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A DIVERSIDADE NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

 

Sandra Iara Lopes Gomes Patruni[1]

 

Resumo

O presente artigo tem por objetivo apresentar o tema “A Diversidade na Educação de Jovens e Adultos”. Este estudo mostra como devemos trabalhar com a diversidade na educação, fazendo com que as pessoas, sendo elas jovens ou adultas, aprendam a respeitar o que é diferente no outro, compartilhando experiências. Destacam-se também a importância de trabalhar com os jovens e adultos de maneira a usar os seus conhecimentos prévios, fazendo com que eles construam da melhor maneira o conhecimento e o pensamento crítico.

Palavras-chave: Educação. Diversidade. EJA.

 

Abstract

This article aims to present the theme "Diversity in Youth and Adult Education". This study shows how we work with diversity in education, causing people, and they young or adult, learn to respect what is different in the other, sharing experiences. Also noteworthy are the importance of working with young people and adults in order to use their prior knowledge, causing them to build the best of the knowledge and critical thinking.

Keywords: Education. Diversity. EJA.

 

Introdução

Vivemos em um país onde a diversidade é muito mais complexa do que imaginamos. Existem vários elementos, como religiões, línguas, mitos, contos, artes, comércio, povos, ideais, que poderíamos destacar. No entanto, estes elementos diversos podem ser experimentados por todos, através das redes de comunicação, das trocas culturais, das curiosidades de conhecer o diferente (Urquiza e Mussi, 2009).

Ferreira (2004) define diversidade como algo diferente, diverso, distinto. Porém, a diversidade vai além, e com base nisto François de Bernard (2005) apud Urquiza e Mussi (2009) aponta diversidade como algo cultural e dinâmico. Já Gomes (2003) apud Urquiza e Mussi (2009) fala de diversidade como pensar em relação entre eu e o outro, falando de diferenças e semelhanças, ou seja, estamos sempre fazendo comparações.

Portanto, não há como falar de diversidade se não mencionar a educação, pois é através dela que podemos educar, fazendo com que todos entendam que as diferenças entre os seres humanos existem e são muitas; porém temos que aprender a conviver com elas e principalmente a respeitá-las no outro. A diversidade está totalmente inserida na Educação de Jovens e Adultos?

Enfim, este estudo mostra-se relevante, pois tem como objetivo ressaltar os diversos públicos e culturas que procuram o EJA e pelos diversos motivos, levando em consideração que todos têm conhecimentos e experiência de vida e que podem ser aproveitados nesse período de alfabetização. Contudo servirá como uma reflexão para os educadores, podendo até refletir numa melhoria da sistematização na educação de jovens e adultos.

Quando nos deparamos com a realidade das pessoas analfabetas no Brasil percebemos que há um longo e árduo caminho a ser percorrido para a superação do analfabetismo no país. Ainda mais se contabilizarmos os analfabetos funcionais,  que não sabem compreender bem um texto e não possuem a certificação da educação básica, pessoas que tem seu direito à educação garantida desde 1948 na Declaração Universal dos Direitos Humanos em seu Artigo 26º.

 

Todo ser humano tem direito à instrução. A instrução será gratuita, pelo menos nos graus elementares e fundamentais. A instrução elementar será obrigatória. A instrução técnico-profissional será acessível a todos, bem como a instrução superior, esta baseada no mérito (ONU, 1948).

 

A educação de adultos compreende todo e qualquer tipo de educação destinada às pessoas consideradas adultas pela sociedade a que pertencem, onde através de um processo de aprendizagem, formal ou não, possibilita que essas pessoas enriqueçam os seus conhecimentos e/ou melhorem suas qualificações profissionais e técnicas (Oliveira, 2006).

No inciso VII do Artigo 4ª da LDBEN está disposto: a “oferta de educação escolar regular para jovens e adultos, com características e modalidades adequadas às suas necessidades e disponibilidades, garantindo-se aos que forem trabalhadores as condições de acesso e permanência na escola” (Brasil, 1996).

Meyer (2008) ressalta que vivemos em uma sociedade complexa, diversa e desigual, mas que mesmo assim devemos encontrar a igualdade na diversidade. Tudo que envolve o tema educação é muito complexo e quando falamos de educação nos diversos âmbitos se torna mais complexo ainda, um desafio. Educar para a diversidade é formarmos pessoas que veem a diferença no próximo, porém a respeita e sabe reconhecer que uma boa relação com o outro, pode significar uma troca de experiências, crescimento social e político.

Existe um grupo enorme de brasileiros com pouca ou nenhuma escolarização. Resultado de fatores sociais, econômicos ou culturais que impedem o acesso de crianças e adolescentes à escola, diante disso, surgem problemas de distorção de idade/série e que comprometem o ensino aprendizagem, conduzindo o aluno a retenção, repetência ou até mesmo a evasão (Meyer, 2008).

Portanto, isto evidência que o Brasil precisa de ações educativas que propiciem aos jovens e adultos o acesso à escola e a sua permanência, isto como forma de ajudar essa população a lidar com as transformações da sociedade e do mercado de trabalho (Souza, 2007).

 

Desenvolvimento

É pensando na diversidade destes sujeitos que problematizamos a formação do educador que vai para a sala da EJA, isto porque acreditamos em alguns princípios que fazem o educador. Para bem definir a Educação de que falamos, recorremos à fala de Paulo Freire, patrono da educação brasileira:

 

O conceito de Educação de Adultos vai se movendo na direção de educação popular na medida em que a realidade começa a fazer algumas exigências à sensibilidade e à competência científica dos educadores e das educadoras. Uma destas exigências tem que ver com a compreensão critica dos educadores do que vem ocorrendo na cotidianidade do meio popular. Não é possível a educadoras e educadores pensar apenas os procedimentos didáticos e os conteúdos a serem ensinados aos grupos populares. Os próprios conteúdos a serem ensinados não podem ser totalmente estranhos aquela cotidianidade. O que acontece, no meio popular, nas periferias das cidades, nos campos – trabalhadores urbanos e rurais reunindo-se para rezar ou para discutir seus direitos, nada pode escapar à curiosidade arguta dos educadores envolvidos na prática da Educação (Freire, 2001).

 

Assim, afirmam-se as bases da educação; bases sólidas construídas coletivamente entre os sujeitos que a compõe, com a comunidade, com a luta diária destas pessoas, seja esta luta pela falta do que comer, ou do que vestir, ou do direito à escola e saúde de qualidade, trabalho, ou a soma delas.

A educação não é uma atividade pedagógica, mas um trabalho coletivo em si mesmo, ou seja, é o momento em que a vivência do saber compartido cria a experiência do poder compartilhado. Em outras palavras, as práticas da educação representam desde já a vontade de criar espaços autônomos, espaços nos quais o manejo do poder se realize em forma compartida, dentro de uma crescente relação entre iguais. (La Educación Popular Hoy en Chile: Elementos para Definiria – sem indicação de autor apud Brandão, 2006).

Por ser a educação  comprometida com a realidade dos educandos, pensamos que é necessária uma EJA que inclua a todos nas suas especificidades sem, contudo, comprometer a coesão nacional, e tampouco o direito garantido pela Constituição de ser diferente.

A produção de uma política pública de Estado para a EJA; centrada em sujeitos jovens e adultos com a expressão de toda a diversidade que constitui a sociedade brasileira é responsabilidade de governos e da sociedade com todos os seus cidadãos, de maneira a superar as formas veladas, sutis e explícitas de exclusão de que a desigualdade se vale.

Não é possível atuar em favor da igualdade, do respeito aos demais, do direito à voz, à participação, à reinvenção do mundo, num regime que negue a liberdade de trabalhar, de comer, de falar, de criticar, de ler, de discordar, de ir e vir, a liberdade de ser (Freire, 2001).

Ao falarmos em sujeitos da EJA, estamos falando em homens e mulheres maiores de 15 anos sujeitos de toda a diversidade étnica, religiosa, sexual, política brasileira e sujeitos a toda desigualdade social existente nesse país. Por isso, a EJA não pode fechar os olhos para tal diversidade como tem acontecido há anos na educação brasileira “Compreender a forma de atender a diversidade dos sujeitos da EJA é extremamente necessário” (SECAD, 2008), por isso concordamos com Arroyo (2005) quando diz:

“Diversidade de educandos: adolescentes, jovens, adultos em várias idades; diversidade de níveis de escolarização, de trajetórias escolares e sobretudo de trajetórias humanas; diversidade de agentes e instituições que atuam na EJA; diversidade de métodos, didáticas e propostas educativas; diversidade de organização do trabalho, dos tempos e espaços; diversidade de intenções políticas, sociais e pedagógicas. Essa diversidade do trato da educação de jovens e adultos pode ser vista como uma herança negativa. Porém, pode ser vista também como riqueza. Pode refletir a pluralidade de instituições da sociedade, de compromissos e de motivação tanto políticas como pedagógicas” (Arroyo, 2005).

E com o intuito de valorizar a diversidade e todos os aspectos que a compõem na EJA, problematizamos a formação do educador popular que precisa ter muita sensibilidade ao trabalhar tal diversidade.

A Educação de Jovens e Adultos traz para a sociedade a educação de pessoas que por alguma dificuldade não foram à escola no período normal e assim estão tendo esta oportunidade. Sabendo que, mesmo com essa oportunidade, se torna difícil seu aprendizado, mas com autoestima e persistência conseguimos fazer com que essas pessoas saiam da escuridão.

Um dos principais trabalhos da EJA são a valorização do conhecimento prévio e o reconhecimento dos alunos como portadores de culturas e saberes.

Com relação à formação do educador, ser professor significa contribuir para a formação de cidadãos, portanto, o docente faz a diferença:

 

A figura do professor poderia simbolicamente ser comparada com a de um maestro criativo que exigiria dos componentes da orquestra: organização, iniciativa própria, envolvimento, dedicação e, principalmente, ações coletivas desencadeadas por processos participativos. Sendo criativo, articulador, mediador e desafiador, o professor apostaria em todos os meios e recursos existentes para consolidar a construção do conhecimento (Behrens, 1996).

 

Na história da educação brasileira, a Educação de Jovens e Adultos, como uma modalidade diferenciada, chama a atenção o seu caráter extensivo, por ser fora dos moldes tradicionais das escolas noturnas e, com relação ao aspecto da legislação não era algo sólido, não se configurava como um compromisso dos órgãos competentes (Paiva, 1973).

As constantes transformações nas áreas econômicas, política e social, tecnológica e cultural da sociedade atual, têm pressionado a escola a se adequar conforme as exigências do mundo do trabalho, influenciando a educação. Decorrentes a essas mudanças surgem novos desafios, no final do século XX, a escolarização passa a ser exigida no mundo do trabalho, assim aumenta a demanda da educação de jovens e adultos na sociedade. A Lei n. 9394/96 (Brasil, 1996), em seu artigo 38, determina que, no nível de conclusão do Ensino Fundamental e Médio, a idade seja 15 e 18 anos. E de acordo com a Deliberação n. 088/00,do CEE-PR, o ingresso na EJA pode se dar aos 14 anos para o Ensino Fundamental e aos 17 para o Ensino Médio. Esta faixa etária exige várias alterações frente a essas mudanças, passa a exigir também um ensino voltado para o campo da pesquisa e ao trabalho criativo.

Com relação à qualidade da formação para atuação na EJA, o que ocorre é uma crescente descaracterização dos cursos de formação, juntamente a falta de livros escritos que propicie apoio a essa formação, a pouca contribuição das universidades, ao desprezo das questões de ensino e a formação para o trabalho docente.

A concepção moderna do educador exige uma sólida formação cientifica técnica e política, claro que, atrelada a uma prática pedagógica crítica e consciente para avaliar a atual condição da educação.

 

Enquanto seres humanos conscientes, podemos descobrir como somos condicionados pela ideologia dominante. Podemos distanciar-nos da nossa época. Podemos aprender, portanto, como nos libertar através da luta política na sociedade. Podemos lutar para ser livres, precisamente porque sabemos que não somos livres! É por isso que podemos pensar na transformação (Freire e Shor, 1986).

 

A visão pedagógica da formação docente envolve autores com diferentes comentários. Gallo (1996) afirma que a grandeza da educação está no fato de ser uma área aberta que significa uma nova concepção filosófica de educação, que já não se restringe à formalidade do espaço escolar.

Por considerar a formação dos professores como algo de fundamental importância Mialiaret (1991) alerta para o fato de que não se deve processar uma formação idêntica de todos os alunos educadores, para os levar a ser exemplares do mesmo modelo, mas proporcionar-lhes condições de serem bons educadores, em função de suas qualidades.

Afirma Novoa (1992) que a formação de professores não é um conceito unívoco, por isso deve proporcionar situações que possibilitem a reflexão e a tomada de consciência das limitações sociais, culturais e ideológicas da própria profissão docente.

 

Conclusão

Diante da pesquisa concluída, podemos concluir que a Educação de Jovens e Adultos vem crescendo a cada dia e que com o empenho dos educadores de estudar e pesquisar as melhores formas de transmitir o conhecimento aos nossos educandos espera se que a EJA evolua. A educação em qualquer nível e modalidade é um direito que deve ser assegurado a todo (a)s. É esse direito fundamental que conduz à ruptura do ciclo das impossibilidades de desenvolvimento humano, social e econômico.

 

Referências

 

ARROYO, M. G. Ciclos de desenvolvimento humano e formação de educadores. Educação e Sociedade. Campinas: CEDES, 1999.

 

BEHRENS, M. A. Formação continuada de professores e a prática pedagógica. Curitiba: Champagnat, 1996.

 

BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O que é educação popular. Ed. Brasiliense, 2006.

 

BRASIL, Ministério da Educação e do Desporto, Secretaria de Educação Fundamental. Lei n° 9394/96. LDB – Lei de diretrizes e Bases da Educação Nacional. 1996. 15

 

FERREIRA, A. B. H. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. 2ª ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira; 2004.

FÓRUM PARANAENSE. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei 9394/96. Curitiba, 1997.

 

FREIRE, P. e SHOR, I. Medo e ousadia: cotidiano do professor. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1986.

 

FREIRE, Paulo. Política e Educação: ensaios. 5 ed. – São Paulo: Cortez, 2001.

 

GALLO, S. A filosofia e a formação do educador: os desafios da modernidade. In: BIDUCO, M Aparecida Viggiani, SILVA JUNIOR, Celestino Alves da Silva. Formação do Educador. São Paulo: Universidade Estadual Paulista, 1996.

 

MEYER, C. Educar para a diversidade e cidadania. Construindo a Educação. São Paulo, 2008.

MIALIARET, G. A formação de professores. Coimbra: Almeida, 1991.


NÓVOA, A. Vida de professores. Lisboa: Porto, 1992.

 

OLIVEIRA, Marta K. Educação como Exercício de Diversidade. Jovens e Adultos como Sujeitos de Conhecimento e Aprendizagem. Brasília: UNESCO, MEC, ANPED 2006, p. 61-83.

 

ONU. Art. XXVI, inciso I. Declaração Universal dos Direitos Humanos. Assembleia das Nações Unidas, 1948.

 

PAIVA, V. P. Educação popular e educação de adultos: contribuição à história da educação brasileira. São Paulo: Loyola, 1973, p.57.

 

SECAD, Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade. Documento Base nacional Preparatório à VI CONFINTEA, 2008.

 

SOUZA, M. A. Educação de jovens e adultos e a diversidade lingüística: as relações entre a fala e a escrita. Guaxupé, 2007.

URQUIZA, A.H.A.; MUSSI, V.P.L. Educação na Diversidade e Cidadania. Curso de formação continuada. Campo Grande, 2009.

 



[1] Licenciada em Matemática. Pós-graduada em Educação de Jovens e Adultos pela Universidade Cândido Mendes.