A Contribuição dos Jogos e Brincadeiras para a Alfabetização de Crianças
Adriane Wilhelm[1]
Resumo
O presente artigo tem como objetivo verificar a contribuição dos jogos e brincadeiras na alfabetização, promovendo a integração entre crianças com idade entre 6 (seis) e 7 (sete) anos, bem como pesquisas bibliográficas. Os objetivos dessa pesquisa se resumem em refletir sobre as contribuições dos jogos e brincadeiras na alfabetização de crianças, descobrir como é possível alfabetizar através do lúdico e como suas dimensões trazem mais significados para a aprendizagem. Para a fundamentação teórica fez-se necessário buscar autores que tratam do assunto dessa pesquisa, tais como: Brougère, Kishimoto, Dornelles, Piaget, Ferreiro, Freire, Vygotsky, Wajskop, Huizinga, entre outros. Para a escolha metodológica temos os estudos de: Mynaio, Pádua, Ludke, André entre outros. Foram realizadas observações com algumas crianças em sala de aula, onde se trabalhavam atividades lúdicas, jogos e brincadeiras pedagógicas. Com embasamento nas observações e pesquisas bibliográficas realizadas, podemos relatar que os jogos e brincadeiras tem um papel fundamental no processo de alfabetização de crianças, elas aprendem de uma forma prazerosa, pois aprendem através daquilo que gostam de fazer e que o professor precisa adotar praticas educativas que instiguem as crianças, estabelecendo assim um vinculo entre crianças, o brincar e o aprender.
Palavras-chave: Alfabetização. Jogos. Brincadeiras. Lúdico.
Abstract
This article aims to determine the contribution of games and activities in literacy, promoting integration among children aged six (6) and seven (7) years as well as literature searches. The objectives of this research are summarized in reflecting on the contributions of fun and games in the literacy of children, find out how you can teach literacy through play and how its dimensions bring more meaning to learning. For the theoretical foundation it was necessary to seek authors dealing with the subject of this research, such as: Brougère, Kishimoto, Dornelles, Piaget, Blacksmith, Freire, Vygotsky, Wajskop, Huizinga, among others. For methodological choice we have the studies: Mynaio, Padua, Ludke, André and others. Observations were carried out with some kids in the classroom, where he worked recreational activities, games and educational games. With basis on the observations and literature searches conducted, we can report that the fun and games have a key role in children's literacy process, they learn in a pleasurable way, they learn through what they like to do and the teacher must adopt educational practices that encourage children, thereby establishing a link between children, play and learning.
Keywords: Literacy. Games. Play. Playful.
1. Introdução
Este artigo busca refletir sobre as contribuições dos jogos e brincadeiras na alfabetização de crianças. Descobrir como é possível educar através do lúdico e como suas dimensões trazem mais significados para a aprendizagem. A criança nessa fase precisa se movimentar, brincar, porque as brincadeiras fazem parte de sua infância. Sendo assim, esse artigo consiste em analisar as contribuições que os jogos e brincadeiras trazem para a alfabetização da criança sendo esse o objetivo geral da pesquisa.
Como professora, pedagoga e alfabetizadora, sempre gostei de apresentar aos meus alunos em sala de aula, atividades desenvolvidas através de jogos e brincadeiras, e a partir dai comecei a observar a aprendizagem dos mesmos quando se utiliza dessa metodologia. Através disso buscou-se, observar, aplicar e questionar, sobre a aplicação do lúdico em sala de aula, da aceitação das crianças quanto a essa forma de ensinar, bem como os recursos utilizados e o aproveitamento das atividades.
Com o intuito de responder minhas duvidas, observei algumas crianças durante um período de 6 (seis) meses, me colocando como observadora e participante dos momentos lúdicos aplicados em sala, durante esse período apliquei atividades com jogos e brincadeiras para que assim pudesse sanar minhas curiosidades.
Visando que a criança brinca/aprende ao mesmo tempo, Wajskop (1997. p.33) nos coloca que:
É na situação do brincar, que as crianças podem se colocar desafios e questões além de seu comportamento diário, levantando hipóteses na tentativa de compreender os problemas que lhes são propostos pelas pessoas e pela realidade com a qual interagem. Quando brincam, ao mesmo tempo em que desenvolvem sua imaginação, as crianças podem construir relações reais entre elas e elaborar regras de organização e convivência. [...]
Podemos perceber que as crianças quando brincam ao mesmo tempo em que estão imaginando cenários, lugares, elas estão criando suas próprias regras, regras essas impostas por elas, e que isso, como Wajskop nos coloca muito bem, faz com que saiam do seu mundo diário, de convivência, e se tornam sujeitos de sua própria imaginação.
Compreendemos que as brincadeiras e os jogos são fundamentais para o desenvolvimento da criança, não só no desenvolvimento físico, mas também no desenvolvimento de aprendizagens, na descoberta de um mundo cheio de prazeres, e através do lúdico podemos descobrir muito sobre as crianças, sua vida, e seus anseios. A criança quando brinca ou joga se envolve, pois esta fazendo algo que gosta e que sente prazer. Através do lúdico ela aprende sem perceber, “quando se brinca se aprende antes de tudo a brincar”. (KISHIMOTO, 2002, P. 23). Quando brinca, a criança imagina um mundo só seu, um mundo onde tudo se pode construir.
Conforme Batista, Moreno e Paschoal (2000, p. 110), concordo que:
Os jogos, brinquedos e brincadeiras são atividades fundamentais da infância. O brinquedo pode favorecer a imaginação, a confiança e a curiosidade, proporciona a socialização, desenvolvimento da linguagem, do pensamento, da criatividade e da concentração.
Quando bem trabalhado em sala de aula, o lúdico pode ser um auxilio para os professores durante a aplicação de conteúdos programáticos, pois a criança aprende com mais facilidade e passa a gostar de aprender. Quando participa de brincadeiras, a criança interage, se solta, ficando mais fácil sua formação perante uma sociedade, aprende a trabalhar em grupos, as regras, a cooperação, a socialização e até mesmo a competitividade, elas experimentam novas situações e descobrem até onde são capazes de chegar.
Nos dias de hoje percebemos que as escolas estão buscando ensinar através de formas diferenciadas, buscando outras saídas para que as crianças fixem melhor os conhecimentos adquiridos durante a alfabetização, proporcionando assim uma forma divertida e gostosa de aprender, de sair da rotina de sala de aula e buscar novas aventuras.
Durante essa pesquisa buscamos entender como o lúdico é apresentado as crianças, quais as atividades desenvolvidas em sala de aula durante a alfabetização, perceber como os alunos estão sendo alfabetizados e conhecer as dificuldades encontradas diante da utilização dos jogos em sala de aula.
2. A maneira de alfabetizar
2.1 Alfabetização lúdica: jogos e brincadeiras
Em suas obras Piaget nos fala que os “jogos não são apenas uma forma de passatempo ou entretenimento para gastar a energia das crianças, mas são meios que contribuem e enriquecem o desenvolvimento intelectual da criança, fazendo com que elas fiquem mais soltas e possam se tornar cidadãos críticos e construtivos”. (ZEILINGER, 2010).
Segundo Piaget, citado por Almeida (1995, p. 29 a 38), existe as fases de desenvolvimento psicogenético da criança, que são elas:
Fase Intuitiva – dos 04 (quatro) aos 06 (seis) anos, nessa fase as crianças gostam de jogos em que seu corpo esta em movimento. É a fase em que a criança imita tudo e tudo quer saber. Reúne-se com outras crianças para brincar, mas agem sem observar regras, no jogo todas ganham e todas perdem. A participação do adulto é importante para a criança. É fundamental que a família e a pré-escola proporcionem um ambiente rico em informações que possam estimular o desenvolvimento, e nunca forçá-la a assimilar nada além daquilo que é capaz de fazer naturalmente e com prazer. (Almeida, 1995, p. 29 a 38).
Nessa fase, a professora tem um papel fundamental na aprendizagem da criança, como Piaget nos fala, nunca se deve forçar uma criança, e sim deixá-la livre para que sua aprendizagem seja natural, deve-se sim contribuir para essa aprendizagem, é através dos jogos e brincadeiras que as crianças com essa idade aprendem mais facilmente e assimilam o conteúdo, elas adoram jogos onde saem da rotina da sala de aula, onde possam se movimentar livremente e descobrir seu corpo e seus movimentos.
Não é somente na fase de alfabetização que a criança necessita ter contato com os jogos pedagógicos e com as brincadeiras, mas desde bebe, ela necessita descobrir seu corpo e nada melhor que as brincadeiras e os brinquedos para realizarem essa tarefa. A família também tem um papel fundamental e indispensável para o desenvolvimento da criança e precisa entender que ela necessita se movimentar e se descobrir.
Fase da Operação Concreta – 6 (seis) aos 12 (dose) anos aproximadamente. Fase escolar em que a criança incorpora os conhecimentos tem consciência de seus atos e desperta para o mundo em cooperação com seus semelhantes. As brincadeiras, a pratica esportiva, os jogos, e os brinquedos, aparecem sempre em forma de interação social, munido de regras. A presença do adulto, pais e professores, constitui condições de liberdade, possibilidades de segurança e de enriquecimento. A escola representa a essência de sua formação, nela o aluno se educa e incorpora conhecimentos novos, os jogos tornam-se atividades sérias. (Almeida, 1995, p. 29 a 38).
A partir dessa idade, percebe-se a existência e a aceitação de regras, é a partir daqui que se aplica jogos e brincadeiras com regras e limites, deve-se impor para que se transformem em cidadãos críticos e que possam se defender perante uma sociedade, perante uma vida cheia de desafios onde tudo se resume a regras e limites. Muitas crianças não aceitam essas regras e limites impostos pelos adultos, portanto, deve-se ter muito cuidado em como isso será repassado a elas.
Através dos jogos e brincadeiras, elas aprendem e se comportam, aprendem regras e limites e na maioria das vezes nem percebem que isso esta lhes sendo imposto, e isso os auxilia muito na formação da concepção de cidadãos.
Seguindo o pensamento de Huizinga (2007, p.33):
[...] o jogo é uma atividade ou ocupação voluntaria, exercida dentro de certos e determinados limites de tempo e de espaço, segundo regras livremente consentidas, mas absolutamente obrigatórias, dotado de um fim em si mesmo, acompanhado de um sentimento de tensão e de alegria e de uma consciência de ser diferente da vida cotidiana [...].
Podemos afirmar que o jogo vem a ser uma atividade estruturada e organizada, pois possui regras, objetivos e limites, que são impostos por um determinado sujeito.
A criança quando brinca ou joga, cria um mundo imaginário, cheio de encantos e encantamentos, porém, um mundo simbólico, cheio de sentidos e significações, onde tudo que se imagina pode se tornar realidade pode-se fazer o imaginário virar real. (ZEILINGER, 2010).
Segundo Vygotsky, citado por Paternost (2005, p.177):
[...] o brinquedo ou o ato de brincar, é um mundo ilusório e imaginário, criado pela criança em idade pré-escolar, no qual seus desejos não realizáveis podem ser, nesse contexto, realizáveis. [..] no jogo, no ato de brincar, a criança cria uma situação imaginaria contendo regras de comportamento, mesmo que não seja um jogo com regras formais pré-estabelecidas, pois, todo jogo com regras contem situações imaginarias [...].
Sendo assim Brougère (1998) nos fala que a brincadeira é uma atividade aprendida, “brincar não é uma dinâmica interna do indivíduo, mas uma atividade dotada de uma significação social precisa que, como outras, necessitam de aprendizagem” (p.20).
Seguindo a linha de pensamento de Zeilinger, 2010:
Se a brincadeira infantil é um importante mecanismo para o desenvolvimento da aprendizagem da criança. Surgiu-me a seguinte pergunta: Se as brincadeiras infantis ajudam no desenvolvimento e aprendizagem da criança, por que alguns educadores não a utilizam em seus planejamentos educativos, mais sim como uma forma de distração? Talvez por exigir cuidados em seu planejamento e aplicação?
Conforme Nicolau nos relata (1988, p. 78), concordo que:
Brincar não constitui perda de tempo, nem é simplesmente uma forma de preencher o tempo [...] o brinquedo possibilita o desenvolvimento integral da criança, já que ela se envolve afetivamente e opera mentalmente, tudo isso de maneira envolvente, em que a criança imagina, constrói conhecimento e cria alternativas para resolver os imprevistos que surgem no ato de brincar.
O ato de jogar e brincar é antigo. Segundo nos apresenta WAJSKOP, 1997 “Desde os primórdios da educação greco-romana, com base nas ideias de Platão e Aristóteles, utilizava-se o brinquedo na educação. Associando a ideia de estudo ao prazer, Platão sugeria ser, o primeiro, ele mesmo uma forma de brincar”. Talvez tanto quanto o homem, desde os primórdios o jogo já fazia parte do dia a dia dos indivíduos, através da caça, da pesca, do artesanato, da disputa pelo seu território, etc. A atividade de jogar e brincar não esta relacionada somente aos seres humanos, os animais também brincam, um exemplo é o cachorro, que brinca com seu dono ou até mesmo com outros animais, há também aqueles animais silvestres, que ao procurar seus alimentos, seu território, acabam de certa forma brincando, e ao mesmo tempo nutrindo suas necessidades.
2.2 Alfabetização: leitura e escrita
Conforme nos relata Freire (2008, p.19) citado por Zeilinger, 2010, “a alfabetização é a criação ou a montagem da expressão escrita da expressão oral. Esta montagem não pode ser feita pelo educador para ou sobre o alfabetizando. Ai tem ele um momento de sua tarefa criadora”. Em seus escritos nos mostra um exemplo em que tanto o alfabetizador quanto o alfabetizando, ao pegarem um objeto, são capazes de não apenas sentir o objeto, mas também de percebê-lo, dizer o seu nome, escrevê-lo e consequentemente de lê-lo.
Afirma ainda que:
“o fato de o alfabetizando necessitar da ajuda do educador, não significa dever a ajuda do educador anular a sua criatividade e a sua responsabilidade na construção de sua linguagem escrita e na leitura desta linguagem”. (ZEILINGER, 2010).
Portanto podemos perceber que na concepção de Freire, o educador tem um papel fundamental na alfabetização, porém não deve intervir na capacidade de cada individuo, somos capazes de descobrirmos o modo mais fácil e simples de se alfabetizar, seja ele através de visualização, de cópias, de leituras cansativas ou através de atividades lúdicas, como podemos perceber nessa pesquisa.
Segundo Soares (2004), a própria escola cria ideias falsas sobre o termo alfabetização. Para a escola, a criança esta alfabetizada quando ela adquiri conhecimentos, mas a alfabetização deve ser, acima de tudo um processo que leva o ser humano a conquistar melhores condições de vida.
A alfabetização deve levar o ser humano à construção do conhecimento, a ser um cidadão crítico e não apenas um processo pelo qual todos passamos apenas para aprendermos a decodificar números e letras. Hoje não basta apenas ler e escrever, como nos diz Soares (2004, p. 27) “não basta simplesmente saber ler e escrever, dos indivíduos já se requer não apenas o domínio do ler e do escrever, mas também que saibam fazer uso dela incorporando-a a seu viver.”
A alfabetização promove uma vida social mais estável, com ela temos um acesso maior à cultura, mais facilidades em conviver e viver em sociedade, nos tornamos pessoas mais autônomas e precisamos nos tornar pessoas criticas.
As crianças aprendem a ler e escrever até mesmo antes de irem para a escola, muitos pais ensinam as crianças em casa, a escrever seu nome, a contar, a falar, e isso faz parte da alfabetização e tem uma grande contribuição para o desempenho da criança na escola.
Para Emília Ferreiro (2001), existem diferentes níveis estruturais da linguagem escrita, e crianças em fase de aprendizagem e alfabetização se enquadram neles.
Seguindo os níveis estruturais de Emilia Ferreiro, 2001: “No Nível Pré-Silábico - não se busca correspondência com o som, às hipóteses das crianças são estabelecidas em torno do tipo e da quantidade de grafismo. Para escrever seu nome, por exemplo, utilizam uma bola, para desenhar o papai, um quadrado, para escrever o nome da professora, uma outra bola, e assim por diante”.
No primeiro período consegue-se as duas distinções básicas que sustentarão as construções subsequentes: a diferenciação entre marcas gráficas figurativas e as não figurativas [...] A distinção entre desenhar e escrever. Ao desenhar se esta no domínio do icônico; ao escrever se esta fora do icônico [...] Por outro lado as crianças dedicam um grande esforço intelectual na construção de formas de diferenciação entre as escritas [...]. (FERREIRO, 2001. p. 19).
Figura 01: Nível Pré-silábico I. Imagem retirada do livro: Reflexões sobre Alfabetização de Emília Ferreiro. 2001.
Ainda segundo Emilia Ferreiro, 2001: “No Nível Silábico - a criança compreende que as diferenças na representação escrita está relacionada com o "som" das palavras, o que a leva a sentir a necessidade de usar uma forma de grafia para cada som. Utiliza os símbolos gráficos de forma aleatória, usando apenas consoantes, ou apenas vogais. Nesse caso, começam a distinguir os sons, já utilizam para a palavra bola, por exemplo, desenhar duas bolinhas ou então letras aleatórias como no exemplo”.
Figura 02: Nível Silábico. Imagens retiradas do livro: Reflexões sobre Alfabetização de Emília Ferreiro. 2001.
No mesmo pensamento dos níveis estruturais da linguagem escrita, Emilia Ferreiro, 2001, nos relata que: “No Nível Silábico Alfabético, nesse nível já se tem uma compreensão das silabas, começasse a escrever pelos sons, nesse nível as crianças costumam escrever “ksa” ao invés de “casa”, ligam os sons das letras às silabas”.
[...] marca a transição entre os esquemas prévios em via de serem construídos. Quando a criança descobre que a silaba não pode ser considerada como uma unidade, mas que ela é, por sua vez, reanalisável em elementos menores, ingressa no ultimo passo da compreensão do sistema socialmente estabelecido. (FERREIRO, 2001. p. 27).
Figura 03: Nível Silábico Alfabético. Imagens retiradas do livro: Reflexões sobre Alfabetização de Emília Ferreiro. 2001.
E finalizando os níveis estruturais de linguagem escrita, Emilia Ferreiro, 2001, nos atenta que: “No Nível Alfabético, a criança passa a entender que a sílaba não pode ser considerada uma unidade e que pode ser separada em unidades menores, a identificação do som não é garantia da identificação da letra, o que pode gerar as famosas dificuldades ortográficas e que a escrita supõe a necessidade da análise fonética das palavras”.
1.1 Jogos e brincadeiras na alfabetização
[...] A brincadeira é algo que pertence à criança, a infância. Através do brincar a criança experimenta, organiza-se, regulariza-se, constrói normas para si e para o outro. Ela cria e recria, a cada nova brincadeira, o mundo que a cerca. O brincar é uma forma de linguagem que a criança usa para compreender e interagir consigo, com o outro e com o mundo. (DORNELLES, 2001. p.104).
Seguindo o pensamento de Dornelles, houve a necessidade de trabalhar durante as aulas de observação sempre com atividades lúdicas, jogos pedagógicos, brincadeiras e músicas, que instigassem as crianças a criar seu mundo e a conviver com regras, limites e com os outros colegas de sala, buscando sempre a interação, socialização e alfabetização dessas crianças através dessas atividades.
Quando a criança brinca, desperta várias formas de pensar e agir, e através da brincadeira podemos perceber e descobrir dificuldades que a criança possa ter. Com a brincadeira a criança fica livre para sonhar, entrar num mundo de desafios, fantasias, um mundo puro, cheio de imaginação.
Pude notar que as crianças num primeiro momento não entendem as regras, que cada um tem sua vez de jogar, não prestam muita atenção nas explicações, quando se fala em jogos já ficam eufóricas. Por isso, se torna difícil à associação quanto a regras, e também quanto à distribuição de tarefas, não entendem que tudo tem seu tempo, e que trabalhando em grupo tudo seria mais fácil e mais rápido. Porem, depois de muitas explicações e de muitos jogos eles começam a entender, que tudo tem seu tempo e que com a colaboração de todos, podemos fazer brinquedos e jogos onde todos podem brincar.
Os jogos e as brincadeiras durante o processo de alfabetização são fatores que contribuem para o desenvolvimento, tanto escolar como social. Quando proporcionamos algo diferente para as crianças elas se sentem importantes em seu mundo, brincam e aprendem, sem mesmo perceber que através dos jogos elas estão aprendendo a ler, a contar, a escrever e a conviver com seus colegas.
A criança, desde muito cedo, se comunica com o mundo através da brincadeira. Quando exercita seu corpo, brincando com seus pés, mãos, depois começa a andar, descobre seus movimentos, quer desenhar, escrever, pintar, gostam de correr, pular, subir em árvores, passam a explorar seus limites. Todos esses movimentos, desde aquelas brincadeiras que as mães fazem com seus filhos quando bebes, são uma forma de brincar, uma parte da infância da criança. Como nos diz Almeida (1995), “os jogos que as crianças mais gostam são aqueles em que seu corpo está em movimento”.
É lindo ver como as crianças se desenvolvem, como brincam, como aprendem a contar, a ler, a escrever, é muito gratificante para uma professora ver que esta cumprindo com o seu papel quando um aluno chega e fala: “olha professora eu já sei contar até 10”. Isso estimula muito tanto a professora quanto a criança, pois percebe que esta aprendendo, esta se descobrindo.
Não podemos falar de infância sem pensar em como as crianças vivem essa infância, e isso nos lembra de brincadeiras, jogos, socialização, movimento, desenvolvimento.
A criança que brinca se desenvolve com mais facilidade. Quando brinca se envolve totalmente na brincadeira, se empenha em desenvolver as atividades propostas, desenvolve seu pensamento, suas habilidades, seus movimentos. Sente prazer nesse tipo de atividade.
É através dos jogos e brincadeiras que a criança tem sua primeira concepção de mundo, por isso todo educador deve utilizar a força desses recursos para educar e ensinar, através deles a criança se expressa e assimila melhor os conhecimentos, constrói sua realidade dentro de um mundo de fantasias.
Pais, professores e alunos precisam trabalhar juntos. Uma aula mais expositiva, demonstrando, instigando a imaginação das crianças, deixar com que elas façam os trabalhos, chegar a um resultado, tentar, conseguir, lidar com os problemas, resolve-los da melhor forma, sozinhos ou em grupos, isso precisa fazer parte da infância, para que quando adultas possam enfrentar o mundo sabendo lidar com os mais variados problemas e situações.
A criança que brinca com fantasias, traz sempre algo interessante para a realidade. Segundo Brougére (1998) “o jogo nada mais é do que um meio de expressão de fantasias inconscientes, de conteúdos ocultos”.
O sofrimento de muitas pessoas, na atualidade, decorre do fato de que, em suas vidas, os mundos da realidade e da fantasia, do sério e do lúdico, do adulto e da criança isolaram-se uns dos outros [...] (EMERIQUE, 2003. p. 18).
Há professores que não veem o lúdico como uma forma de ensino, existem aqueles que simplesmente reprimem essa forma de aprendizagem e ensino, que não gostam e que também não permitem que as crianças brinquem em sala, existem aqueles que deixam, mas em determinadas situações, como uma forma de passatempo, de recreação e até mesmo de competição. A postura do professor em relação ao lúdico é de fundamental importância para o desenvolvimento da criança.
Brincar não é apenas coisa de criança. A maneira como se joga ou se brinca, expressa como estamos e a maneira como estamos presentes no mundo. Os pais são peças fundamentais no desenvolvimento das crianças, as primeiras brincadeiras e estímulos são dados por eles, e cada criança, de uma forma diferente, necessita desse carinho e desse afeto, que é transmitido através de brincadeiras, para sua convivência no mundo, no futuro.
2. Metodologia
Conforme relatado anteriormente à pesquisa aconteceu na sala de aula onde leciono, observando crianças entre 6 (seis) e 7 (sete) anos de idade, em uma turma de 1º (primeiro) ano do Ensino Fundamental.
A pesquisa iniciou-se quando comecei a pesquisar em livros, revistas, internet e outros meios. Segundo Pádua (2004. p. 55) “[...] a finalidade da Pesquisa Bibliográfica é colocar o pesquisador em contato com o que já se produziu a respeito do seu tema de pesquisa.”
A abordagem é qualitativa, onde interagi com as crianças, realizando trabalhos para que pudesse sanar minhas dúvidas com relação ao assunto tratado.
Na pesquisa qualitativa, ainda é necessária uma interação entre o pesquisador e os autores sociais envolvidos no trabalho. Nesse processo mesmo partindo de planos desiguais ambas as partes buscam uma compreensão mutua. O objetivo prioritário do pesquisador não é ser considerado um igual, mas ser aceito na convivência. (MINAYO, 2003. p. 64).
Por se tratar de uma pesquisa baseada em crianças, os resultados dessa pesquisa não poderão ser os mesmos que em pesquisas feitas anteriormente. Conforme nos diz Joel Martins (2002, p. 51):
As Ciências Humanas não são, portanto, uma análise daquilo que o homem é na sua natureza, mas, antes, porem, uma análise que se estende daquilo que o homem é, na sua positividade (vivendo, falando, trabalhando, envelhecendo e morrendo), para aquilo que habilita este mesmo homem a conhecer o que a vida é, em que consiste a essência do trabalho e das leis, e de que forma ele se habilita ou se torna capaz de falar. (MARTINS, Joel, 2002. p. 51)
A pesquisa se deu através de estudo de caso, onde observei, descrevi e comparei as diversas situações encontradas, com pesquisas e teorias já realizadas anteriormente, podendo assim formar novas concepções e questionamentos para pesquisas futuras.
Conforme Maria Alice H. Martins (2002) nos explica o estudo de caso:
Trata-se de um tipo de pesquisa que tem sempre um forte cunho descritivo. O pesquisador não pretende intervir sobre a situação, mas dá-la a conhecer tal como ela lhe surge. Para tanto, pode valer-se de uma grande variedade de instrumentos e estratégias. No entanto, um estudo de caso não tem que ser meramente descritivo. Pode ter um profundo alcance analítico, pode interrogar a situação. Pode confrontar a situação com outras já conhecidas e com as teorias existentes. Pode ajudar a gerar novas teorias e novas questões para futura investigação. As características ou princípios associados ao estudo de caso se superpõem às características gerais da pesquisa qualitativa. [...] são os estudos de cunho analítico os que podem proporcionar avanço mais significativo do conhecimento.
Conforme Nesbett e Watts, citados por André (2005. p. 47) “o desenvolvimento do estudo de caso possui três fases: exploratória ou de definição dos focos de estudo; fase de coleta de dados ou de delimitação do tema e a fase de análise sistemática dos dados.”
Na fase exploratória defini meu foco de estudo em saber a importância e as contribuições que o lúdico possa trazer para uma melhor alfabetização de crianças com faixa etária entre 6 (seis) e 7 (sete) anos de idade.
Como instrumento de coleta de dados, utilizei-me das observações realizadas e atividades desenvolvidas. Conforme Pádua (2004) nos orienta, as observações são de fundamental importância para a realização da pesquisa, observa-se primeiro, para que depois possa ser feito uma análise para um melhor conhecimento cientifico do caso estudado.
Quando falamos na observação como fonte de dados para a pesquisa, queremos dizer que a partir do momento em que o pesquisador se interessa pelo estudo de um dado aspecto da realidade, a observação espontânea deve ser verificada através da observação sistemática, para que se elabore então o conhecimento cientifico, daquele aspecto do real que se quer conhecer. (PÁDUA, 2004. p. 79).
Durante o período de observação apliquei jogos e brincadeiras com as crianças para que assim pudesse ter um melhor desenvolvimento de minha pesquisa.
Conforme Ludke e André (1986, p.29),
O observador como participante é um papel em que a identidade do pesquisador e os objetivos do estudo são revelados ao grupo pesquisado desde o inicio. Nessa posição, o pesquisador pode ter acesso a uma gama variada de informações, ate mesmo confidenciais, pedindo cooperação ao grupo. Contudo, terá em geral que aceitar o controle do grupo sobre o que será ou não tornado público pela pesquisa.
Conforme Becker (1997, p.47),
O observador participante coleta dados através de sua participação na vida cotidiana do grupo ou organização que estuda. Ele observa as pessoas que esta estudando para ver as situações com que se deparam normalmente e como se comportam Diane delas. Entabula conversação com alguns ou com todos os participantes desta situação e descobre as interpretações que eles têm sobre os acontecimentos que observou.
Seguindo essa linha, a pesquisa se limita a observação participante, pois como citei anteriormente, estive em contato com os sujeitos da pesquisa, conversando e interagido com eles, durante minhas aulas. Foi durante esse período que aconteceram as entrevistas e observações que me deram embasamento para a conclusão da mesma.
3. Considerações finais
Através das observações desenvolvidas constatei que o lúdico é considerado de suma importância tanto para o desenvolvimento quanto para a aprendizagem e alfabetização das crianças. Pude perceber que se busca trabalhar com essas atividades, porém muitas vezes por falta de material e também de tempo não se aplica jogos e brincadeiras.
Percebi ainda que as crianças aprendem com mais facilidade e passam a gostar de aprender, pois, uma atividade que aprecia monótona, passa a ser prazerosa para a criança a partir do momento que se mostra para elas como pode e é gostoso aprender.
Durante o período de observação e de desenvolvimento do artigo, presenciei e apliquei varias atividades lúdicas, e com isso posso dizer que a experiência que tive foi de grande valia, não somente para sanar minhas duvidas, mas também para olhar com outros olhos a educação em si, ser professor é maravilhoso, ensinando através do lúdico, pode-se dizer sim, que as crianças em fase de alfabetização aprendem com mais facilidade, pois elas gostam de brincar, e que os jogos e brincadeiras, não servem apenas para o aprendizado escolar, mas também para a vida da criança num todo, pois as crianças aprendem a se relacionar, a trabalhar em grupos, e a conviver com regras e limites.
É de suma importância repensar em com o lúdico esta sendo apresentado às crianças em sala de aula, e como é importante acrescentar nos planos de aula essas atividades, para que possam ter uma alfabetização diferenciada, algo que prenda a atenção delas e que faça com que se sintam bem no espaço de alfabetização.
Precisamos pensar na Escola como um ambiente em que a criança se sinta bem, onde ela possa adquirir conhecimentos, mas não deixar de ser criança, viver a infância de uma forma lúdica, pois acredito que esse seja o mundo das crianças, um mundo lúdico, cheio de fantasias e imaginações, onde tudo pode acontecer.
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