FATORES QUE GERAM A INDISCIPLINA NAS AULAS DE MATEMÁTICA
Edilia Hochmann[1]
Andrea Patel Benetti[2]
Resumo:
O objetivo da pesquisa é investigar quais os possíveis motivos que levam o aluno a apresentar um comportamento indisciplinado e se esse processo interfere no processo de ensino-aprendizagem da matemática na concepção do professor e analisar como o professor lida na sala de aula com a indisciplina, e quais as dificuldades apresentadas por eles no contexto da aprendizagem, na disciplina de matemática.
Palavras Chave: Professores. Indisciplina. Matemática.
Abstract:
The objective of the research is to investigate the possible reasons why the student to submit an unruly behavior and this process interferes with the mathematics teaching-learning process in the teacher design and analyze how the handles teacher in the classroom with discipline, and what are the difficulties faced by them in the context of learning in mathematics discipline.
Keywords: Teachers. Indiscipline. Mathematics.
1. Introdução
Este artigo é o resultado do Trabalho de Conclusão de Curso de pós-graduação em Lato Sensu do Centro Universitário Barão de Mauá. Ribeirão Preto, São Paulo. A relevância desta pesquisa originou-se da atual necessidade de estudos e avaliações sobre os motivos pelos quais os alunos apresentam um comportamento indisciplinado em sala de aula, mais especificamente no processo de ensino aprendizagem da matemática. O estudo permite em um primeiro momento a conhecer o tema da (in)disciplina na educação. E um segundo momento, o diálogo sobre o referido tema permite que os resultados sejam socializados com a comunidade educacional, que tem como um dos objetivos levar novas expectativas bem como sugestões, estudar soluções de situações rotineiras que vem prejudicando o desenvolvimento cognitivo dos nossos educandos. A escolha desse tema surgiu a partir de observações de comportamentos inadequados, de alunos em sala de aula, no corredor da escola, na ausência do professor regente em sala de aula, e por acreditarmos que muitas crianças encontram dificuldades no aprendizado da matemática. Queremos compreender se estas dificuldades podem estar relacionadas ao comportamento indisciplinado do aluno, considerando que ele não consegue se concentrar e acaba se dispersando da aula, do assunto em questão.
De acordo com autores como: Martins (2005) e Aquino (1996) o aluno pode apresentar comportamento indisciplinado por diversos motivos: problema em casa, com seus familiares, falta de interesse pelo assunto apresentado em sala de aula entre outros. É nesse sentido que buscamos verificar quais os motivos que levam os alunos a apresentarem comportamento de indisciplina no processo de ensino-aprendizagem da matemática na concepção do professor. Uma das maiores dificuldades encontradas na escola, nas salas de aula, nos dias atuais na educação é a indisciplina. Vários fatores podem levar à indisciplina do aluno, e podem estar ligados a problemas psíquicos ou familiares, ou poderá ser um aviso de que o estudante não está integrado no processo ensino e aprendizagem. Estudos diversos sobre o tema mostram que há várias causas que levam os alunos à indisciplina. São vários os fatores que podem desordenar uma sala. Muitos atribuem a culpa à educação que a criança recebe pela família, pois existem situações em que a mesma é tratada em casa com autoritarismo, não sabendo agir e conviver em ambientes democráticos. Há também aqueles casos em que a criança recebe dos pais uma liberdade excessiva, não conseguindo assim, respeitar regras e limites. Segundo Martins (2005), muitas crianças apresentam comportamento agressivo devido à separação dos pais, lares desestruturados, entre outros. Em muitos casos ainda, a indisciplina ocorre por fatores pessoais do aluno, nos quais podem estar envolvidas as famílias. Se em sua própria casa não há um respeito mútuo, não há uma relação afetiva entre pais e filhos, nas quais o filho obedecerá aos pais por amor, respeito, e sim por medo de ser punida, a indisciplina será quase que conseqüência dessa relação, pois no meio escolar, enquanto esse aluno não sofrer nenhuma punição por parte dos educadores, não respeitará as regras na escola.
O objetivo da pesquisa é investigar quais os possíveis motivos que levam o aluno a apresentar um comportamento indisciplinado e se esse processo interfere no processo de ensino-aprendizagem da matemática na concepção do professor, e como objetivos específicos estudarem o conceito de (in)disciplina, abordado por estudiosos do tema; Investigar quais os motivos que levam os alunos a apresentarem um comportamento (in)disciplinado nas aulas de matemática; Verificar quais as dificuldades apresentadas pelos professores para lidar com a indisciplina no contexto da sala de aula de matemática; Identificar quais os comportamentos considerados como (in)disciplinados pelos professores e se eles conhecem as causas; Verificar se o comportamento de (in)disciplina do aluno interfere no processo ensino-aprendizagem da matemática de acordo com os professores pesquisados; Constatar qual a participação da família na vida escolar do aluno, e verificar qual a postura da escola no sentido de intervir em comportamentos considerados indisciplinados; Constatar quais são as formas de lidar com a indisciplina pelos professores.
A pesquisa foi realizada na Escola Estadual Rosa dos Ventos, no período de 26 de abril a 12 de maio de 2011. Localizada no município de Sinop. A Escola atende cerca de 640 alunos, do 3º ciclo do Ensino Fundamental, entre 12 e 15 anos. Os sujeitos foram professores do Ensino Fundamental da disciplina de matemática.
E também Pesquisa Teórica, onde foi realizada uma análise da gestão democrática e sua complexidade, utilizando-se embasamentos teóricos em livros e no Projeto Político Pedagógico e também na LDB para explicar a pesquisa que estava sendo levantada.
2. Compreendendo o conceito de (in)disciplina na sala de aula
Em meio a tantos problemas enfrentados pelos educadores em sala de aula um dos que têm preocupado os mesmos é à indisciplina que ocorre por vários motivos e que podem levar, em determinados casos, a certa desordem em sala de aula. Pais, educadores e instituições tentam atribuir a responsabilidade a outrem, o que dificulta a resolução do problema. Esquecem de que relações familiares são de fundamental importância para essa criança ou adolescente, e ainda, alguns profissionais da educação não estão devidamente preparados para enfrentar essa situação.
Segundo Araújo (1996) apud Lepre (1999), quando falamos em indisciplina, nos remetemos imediatamente à questão do desrespeito às regras estabelecidas; pensamos também em falta de respeito e rebeldia.
De acordo com Michaelis (apud Müller, p.35), podemos definir disciplina como:
Regime de ordem imposto ou livremente consentido, ordem que convém ao funcionamento regular duma organização, relações de subordinação do aluno ao mestre ou ao instrutor, observância de preceitos ou normas, submissão a um regulamento, relação de submissão de quem é ensinado, para com aquele que ensina; observância de preceitos e ordens escolares, sujeição das atividades instintivas às refletidas.
No meio educacional esta visão é bem discutida. Costuma-se compreender a indisciplina, manifesta por um individuo ou um grupo, como um comportamento inadequado, um sinal de rebeldia, intransigência, desacato, traduzida na “falta de educação ou de respeito pelas autoridades”, na bagunça ou agitação motora. (AQUINO, 1996)
A disciplina parece ser vista como uma forma cega de obedecer, a um conjunto de regras e principalmente como um dos principais pontos para o bom aproveitamento do que a escola oferece aos seus alunos. Podemos ainda dizer que disciplina escolar pode parecer uma questão simples: basta que o aluno preste atenção na aula e faça as atividades propostas. Mais a questão vai além, pois envolve a formação de caráter, de cidadania, e pode influenciar o processo de ensino aprendizagem.
Portanto podemos dizer que indisciplina pode ser compreendida como o descumprimento das regras pré-estabelecidas, em qualquer situação, e no contexto escolar, e segundo Goulart (1993) apud, Müller (2001), p.37 pode-se definir como aluno indisciplinado:
“o aluno que está ocupado com alguma atividade diferente daquela determinada pelo professor ou não combinada com ele. “Ou seja, a atividade da criança indisciplinada não tem os mesmos objetivos da atividade realizada em classe”. (GOULART, 1993, apud, MÜLLER, 2001, p.37)
Sendo assim, o aluno indisciplinado é considerado aquele que descumpre as regras, mas que não necessariamente precise ser punido.
Uma das maiores dificuldades encontradas na escola, nas salas de aula, nos dias atuais na educação é a indisciplina.
“... os problemas relacionados à indisciplina são sérios e que as escolas têm tido dificuldades para lidar com essas situações. Reconhecem também, que nem sempre encontram soluções para o enfrentamento da indisciplina” (MÜLLER, 2001, p. 24)
Pode se considerar como problema de indisciplina diversos fatores desde chegar atrasado à sala de aula até a falta de respeito com professores e colegas. Há alguns casos em que a indisciplina é atribuída à falta de interesse em determinada disciplina, ou seja, o aluno não gosta de certo conteúdo, portanto não se interessam em aprender e aí começa a perder a motivação em aprender e então começa a perder o foco da aula, e em alguns casos tornando-se indisciplinado.
Alguns professores têm certa dificuldade de lidar com esse tipo de comportamento da indisciplina, relacionando-a diversas causas, como família, influência do meio em que vivem, ou até mesmo incompetência por parte dos educadores.
Vários fatores podem levar à indisciplina do aluno, e podem estar ligados a problemas psíquicos ou familiares, ou poderá ser um aviso de que o estudante não está integrado no processo ensino e aprendizagem.
As formas mais freqüentes de indisciplina em âmbito escolar podem ser vistas no corredor no pátio, nas festas, eventos da escola e na sala de aula. Como se manifestam: Conversas paralelas, dispersão; professor entra em sala de aula e é como se não tivesse entrado; o professor passa atividades e a maioria dos alunos não as fazem, quando a professora é substituída por outra, é como se fosse dia de fazer bagunça; alunos não trazem material; saem no corredor na troca de professores; entre vários outros motivos. (VASCONCELLOS, 2000)
As escolas, muitas vezes, consideram como indisciplina as transgressões às regras de convivência ou de não adequação a um modelo ideal, seja em relação ao ritmo de aprendizagem (bom é o aluno que aprende rápido), seja em relação ao comportamento (bom é o aluno obediente). (GENTILE, 2002)
Muitas vezes, o que o aluno precisa para superar a indisciplina escolar é de carinho, afeto, de atenção. Segundo Gentile (2002), o estudante precisa aprender a noção de limite e isso só ocorre quando ele perceber que há direito e deveres para todos, sem exceção.
2.2 Causas ou motivos apresentados pelo aluno para um comportamento indisciplinado
Estudos diversos sobre o tema mostram que há várias causas que levam os alunos à indisciplina. Os estudiosos que têm como base a teoria de Foucault relacionam a indisciplina com as relações de poder estabelecidas dentro da escola, já os psicanalistas entendem a indisciplina como um movimento do desejo da criança.
Como afirma Aquino:
‘Há muito os distúrbios disciplinares deixaram de ser um evento esporádico e particular no cotidiano das escolas brasileiras para se tornarem, talvez, um dos maiores obstáculos pedagógicos dos dias atuais. Claro está que, salvo o enfrentamento isolado e personalizado de alguns, a maioria dos educadores não sabem ao certo como interpretar e/ou administrar o ato indisciplinado. Compreender ou reprimir? Encaminhar ou ignorar? (1996, p. 7)
Baseando-se nessa citação, podemos dizer que não se sabe ao certo o que é ou o que leva ao ato da indisciplina, que por vezes foi rotulada como “hiperatividade”, sendo assim, tratada com medicamentos, excluindo o processo pedagógico.
Mas consideremos também o fato de que o aluno só é/está indisciplinado em sala de aula/escola, então se pode dizer que o comportamento do aluno está relacionado com o modo de agir do professor? Digamos que sim, pois nesse comportamento há muitas vezes uma parcela de culpa do professor por se sentir “autoridade máxima” em sala de aula e pensar que os alunos devem ser condicionados a apenas ouvir e aceitar calado o que foi dito.
Então, o que de fato leva o aluno a ser indisciplinado? São vários os fatores que podem desordenar uma sala. De acordo com Rego (1996) muitos atribuem a culpa à educação que a criança recebe pela família, pois existem situações em que a mesma é tratada em casa com autoritarismo, não sabendo agir e conviver em ambientes democráticos. Há também aqueles casos em que a criança recebe dos pais uma liberdade excessiva, não conseguindo assim, respeitar regras e limites. E ainda, àquelas que apresentam comportamento agressivo devido à separação dos pais, lares desestruturados, entre outros.
Segundo LaTaille (1994), apud Martins (2005),p.3:
“Crianças precisam sim aderir a regras (que implicam valores e formas de conduta) e estas somente podem vir de seus educadores, pais ou professores. Os limites implicados por estas regras não devem ser apenas interpretados no seu sentido negativo: o que não pode ser feito ou ultrapassado. Devem também ser entendidos no seu sentido positivo: o limite situa, dá consciência de posição ocupada dentro de algum espaço social — a família, a escola, a sociedade como um todo.” (LA TAILLE, 1994, apud MARTINS 2005, p.3)
Muitos problemas de indisciplina parecem ter sua origem na questão do desrespeito. Com freqüência, a indisciplina é uma manifestação de poder não entendida, que os alunos não irão argumentar, mas irão demonstrar, de alguma forma, que as coisas não vão bem.
Em muitos casos ainda, a indisciplina ocorre por fatores pessoais do aluno, nos quais podem estar envolvidas as famílias. Se em sua própria casa não há um respeito mútuo, não há uma relação harmo-afetiva entre pais e filhos, nas quais o filho obedecerá aos pais por amor, respeito, e sim por medo de ser punido, a indisciplina será quase que conseqüência dessa relação, pois no meio escolar, enquanto esse aluno não sofrer nenhuma punição por parte dos educadores, não respeitará as regras na escola.
Sendo assim, podemos dizer que a disciplina é necessária para um crescimento do próprio aluno, para um bom convívio social mais tarde, em sua fase adulta. Além de lhe impor limites sobre o que se deve ou não fazer a disciplina é uma forma de liberdade e responsabilidade (CHAGAS, 2001 apud MARTINS, 2005).
3. Opção metodologica
Para realização deste trabalho, escolhemos como parâmetro de estudo, a pesquisa qualitativa a qual tem uma fonte direta de dados e o pesquisador como seu principal instrumento. Supõe o contato direto e prolongado do pesquisador com o ambiente e a situação que está sendo investigada. (Lüdke, 1986, p.11). E nesse caso, o objetivo da pesquisa é entender quais os possíveis motivos que levam o aluno a apresentar um comportamento indisciplinado e se esse processo interfere no processo de ensino-aprendizagem da matemática na concepção do professor, o procedimento realizado foi o de presenciar o maior número de situações em que se manifeste no ambiente de sala de aula, o que exigiu um contato direto e constante com o dia-a-dia escolar.
Em particular, optamos pelo estudo de caso, ou seja, será estudado um caso específico, delimitando bem o caso, devendo ter seus contornos claramente definidos no desenrolar do estudo (Lüdke, 1986, p.16). O estudo de caso busca retratar a realidade de forma completa e profunda. O estudo de caso resume-se em três partes principais: primeira aberta ou exploratória, onde é a fase em que vai se delimitando o tema à medida que o estudo se desenvolve, pois é possível não abranger todos os ângulos que envolvem o estudo. A segunda parte esta mais sistemática em termos de coleta de dados, que é onde se reúne os dados já obtidos para uma analise. E a terceira consiste na analise e interpretação dos dados e na elaboração do relatório.
Nesta abordagem metodológica, os dados coletados são descritivos, o material recolhido nessa pesquisa foi descrições de pessoas, situações, acontecimentos; e inclui transcrições de entrevistas.
Neste trabalho, utilizamos como instrumento de coletas de dados a observação em sala de aula e a entrevista semi-estruturada, aplicada a três professores que trabalham com a disciplina de matemática no Ensino Fundamental do 6° ao 9° ano, da Escola Estadual Rosa dos Ventos. A observação foi realizada nas salas de aula nas quais os professores entrevistados lecionavam, totalizando nove aulas, sendo três aulas em cada turma, no período matutino, do 7º e 9º ano, os alunos tinham faixa etária de 12 a 14 anos, sendo que em sala tinha uma média de 28 alunos. A observação em sala de aula teve como objetivo verificar o comportamento dos alunos na disciplina de matemática e identificar quais os comportamentos considerados como “indisciplinado” pelos professores e de que forma eles lidam com a mesma.
Os sujeitos de pesquisa foram três professores, os quais são denominados como P1, P2 e P3. Adotamos como nome fictício P1, P2 e P3 para não comprometer a identidade dos professores e para evitar que não houvesse nenhum desconforto para os mesmos em seu local de trabalho. O P1 tem 43 anos, é graduado em ciências do 1º grau com habilitação em matemática. Atua a 23 anos na área e leciona na escola para as turmas de 8º e 9º ano. O P2 tem 27 anos, graduado em matemática e pós-graduado em educação matemática. Atua a 6 anos na área e ensina as turmas do 3º ciclo -7º ano. O P3 tem 39 anos, é graduada em licenciatura plena com habilitação em matemática, leciona para cinco turmas da 1º e 2º fase do 3º ciclo.
4. Apresentação e análise dos dados
Neste capitulo, iniciamos com apresentação das perguntas feitas aos professores entrevistados descrevendo o objetivo da mesma. Em seguida faremos as argumentações, considerando as observações realizadas em sala de aula do respectivo professor e os autores que versão sobre o tema.
Considerando que existem vários problemas dentro da sala de aula, como a estrutura da sala de aula, a falta de materiais pedagógicos, alunos que tem mais dificuldades de aprendizagem, entre outros, mais alguns destes problemas em especifico podem ser gerados pela indisciplina do aluno, e dessa forma procuramos saber dos professores quais são esses problemas na concepção deles. No cotidiano de sala de aula, quais os principais problemas enfrentados com a indisciplina?
P1. Eu acho que, principalmente a falta de interesse. A indisciplina gera uma falta de interesse muito grande. Aquele aluno, como e já falei que chega atrasado, vem sem uniforme, não trás material, então na sala de aula o que ele faz: ele não faz! E atrapalha aquele que quer fazer e isso interfere de mais, aquele aluno que vem, tem vontade de aprender, que tem que seguir regras e tudo mais, ele acaba atrapalhando aquele que quer aprender. Isso é um problema seriíssimo.
P2. A indisciplina gerada, como eu já havia dito, vem mais por falta de apoio dos pais. Sentimos que os pais não estão acompanhando os filhos em casa então está faltando à parte da educação primeira dentro de casa. Então os alunos refletem isso em sala de aula. Como eu falei, agride o colega em sala de aula.
P3. A qualidade da aprendizagem para mim é um dos principais problemas e a questão também de conflito em sala de aula onde o professor tem que está interrompendo a aula para resolver questões de indisciplina.
Cada professor apresentou um problema distinto relacionado à indisciplina, como a falta de interesse do aluno em estudar, a falta de um apoio familiar, ou que a indisciplina já vem de casa pela falta de limites que os pais não impõem aos seus filhos, durante a convivência familiar, deixando-os livres de qualquer orientação quanto aos comportamentos recomendados, regras a seguir dentro da escola ou sociedade. Então em sala de aula ele continua sendo indisciplinado e certamente a questão do aprendizado ficar comprometido, no sentido de que o professor tem que interromper as aulas para chamar a atenção daquele aluno indisciplinado.
Os problemas com a indisciplina, apontados pelo P1, seriam a falta de interesse do aluno pelas aulas, chegar atrasado, não levar o material didático, dificultando o andamento das aulas e principalmente o descumprindo as regras básicas de convivência escolar. Já o P2, atribui essa indisciplina do aluno à falta de acompanhamento dos pais ou responsáveis na educação do mesmo, primeiramente em casa e com essa falta de limites esse aluno se comporta de maneira inadequada em sala de aula e com os demais colegas. E, o P3 a qualidade do ensino é um dos problemas causado pela falta de disciplina dos alunos, porque o professor tem que chamar a atenção do aluno inúmeras vezes e assim diminui o tempo para trabalhar os conteúdos. O que se pode ver no decorrer das observações em sala de aula, é que realmente um grupo expressivo de alunos não demonstram nenhum interesse em cumprir as regras básicas da convivência escolar, e que de fato o professor perde muito tempo interrompendo a aula para resolver questão de indisciplina, como: conversas paralelas, desrespeito com os colegas por meio de palavrões e algumas brincadeiras inconvenientes.
Segundo Muller (2001), é freqüente hoje em dia se associar a questão da indisciplina na escola com a maior liberdade que se deu aos alunos a partir de várias reformas educacionais, entendendo-se que devido a várias mudanças na educação, e direitos que os alunos têm, eles acabam que “aproveitando” da situação. O mesmo pode ocorrer com os pais dos alunos, que em casa não impõem limites e os alunos já chegam à escola indisciplinados. Há também situações em que o próprio professor é muito autoritário e não pára para ouvir o aluno, ou seja, a única forma que o aluno encontra para se expressar é através da indisciplina, mais não por ser um aluno ‘bagunceiro’ mais para que o professor preste atenção nele.
Como vimos na pergunta anterior, os principais problemas enfrentados devido à indisciplina, agora procuraremos entender os motivos pelos quais esses alunos se comportam dessa maneira, na visão dos professores, com a questão: o que leva o aluno a apresentar um comportamento indisciplinado?
P1. Olha, a gente percebe aqui, que o meio de onde ele vem é um problema muito serio, né, o meio assim, a família não se preocupa com ele, a família em casa não impõe limites para ele, então ele já vem sem limite, ele já vem sem disciplina. Eu entendo que até em casa a gente tem que ter certa disciplina, então ele já vem assim, e quando chega aqui na escola e se depara com regras, com atitudes perigosas, atitudes que ele não pode ter, aí ele bate de frente com a situação, e a gente acha muito preocupante, muito mesmo.
P2. Essa falta de acompanhamento dos pais em casa, os pais estão achando que o aluno vem pra escola e nós somos obrigados a dar tanto o conhecimento básico, mas também dar educação que é o papel deles em casa.
P3. Em minha opinião é principalmente a questão da educação familiar, porque de repente aquilo que não é normal em sala de aula, lá na casa do aluno todo mundo faz e é de costume, pra ele é normal, da rotina dele, mas dentro de sala de aula não. Então é uma coisa que eu considero.
Muitas são as causas da indisciplina citada pelos professores e não apenas uma. Contudo os professores são unânimes em afirmar que o envolvimento familiar, dos pais é um fato evidente, deixando suas obrigações para com o filho e atribuindo a escola toda a responsabilidade de educar. Os estudiosos que têm como base a teoria de Foucault relacionam a indisciplina com as relações de poder estabelecidas dentro da escola, já os psicanalistas entendem a indisciplina como um movimento do desejo da criança (LEPRE,1999).
A questão da indisciplina, segundo os professores entrevistados pode estar relacionada à falta de preocupação dos pais com o aluno, ou seja, a não imposição de limites, a falta de uma participação efetiva na vida desse aluno, contribuindo para a construção de um comportamento negativo não condizente com as regras impostas na escola. Segundo Vasconcellos
Percebemos que cada vez mais os alunos vêm para a escola com menos limites trabalhados pela família. Muitos pais chegam mesmo a passar toda responsabilidade para a escola: ”Pode bater, pode fazer o que quiser; eu já não posso mais com ele”. (VASCONCELLOS, 2000, p.63)
Entendendo que a disciplina, sem dúvida, é de fundamental importância para que a aula transcorra bem, para que o aluno possa prestar atenção nas aulas. De acordo com Müller (2001), problemas como conversas paralelas, falta de respeito com colegas, o desinteresse pelo conteúdo, ou até mesmo a fuga dela, são problemas freqüentes de indisciplina.
5. Considerações finais
A partir de pesquisas, entrevistas e observações realizadas nesse trabalho podemos dizer que a questão da disciplina e indisciplina em sala de aula é muito freqüente e ocorre de modo geral, ou seja, independente se o conteúdo lecionado é matemática ou não, os alunos podem apresentar freqüentemente um comportamento inadequado no ambiente escolar e que não é tão simples de resolver esse problema.
No momento em que o acadêmico opta por ser professor ele já sabe dos desafios que terá de enfrentar, das barreiras a serem superadas e que ao longo de sua carreira profissional surgiram diversos outros problemas que por questões burocráticas não serão fáceis de resolver. E dentre esses desafios está o comportamento dos seus alunos. Quando esse comportamento é de disciplina em sala de aula, de atenção e respeito para com o professor e colegas, tudo transcorre de maneira tranqüila, mas quando o aluno apresenta um comportamento indisciplinado tudo muda, pois além dele estar prejudicando a si mesmo, ainda prejudica os colegas e todo o transcorrer da aula.
Vários são os fatores apresentados pelos professores entrevistados que levam o aluno a apresentar esse comportamento impróprio como à falta de atenção por parte dos pais em casa, a falta de interesse do aluno por determinada disciplina, o aluno não gostar de algum professor, falta de compromisso com os estudos.
Para compreender melhor o assunto, como instrumentos de coleta de dados, optamos pela observação dos professores em sala de aula, que teve como objetivo acompanhar como os professores do Ensino Fundamental concebem e lidam com a indisciplina no processo de ensino-aprendizagem da matemática. Quanto ao problema da pesquisa: Como os professores do Ensino Fundamental concebem e lidam com a indisciplina no processo de ensino-aprendizagem da matemática? Entendemos que os professores entrevistados compreendem como comportamento indisciplinados o não cumprimento dos deveres ou regras, pois segundo eles o aluno disciplinado deve cumprir todos os seus deveres e isso envolve desde requisito mais simples como uniforme, materiais didáticos até características indispensáveis para o desenvolvimento das atividades em sala de aula que envolve as questões relacionadas as regras de convivência no ambiente escolar. E para tentar solucionar essa indisciplina dos alunos, em primeiro momento, os professores ainda em sala de aula tentam conversar com o aluno, explicar que ele precisa respeitar ao professor e os colegas em sala, e em segundo momento, se a conversa não resolver, o aluno é levado à coordenação para que, haja uma conversa com esse aluno, e se ainda não resolver, os pais desse aluno são chamados até a escola. E, segundo os professores, resolve apenas no momento, mas, na maioria dos casos, o aluno volta a se comportar da mesma maneira.
O que não pode é “desistir” desse aluno, afinal se ele for deixado de lado, se essa situação for ignorada, como ocorre em alguns casos, esse aluno além de não aprender, não terá limites.
Nessa relação, observando todos os lados envolvidos, é que se constrói uma disciplina significativa, e para tanto, o professor é de suma importância para exemplificar aos seus alunos uma disciplina mediadora e não autoritária, criando assim, com seus alunos um laço afetivo e de confiança recíproca (VASCONCELOS, 2001).
Como objetivos específicos tínhamos: estudar o conceito de (in)disciplina, abordado por estudiosos do tema, onde nos fundamentamos nos autores como Vasconcellos, Aquino, Lepre, entre outros; Identificar quais os comportamentos considerados como “indisciplinado” pelos professores, que foram de conversas fora de hora, alunos que saiam de seus lugares, falta de comprometimento com o horário das aulas, falta de material didático, e até mesmo a questão do uniforme foi apontada por um professor como um ato de indisciplina. Outro objetivo elencando foi: saber como os professores lidam com essa indisciplina em sala de aula. Constatamos que primeiramente os professores tentam conversar com o aluno, chamando a atenção argumentando, evitando comunicar a escola, não se obtendo sucesso,os professores, optam em pedir auxilio a escola, encaminhado o aluno para a coordenação, que conversa com o aluno. Se o aluno persistir com o comportamento inadequado dentro da sala de aula, os pais do aluno são convidados a comparecer na escola; Os professores e escola ainda tem como ultimo recurso, recorrer o regimento interno da escola, que de acordo com um dos professores entrevistados deixa a desejar, pela falta de rigor na sua aplicação. Propomo-nos também verificar quais as dificuldades apresentadas pelos professores para lidar com a indisciplina no contexto da sala de aula de matemática. Uma das dificuldades apontadas foi que devido a disciplina de matemática requerer bastante atenção e concentração se interromper o conteúdo, com freqüência para resolver problemas de indisciplina a sala toda se dispersa. E segundo um dos professores entrevistados a partir do momento que se diz ser professor de matemática, já se encontram dificuldades em sala de aula. O aluno já “rotula” aquele professor como sendo um professor “ruim” (no sentido de má pessoa), só pelo fato de ser professor de matemática. E assim, nas aulas de matemática, os alunos muitas vezes não demonstram o interesse em aprender, pois vêem muita dificuldade e por decorrência, se comportam de maneira a gerar um desconforto nas aulas, atrapalhando não só seu próprio aprendizado, como dos demais alunos. E por fim, enumerar as possíveis causas da indisciplina apontadas pelos professores e se eles as consideram importantes para lidar com a mesma.
Os professores disseram que a principal causa, seria à falta de preocupação dos pais, com o aluno, ou seja, em casa os pais ou responsáveis certamente não trabalham no sentido de impor limites, e dessa forma o aluno chega à escola com comportamento considerado como inadequado para o ambiente escolar os denominados de indisciplinados, porque os alunos desrespeitam as regras, os colegas, professores e demais funcionários da escola, não se interessam em apreender o conteúdo trabalhado em sala, não fazem as atividades propostas e nem trazem o material didático necessário.
Buscamos entender também se os professores entrevistados acreditam em mudanças e o que fariam, para mudar essa realidade em sala de aula e se a indisciplina faz com que eles se sintam desmotivados a exercer a profissão de educador? Entendemos que para eles uma possível solução para mudar essa realidade, é a conversa com os alunos, com os pais, pois eles precisam entender o que está acontecendo para enfrentar o problema e que o aluno consiga ver que pode contar com a escola sempre que precisar, e tentar fazer com que a família participe da educação desse aluno, pois segundo relato os pais estão muito ausentes na vida dos filhos. O que podemos entender é que a indisciplina em alguns momentos faz com que eles, sintam-se desmotivado e cansado dessas situações, mas ainda assim, encontram animo e vontade de mudar essa realidade porque quando chegam em sala de aula e vê ainda que seja um único aluno que quer realmente aprender isso motiva-o a adquirir mais conhecimento para estar passando a esse aluno. Ao que fica explicito o desejo, o gosto de ensinar.
O que podemos concluir então através das observações e entrevistas, é que de modo geral, os professores vem na indisciplina um derivado de outros problemas, ou seja, além de atrapalhar as aulas, muitas vezes atrasando conteúdo, o próprio aluno se prejudica.
A escolha desse tema para mim como professora de matemática é gratificante, não posso negar que foi um desafio desenvolver uma temática tão complexa quanto essa. Pois só entendemos a realidade em sala de aula quando vivenciamos a mesma. Estudar sobre o tema, me fez de certa forma entender melhor o que o professor enfrenta em sala de aula quais as possíveis soluções ou estratégias a ser usados para mudar essa realidade das nossas escolas. O que pude observar é que o professor apesar de outros problemas enfrentados no seu dia a dia, como baixos salários, falta de incentivo e apoio pela direção da escola para se trabalhar, em sala de aula, ainda enfrentam problemas como a indisciplina do aluno. Problemas esses que muitas vezes, deixa o professor desmotivado.
No meu modo de ver o problema de indisciplina nas escolas podem ser enfrentados de forma, a buscar a participação dos pais na vida escolar do aluno, amenizando os problemas desses alunos juntos, ou seja, pais, escola e professores. Acredito que outra forma de amenizar o problema da indisciplina é trabalhar com a matemática de forma a deixá-la mais atrativa e interessante aos alunos, ao invés de rotular esse conteúdo como sendo de difícil aprendizado. É interessante sair da rotina de aulas expositivas, que muitas vezes são monótonas. É importante construir com esse aluno em ambiente de aulas, no qual ele participe, trabalhando o conteúdo de forma diferenciada, mas ao mesmo tempo prazerosa, com jogos, trabalho em grupos, entre outros.
AQUINO, JulioGroppa (org.). Indisciplina na Escola: alternativas teóricas epráticas. São Paulo: Summus, 1996.
CRUZ, Márcia Cristina P. A indisciplina no contexto de sala de aula. São Paulo, 2000. Disponível em <marciacruzcoordenacaopassoapasso.blogspot.com/.../texto-02-indisciplina-no-contexto-da.html> Acesso em 26/05/2010.
GENTILE, Paola. A indisciplina como aliada. São Paulo, 2002. Disponível em <revistaescola.abril.com.br/.../indisciplina-como-aliada-431399.shtml>.Acesso em 25/05/2010
LEPRE, Rita Melissa. Desenvolvimento moral e indisciplina na escola. InNuances- Vol. V –Julho de 1999.
LUDKE, Menga. Pesquisa em educação: abordagens qualitativas/ Menga Lüdke, Marli E. D. A. André. São Paulo: EPU, 1986.
MARTINS, Maris. Possíveis causas da indisciplina na sala de aula e na escola. 2005. Disponível em <marismartin.blog.uol.com.br> Acesso em 25/05/2010.
MULLER, José Luiz. Disciplina/indisciplina no cotidiano escolar, Ijuí: Ed. Unijuí, 2001- 88p. (coleção trabalhos acadêmico-cientificos. Séries dissertações de mestrado; 5).
VASCONCELOS, Maria Lucia M. Carvalho (organizadora). (In)disciplina, escola econtemporaneidade. Niterói: Intertexto: São Paulo: Editora Mackenzie, 2001.
VASCONCELLOS, Celso dos Santos. Disciplina: construção da disciplina conscientee interativa em sala de aula e na escola, 11° ed. (cadernos pedagógicos do Libertad; v. 4), Libertad, São Paulo, 2000.
PROFESSOR 1. Professor 1: depoimento. [05 maio 2011]. Entrevistadora: Edilia Hochmann. Sinop, MT, 2011. Gravação Digital. (20 min). Entrevista concedida para o trabalho de conclusão de curso (TCC sobre a indisciplina nas aulas de matemática).
PROFESSOR 2. Professor 2: depoimento. [10 maio 2011]. Entrevistadora: Edilia Hochmann. Sinop, MT, 2011. Gravação Digital. (15 min). Entrevista concedida para o trabalho de conclusão de curso (TCC sobre a indisciplina nas aulas de matemática).
PROFESSOR 3. Professor 3: depoimento. [04 maio 2011]. Entrevistadora: Edilia Hochmann. Sinop, MT, 2011. Gravação Digital. (17 min). Entrevista concedida para o trabalho de conclusão de curso (TCC sobre a indisciplina nas aulas de matemática).
[1] Graduação em Matemática, Especialização em Lato Sensu pelo Centro Universitário Barão de Mauá, Ribeirão Preto, São Paulo, Brasil. O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.. Orientador(a): Rosemary Conceição dos Santos.
[2] Graduado em Licenciatura Plena em Ciências Biológicas. Pós-graduado em Educação Ambiental pela UNEMAT. Atua na Escola Estadual Ceja – Centro de Educação de Jovens e Adultos. O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.