma significativa para a preservação e o desenvolvimento de atitudes cidadãs.

Fica evidenciado a importância do estudo da história local e regional pelos alunos do ensino fundamental séries finais, para a construção do conhecimento histórico como um todo. Também as estratégias adotadas, como a educação patrimonial, contribuem significativamente no caráter formativo da História na preparação para o exercício consciente da cidadania.

Pode-se concluir ainda, que a intervenção do professor durante toda a construção desse processo, tem que ser pautada em objetivos claros, sem perder de vista o caráter global do estudo de História. 

Concordo com a autora, Schmit.(2006.p161) quando diz que:

 

(...) essa proposta pedagógica requer do professor uma relação critica com as concepções historiográficas e pedagógicas dominantes. Trata-se de assumir uma postura dialética que lhe permita captar e representar com seus alunos o movimento sócio-histórico e temporal das sociedades, as contradições, as especificidades, as particularidades, sem perder de vista a totalidade. A formação da consciência histórica pressupõe a compreensão do “eu” no “mundo”, do  “uni-verso, unidade na diversidade, como dinâmica, movimento, transformação, história! Schmit.(2006.p161)



Para finalizar, pode-se dizer que é possível ensinar história local e regional para os alunos do Ensino Fundamental séries finais, tanto amparados por políticas públicas educacionais, como proposta pedagógica. É claro que é necessário que não se perca a ideia da totalidade , da macro-história, mas que bem fundamentados, pode-se tornar a disciplina de História mais atrativa e estimulante aos alunos, quando aproxima o passado com o seu presente.



REFERÊNCIAS

 

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CAIMI. Flávia Eloisa. Meu lugar na história: de onde eu vejo o mundo? In: OLIVEIRA. Margarida Maria Dias de (Coord.) História: ensino fundamental (Coleção Explorando o Ensino v.21). Brasília: Ministério da Educação/Secretaria da Educação Básica, 2010.

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MOREIRA. Cláudia Regina Baukat Silveira; VASCONCELOS. José Antônio. Didática e Avaliação da Aprendizagem no Ensino de História. 20.ed. Curitiba: Ibpex, 2007.

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PINSKY. Carla Bassanezi.(org.) Fontes Históricas.. São Paulo: Contexto, 2005

PINSKY. Carla Bassanezi.LUCA. Tânia Regina de. O Historiador e suas fontes. São Paulo: Contexto, 2009.

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Disponível em: http://www.revistas.ufg.br/index.php/sv/article/view/16310 . Acesso em 19/01/2014.