INFORMÁTICA NA EDUCAÇÃO ESPECIAL: análise do uso do computador nos laboratórios de informática por alunos portadores de necessidades educativas especiais
Odemar Mendes de Souza [1]
Maricélia Mendes de Souza Tataíra Machado [2]
RESUMO
Este pesquisa visa analisar o uso dos laboratórios de informática por alunos portadores de necessidades educativas especiais em três escolas municipais de Sinop. A tipologia de investigação caracteriza-se por ser uma pesquisa de campo, com utilização de instrumentos de observação, entrevistas, registro de experiências e consultas na literatura científica pertinente ao tema. O uso de novas tecnologias em nosso cotidiano trouxe rápidas transformações em todos os campos da vida humana. Na educação, o processo, apesar de lento, está sendo efetivado. Há algum tempo, os atrativos das escolas eram os laboratórios de informática, e apenas as escolas particulares ofereciam atração tão inovadora. Hoje percebemos que, se não todas, quase todas as escolas regulares, públicas e privadas, oferecem aos seus alunos o acesso ao computador como ferramenta pedagógica no processo de aprendizagem. O computador é visto, no primeiro momento, como “salvador da pátria”, todos depositam nele a esperança de resolver as dificuldades dos alunos especiais em seu processo de construção de conhecimento. A instalação de laboratórios de informática nas escolas, não garante qualidade no processo de aprendizagem de alunos portadores de necessidades educativas especiais. Aos poucos se vê que é preciso mais. O computador por si só não garante nada. Os professores não foram preparados para lidar com essa nova ferramenta pedagógica, e seu uso acaba por ser mecânico e pouco produtivo. Os softwares disponíveis, por vezes acrescentam muito pouco, já que são construídos por técnicos que não tem formação na área educacional. Percebemos também que os laboratórios não dispõem de tecnologias assistivas, que visam ampliar as habilidades funcionais dos alunos, que pela lei, devem ter assegurado, em seu processo de inclusão, condições favoráveis para a construção do seu aprendizado e de sua autonomia. A inclusão não se caracteriza pela efetivação da matricula de alunos portadores de necessidades educativas especiais nas escolas regulares, ela vai além. Em seu contexto estão incluídos aspectos que asseguram qualidade no atendimento a esses alunos, tais como: espaço físico adequado, salas com materiais adequados para cada aluno especial que ali estiver computadores com ferramentas específicas, cadeiras e mesas adequadas, e principalmente, professores preparados para atender qualitativamente a estes alunos.
Palavras-chave: Educação Especial. Inclusão e Qualidade. Informática e Educação. Especial. Formação de Professores.
ABSTRACT
This research aims to analyze the computer science laboratories usages by physically and mentally challenged students at municipal schools. The investigation typology is characterized for being a field research, focused on observing instruments usages, interviews, experiments and by consulting the scientific literature pertinent to the theme. The fast technological development has brought transformations to all fields of human life. In the educational system, the process, despite slow, has been put into effect. For a period of time, computer science laboratories were the main and only advantage private schools had to offer as an ultimate and innovative attraction. However, nowadays a large number of regular, public and private schools offer their students the access to the computer as a pedagogical tool in the learning process. The computer is primarely regarded as a pedagogically ‘savior’ asset to help build hope, therefore, solving disabled students problems linked to learning and knowledge construction process as well. It is highly noticed that those computer science laboratory facilities at schools are not a guarantee of a high quality education to disabled students, much work still has to be done. The computer alone does not guarantee anything. The teachers were not prepared to work with this new pedagogical tool. On its turn, its usage ends up being mechanical and little productive. The available softwares have been poorly contribuitive, once they have been manufactured by technicians who bear no knowledge in the educational area. It is also noticed that such laboratories do not have technologies to properly assist those students. Such assistences ultimately aim to broaden students' functional abilities, since they are not only legaly and promptly assisted with on their inclusion process, but also being provided with favorable terms for the construction of their learning as well as their autonomy. The inclusion is not characterized by the disabled students enrollment at a regular school. It is far beyond. On its context, other aspects that assure quality in the assistance to these students ought to be included, such as: adequate physical space, rooms with adequate material individually sreened, specific tools featured computers, desks and adequate tables, and chiefly, teachers prepared to qualitatively assist those students.
Keywords: Special education; Inclusion and quality; Computer science and Special Education; teachers formation.
Introdução
O presente trabalho buscou verificar a importância da análise do uso do computador nos laboratórios de informática por alunos portadores de necessidades especiais.
Para a realização dessa pesquisa houve inserção direta meio a ser estudado, ou seja, nas diferentes escolas pesquisadas e atuação com algumas turmas que incluem os alunos portadores de necessidades educativas, além disso, houve discussão com professores e alunos à respeito da temática e entrevistas. Estes procedimentos tiveram oi objetivo de identificar, além dos pensamentos e dos valores que fundamentam a situação dos professores na escola, também funciona na prática a atuação docente nas aulas de informática.
A pesquisa bibliográfica d cunho dialético e quantitativo, utilizou-se da coleta de dados para realização dos estudos, contribuíram para a realização desta pesquisa os seguintes teóricos: Dowbor (2000), Bueno (1998), Glat (1988), Oliveira (1997), Ripper (1996), Weiss (1998), Moraes (1997), Levy (1994), Gouveia (1999), Penteado et al (2000) e Valente (1998).
O presente trabalho encontra-se estruturado em três capítulos: no primeiro Capítulo apresento uma contextualização histórica da informática na educação, onde desde os primórdios o Brasil já buscava caminhos para a informação da sociedade visando o desenvolvimento social, tecnológico e econômico, bem como a importância da informática na educação especial, hoje tão discutido no cenário mundial. No segundo capítulo conceitos e abordagens críticas sobre a formação do professor frente ao computador como ferramenta pedagógica, fundamental no sucesso do processo de aprendizagem dos alunos, saliento também a importância da formação de professores e educação especial, tema de grandes discussões a nível nacional, pois o uso das novas tecnologias na educação especial ainda se restringe a professores que atuam em salas de recursos das escolas regulares. No terceiro capítulo apresento compreensões sucintas sobra a prática de professores que atuam nos laboratórios de informática da rede municipal de ensino de Sinop, sendo este capítulo o lucus da pesquisa. O objetivo deste estudo foi levantar questões referentes ao uso dos computadores nas escolas regulares por alunos portadores de necessidades educativas especiais, através de leituras cientificas sobre o tema abordado.
Assim percebe-se que apesar de toda evolução temos escolas que não possuem condições mínimas favoráveis ao desenvolvimento de nossos alunos, portadores de necessidades educativas ou não. Nossos professores, desvalorizados em seu papel, não tem acesso à formação contínua, e por muitas vezes se sentam perdidos diante de tantas novidades e tão pouco subsidio para a realização do seu trabalho. A legislação assegura aos alunos portadores de necessidades educativa especiais a inclusão na escola regular, mas está claro que muito ainda deve ser feito para que a inclusão tão sonhada e já conquistada, possa atender a estes de forma efetiva e de qualidade.
História da informática na educação
Precisamos buscar na história da informatização da educação, informações que nos ajudem a compreender como se deu o processo da informatização das escolas regulares.
As primeiras iniciativas na área aconteceram por volta da década de setenta, quando se discutiu o uso de computadores no ensino de Física, em um seminário promovido com a colaboração da Universidade de Dartmouth/USA.
Segundo Moraes (1997), no Brasil, se buscava caminhos para a informatização da sociedade, visando o desenvolvimento social, político, tecnológico e econômico da sociedade brasileira. Uma capacitação que garantisse autonomia tecnológica, tendo como base a preservação da soberania nacional.
Na educação, as Universidades Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, a Estadual de Campinas – UNICAMP e a Federal do Rio Grande do Sul, foram as primeiras a investigar sobre o uso de computadores na educação brasileira.
O primeiro programa voltado para a educação foi elaborado por um grupo de pesquisadores da Unicamp. Após receberem as visitas de Seymour Papert e Marvin Minsky para ações de cooperação técnica, visitaram MEDIA-Lab do MIT/USA, e deram origem, juntamente com um grupo de especialistas das áreas de computação, lingüística e psicologia educacional, às primeiras pesquisas sobre o uso de computadores na educação, utilizando a linguagem Logo.
Em 1977, o projeto passou a envolver crianças, sob a coordenação de dois mestrandos em computação. No início de 1983, foi instituído o Núcleo Interdisciplinar de Informática Aplicada à Educação - NIED/UNICAMP, já com apoio do MEC, tendo o Projeto Logo como o referencial maior de sua pesquisa, durante vários anos.
Na UFRGS, apoiadas nas teorias de Jean Piaget e nos estudos de Papert iniciam-se um trabalho realizado pelo Laboratório de Estudos Cognitivos do Instituto da Psicologia - LEC/UFRGS, que explorava o uso da Linguagem Logo, com crianças da escola pública que apresentavam dificuldades de aprendizagem de leitura, escrita e cálculo.
No I Seminário Nacional de Informática na Educação, na Universidade de Brasília, 1981, que contou com a participação de especialistas nacionais e internacionais, surgiram várias recomendações norteadoras do movimento e que até hoje continuam influenciando a condução de políticas públicas na área.
Dentre as recomendações, destacavam-se aquelas relacionadas à importância de que as atividades de informática na educação fossem embasadas em valores culturais, sócio-políticos e pedagógicos da nossa realidade. Nesta visão, o computador foi reconhecido como um meio de ampliação das funções do professor e jamais como forma de substituí-lo.
Foi nesse seminário que surgiu a primeira idéia de implantação de projetos-piloto em universidades, cujas investigações ocorreriam em caráter experimental e deveriam servir de subsídios a uma futura Política Nacional de Informatização da Educação. Nesse evento, foi recomendado que as experiências atendessem aos diferentes graus e modalidades de ensino e deveriam ser desenvolvidas por equipes brasileiras em universidades de reconhecida capacitação nas áreas de educação, psicologia e informática (MORAES, 1997, p.62).
A partir desse encontro, muitos outros aconteceram, e importantes recomendações norteadoras da Política de Informática na Educação decorreram desses encontros. Entre as recomendações, cita-se a necessidade da presença do computador na escola como um recurso auxiliar no processo educacional, desenvolvendo a inteligência do aluno e possibilitando o desenvolvimento de habilidades intelectuais específicas requeridas pelos conteúdos estudados. Até o ano de 1.986, os seminários e discussões sobre a informatização da educação trouxeram avanços importantes. Com a aprovação do Programa de Ação Imediata em Informática na Educação de 1º e 2º graus, neste ano, objetivou-se a criação de uma infra-estrutura de suporte junto às secretarias estaduais de educação, para a capacitação de professores, o incentivo à produção descentralizada de software educativo, bem como a integração de pesquisas que vinham sendo desenvolvidas pelas diversas universidades brasileiras. Este programa não foi o único voltado para a informatização das escolas e formação de professores. Outros foram criados e enfrentaram grandes dificuldades devido o parco repasse financeiro que lhes era oferecido. Ainda assim foram grandes os avanços.
Conforme o autor anteriormente citados, a instalação de Laboratórios de Informática nas escolas é recente. Programas do Ministério da Educação e Cultura possibilitaram há algumas escolas do país a instalação de computadores para uso com seus alunos e recentemente as prefeituras municipais estão trabalhando na efetivação de laboratórios de informática em todas as escolas públicas municipais.
Informática na educação especial
As novas tecnologias, hoje tema tão discutido no cenário mundial, são vistas pelos educadores como uma nova possibilidade no processo educacional de pessoas deficientes. Aos alunos portadores de necessidades educativas especiais, principalmente os que apresentam algum tipo de paralisia cerebral, ou grande dificuldade no processo de aprendizagem, o computador, quando usado corretamente, tem sido um grande aliado na construção de novos saberes, da autonomia e inclusão social. Segundo Valente (1991), o uso do computador como ferramenta pedagógica para alunos portadores de necessidades educativas especiais, teve início no ano de 1.975 com a linguagem de programação Logo, que foi utilizada por um menino altista, em Edimburgo.
A partir daí inicia-se pesquisas para a criação de softwares e equipamentos que possam favorecer a vida de pessoas, que visualizam no computador uma nova janela para a construção de sua autonomia, mesmo que parcial. Pois através de atividades construídas estes poderão intervir em seu próprio processo de construção de conhecimento, sem depender diretamente de outra pessoa.
O Computador pode tornar-se, como enfatiza Valente (1991), o caderno eletrônico para o deficiente físico, o meio que o surdo pode usar para estabelecer relações entre o fazer e os conceitos utilizados nestas ações, um instrumento que integra diferentes representações de um determinado conhecimento para o deficiente visual, o mediador da criança autista e o mundo, um objeto de desafio para a criança deficiente mental, um recurso no qual crianças carentes podem participar efetivamente de atividades socioculturais significativas.
No site www.truenet.com.br/ronaldo, criado por um webmasters que tem paralisia cerebral e quadriplégica, podemos perceber claramente a grande importância do uso do computador para a efetivação da autonomia de quem apresenta alguma deficiência. Ronaldo Corrêa Jr afirma que “a internet é o único espaço que a minha normalidade é evidente. Lá eu posso ser eu mesmo, independente do que meu corpo é capaz de fazer. Ter acesso ao mundo todo pela tela do computador melhorou muitíssimo minha qualidade de vida...". Neste depoimento, fica claro como o computador e seu uso adequado pode ajudar na qualidade de vida de pessoas que na maioria de suas experiências vividas, podem nos contar algo sobre preconceito, segregação, inferioridade, entre outros sentimentos negativos que atrapalham sua produtividade.
A legislação brasileira garante aos portadores de necessidades educativas especiais, a inclusão de qualidade, onde suas necessidades básicas devem ser atendidas. A qualidade significa que estes, em suas limitações, devem receber suporte necessário pra o seu pleno desenvolvimento.
Os prédios escolares não sofreram grandes modificações, se não nenhuma, os materiais pedagógicos não atendem a todas as necessidades, e os laboratórios de informática não dispõe de nenhum tipo de equipamento ou software que ajude no desenvolvimento destes alunos. Como leciona Levy (1994), as novas tecnologias poderão em muito, ajudar neste processo de inclusão dos alunos com deficiência, mas precisamos transpor alguma barreiras que nos fazem acomodar e favorecer a segregação destes alunos que se bem orientados podem surpreender.
Podemos aqui, citar alguns recursos tecnológicos importantes para a qualidade na educação dos nossos alunos portadores de necessidades educativas especiais. São eles:
ü Computadores (conectados à Internet);
ü Sintetizadores de Fala;
ü Impressoras Braille;
ü Teclados ampliados e adaptados (com colméias/ protetor de teclado);
ü Mouses adaptados ou modificados;
ü Sinalizadores de tela;
ü Dicionários de gestos e LIBRAS;
ü Aplicativos (editores de desenho e de texto ou desenho);
ü Telas sensíveis ao toque;
ü Comutadores ou Switch (ou botões sensíveis ao toque);
ü Apontadores de cabeça (capacetes com ponteiros para tela);
ü Softwares de comunicação;
ü LM Brain e IMAGO ANA VOX (programas de auxílio à comunicação de pessoas com deficiência motora grave, criados na UNICAMP e USP);
ü DOSVOX (Programa na UFRJ desenvolvido para leitura e edição de textos);
ü Virtual Vision (leitor de telas para deficientes visuais);
ü Via Voice (programa da IBM que permite controlar e acessar o computador com a voz).
Estas tecnologias, chamadas de assistivas, precisam fazer parte da nossa estrutura educacional. Nós educadores temos que refletir e provocar reflexões, para que não aconteça a falsa inclusão, onde todos têm acesso e nenhuma qualidade. A lei deve ser vista em sua integralidade, onde os direitos ao uso das novas tecnologias como ferramenta para a construção da autonomia seja realmente respeitada.
Formação do professor
A introdução das novas tecnologias na educação nos faz refletir sobre o papel do professor dentro desse processo. A atuação do professor frente ao computador como ferramenta pedagógica, é de fundamental importância para o sucesso ou não deste no processo de aprendizagem de nossos alunos.
Pensar na formação do professor para exercitar uma adequada pedagogia dos meios, uma pedagogia para a modernidade é pensar no amanhã, numa perspectiva moderna e própria de desenvolvimento, numa educação capaz de manejar e de produzir conhecimento, fator principal das mudanças que se impõe nesta antevéspera do século 21; e desta forma seremos contemporâneos do futuro, construtores da ciência e participantes da reconstrução do mundo. (PENTEADO, 2000, p.72).
Não basta termos instalado em nossas escolas modernos equipamentos, computadores de última geração, se não estivermos preparados pedagogicamente para lidar com todo este aparato.
A formação do professor neste processo é de fundamental importância, pois é nela que encontraremos subsídios para desenvolver um trabalho que possa fazer diferença frente às novas necessidades da educação.
Vivemos um novo tempo, onde paralelamente às novas tecnologias temos escolas sucateadas onde não oferecem as mínimas condições para o desenvolvimento da aprendizagem.
Frente à existência paralela deste atraso, e da modernização, é que temos que trabalhar em dois ‘tempos’, fazendo o melhor possível no universo preterido que constitui a nossa educação, mas criando rapidamente as condições para uma utilização ‘nossa’ dos novos potenciais que surgem (DOUWBOR et al, 1994, p.30).
As nossas escolas, por vezes, não oferecem espaço físico de qualidade para o uso das novas tecnologias, suas estruturas não nos mostram qualidade para atender alunos portadores de necessidades educativas especiais e isso por muitas vezes nos coloca numa situação de comodismo, onde o ‘deixa com está’ é o comportamento mais usado e defendido.
Precisamos buscar a saída, e o conhecimento é o melhor caminho. A formação do professor chega como novo caminho a seguir.
Como adverte Oliveira (1997), devemos entender o processo de formação, como contínuo, permanente, para que possamos agir ativamente no meio educacional, buscando pequenas transformações diárias. Nenhuma mudança consistente acontece de imediato. Será a reflexão sobre a ação que trará mudanças.
O grande problema que enfrentamos na formação, é que muitas vezes esta se caracteriza por pequenos treinamentos técnicos sobre o funcionamento do computador e o conhecimento de alguns softwares que em sua grande maioria, apesar de serem educacionais, não acrescentam muito na vida dos alunos, pois não são elaborados sob a orientação de profissionais ligados à educação. O aluno aqui, em pouco tempo se sobrepõe ao conhecimento do professor, já que está em constante contato com o tecnológico.
Devemos então, buscar uma formação que nos leve à uma prática capaz produzir conhecimento que gere mudança no desenvolvimento intelectual e psicossocial de seus alunos.
Segundo Penteado et al (2000), a formação continuada não pode estar separada da ação do professor, nem a formação inicial pode ser definida antes da ação. Devemos romper a hierarquia dos processos tradicionais de formação, configurando em uma só rede a ação, a formação continuada e a formação inicial. Este processo se fará claramente em uma prática construcionista.
Para Biaconcini Almeida, a formação do professor que vai usar o computador como ferramenta pedagógica, deve leva-lo a incitar seus educandos a:
ü “Aprender a aprender”;
ü Ter autonomia para selecionar as ações pertinentes à sua ação;
ü Refletir sobre uma situação problema e escolher a alternativa adequada de atuação para resolvê-la;
ü Refletir sobre os resultados obtidos e depurar seus procedimentos, reformulando suas ações;
ü Buscar compreender os conceitos envolvidos ou levantar e testar outras hipóteses.
È necessário, que na formação do professor a diferença entre o instrucioniosmo e o construcionismo seja clara, para que possamos visualizar a nossa prática e transforma-la de forma consciente.
Formação de professores e educação especial
A formação para o uso das novas tecnologias na educação especial, ainda se restringe a professores que atuam em salas de recurso das escolas regulares. Por mais que os cursos de formação qualifiquem os professores para o trabalho com computadores, este ainda está voltado apenas para o atendimento aos alunos ditos ‘normais’. Surge aqui a grande dificuldade de se trabalhar com alunos portadores de necessidades educativas especiais, que por falta de formação específica, não favorecem o desenvolvimento, limitando a possibilidade destes alunos desenvolverem suas potencialidades e sua autonomia.
O trabalho desenvolvido na Associação de Assistência à Criança Deficiente (AACD), mostra claramente, que apesar das dificuldades serem maiores, pode e deve lutar para que os alunos portadores de necessidades educativas especiais participem ativamente do processo de informatização da educação.
Nesta experiência os professores se mostraram resistentes no início, mas puderam perceber, durante a formação, que novas possibilidades existem para ajudar seus alunos na busca do seu desenvolvimento cognitivo e de sua autonomia.
Neste trabalho o computador é usado como ferramenta educacional e como instrumento de diagnóstico da capacidade intelectual da criança. Trabalho que permite desenvolver a abordagem do construcionismo contextualizado na educação especial (PENTEADO et al, 2000, p.29).
A linguagem de programação Logo desenvolvida por Papert, teve sua influência nas teorias psicogenéticas de Piaget, e foi de suma importância para professores que desenvolviam seu trabalho com alunos portadores de necessidades educativas especiais.
Talvez este ainda representa o maior aliado para o aprendizado de alunos com dificuldades no processo de aprendizagem, mas grande parte de professores que tem em suas salas alunos portadores de necessidades educativas especiais, ainda não conhecem o Logo ou qualquer outra possibilidade de ajudar seus alunos.
Precisamos ter clareza de que a inclusão não deve significar apenas a garantia da matrícula destes alunos, ela vai além. A inclusão significa garantir qualidade de atendimento e garantir também que todos os esforços sejam feitos para a efetivação do bom aproveitamento dos aparatos educacionais a que temos acesso.
Precisamos perceber as mudanças que acontecem à nossa volta, para que possamos buscar novos caminhos e fazer parte do novo para possibilitar aos nossos alunos, novas e enriquecedoras experiências.
Deficiência e escola regular
A educação deve ser especial, ao aluno deficiente ou não. Todos apresentamos diferenças de ordem física, mental, social, emocional que determinam nossos interesses, aptidões e limitações.
O professor deve conhecer a realidade particular de cada aluno, para que possa buscar possibilidades de aprendizagem e desenvolver um trabalho harmônico.
Ao se buscar a inclusão de alunos deficientes na escola regular, ocorreu a criação das salas especiais, que segundo Gouveia (1999), serviram apenas para mascarar a segregação, pois estes alunos não participavam da rotina escolar e todas as atividades eram feitas dentro da sala.
O aluno deficiente deve estar em permanente contato com crianças consideradas normais. Convivendo, trocando experiências, onde o professor deve realçar as semelhanças e capacidades de seus alunos para que as diferenças sejam minimizadas. O atendimento só deve se fazer separado, quando se fizer estritamente necessário. Então o que está faltando para que aconteça a efetiva inclusão dos alunos portadores de deficiência nas escolas regulares?
O Parecer do CNE/CEB nº 17/2001 que institui as Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica, afirma que o desafio é a construção de sistemas educacionais inclusivos. De acordo com o Parecer:
A inclusão escolar constitui uma proposta que representa valores simbólicos importantes, condizentes com a igualdade de diretos e de oportunidades educacionais para todos [...]. A dignidade, os direitos individuais e coletivos garantidos pela Constituição Federal impõe às autoridades e à sociedade brasileira a obrigatoriedade de efetivar essa política, como um direito público subjetivo, para o qual os recursos humanos e materiais devem ser canalizados, atingindo necessariamente, toda a educação básica (Brasil, 2001, p. 26-27).
Desta forma toda escola deve atender aos princípios constitucionais, não podendo excluir nenhuma pessoa em razão de sua origem, raça, sexo, cor, idade, deficiência ou ausência dela.
A escola inclusiva deve ter como objetivo principal a efetivação de uma Escola para Todos, onde a garantia de igualdade de oportunidades deve ser oferecida independente de qualquer característica individual e que sua proposta educacional garanta e favoreça condições de aprendizagem a todos num só contexto, oferecendo uma educação diferenciada, dando aos alunos respostas educativas durante todo o processo de escolarização, isto é oferecer uma educação permanente que atenda a peculiaridade de cada um. (Oliveira e Leite, 2.000).
A inclusão depende de três fatores que garantam sua efetivação: cultura inclusiva, política inclusiva e práticas inclusivas. A cultura inclusiva é a formação de uma comunidade escolar segura e acolhedora na qual cada aluno é valorizado, e seus valores compartilhados com toda a escola. Uma comunidade acolhedora é a base para convivência de respeito e valorização das diferenças, onde valores desenvolvidos mobilizam pessoas a pensarem, viverem e organizarem o espaço escolar (BUENO, 1993, p.58).
A política assegura que a inclusão seja o centro do desenvolvimento da escola, fomentando todas as ações e as políticas para que melhorem a aprendizagem e a participação de todos os alunos.
As práticas educacionais refletem a política e a cultura inclusiva e assegura que as atividades dentro e fora da sala de aula promovem a participação e o engajamento de todos os alunos.
Segundo Glat (1988), para que o sonho da escola inclusiva realmente aconteça, é necessário que a diversidade e as diferenças sejam valorizadas e vistas como inerente ao ser humano.
Faz-se necessário também, investimentos no espaço físico da escola, na formação do professor, formação esta que deve ser contínua, com palestras e socialização de experiências. Essa formação faz com que o professor, se coloque numa posição atuante na escola, possibilita a busca por transformações no ambiente.
Se a lei nos assegura investimentos no espaço escolar como um todo, há que se fazer valer. Materiais disponibilizados insuficientes, prédios sem condições de atender alunos deficientes, banheiros sem estruturas, mesas e cadeiras sucateadas nos faz retroceder no processo de inclusão.
Não é fácil efetivar o processo inclusivo, garantir a aprendizagem de todos os alunos e lidar com as diferenças. Na nossa realidade educacional isso se torna grande desafio e os serviços educacionais dos quais dispomos ainda são insuficientes. A política pública que temos não nos dá suporte para que possamos atender aos alunos Portadores de Necessidades Educativas Especiais com a qualidade que necessitam. Para que isso aconteça, precisamos de muitas modificações em todo o processo educacional, para que o novo aconteça dentro de novas condições e de um novo paradigma dentro da escola.
A prática pedagógica de professores que atuam nos laboratórios de informática da rede municipal de ensino
O objetivo deste estudo foi levantar questões referentes ao uso de computadores nas escolas regulares, por alunos portadores de necessidades educativas especiais, através de leituras na literatura científica sobre o tema. Os principais autores estudados foram: Valente, Moraes, Penteado et al, entre outros.
Ao estudar estes autores, pude perceber que não basta termos em nossas escolas alunos que apresentem deficiência, para sermos educadores participantes do processo de inclusão. Não podemos acreditar que um computador por si só pode ajudar na conquista da autonomia de nossos alunos. Devemos ir além. Buscar formação e mecanismos para que a inclusão digital dos nossos alunos aconteça. É uma busca diária, onde o novo, apesar de assustar, pode ser uma arma poderosa para a educação se tornar transformadora de sistemas que infelizmente nos acostumamos a acreditar ser o correto.
O computador aqui se apresenta como uma nova ferramenta que, se bem usada pode ajudar os alunos portadores de necessidades educativas especiais a serem realmente quem são: capazes, com todas as limitações impostas por seus problemas, que constroem seus conhecimentos, pesquisam, crescem, conversam e trocam experiências que os ajudarão a construir uma história de independência e autonomia.
Nas escolas municipais visitadas, pude perceber as angústias dos professores, por não saberem como usar esta nova ferramenta. Vi também alguns professores pouco comprometidos com seus alunos e outros assustados com a ‘obrigatoriedade’ de se usar o computador como apoio para suas aulas.
Ao perguntar às professoras entrevistadas, como receberam o computador como ferramenta pedagógica para suas aulas, a professora que tratarei aqui por Rose, afirmou que o computador é apenas mais uma novidade e que não adiantaria insistir ‘nessas coisas’, pois essas crianças não aprendem mais do que o pouco que se ensina em sala, e não será uma máquina que vai mudar a situação. Outra professora, que chamarei de Maria, se mostrou interessada, mas não sabe como agir, pois ainda não lhe foi oferecido cursos de formação para usar essa nova tecnologia. Na pergunta sobre a participação nos cursos de formação nas três escolas visitadas, esta foi a questão onde todos os professores entrevistados mostraram interesse, mesmo os que não demonstravam interesse pelo computador, afirmaram que a possibilidade de fazer cursos de formação facilitaria o acesso e o trabalho com o computador.
Quando questionados sobre o uso da informática na educação especial, a professora, que chamarei de Sandra, disse não entender como este pode ajudar um aluno deficiente e ele não consegue aprender o alfabeto. Mas afirmou que se pudesse fazer um curso pra ensinar ‘esses alunos’, os resultados seriam melhores do que os alcançados nas salas de aula.
Ao perguntar de que forma o computador pode ser usado pelos alunos deficientes enquanto não se tem formação ou ajuda de equipamentos, todos os professores se mostraram apreensivos. Rose afirmou que pode ensinar as letras e números e que eles podem desenhar. Maria disse que na internet existem jogos pra se trabalhar com as crianças, e que apesar dela não conhecer nenhum específico, talvez esses pudessem ser usados para alunos deficientes também e que ouviu falar em um programa chamado Logo, mas que não conhece e Sandra afirmou que estes alunos precisam ser atendidos separadamente no computador, pois indo com toda a turma fica muito difícil ensinar alguma coisa, já que até os professores tem dificuldade em lidar com computador.
Este pensamento acaba por reforçar a segregação, pois no momento em que se defende a inclusão de todos, não podemos falar em atendimento separado a nenhum aluno e sim oferecer condições para que tenhamos um aprendizado de qualidade e que seja interessante para estes alunos.
Percebi que o grande empecilho para oferecer aos alunos portadores de necessidades educativas uma educação de qualidade que tem como ferramenta o computador, é a não formação dos professores. Estes se vêem perdidos, numa realidade que é desconhecida para quase todos. Mesmo os professores que atuam nos laboratórios de informática das escolas, por muitas vezes não podem ajudar muito, pois afirmam que além de não possuírem softwares específicos, os equipamentos são básicos. Nestes laboratórios não há nenhum tipo de tecnologia assistiva, que possa facilitar o uso dos computadores por alunos deficientes físicos, cegos ou surdos.
Pude perceber que esta é a realidade. Os laboratórios de informática não possuem equipamentos ou softwares que possam facilitar o acesso de alunos deficientes aos computadores. Os alunos por sua vez, ao perceberem as dificuldades, se afastam.
Em uma das escolas, ao assistir uma aula no laboratório, observei um aluno deficiente visual na frente de um computador tentando fazer uso do mesmo, ansioso questionou a professora como ele iria fazer pra ‘brincar’ no computador, a professora sentou ao lado dele, pegou sua mão e digitou algumas letras para satisfazê-lo.
Em uma outra, um aluno portador de distrofia muscular, está praticamente impossibilitado de usar o computador, pois não há ponteira ou outro meio para que possa facilitar o uso.
Nestas escolas as dificuldades são grandes para os alunos portadores de necessidades educativas especiais já não se sentem motivados a participar das aulas e outros mesmo tendo vontade são impossibilitados.
Me preocupei ao perceber que alunos com deficiência mental leve ou aqueles que apresentam dificuldades de aprendizagem também não recebem atendimento específico, pois os professores não sabem como oferecer atividades que facilitem o aprendizado dos alunos. A educação aí ainda se mantém num modelo instrucionista, onde o aluno, ao entrar no laboratório de informática, encontra os computadores ligados com atividades desinteressantes como ditados, ou questões pra serem respondidas.
Há experiências que se iniciam, mas a resistência ainda insiste em manter professores afastados do computador, na visão de que tudo que é novo vem pra atrapalhar o que já está comodamente acontecendo na educação. Mas devemos lutar para que a situação que aí está mude radicalmente. Alguns professores que iniciaram a busca por novas formas de se trabalhar com o computador, encontraram subsídios para montar projetos para aulas mais interessantes, num modo instrucionista de se trabalhar. As crianças estão adorando, disse uma professora que chamarei de Bete, e eu mais ainda, continuou.
O ambiente educacional onde o aluno possa construir o seu conhecimento e autonomia é de fundamental importância para o seu sucesso quando adulto. Precisamos ter isso em mente, para entendermos o quanto a nossa atuação como professores é importante para que isso aconteça.
Se faz necessário investimentos do poder público na formação de professores e na compra de equipamentos que facilitem o uso do computador por alunos que cegos, surdos, deficientes físicos. Precisamos lutar para que isso aconteça, lançar o medo pra fora de nós mesmos e fazer valer o direito nosso e de nossos alunos pela educação de qualidade, com investimentos no espaço físico e nos equipamentos disponibilizados para nossas escolas.
Conclusão
Deixo claro neste estudo, a grande necessidade de fazemos do computador um grande aliado no desenvolvimento de nossos alunos. As entrevistas mostram as dificuldades enfrentadas, mas explicito aqui também, algumas experiências que deram certo, como o trabalho dos professores da AACD, que após enfrentarem os medos e as angustias, experimentaram a gostosa sensação de fazer algo que acrescente e faça a diferença. É isso que devemos buscar: A TRANFORMAÇÃO, onde faremos do nosso trabalho, uma nova forma de experimentar o mundo.
Fazer parte de um quadro de professores que usam o computador como ferramenta pedagógica não é suficiente, precisamos buscar transformações. De nós mesmos e de nossos alunos. Se não nos é oferecido podemos tentar fazer o melhor, lendo livros sobre o assunto, trocando experiências, buscando informações. O que não podemos fazer é nos acomodar, ou achar que a culpa é do sistema.
Os computadores estão presentes na nossa vida e nas nossas escolas e disso não podemos fugir. O que podemos fazer é nos movimentar como educadores conscientes de que temos uma nova batalha pela frente e que não podemos sair como derrotados, mas como vencedores. Nós professores e principalmente nossos alunos, que em sua ansiedade, própria das crianças, merecem qualidade em todo seu processo de escolarização.
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