CULTURA SURDA: COMPREENSÃO E ACEITAÇÃO SOCIAL.
Lucinda Almeida da Silva
Amélia de Jesus Fernandes
Juscelino Barbosa santos
RESUMO
Neste artigo iremos discutir e fazer uma reflexão referente à cultura do sujeito surdo que possibilite a construção de sua identidade, igualdade e dignidade de vida coletiva desses indivíduos. A pesquisa tem por base fontes bibliográficas. Assim no decorrer do artigo falaremos a importância de avaliar o indivíduo surdo como possuidor de identidade própria, e discutir o conhecimento cultural da comunidade surda para o fortalecimento de sua identidade, estabelecer uma comparação entre a cultura surda e cultura dos ouvintes, mostrando que é primordial conceber as políticas de acessibilidades linguísticas que considere a sociedade surda como parte de uma única sociedade, onde todos são munidos dos mesmos direitos enquanto cidadãos.
Palavras-chaves: Surdo. Identidade. Cultura.
ABSTRACT
In this article we will discuss and make a reflection about the culture of the deaf subject that makes possible the construction of their identity, equality and dignity of collective life of these individuals. The research is based on bibliographical sources. Thus, in the course of the article, we will discuss the importance of evaluating the deaf individual as possessing his or her own identity, and discuss the cultural knowledge of the deaf community in order to strengthen their identity, to establish a comparison between the deaf culture and the culture of the listeners, showing that it is essential to design the policies of language accessibility that considers the deaf society as part of a single society, where all are provided with the same rights as citizens.
Key-words: Deaf. Identity. Culture.
INTRODUÇÃO
A apresentação deste tema “Cultura Surda”, tem por finalidade possibilitar a reflexão sobre a Cultura do sujeito surdo, os dados foram analisados através de leituras bibliográficas. Entende-se que, a construção da identidade do surdo e da sua comunidade tem aspecto de suma importância e que de certa forma são contemplados através de estudos aprofundados que valorizem sua cultura de modo geral onde o sujeito surdo seja protagonista de sua própria história, o reconhecimento da Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS, possibilitando a igualdade e dignidade de vida coletiva desses indivíduos no ambiente ao qual estão inseridos.
O Art. 4º da Lei Nº 13.146, de 6 de Julho de 2015, esclarece que “Toda pessoa com deficiência tem direito à igualdade de oportunidades com as demais pessoas e não sofrerá nenhuma espécie de discriminação”.
A cultura surda e a cultura dos ouvintes foram criadas com as mesmas possibilidades, ela é útil para estabelecer a comunicação e convivência entre seus grupos. As pessoas surdas se expressam por meio de sinais, movimentos, artes, entre outras, declarando suas relações, valores, costumes, enfim, dando sentido a sua vida e da sua comunidade.
O objetivo proposto por meio deste trabalho visa à reflexão sobre a necessidade de aprender a respeitar e compreender as diferenças culturais existentes em nossa sociedade, justificando que, ambas as culturas se influenciam por partilhar do mesmo espaço.
Pode-se, deste modo, considerar que faz se necessário conceber as politicas de acessibilidades linguística da surdez, ampliando e amparando legalmente os seus direitos enquanto cidadãos.
Parte-se, assim, da concepção de que sociedade deve ser única, e que a separação da comunidade surda dos ouvintes bloqueiam e minimizam os desenvolvimentos psicossociais e afetivos paras ambos, negando a si próprio o direito de conviver em harmonia.
- Conceitos de Cultura.
Segundo o dicionário Aurélio Buarque, pág.587 cultura é:
Conjunto de características humanas que não são inatas, e que se criam e se preservam ou aprimoram através da comunicação e cooperação entre indivíduos em sociedade.
A partir da conceituação pode-se entender que, a palavra “Cultura” tem significados variados, porém relacionando esta palavra ao contexto de pessoas surdas, ela tem sua representação como identidade, pois afirma que estas possuem uma cultura, tendo que aprender de forma peculiar o mundo que as denomina tal como.
- Cultura e Identidade surda.
Segundo Carol Padden. A linguística surda diferencia de cultura de comunidade.
“uma cultura é um conjunto de comportamentos aprendidos de um grupo de pessoas que possuem sua própria língua, valores, regras, no qual pessoas vivem juntas, compartilham metas comuns e partilham certas responsabilidades umas com as outras”. PADDEN (1989:5).
Para a pesquisadora “uma Comunidade Surda é um grupo de pessoas que mora em determinada localidade particular, compartilha dos mesmos objetivos comuns, buscando meios de trabalhar para concretiza-los”. Assim em uma Comunidade Surda pode ter também ouvintes.
“a Cultura da pessoa Surda é mais fechada do que a Comunidade Surda. Membros de uma Cultura Surda comportam como as pessoas Surdas, usam a língua das pessoas surdas e compartilham das crenças das pessoas Surdas entre si e com outras pessoas que não são surdas”. (Felipe, pág. 45 Libras em Contexto: Curso Básico: Livro do Estudante).
Entende-se que a cultura surda se diferencia no modo de conhecer e aprender o mundo, as tradições sócio interativas, os comportamentos e saberes compartilhados, não tornando-se menores ou maiores enquanto seres humanos. Mas sim, repletos de capacidades para desenvolverem todas as aprendizagens necessárias para sua comunicação e convivência em sociedade.
- Comunidade surda x Ouvintes.
Para fazer parte da comunidade surda a pessoa tem que se identificar como surdas e as que não pertence a ela são chamadas de deficientes auditivas, a assimilação com a comunidade Surda é uma escolha particular e geralmente é feita de uma maneira autônoma independendo do nível da surdez, a comunidade não é composta somente por pessoas Surdas ou com deficiência auditiva, mas também pelas famílias, interpretes de língua de sinais e as que identificam com a cultura surda. Deste modo para os surdos, a surdez não é uma deficiência e sim uma outra forma de conhecer o mundo e fazer parte dele, do ponto de vista clinico nos mostra que a diferença da surdez de deficiência auditiva é a profundidade da perda auditiva. Os indivíduos que têm dano intenso, e não escutam nada, são surdas. Prontamente as que sofreram uma lesão moderada, e que têm parte da audição, são avaliadas como deficientes auditiva.
Por meio da pesquisa levantada pelo IBGE, 2010 estamos entre 190 milhões de brasileiros, sendo que 305 mil pessoas são os surdos que não ouvem de modo algum e que se diferenciam por essa condição, não apenas dos ouvintes de fala hegemônica, como também dos 9 milhões de pessoas que se consideram com deficiência auditiva no país. (Fonte: https://censo2010.ibge.gov.br/)
A língua de sinais é essencial para a comunicação dos surdos, no entanto, faz-se necessário e de muita importância que os ouvintes aprendam a Libras, para que possam comunicar e compreender que a comunidade surda possui uma cultura específica que atribui a própria identidade.
Mileide (2017, p. 15 Fundamentos da Educação de surdos) traz a memória que
“É importante destacar que no dia 24 de abril de 2002, por meio da Lei n° 10.436 (BRASIL, 2002), teve-se o reconhecimento da Libras como meio legal de comunicação e expressão do surdo. Entretanto, mesmo sendo língua oficial do Brasil, ela permanece pouco difundida em nossa sociedade”.
As pessoas surdas desde nossos antepassados passaram por várias mudanças até ser consideradas atualmente detentoras de sua própria cultura e língua. Considera-se um novo olhar, porém ainda, não o suficiente, pois o ser humano surdo necessita ser reconhecido com capacidades de desenvolver habilidades como um ouvinte.
Mileide Terres de Oliveira, pág.18 (Fundamentos da Educação de surdos) explicita que
“A comunidade surda busca a valorização da língua de sinais como a primeira língua e que suas opiniões sejam respeitadas, pois os ouvintes, muitas vezes, acabam decidindo pela pessoa surda, disputando uma relação de poder. Enfim, trata-se de uma conquista pela ‘dignidade’ de Ser Surdo”!
Percebe-se que, os surdos estão conquistando aos poucos e recebendo o amparo legal nos últimos anos, considerando que a anos, a luta é grande para garantir o reconhecimento dos seus direitos.
Conforme relata DUARTE 2013, (Aspectos históricos e socioculturais da população surda).
Recomenda-se o desenvolvimento de novos estudos, nas diferentes áreas de conhecimento, que possam subsidiar a criação de estratégias para a adequação das interações humanas, o desenvolvimento global dos surdos e a satisfação de suas reais necessidades, e, consequentemente, a efetivação da inclusão social do surdo.
Segundo a LBI, Lei Brasileira de Inclusão nº 13.146, de 6 de julho de 2015 a Igualdade e acessibilidade é um direito de todos e não é apenas responsabilidade social. Considerando ainda que, no Art. 8º deixa claro que:
“É dever do Estado, da sociedade e da família assegurar à pessoa com deficiência, com prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à sexualidade, à paternidade e à maternidade, à alimentação, à habitação, à educação, à profissionalização, ao trabalho, à previdência social, à habilitação e à reabilitação, ao transporte, à acessibilidade, à cultura, ao desporto, ao turismo, ao lazer, à informação, à comunicação, aos avanços científicos e tecnológicos, à dignidade, ao respeito, à liberdade, à convivência familiar e comunitária, entre outros decorrentes da Constituição Federal, da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo Facultativo e das leis e de outras normas que garantam seu bem-estar pessoal, social e econômico”.
Sabemos que a implementação de leis como a LBI é de fundamental importância para a comunidade surda, pois ela legisla em favor dos seus direitos e traz aos mesmos mais dignidade, respeito e liberdade. Porém o conhecimento a respeito de que existe uma cultura surda traz a conscientização, resultando respectivamente em uma maior aceitação e respeito ao sujeito surdo, como cidadão e como ser humano.
A ausência auditiva se torna uma barreira, uma limitação entre surdos e ouvintes quando há a negação e o desconhecimento da cultura surda.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente artigo abordou a reflexão sobre a “Cultura Surda”, a qual consideravelmente é menos prezada por partes da sociedade em geral.
Além disso, fez se uma análise onde se observou que, é escassa a quantidade de reflexões sobre o tema.
Procurou-se estabelecer uma analise da cultura surda, mostrando que é primordial conceber as politicas de acessibilidades linguísticas que considere a sociedade surda como parte de uma única sociedade, onde todos são munidos dos mesmos direitos enquanto cidadãos.
Abordaram-se conceitos referentes à necessidade de reconhecer as particularidades da identidade e cultura surda, para propiciar o desenvolver habilidades de comunicação e facilitar o diálogo entre surdos e ouvintes em uma mesma sociedade, onde não há separações.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRASIL. Lei n. º 10.436, de 24 de abril de 2002. Dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais - Libras e dá outras providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10436.htm. Acesso em: 27 Abr. 2019.
BRASIL. LEI Nº 13.146, DE 6 DE JULHO DE 2015. Institui a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência). http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13146.htm/>. Acesso em: 27 Abril, 2019.
COELHO, Kátia Solange. Língua Brasileira de Sinais: Libras/ Kátia Solange Coelho; Maria Dalma Duarte Silveira e Juliana Pereira Mabba. Indaial: Uniasselvi, 2012.Disponível em: <http://censo2010.ibge.gov. br/>. Acesso em: 27 Abril, 2019.
DUARTE, Soraya Bianca Reis et al. Aspectos históricos e socioculturais da população surda. História, Ciências, Saúde – Manguinhos, Rio de Janeiro, v.20, n.4, out.-dez. 2013, p.1713-1734.
FELIPE, Tanya A. Libras em Contexto : Curso Básico : Livro do Estudante / Tanya A. Felipe. 8ª. edição- Rio de Janeiro : WalPrint Gráfica e Editora, 2007.
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Dicionário Aurélio da Lingua Portuguesa. 4ª Edição. Editora Positivo, pág.587, Curitiba, 2009.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Censo Demográfico 2010. Libras e dá outras providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10436.htm. Acesso em: 27 Abr. 2019.
OLIVEIRA, Mileide Terres de. Fundamentos da Educação de surdos. Varzea Grande-MT, 2017.
PADDEN, Carol. A comunidade surda e a cultura dos surdos. In: Wilcox, Sherman (Ed.). Surdo americano cultura: uma antologia. Burtonsville: Lindtok Press, 1989