A Interação Social no Processo de Ensino-aprendizagem: A Importância da Família no Contexto Escolar
Silvana Klein Simon[1]
Tânia Prestes Dias Alberici[2]
Cristina Souza Rodrigues Moraes[3]
Resumo
O presente artigo tem como objetivo analisar a importância da interação social no processo de ensino-aprendizagem. Tem como finalidades específicas compreender as relações de interação e sua relevância no processo de aprendizagem do aluno na busca de reflexões quanto à relação entre família-escola, uma vez que essa passa por discordâncias de responsabilidades e ao cumprimento de sua função, o estudo aborda reflexões que venham auxiliar na resposta a essas angústias. Deste modo, para realizar este trabalho, utilizamos a pesquisa bibliográfica, fundamentada na reflexão de leitura de livros, artigos, revistas e sites, bem como pesquisa de grandes autores referente a este tema. Assim, o estudo proporcionará uma leitura mais consciente acerca da importância da parceria entre ambas interações para fortalecer o desenvolvimento da aprendizagem na criança.
Palavras-chave: Aprendizagem, desenvolvimento, escola, família, interação social.
Abstract
This article aims to analyze the importance of social interaction in the teaching-learning process. Its specific purposes understand the relationships of interaction and its relevance in the student learning process in the search for reflections on the relationship between family-school, since this involves disagreements responsibilities and to fulfill its function, the study addresses reflections that may assist in the response to these anxieties. Thus, to carry out this study, we used the literature, based on reading reflection of books, articles, magazines and websites, as well as great authors of research regarding this topic. Thus, the study will provide a more conscious reading about the importance of partnership between the two interactions to strengthen the development of learning in children.
Keywords: Learning, development, school, family, social interaction.
Introdução
O presente trabalho visa apresentar a contribuição da interação social no processo de ensino-aprendizagem elencando a importância da participação da família no contexto escolar.
Por considerar o ensino um reflexo das interações existentes entre o professor, o aluno, os agentes da escola e a família do educando vimos aprofundar teoricamente que todos possuem os mesmos objetivos de contribuir para a formação, transmissão de valores e conhecimento. Observando que quando esta relação se faz em concordância, o desenvolvimento da criança e o processo de aprendizagem do aluno são refletidos no convívio entre os envolvidos.
A escola sempre exerceu papel importante na sociedade, porém acredita-se que a harmoniosa relação entre família-escola propicia o sucesso escolar, nesse sentido existem muitos desafios para que esta interação aconteça.
Este estudo possibilitará uma melhor compreensão dos fatores que envolvem a criança no ensino-aprendizado, pois a escola recebe o educando com valores pré-adquiridos no seio da família que são complementados ao longo da construção do conhecimento, papel este desempenhado pela escola, além de proporcionar a construção de ambientes colaborativos de aprendizagem.
Nesse sentido, o objetivo primordial deste trabalho é conceituar os papéis de cada um dos envolvidos no processo de aprendizagem, bem como a trajetória na história e como a interação deve ser de parceria e colaboração entre todos os envolvidos como forma de dar mais significado ao ato de educar. Assim, a pesquisa foi realizada utilizando-se o método bibliográfico que por meio de vários conceitos e discussões de autores que tratam sobre o assunto, pode-se chegar a conclusão da grande importância e relevância do tema para a educação.
1 História da família e da infância
Visando compreender um pouco sobre a interação família-escola estaremos recorrendo à História para maior aprofundamento teórico.
De acordo com Ariès (1981), do século XIV à XX a criança na sociedade medieval se misturava aos adultos, até os trajes eram semelhantes. Nesta época não havia um sentimento relacionado à infância da criança, uma “consciência da particularidade infantil, essa consciência que distingue essencialmente a criança do adulto, mesmo jovem”. (ARIÈS, 1981, p. 157).
Segundo o autor, as obras de artes do século X e XI encontradas no período caracterizavam as crianças como homens em miniatura. Por volta do século XII a figurada criança é representada a partir da imagem de Jesus. Foi a partir do século XIII que cenas familiares surgiram. Até o final do século XV predominou os “temas dos anjos, das infâncias santas e suas posteriores evoluções iconográficas”. (idem, 1981, p. 56).
No século XVII surge a moda do retrato da criança, obtida pela família. Ela passa a ser representada sozinha, porém o sentimento mudou. A criança passa a ser representada nos calendários no século XVI e a família torna-se tema da iconografia dos meses.
O sentimento da família, que emerge assim nos séculos XVI – XVII, é inseparável do sentimento da infância [...] o sentimento da família era desconhecido da Idade Média e nasceu nos séculos XV – XVI, para exprimir com um vigor definitivo no século XVII. (ARIÈS, 1981, p. 210-211).
A aprendizagem das crianças entre sete ou nove anos de idade era confiada aos cuidados de outra família, que por sua vez tinha que aprender os serviços domésticos ou outros saberes, visto não existir relação de apego à criança ou qualquer vínculo afetivo. A aprendizagem era vista como afazeres e não com a visão alfabetizadora, preparava-se o indivíduo para a moral social.
O conhecimento era garantido pelo meio da participação da criança no cotidiano dos adultos. A aprendizagem era passada de geração a geração sem a preocupação da aprendizagem escolar.
As pessoas não conservavam as próprias crianças em casa: enviavam-nas as outras famílias, com ou sem contrato, para que elas morassem e começassem suas vidas, ou, nesse novo ambiente aprendessem as maneiras de um cavaleiro ou um ofício, ou mesmo para que frequentassem uma escola e aprendessem as letras latinas. [...] De modo geral, a transmissão do conhecimento de uma geração a outra era garantida pela participação familiar das crianças na vida dos adultos. (ARIÈS, 1981, p. 228-230).
No século XIII, os colégios já existiam, fundados por doadores e era reservado para estudantes pobres e não se ensinavam a neles. A partir do século XV os colégios se tornaram institutos de ensino. As artes passaram a ser ensinadas, não ensinando somente os valores morais. Não havia separação de idade em sala de aula, eram todos misturados. Foi necessário a implantação de um sistema rigoroso onde se impunha uma disciplina para separar a juventude escolar do resto da sociedade.
A partir do século XV, as realidades e os sentimentos da família se transformariam [...], o fato essencial é bastante evidente: a extensão da frequência escolar [...] a educação passou a ser fornecida cada vez mais pela escola [...] Essa evolução correspondeu a uma necessidade nova de rigor moral por parte dos educadores, a uma preocupação de isolar a juventude do mundo sujo dos adultos para mantê-la na inocência primitiva, a um desejo de treiná-la para melhor resistir às tentações dos adultos. Mas ela correspondeu também a uma preocupação dos pais de vigiar seus filhos mais de perto, de ficar mais perto deles e de não abandoná-los mais, mesmo temporariamente, aos cuidados de outra família. (ARIÈS, 1981, p. 231-232).
No século XVII os pais tinham o dever de supervisionar os estudos dos filhos. A família passa a participar da educação de modo diferente da idade média. A valorização da infância, o sentimento da família e a educação escolar seguem juntos na história.
As meninas continuaram a serem educadas conforme prática da Idade Média, onde aprendiam a bordar, cozinhar, costurar, entre outros afazeres. Foi a partir do século XVII início do XIX é que a escolarização se estendeu as meninas.
Os costumes na moradia também se modificaram, a família traz uma “ama” para cuidar de seu filho ao invés de enviá-lo para outra família. As casas passam a ter cômodos; o cuidado com a saúde da criança é mais transparente, sua morte é vista como insubstituível, ou melhor, é mais visível o apego, o que não acontecia na Idade Média.
Hoje nossa sociedade depende e sabe que depende do sucesso de seu sistema educacional [...] A aprendizagem tradicional foi substituída pela escola, uma escola transformada, instrumento de disciplina severa, protegida pela justiça e pela política. O extraordinário desenvolvimento da escola no século XVII foi uma consequência dessa preocupação nova dos pais com a educação das crianças. (ARIÈS, 1981, p. 276-277).
A família aos poucos passa a se interessar e a fazer parte da educação das crianças. Também perceberam que a criança aos sete anos é criança e que não está preparada suficiente para se misturar a vida dos adultos.
2 Relação Família x Escola x Comunidade
Segundo Vasconcellos (1999), a família, a escola e a comunidade são responsáveis pela formação das crianças. A família é o ensino e a aprendizagem, pois são construtores da afetividade, não podendo deixar de destacar que a função de educar é primordialmente dos pais, mas literalmente muitos pais colocam os filhos nas escolas para que os professores cumpram a função de educar e ainda cobram resultados tanto da escola como dos filhos, portanto a integração família e escola são fundamentais para que haja aprendizagem.
Como nos diz a autora (1999, p. 39), a escola tem sim a responsabilidade de transmitir valores educacionais em comunhão com os pais e responsáveis. “O aprendizado é catalisado e estimulado quando se realiza em clima afetivo que permite a motivação e o prazer em atender”.
Neste contexto, a formação em si se constitui dentro da família e da comunidade, nesta relação é que observamos as condutas sociais dos alunos. Neste final de século o isolamento e o egocentrismo estão sendo uma das características do homem, as pessoas não têm tempo para dar atenção necessária aos outros e se agrupam de acordo com seus interesses profissionais, religiosos, culturais, etc. O que se percebe é que a aceitação do eu não é construída pelos pais, quando o indivíduo aprende a se aceitar ele aprende a compartilhar e a lidar com os sentimentos, o respeito, a amizade e solidariedade. “Tudo isto se consegue pelo exemplo de convívio através da Educação que é Complementada pela Escola e pela comunidade” (VASCONCELLOS, 1999, p. 43).
De acordo com a autora a família, a escola e a comunidade são responsáveis pela formação das crianças. É neste conjunto que verificamos a necessidade de compreensão da sociabilidade, pois este contexto reflete na transmissão de valores humanos através dos tempos, tradição, cultura e aprendizagem.
O IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, 2002) conceitua família como o instituições com características diversas, dentre elas, laços de parentesco e normas de relacionamentos que determinam direitos e obrigações de várias espécies. Como a convivência entre os membros pode oscilar em intensidade, as famílias podem variar bastante em composição e organização.
Para muitos autores a família é tida como referência no patamar social para a ordem política e de organização preservada. Neste contexto, Sâmara (1998, p. 07) concorda com essa linha de pensamento: “a família é uma instituição social fundamental, de cujas contribuições dependem todas as outras instituições”.
Nas reflexões de Magda Soares (1997) com relação a uma escola responsável pela aprendizagem e pela igualdade de oportunidade aos familiares do educando, nos diz que os efeitos dessa relação devem contar com uma escola articulada com os interesses voltados para a interação escola/comunidade em favor do desenvolvimento total dos alunos.
2.1 A participação da família no processo de aprendizagem
Os familiares devem estar inseridos no processo educacional. A responsabilidade da família deixa de ser apenas em suprir as necessidades materiais, mas em dialogar, corrigir, participar, dar apoio, oferecer ajuda, atenção e incentivo durante a trajetória escolar.
PARO (1996, p. 22) faz a seguinte reflexão:
Levar o aluno a querer implica um acordo tanto com educadores, fazendo os sujeitos, quanto com os seus pais, trazendo-os para o convívio da escola, mostrando-lhes quão importante é a sua participação e fazendo uma escola pública de acordo com seus interesses de cidadão.
Para o autor a aprendizagem não está somente no ensino em sala de aula, mas no convívio com os agentes da escola e na harmonia existente na família, este conjunto em sintonia participa da formação da criança.
É indispensável que a família se envolva no processo de aprendizagem do educando. A falta de incentivo, diálogo e apoio fazem com que os alunos (filhos) sintam-se inseguros e menos capazes de enfrentar os desafios e obstáculos que surgem na aprendizagem e também na vida. A família participativa propicia condições de segurança e estabilidade no desenvolvimento das suas habilidades e capacidades.
De acordo com Cury (2003, p. 144) “criticar sem antes elogiar obstrui a inteligência, leva o jovem a reagir por instinto, como um animal ameaçado”.
Independente da organização familiar, o importante é ter alguém do convívio do educando interessado e sua vida escolar, encorajá-los sempre para que obtenham progresso.
[...] em famílias desestruturadas, em que o afeto já não é de uso comum, as crianças tornam-se arredias e carentes, com a auto-estima muito baixa. Chegar até elas pode demorar um pouco, mas quando sentem o calor de um sorriso, de um afago, baixam sua guarda e se deixam levar com muita facilidade. (COSTA, 2000, p. 90).
Para Parreira e Maturano (1996, p. 40), “a criança que está enfrentando problemas no aprendizado escolar deve ter os pais como figura de confiança, de apoio, ou seja, pessoas com as quais ela poderá contar quando sentir alguma dificuldade”.
Em muitas famílias, infelizmente ainda possuem casos de grau de instrução baixo ou mesmo inexistente. Também é indiscutível que muitas famílias trabalham o dia todo e não têm muito contato com os filhos, muito menos com a escola, pois o tempo é muito curto visto que a maioria dos familiares trabalha e acaba frequentando rapidamente a escola ou somente quando necessário.
É essencial se reorganizar e conscientizar sobre o tempo dedicado aos filhos, por menor que seja, promover qualidade, carinho, atenção e dedicação para auxiliar o seu desenvolvimento.
Família e escola devem estabelecer objetivos comuns e dividir responsabilidades. Apresentar os deveres dos pais junto às discussões escolares, o projeto adotado pela escola e envolve-las neste processo faz parte da obrigação de ambos “Família e Escola” já que a educação é dever de ambos.
De acordo com Mello (2004), baseando-se nas teorias de Vygotsky o homem é um ser de natureza social que aprende a ser humano com outras pessoas, é um ser histórico-social. Na medida em que a criança aprende a utilizar a cultura vai acumulando experiências em conjunto com as pessoas de seu convívio e vai criando sua inteligência e personalidade.
Conforme Vygotsky, as funções psíquicas humanas, como a linguagem oral, o pensamento, a memória, o controle da própria conduta, a linguagem escrita, o cálculo, antes de se tornarem internas ao indivíduo, precisam ser vivenciadas nas relações entre as pessoas: não se desenvolvem espontaneamente, não existem no indivíduo como uma potencialidade, mas são experimentadas inicialmente sob a forma de atividade interpsíquica (entre pessoas) antes de assumirem a forma de atividade intrapsíquica (dentro da pessoa). (MELLO, 2004, p. 141).
De acordo com a autora, as relações do indivíduo com a cultura são fundamentais para seu desenvolvimento e aprendizagem. “Por isso para Vygotsky o bom ensino é aquele que garante a aprendizagem e impulsiona o desenvolvimento” (p. 145). Nesse sentido o educador tem um papel essencial no processo de desenvolvimento e o processo de aprendizagem é sempre de forma colaborativa.
Segundo Rego (1995), baseando-se nas teorias de Vygotsky afirma que as características humanas são constituídas a partir da interação dialética do homem e seu meio sociocultural, formalizados para atender suas necessidades básicas.
De acordo com a autora, o indivíduo muda de acordo com o próprio comportamento e esta modificação pode influenciar no seu comportamento futuro. Para ela ao abordar a consciência humana como produto da história social se faz necessário compreender as formas especificamente humanas na relação entre dimensão lógica e cultural. “Vygotsky chama atenção para a ação recíproca existente entre o organismo e o meio e atribui especial importância ao fator humano presente no ambiente”. (REGO, 1995, p. 58).
Os adultos procuram atribuir significado à conduta e aos objetos culturais, este comportamento em que a pessoa se insere faz parte das reorganizações do indivíduo, portanto para Vygotsky o desenvolvimento do sujeito humano se dá a partir das interações com o meio social em que vive, ou seja, o desenvolvimento é sempre mediado pelo outro.
Segundo Rego (1995), a aprendizagem possibilita o processo de desenvolvimento, além de ser um aspecto necessário e universal. Muito antes de entrar na escola a criança já construiu uma série de conhecimento do mundo que a cerca, o aprendizado escolar então exerce grande influência no desenvolvimento do indivíduo principalmente na fase em que elas estão em amadurecimento.
De acordo com a autora não podemos deixar de destacar que as influências dos meios externos à escola dificultam a educação como, por exemplo: a classe social, a composição familiar, o ambiente em que vive, a violência e consequentemente no valor da educação. “Portanto, na perspectiva de Vygotsky, construir conhecimentos implica numa ação partilhada, já que é através dos outros que as relações entre sujeito e objeto de conhecimento são estabelecidas”. (REGO, 1995, p. 110).
3 Processos de socialização
Segundo Lenhart (1985), a socialização inclui a participação e comunicação entre os indivíduos e incorpora valores e padrões culturais válidos para todos os membros da sociedade, principalmente no que diz respeito às noções morais.
Como vimos o autor destaca a ação das pessoas mais velhas sobre os mais novos e enfatiza o estilo de vida na diferenciação social. Segundo ele a criança quando nasce possui um potencial psíquico, mas não uma personalidade propriamente dita, o ambiente humano é extremamente variável, por isso o ser humano aprende a lidar com as suas novas emoções e organizam-nas em sentimentos que por sua vez dão origem a atitudes governando o seu comportamento.
De acordo com Lenhart, o indivíduo quando integrado a sociedade tende a refletir sobre os padrões da sociedade, buscando estar em integração e harmonia com o ambiente, mas nem sempre é isto que ocorre, pois, todos temos atitudes e hábitos contraditórios.
Ao mesmo tempo em que a socialização faz do homem um portador de papéis sociais e membro funcional da sociedade, individualiza-o, porque a constituição e a experiência de cada um produzem nele uma constelação única de sentimentos e capacidades. (LENHART, 1985, p. 19).
Segundo o autor as famílias se diferenciam de cultura para cultura e de fase histórica para outra, é o ambiente inicial da criança, portanto a família é o primeiro grupo social onde a criança começa a se socializar.
A família é um dos importantes meios pelos quais a sociedade transmite a sua cultura aos novos membros, que vêm ingressando nela. Cultura é o sistema integrado de modos de pensar, sentir, saber e agir duma sociedade, e sua continuidade é um aspecto indispensável da perpetuação da própria sociedade. (LENHART, 1985, p. 61).
A sociedade segue normas socialmente estabelecidas e impõe obediência às suas normas e os controles difusos exercidos pelo ambiente social devem sua eficácia ao envolvimento da família, “transmissão dos costumes e da moral social dá-se em grande parte por meio da educação e de perpetuação dos padrões de comportamento, reguladores das relações entre esposos e entre pais e filhos”. (LENHART, 1985, p. 45).
A natureza das relações constituídas entre elas e a criança principalmente nos costumes exercidos na sociedade e nos valores e padrões de comportamento existentes na estrutura do sistema social, na medida em que o desenvolvimento da criança e a variedade dos padrões de comportamento em relação a outras pessoas aumentam então a conduta do indivíduo também se diferencia.
Lenhart (1985) enfatiza a importância da participação da criança no meio social, pois assim o contato com o meio lhe ensina as regras impostas pela sociedade. Dedica também a importância afetiva da família considerando ser um arcabouço do caráter e responsável pela formação da personalidade do indivíduo, segundo ele a personalidade se caracteriza por meio da interação social e da incorporação de padrões sociais de comportamento.
Para o autor a escola surge com certo fim social: um veículo de transmissão de valores e costumes, ou seja, o ensino é caracterizado como atividade social de interação entre o professor e os alunos. Os valores existentes na pessoa como atitudes, maneiras de sentir e agir no grupo não são idênticos, o conhecimento só será significativo quando o aluno tiver contato com fatos por ele conhecidos e será o educador responsável pelo processo educativo, estabelecendo uma relação afetiva na comunicação de conhecimentos.
Esta teia de interação adquire estabilidade por um sistema de normas, que vão do regulamento formal aos costumes do convívio dos alunos, e são regidas por um sistema de valores, inerentes às disciplinas estudadas e por outro, pertencente à sociabilidade dos jovens. (LENHART, 1985, p. 87).
De acordo com o autor a escola molda o indivíduo oferecendo conhecimentos e treinamento de habilidades que vão caracterizando as atitudes em relação às matérias de estudo e à vida social. A criança ao ingressar na escola busca formar amizades seletivas na necessidade de se auto afirmar diante dos outros e ser reconhecido pelos outros.
Cada escola é um grupo social, articulado com a sociedade circuncidante por intermédio dos seus componentes humanos. Exerce sua função socializadora, por um lado, pela atuação educativa, vale dizer, intencional, de uma parte dos seus membros sobre outra, mas também, por outro lado, por meio das múltiplas relações espontâneas entre os alunos e entre eles e os adultos. (LENHART, 1985, p. 95).
A interação social só pode ser contínua com a contribuição de cada membro para atingir objetivos entre os participantes. Toda estrutura da escola é condicionada pela sua inserção na sociedade que a criou e a mantém. Segundo o autor as relações entre os professores e os alunos são realmente necessárias além de ser o fato central das atividades, pois o educador se envolve em relações pessoais com os alunos individualmente e com o grupo deles.
Bógus (2007) nos explica como surgiu a implantação das primeiras instituições brasileiras voltadas para o atendimento de criança de zero a dois anos de idade. Foram datadas no século XIX e tinham como objetivo cuidar dos filhos de mães solteiras das camadas sociais mais carentes. Posteriormente, como consequência da pressão dos trabalhadores urbanos, surgiram as creches com o objetivo de atender à necessidade das mães de trabalharem na indústria. A partir de então, as creches passaram a ser vistas como complementação salarial e direito dos trabalhadores. Nas décadas de 1970 e 1980, houve uma intensificação da mobilização da sociedade civil no sentido de buscar a expansão do número de creches, com apoio do movimento feminista e dos movimentos populares dos bairros.
A escola geralmente localiza na comunidade em que se situa, tanto física como socialmente e um grande mantenedor das escolas é o governo e órgãos sociais de outra natureza com o fim de cuidar da educação de seus próprios filhos ou de promover a consecução de determinados ideais pedagógicos, ou seja, tem o intuito de alcançar determinado fim.
[...] a escola é concebida como um ambiente especialmente disposto para que, nele, o aluno possa ativamente formar a sua personalidade, assim mesmo, o professor é o elemento determinante deste todo; é ele quem introduz e organiza os fatores que agirão sobre o aluno e este o tem como orientador. (LENHART, 1985, p. 157).
A Constituição Brasileira de 1988, artigo 205, garante o direito à criança em relação à educação em todos os sentido e deixa claro que:
A educação, direito de todos e dever do “Estado e da Família”, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. (BRASIL, 1988, grifo nosso, p. 163).
É garantido a criança o direito à educação, tanto por parte da família como do Estado, logo a família tem a obrigação de educar seu filho preparando-o para a vida social. A LDB de nº 9394/96 em seu artigo primeiro aborda sobre a função da escola na educação, que diz:
Art. 1º - A educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais.
v 1º Esta lei disciplina a educação escolar, que se desenvolve, “predominantemente”, por meio de ensino, em instituições próprias. (BRASIL, 1996, grifo nosso, p. 01).
Portanto, a família não é isenta dessa educação pelo contrário, a esta cabe educar e acompanhar o desenvolvimento da criança em ambos os sentidos. A função da escola é de ensinar, mediar, instruir conhecimentos morais, atitudinais e/ou científicos.
Segundo Cunha (2003), com base na visão de Piaget, a atividade do educando e a estruturação do ambiente escolar que corresponda às características dos alunos, interesses, personalidades e conhecimentos já adquiridos, o desenvolvimento segue uma variável de indivíduo a indivíduo.
Para o autor, o percurso da sociabilidade é a passagem do egocentrismo humano a um estado de socialização interagindo coletivamente. No início da vida da criança as satisfações são individuais somente mais tarde é que elas se tornam ações refletidas, pensadas e articuladas por meio de parâmetros do grupo social e consiste na aquisição de capacidade de cooperação com os outros.
A interação do sujeito com o objeto e com outros sujeitos é a única fonte do verdadeiro conhecimento e do pleno desenvolvimento psicológico, o que quer dizer compartilhar competências cognitivas, em condições de igualdade com o grupo social para compreender objetivamente a realidade. (CUNHA, 2003, p. 94).
A partir da relação e integração do indivíduo à coletividade, é formada a personalidade e autonomia do mesmo.
Charlot (200,p. 67) nos diz que: “A função central da escola é instruir, mas ela participa da educação e é também um espaço de vida”. A escola passa a abraçar os processos formativos na educação escolar tendo responsabilidades de grande peso como o saber moral, físico e saber científico, assim como a família muitas vezes não colabora e cobra da escola as responsabilidades que também deveriam fazer parte de sua rotina.
O que podemos perceber é que existe a intenção familiar dirigida pela escola, mas muitos pais não conseguem ajudar os filhos no ponto de vista escolar, visam somente em dar apoio, incentivar a criança nos seus deveres escolares, prepara-la para a vida escolar, mas não somente escolarizá-la em um sentido amplo.
Através de uma presença constante, um apoio moral ou afetivo estável a todo instante, a família pode acompanhar a escolaridade da criança em alguma forma (por exemplo, através de um autoritarismo meticuloso ou uma confiança benevolente). Neste caso, a intervenção positiva das famílias, no ponto de vista das práticas escolares, não está voltada essencialmente ao “domínio escolar”, mas a domínios periféricos. (LAHIRE, 1997, p. 26).
De acordo com Patto (1996), o problema do fracasso escolar traz-nos uma visão histórica de reflexão. No Século XIX a escola tinha como função social preparar pequenos grupos de funcionários públicos. Segundo a autora o pobre especializado era respeitado e a escola era colocada como a possibilidade de prestígio para as pessoas carentes.
A autora nos diz ainda que uma das ideias recorrentes “A produção do fracasso escolar” são: determinação hereditária, anormalidade orgânica, cultural, criança problema (vista por sofrer influência do meio e também do afetivo emocional).
Foi, portanto, na convergência de concepções racistas e biológicas sobre o comportamento humano e as desigualdades sociais e de um ideário político liberal que a educação brasileira foi pensada e planejada nos anos que antecedem a existência de uma genuína política educacional no país. Em outras palavras foi no fogo cruzado de preconceitos e estereótipos sociais, cientificamente validados, e do ideal liberal da igualdade de oportunidades que se geraram ideias que interferiram nos rumos da política, da pesquisa e das práticas sociais. (PATTO, 1996, p.85).
Segundo Chalita (2001, p. 22), autor do livro Educação: a solução está no afeto, ressalta o professor como agente do processo educacional e ainda nos diz:
“A alma de qualquer instituição de ensino é o professor. Por mais que se invista na equipagem das escolas, em laboratórios, bibliotecas, anfiteatros, quadras esportivas, piscinas, campos de futebol – sem negar a importância de todo esse instrumental -, tudo isso não se configura mais do que aspectos materiais se comparados ao papel e à importância do professor”.
De acordo com o autor, o professor deve romper suas barreiras, elogiar, abraçar, sorrir, ter emoção humana, produzir a interação na dificuldade ou na facilidade da aprendizagem, trabalhando suas limitações e dos alunos.
Não basta que a escola possua boa intensão no seu projeto, mas para que o mesmo seja eficiente deve ser aceito pelos professores porque é com eles que os alunos têm maior contato. Toda a construção da educação está nas mãos dos professor.
O artigo 13 da LDB (1996, p. 06), inciso VI nos diz:
“Artigo 13 – os docentes incumbir-se-ão de:
I – colaborar com as atividades de articulação da escola com as famílias e a comunidade”.
Toda proposta pedagógica está incumbida no conceito de gestão democrática, o professor deve sempre ajudar na proposta pedagógica da escola, decidir com a comunidade educativa o perfil dos alunos que se quer formar, as metas e os objetivos que se pretendem alcançar, vimos que segundo a LDB o papel do professor está muito além de simples transmissão de saberes,
De acordo com o autor existem dois grupos de crianças, as excluídas e as incluídas pela família. O grupo dos incluídos são assistidos pela família com todo cuidado e afeto necessários para que se desenvolvam plenamente, enquanto que os do grupo dos excluídos são lançados a própria sorte, sem o mínimo de cuidados necessários.
Segundo Rubem Alves (2004), “toda aprendizagem se inicia com uma experiência afetiva”.
Freire (1996) nos confirma essa teoria quando nos diz que um simples gesto do professor pode ser muito mais expressivo na vida de um aluno do que se possa imaginar. Muitas vezes um olhar de admiração, um balançar de cabeça demonstrando algo positivo, ou, por outro lado, um gesto revelando decepção, pode significar muito mais do que palavras proferidas pelo professor.
A comunicação entre família e escola é fundamental porque essas duas instituições precisam uma da outra.
A escola faz um tipo de trabalho, a família outra. Ambas se complementam de forma maravilhosa e incrível para o bem estar e a formação integral de nossas crianças. Mas nem uma e nem outra pode suprir todas as necessidades infantis e juvenis sem ser em conjunto. (ZAGURY, 2002, p. 54).
É difícil a escola suprir as carências deixadas por uma família ausente, mesmo por melhor que seja a escola e os professores, por isso a presença da família é fundamental na vida escolar dos filhos.
O papel da família não deve ser apenas educar, mas se preocupar em auxiliar no processo de ensino. Exigir mais e estar mais próximo da criança, não permitir que ela falte, motivar para que a mesma se interesse pelas atividades escolares e participar das atividades que a escola propõe. Professores e pais devem trabalhar e conjunto, por isso é tão necessário o interesse e a presença constante da família e da comunidade na escola.
Conclusão
Com o presente estudo, buscou-se analisar a contribuição da interação social no processo de ensino aprendizagem, assim, acredita-se que este envolvimento propicia condições de segurança e estabilidade no desenvolvimento da criança nas suas habilidades e capacidades.
O espaço familiar é o primeiro meio de socialização, nele a criança aprende valores e conhecimentos que nortearão sua vida. A escola por sua vez, exerce a função de preparar o indivíduo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.
Assim vimos a importância do convívio da criança no meio social. A família e a escola possuem responsabilidades e deveres no processo de ensino-aprendizagem da criança.
Dessa forma, família e escola devem estabelecer relações de cooperação para auxiliar, incentivar e acompanhar o desenvolvimento pleno da criança. Cabe as duas instituições parceria para produzir um ambiente saudável, de boas relações para que o aprendizado seja produtivo e proporcionar a formação integral do indivíduo.
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[1] Graduada em Pedagogia pela Universidade do Estado de Mato Grosso - UNEMAT. Pós-graduanda em Alfabetização pelo Centro Universitário Barão de Mauá.
[2] Graduada em Pedagogia pela Universidade Noroeste do Paraná - UNOPAR. Pós-graduada em Alfabetização pela Universidade Cidade de São Paulo - UNICID.
[3] Graduada em Pedagogia pela Universidade Federal de Mato Grosso - UFMT.