Buscar artigo ou registro:

Entrelaçamentos Teórico-prático da Avaliação Diagnóstica no Contexto Escolar

Amanda Grandizoli dos Santos[1]

 

Resumo

O presente artigo tem por objetivo estabelecer um diálogo entre as situações concretas vivenciadas no Estágio Supervisionado do Curso de Licenciatura Plena em Pedagogia da UNESPAR – Universidade Estadual do Paraná – Campus de Campo Mourão, na modalidade de Gestão Escolar, realizado em uma escola da Rede Municipal de Ensino de Campo Mourão, compreendendo o mês de Fevereiro de 2014. O estudo que dá origem a este texto tem como questão central de pesquisa a seguinte indagação: quais práticas educativas são produzidas nos espaços escolares que orientam o trabalho docente durante o processo da avaliação diagnóstica? E qual o papel do pedagogo (a) durante o processo avaliativo? O objetivo geral da pesquisa consiste em analisar as práticas educativas produzidas nos espaços escolares e a forma como medeiam o trabalho docente frente ao processo da avaliação diagnóstica e o papel da pedagoga em relação ao processo avaliativo. A pesquisa baseia-se na metodologia histórico-cultural, sendo desenvolvidos com duas professoras em uma turma do 1º ano do Ensino Fundamental Anos Iniciais e também duas Pedagogas do período vespertino da referida escola. Alguns resultados da pesquisa apontam que: (i) as práticas educativas produzidas nos espaços escolares que orientam o trabalho docente durante processo de avaliação diagnóstica partem de situações concretas vivenciadas pelos educandos dentro e fora do contexto escolar; (ii) o papel do pedagogo no processo avaliativo é o de orientar o planejamento, execução, e escrita do relatório final da avaliação diagnóstica, fornecendo materiais e recursos que subsidiem a ação docente do professor (iii) com base nos resultados detectados na avaliação diagnóstica 2014 foi produzido um relatório de sugestão de intervenção pedagógica.

Palavras-Chave: Estágio Supervisionado. Trabalho Docente. Avaliação.

 

Abstract

This article aims to establish a dialogue between the concrete situations experienced in Full Degree Course Supervised Internship in Pedagogy of UNESPAR - State University of Paraná - Campus of Campo Mourao, the School Management, implemented at a school Municipal Network Teaching of Campo Mourao, including the month of February 2014. The study gives rise to this text has as its central research question the following question: which educational practices are produced in school spaces that guide teachers' work during the evaluation process diagnostic? And what is the role of the teacher (a) during the evaluation process? The overall objective of the research is to analyze the educational practices produced in school spaces and how mediate the teaching work against the diagnostic evaluation process and the role of educator in relation to the evaluation process. The research is based on the historical-cultural methodology being developed with two teachers in a class of 1st year of Primary Education Early Years and also two Educationalists the afternoon period of said school. Some results of the survey show that: (i) the educational practices produced in school spaces that guide teachers' work during diagnostic evaluation process start from concrete situations experienced by students in and outside of school; (Ii) the role of the teacher in the evaluation process is to guide the planning, execution, and writing the final report of the diagnostic evaluation, providing materials and resources that support the teaching of teacher action (iii) based on the results detected in the diagnostic evaluation 2014 was produced a report of pedagogical intervention suggestion.

Keywords: Supervised Internship. Teaching Work. Evaluation.

 

Introdução

 

            Estudar uma realidade mediante uma proposta de pesquisa significa mais do que um esforço por parte do pesquisador, no sentido de compreender as bases teórico-metodológica e científico-filosófica. A escrita implica primeiramente em construir o objeto de pesquisa, tendo em vista que este é dotado de uma historicidade e uma coletividade, situados em um tempo e espaço que nos permite analisar, compreende e interpretar determinadas relações sociais, diante do fenômeno que está sendo estudado, problematizando a realidade por meio da pesquisa e, vislumbrando novas práticas e caminhos alternativos a essa realidade.

            A ação docente desenvolvida no estágio vincula-se a disciplina de Estágio Supervisionado, na modalidade de Gestão Escolar e, teve como temática os “Entrelaçamentos Teórico-Prático da Avaliação Diagnóstica no Contexto Escolar”, no qual se buscou analisar as práticas educativas produzidas nos espaços escolares e a forma como medeiam o trabalho docente frente ao processo da Avaliação Diagnóstica e o papel do pedagogo (a) durante o processo avaliativo. Os objetivos específicos consistiram em: (i) analisar as práticas educativas produzidas nos espaços escolares e a forma como mediam o trabalho docente frente ao processo da Avaliação Diagnóstica (ii) compreender qual o papel do pedagogo (a) durante o processo avaliativo; (iii) apontar alguns recursos que auxiliem o professor durante o processo que avaliação diagnóstica.

            A base metodológica ancora-se nos pressupostos da perspectiva histórico-cultural, que revela com base na análise das características que são típicas dos seres humanos, que estas, foram sendo construídas histórica e ontologicamente, por meio das relações que os homens estabeleceram em sociedade para produzir sua existência, além de nos permitir compreender os processos de formação e apropriação dos conceitos científicos das crianças, bem como, o desenvolvimento das funções psicológicas superiores em idade escolar, uma vez que a Avaliação Diagnóstica que acompanhamos foi desenvolvida em uma turma de 1º ano do Ensino Fundamental Anos Iniciais.

 

Caracterizando o estágio desenvolvido na modalidade de gestão escolar

 

            O Estágio Supervisionado na modalidade de Gestão Escolar constitui-se como um dentre os vários componentes curriculares obrigatórios nos cursos de Licenciatura, em especial no curso de Licenciatura Plena em Pedagogia. Dessa maneira, entendemos que o estágio possibilita ao futuro pedagogo (a) apreender em sua essência o objeto de estudo da pedagogia, ou seja, o fenômeno educativo em suas múltiplas linguagens e relações, que se materializam na articulação entre os conhecimentos produzidos na prática social e educativa, assim sendo, o papel do pedagogo em processo de formação inicial é desenvolver através dos estágios habilidades e assumir postura de pesquisador, sendo “[...] investigativa, que envolve a reflexão e a intervenção na vida da escola, dos professores, dos alunos e da sociedade” (PIMENTA, 2004, p.34).

            Nesse sentido, o pedagogo “[...] é um profissional que lida com fatos, estruturas, contextos, situações referentes à prática educativa em suas várias modalidades e manifestações” (LIBÂNEO, 2001, p.117 – grifo do autor). Assim sendo, cabe ao pedagogo em processo de formação inicial, conhecer, investigar, refletir e intervir na vida da escola, em suas várias modalidades e manifestações, sendo uma delas, a gestão escolar.

            As práticas de gestão escolar “[...] dizem respeito às ações de natureza técnico-administrativas e de natureza pedagógico – curricular”. As ações de natureza técnico-administrativas são aquelas vinculadas a legislação escolar e as normas administrativas", e também “[...] os recursos físicos, materiais, didáticos e financeiros; a direção e a administração, incluindo as rotinas administrativas; a secretaria escolar” (LIBÂNEO, 2011, p. 369). Já as ações de natureza pedagógica - curriculares são aquelas vinculadas “[...] à gestão do projeto pedagógico curricular, do currículo, do ensino do desenvolvimento profissional e da avaliação, ou seja, a gestão dos próprios elementos que constituem a natureza da atividade escolar” (LIBÂNEO, 2011, p.372).

            Dessa maneira, o diretor é quem gesta a escola, exercendo a função para qual foi eleito, devendo, portanto prestar contas de suas ações. Ele deve ainda, buscar a participação de toda a comunidade escolar para então, discutir e propor as ações que orientaram e determinam o andamento do processo pedagógico e também da aprendizagem dos alunos. Assim sendo, Libâneo (2011, p. 372) aponta que:

 

O diretor da escola tem atribuições pedagógicas e administrativas próprias, e uma das mais importantes é a de gerir o processo de tomada de decisões por meio de práticas participativas. Em geral ele atua mais diretamente nos aspectos administrativos, delegando os aspectos pedagógico – curriculares a uma coordenação pedagógica (ou outra designação equivalente ao trabalho do pedagogo escolar).

 

            Em relação ao trabalho do pedagogo na escola, Libâneo (2011, p. 373) menciona que este

 

[...] responde pela viabilização do trabalho pedagógico – didático, e por sua integração e articulação com os professores, em função da qualidade de ensino. A coordenação pedagógica tem como principal atribuição a assistência pedagógico – didática aos professores para que cheguem a uma situação ideal de qualidade do ensino (considerando o ideal e o possível), ajudando–os a conceber, construir e administrar situações de aprendizagem adequadas às necessidades educacionais dos alunos.

 

            Assim sendo, no presente artigo, delimitaremos o tema para os processos avaliativos, tendo como foco principal os entrelaçamentos teórico-prático da avaliação diagnóstica no contexto escolar, no qual faremos um relato sobre a experiência vivenciada no estágio desenvolvido na modalidade de gestão escolar.

 

Entrelaçamentos teórico-prático da avaliação diagnóstica no contexto escolar

 

            Partindo dessas premissas iniciais, no inicio do mês de fevereiro de 2014 iniciou-se em uma escola da Rede Municipal de Ensino de Campo Mourão, as investigações a cerca das necessidades da escola onde se realizaria o estágio. O contato inicial com a direção, pedagogas e professores, deu-se através da participação na primeira reunião pedagógica do ano letivo, no qual foram dados os encaminhamentos referentes às “Orientações Básicas Administrativas e Didático-Metodológicas” a equipe docente da escola.

Nas orientações básicas administrativas foram discutidas questões tais como: calendário escolar 2014, cronograma de atividades da escola; calendário cívico; distribuição de painéis; distribuição do trabalho pedagógico. Esclarecimentos a respeito da atribuição de funções das pedagogas, sendo a pedagoga A responsável por cuidar das questões relativas aos alunos e suas famílias, e a pedagoga B responsável pela formação dos professores.

No que se referem as “Orientações Didático-Pedagógicas” acreditamos ser o ponto principal da Reunião Pedagógica, uma vez que revela a função do pedagogo na escola, ou seja,

 

seu trabalho enquanto profissional da educação escolar deve se configurar como mediação entre a organização escolar e o trabalho docente de modo a garantir as condições favoráveis à consecução dos objetivos pedagógicos-políticos da educação escolar (PIMENTA, 1995, p.160).

 

Dessa forma, primeiramente discutiu-se a Avaliação Diagnóstica, e em seguida, foram dados os encaminhamentos para realização da avaliação de 2014, ressaltando os conhecimentos e as habilidades a serem observados na Educação Infantil e no Ensino Fundamental Anos Iniciais – 1º ao 5º ano. As avaliações diagnósticas compreenderam o período de 10 a 21 de Fevereiro de 2014, no qual os professores puderam utilizar diversos recursos que possibilitaram avaliar o nível de desenvolvimento dos alunos.

A mediação entre a organização escolar e o trabalho docente apontado por Pimenta (1995) se materializa no trabalho das pedagogas A e B na medida em que estas elaboraram e entregaram em anexo ao material das “Orientações Básicas Administrativas e Didático-Metodológicas” as orientações para escrita do relatório da avaliação diagnóstica. O material elaborado pelas pedagogas contava também com um texto explicando a importância da avaliação diagnóstica, a orientação para escrita do relatório, além de conter as características do plano de ensino, seguido pelas etapas da elaboração do planejamento e um modelo de planejamento semanal elaborado pelas pedagogas da escola.

Este contato inicial com a escola foi fundamental para diagnosticar as necessidades e elaborar um Plano de Ação para o estágio de Gestão Escolar. Nesse sentido, mediante observação realizada durante reunião pedagógica, verificamos que a necessidade imediata da escola referia-se a Avaliação Diagnóstica. Dessa maneira, buscamos entender a função do pedagogo na escola, a partir de sua ação ao elaborar materiais e orientar as professoras quanto à avaliação diagnóstica e ao planejamento das aulas.

Optamos também por estudar esta temática voltada para a avaliação, porque vivenciamos no contexto escolar diversas práticas avaliativas, algumas com o intuito de examinar o aluno, ou seja, classificá-lo de maneira quantitativa, deixando de lado aquilo que ele não aprendeu; outras práticas avaliativas, ao contrário da primeira descrita, assume um caráter investigativo da vivência escolar do aluno, com o objetivo de intervir para melhorar a qualidade do ensino ofertado pela escola, identificando pontos, tais como, o que e como o aluno aprendeu, bem como, o que ele ainda não aprendeu.

O processo avaliativo é fundamental não só no sentido de verificar o que e como o aluno aprendeu, mas partir das capacidades já desenvolvidas elaborar planejamentos que venham ao encontro da necessidade do educando, também, práticas avaliativas que permitam ao professor se auto avaliar. Essa realidade que permeia o processo avaliativo é vivenciada por todas as instituições escolares no decorrer do ano letivo. Muitos professores, conforme temos acompanhado, encontram dificuldades em realizar a avaliação diagnóstica, principalmente quanto à descrição do parecer.

A avaliação diagnóstica fornece ao professor importantes elementos sobre as características dos alunos, bem como, sobre o seu processo de aprendizagem, sendo a avaliação diagnóstica constituída de uma investigação sobre o processo de desenvolvimento do aluno, que permite ao professor conhecer o que e como o aluno aprendeu, além de verificar no espaço que compreende a sala de aula, quais são os casos de alunos que necessitam de atendimento individual, conforme ressalta Luckesi (2005, p.02)

 

[...] como investigação sobre o desempenho escolar dos estudantes, ela gera um conhecimento sobre o seu estado de aprendizagem e, assim, tanto é importante o que ele aprendeu como o que ele ainda não aprendeu. O que já aprendeu está bem; o que não aprendeu (e necessita de aprender porque essencial) indica a necessidade da intervenção de reorientação [...], até que aprenda.

 

Desta forma, para planejar a nossa ação pedagógica, buscamos primeiramente os subsídios em Pimenta (2004, p.41 – grifo da autora), para compreender o conceito, ou seja,

 

de acordo com o conceito de ação docente, a profissão do educador é uma prática social. Como tantas outras, é uma forma de se intervir na realidade social, no caso por meio da educação que ocorre não só, mas essencialmente, nas instituições de ensino. Isso porque a atividade docente é ao mesmo tempo prática e ação.

 

Dessa maneira, a ação pedagógica desenvolvida contou com pesquisas bibliográficas e estudo sobre a literatura escolhida, participação nas reuniões pedagógicas e, encontros na escola com os professores em sala de aula para acompanhamento da elaboração e aplicação da avaliação diagnóstica. Acompanhamos também o trabalho da pedagoga durante o processo avaliativo e por fim, auxiliamos no processo de análise dos resultados e elaboração do relatório final da avaliação diagnóstica 2014, para então sugerir a intervenção pedagógica de acordo com os resultados detectados na avaliação do 1º ano D de uma escola da Rede Municipal de Ensino de Campo Mourão.

O 1º ano D, no período que compreendeu a avaliação diagnóstica, era composto por 24 alunos, sendo estes, 12 meninas e 12 meninos com faixa etária de 06 anos. Os alunos são em geral, agitados, se movimentam e conversam bastante durante a aula. Alguns apresentavam certa resistência em relação às regras e aos combinados da sala de aula. Interagiam e dialogavam com facilidade com as professoras, apresentando seu ponto de vista, dúvidas e certezas, o que contribui para a resolução de problemas posto pela atividade educativa.

As professoras fazem atendimento coletivo e individual nas carteiras, movimentando-se o tempo todo na sala, observando a forma como os alunos estão resolvendo as atividades propostas e fazendo as intervenções necessárias.

Neste período de desenvolvimento das crianças, a atenção e concentração está em fase de desenvolvimento. De acordo com os estudos de Luria (1981) O desenvolvimento da atenção voluntária na criança se inicia com a aquisição da linguagem oral e somente se completa integralmente na adolescência.

Partindo dessa premissa, entendemos porque as crianças apresentam dificuldade em realizar tarefas que exigem mais tempo de concentração. A atenção voluntária, enquanto uma função psíquica superior, não é algo inato ao ser humano, ela é produto cultural, desenvolvido socialmente na medida em que, homem se relaciona com a natureza e com o próprio homem.

Luria (1991, p.35) explica que a atenção

 

[...] é produto de um desenvolvimento sumamente complexo. As fontes desse desenvolvimento são as formas de comunicação da criança com o adulto, sendo o fator fundamental que assegura a formação da atenção arbitrária representada pela fala, que é inicialmente reforçada por uma ampla atividade prática da criança e em seguida diminui paulatinamente e adquire o caráter de ação interior, que na media o comportamento da criança e assegura a regulação e o controle deste. A formação da atenção arbitrária abre caminho para a compreensão dos mecanismos interiores dessa complexíssima forma de organização de atividade consciente do homem, que desempenha papel decisivo em toda sua vida psíquica.

 

 

A tese de Luria (1991) nos permite defender a importância da mediação do professor no processo de formação da atenção voluntária da criança, na medida em que faz as devidas intervenções no sentido dela dirigir sua atenção para a tarefa a qual deve executar. A atenção e a percepção mantém uma relação dialética na medida em que colaboram para o aumento qualitativo de identificação das informações visuais, assim,

 

a atenção é uma função de importância psicológica ímpar, da qual depende em alto grau a qualidade da percepção e a organização do comportamento. A atenção e a percepção operam em íntima unidade, em uma relação de qualidade recíproca, isto é, a atenção corrobora a acuidade perceptiva tanto quanto no campo perceptual mobiliza a atenção (MARTINS, 2013, p.141).

 

            Vigotski  salienta que:

 

[...] o campo de atenção da criança engloba não uma, mas a totalidade das series de campos perceptivos potenciais que formam estruturas dinâmicas e sucessivas ao longo do tempo.

A possibilidade de combinar elementos dos campos visuais presente e passado (por exemplo o instrumento e o objeto alvo) num único campo de atenção leva, por sua vez, a reconstrução básica de uma outra função fundamental a memória (1991, p.28).

 

Assim a atenção, percepção e memória, sendo que, entende-se por memória

 

[...] o registro, a conservação e a reprodução dos vestígios da experiência anterior, registro esse que dá ao homem a possibilidade de acumular informação e operar com os vestígios da experiência anterior após o desaparecimento dos fenômenos que provocaram tais vestígios (LURIA, 1991, p.39 – grifo do autor)

 

            Tais funções devem ser entendidas como elementos essenciais para que a aprendizagem ocorra. Visto que, a atenção exerce a função de reter as informações na memória, enquanto a percepção faz a relação dos acontecimentos observados no momento presente. Por isso, Vigotski (1991) coloca a atenção como a totalidade dos campos perceptivos da criança, pelo fato de estimular a memória, e esta remeter às lembranças necessárias para que a aprendizagem aconteça

            O gráfico a seguir mostra os resultados obtidos na avaliação diagnóstica 2014, em relação ao perfil da turma, que aponta que apesar da maioria da turma ter atingindo os objetivos em relação às atividades propostas, eles ainda necessitam de atividades direcionadas que estimulem o desenvolvimento da atenção e percepção, uma vez que estão em processo de desenvolvimento das funções psíquicas superiores.

 

GRÁFICO 01 – AVALIAÇÃO DIAGNÓSTICA PERFIL DA TURMA - 1º ano D.

FONTE: Organizado pela autora

 

Os dados do gráfico “Avaliação Diagnóstica – Perfil da Turma” revelam que, em relação à atenção/concentração, de um total de 24 alunos presentes na sala de aula, 50% dos alunos atingiram os objetivos, 33,34% estão em processo de desenvolvimento e 16,66% precisa ser trabalhado. Já a relação professor/aluno e aluno/aluno, todos atingiram os objetivos (100% da turma).

Os dados apresentados pelos professores, referentes ao respeito às normas e as regras mostram que 95,84% da turma atingiram os objetivos, e 4,16% estão em processo de aquisição do conhecimento. Contudo, o período no qual estivemos acompanhando o trabalho docente nos mostrou o inverso, pois não percebemos que haja por parte da turma respeito aos combinados da sala de aula, além do que, eles não esperam a sua vez de falar, levantam o tempo todo para pedir auxílio das professoras, não mantendo assim o foco na atividade proposta.

Martins (1991, p.145) ao explicitar a relação entre a atenção e a concentração menciona que:

 

A intensidade da atenção resulta da delimitação precisa do foco, uma vez que dela advém a possibilidade de direção a dados estímulos em detrimento de outros, que são, então, abstraídos. A concentração e a intensidade têm implicações diretas no volume da atenção, ou seja, na quantidade de objetos apreendidos simultaneamente [...].

 

Luria (1991, p.1) ainda ressalta que “o caráter seletivo da atividade consciente, que é função da atenção, manifesta-se igualmente na nossa percepção, nos processos motores e no pensamento”, em tal passagem, o autor reafirma mais uma vez, a relação entre atenção e percepção.

No Ensino Fundamental Anos Iniciais 1° ano D na disciplina de Língua Portuguesa, foram oferecidas as crianças pequenos textos para que estas pudessem reconhecer e nomear as letras do alfabeto, bem como, realizar a leitura das vogais e das junções.

Durante a realização das atividades, foi avaliado se o aluno sabe escrever o próprio nome, e como ele interage oralmente durante a explicação e correção das atividades. Avaliou-se também a capacidade do educando em organizar as ideias e estabelecer uma sequência lógica dos fatos. Outro aspecto avaliado foi a capacidade de organização espacial e a representação gráfica por meio do desenho.

Abaixo apresentamos os resultados obtidos na avaliação diagnóstica de Língua Portuguesa:

GRÁFICO 02 – AVALIAÇÃO DIAGNÓSTICA LÍNGUA PORTUGUESA.

FONTE: Organizado pela autora.

 

            Os dados referentes a “Avaliação Diagnóstica – Língua Portuguesa” mostram que 8,33% dos alunos não sabem reconhecer e nomear as letras do alfabeto; 4,16% não consegue realizar a leitura das vogais e 100% da turma não faz a leitura das junções. Nos demais critérios, observamos que os alunos obtiveram um desempenho considerável, no entanto, ainda necessitam de intervenção pedagógica planejada e intencional que contribuam para a aprendizagem e o desenvolvimento das funções psíquicas superiores, tais como, percepção consciente, atenção voluntária, memória lógica, linguagem, capacidade de auto regulação do comportamento.

Na disciplina de Matemática – Ensino Fundamental Anos Iniciais – 1º ano, a avaliação diagnóstica compreendeu o esquema corporal como um todo, avaliando a lateralidade, simetria, coordenação motora fina e ampla.

Com relação ao processo de desenvolvimento da criança, as atividades desenvolvidas possibilitaram não só avaliar, mas contribuir para elaboração intencional do pensamento, da linguagem, da comunicação, bem como a compreensão de símbolos que auxiliaram na apropriação dos conceitos, assim sendo

 

todas as funções psicointelectuais superiores aparecem duas vezes no decurso do desenvolvimento da criança: a primeira vez, nas atividades coletivas, nas atividades sociais, ou seja, como funções interpsíquicas; a segunda, nas atividades individuais, como propriedades internas do pensamento da criança, ou seja, como funções intrapsíquicas (VYGOTSKY, 1988, p.114).

 

Nesse sentido, foram oferecidas as crianças, atividades nas quais elas tinham de reconhecer os numerais até 10, em sequência e aleatoriamente, que tornou possível avaliar se o educando possuía a noção de quantidade, e ainda, a relação estabelecida entre os números e a quantidade até 10.

Todas as atividades desenvolvidas possibilitaram a professora avaliar o raciocínio lógico de seus alunos, e também, como grande parte das atividades são para a criança colorir, foi possível verificar se as crianças conhecem as cores primárias e secundárias e as formas geométricas presentes nos desenhos.

Foram oferecidos materiais concretos acessíveis aos alunos, como, por exemplo, lápis de cor que serviram de subsídio para avaliar a noção de adição e subtração. Os resultados obtidos na Avaliação Diagnóstica 2014 na disciplina de Matemática foram:

GRÁFICO 03 – AVALIAÇÃO DIAGNÓSTICA MATEMÁTICA.

FONTE: Organizado pela autora.

 

            Os dados discriminados no gráfico “Avaliação Diagnóstica – Matemática” mostram que em geral os alunos também obtiveram um bom desempenho. Contudo, no que se refere a lateralidade, a observação realizada durante o acompanhamento do trabalho docente das professoras revelou que os mesmos estão desenvolvendo as noções de direita e esquerda, por isso apresentam dificuldade em identificá-la no próprio corpo.

 Notou-se que ao solicitar que levantassem seu braço direito, a percepção em relação ao lado direito é espelhada, ou seja, eles levantam o braço que o colega que está de frente levantou, mostrando assim o braço esquerdo. Outra ação que também nos possibilitou esta observação foi durante um momento em que as professoras os levaram para a quadra poliesportiva e os organizou em duas colunas.

Em um primeiro momento, eles deveriam vir pulando com o pé esquerdo e a mão direita levantada, dar uma volta em torno da professora e retornar andando normalmente com a mão esquerda levantada. Somente um dos 24 alunos conseguiu fazer essa tarefa corretamente. O ocorrido mostrou que nessa idade a criança ainda está desenvolvendo a capacidade de equilíbrio e lateralidade (imagem corporal), com isso, não dominam o conceito de direito e esquerdo.

            Com base nos dados materializados no relatório final da avaliação diagnóstica do 1º ano D, somados os pedidos das professoras, resultaram no nosso último objetivo do projeto que consistia na elaboração de um relatório de sugestão de intervenção pedagógica. É sobre ele que discorreremos a seguir.

 

O relatório de sugestão de intervenção pedagógica

 

            Com o intuito de contribuir e dar um retorno para a escola, a cerca da ação docente desenvolvida no período que compreendeu o estágio, elaboramos com base nos dados obtidos na Avaliação Diagnóstica 2014, um relatório com sugestão de intervenção pedagógica, cujo tema consistiu no Esquema Corporal, o objetivo do relatório era instrumentalizar as educadoras do 1º ano D a respeito das contribuições dos jogos e das brincadeiras para o desenvolvimento das funções psicológicas superiores.

            Esta intervenção parte da necessidade de instrumentalizar as professoras sobre a importância e as contribuições dos jogos e das brincadeiras para o desenvolvimento das funções psicológicas superiores na criança em idade de 6 anos, mesmo estando matriculada no Ensino Fundamental, uma vez que por meio de uma ação docente direcionada, os jogos e as brincadeiras, nesse período, é fundamental no processo de aprendizagem da criança e no desenvolvimento das funções psíquicas superiores.

            Em suma, as atividades propostas têm como objetivo desenvolver a percepção consciente, o ritmo, a coordenação motora fina e ampla, a imaginação, bem como a noção de espaço e tempo. Alguns jogos e brincadeiras propostos objetivam desenvolver o equilíbrio, estimular o raciocínio lógico, desde que sejam planejados intencionalmente, pelo professores, para este fim.

Outras brincadeiras propostas, por sua vez, atuam na quebra de conceitos e paradigmas competitivos, que na maioria das vezes são estimulados na escola, como, por exemplo, na brincadeira “Dança das Cadeiras Cooperativas” ao invés de se tirar uma cadeira e uma crianças ser excluída do jogo, retira -se apenas a cadeira e a criança permanece na brincadeira, sendo que ao parar a música, ele buscará como recurso, para sentar-se, o colo dos demais colegas. Ao final da brincadeira estarão todos sentados no colo uns dos outros. Desta forma, na medida em que os participantes vão se apropriando dos processos cooperativos “[...] vão percebendo que podem se libertar dos velhos, desnecessários e bloqueadores ‘padrões  competitivos’  [...]”,  dentre  eles  podemos  destacar:  “[...]  ficar colado  às  cadeiras  (Visão  de  escassez);  irem  todos  na  mesma  direção  (não  assumir riscos);  ficar  ligado  na  parada  da  música  (preocupação/tensão);  dançar  ‘travado’ (bloqueio  da  espontaneidade);  ter  pressa  para  sentar  (medo  de  perder)” (BREGOLARO, 2008, p.89).

É interessante ressalta que o foco nas tarefas que exigem atenção e concentração vem ao encontro, também, da devolutiva da Avaliação Diagnóstica e orientações metodológicas, feita pela pedagoga da escola, a qual ressaltou que a turma é muito agitada, conversam muito, dificultando a atenção e a concentração nas tarefas propostas. Por isso, os jogos e as brincadeiras contribuirão com aprendizagem e desenvolvimento destas crianças, uma vez que elas serão desafiadas a prestar atenção e se concentrar para conseguir realizar tarefa e atingir os objetivos propostos pelo grupo.

 

Considerações finais

 

            O Estágio Supervisionado na modalidade Gestão Escolar oportunizou contato efetivo com o trabalho docente materializado na Avaliação Diagnóstica, sendo que as práticas educativas produzidas nos espaços escolares que medeiam o trabalho docente frente ao processo da avaliação diagnóstica partem de situações concretas vivenciadas dentro e fora do contexto escolar, na medida em que as práticas educativas produzidas nos espaços escolares têm sua base na prática social, onde os sujeitos produzem sua existência, e fazendo-a produzem conhecimentos. Tal resultado pôde ser observado durante a explicação das atividades avaliativas, na qual as professoras recorriam sempre a exemplos de situações concretas vivenciadas pelos educando, para que estes pudessem compreender o objetivo da atividade.

            Por meio do estágio pudemos vislumbrar caminhos alternativos ao processo avaliativo, inserindo no contexto escolar um processo de quebra de paradigmas referente aos modelos avaliativos, que em sua essência buscavam apenas examinar o aluno e classificá-lo como aprovado ou reprovados. Introduziu-se o conceito da avaliação da aprendizagem, que ao contrário da primeira assume um caráter investigativo, possibilitando ao professor investigar e conhecer a vivencia escolar do aluno, para que então possa empreender sua ação docente, intervindo nos pontos necessários, com objetivo de melhorar a qualidade do ensino ofertado.        É nesse sentido que pudemos conhecer qual o papel do pedagogo na escola, que no caso desse projeto desenvolvido na escola, a figura do pedagogo foi representada pelo trabalho das pedagogas A e B, que mostram que a função do pedagogo na escola pública não se restringe apenas as funções administrativas e organizacionais, e sim, vai além, isto é, sua função é mediar, articular a organizar o trabalho pedagógico da  escola, contribuir na busca de metodologias que subsidiem o trabalho docente, evidenciando a interface teoria e a prática, ou seja, a práxis educativa.

            Chegamos a essa conclusão sobre a função do pedagogo na escola, após acompanhar e analisar o trabalho das profissionais durante o processo avaliativo referente à Avaliação Diagnóstica 2014, materializado na elaboração das “Orientações Básicas Administrativas e Didático-Metodológicas”, material este que continha fundamentação teórica básica necessária para subsidiar a ação docente das professoras durante o processo avaliativo, além de ressaltar a importância da elaboração dos planos de ensino, preocupação está que levou as pedagogas a elaborarem um modelo de plano de aula semanal e outros encaminhamentos. Cada ação proposta foi explicitada e discutida por elas durante a Reunião Pedagógica.

            Além disso, durante o processo avaliativo, as pedagogas se colocaram a disposição das professoras, para tirar as possíveis duvidas sobre os critérios que estavam sendo avaliados, bem como, para juntas, buscarem recursos diversos, para avaliar os alunos, dentre estes recursos, apresentados podemos destacar: dinâmicas de jogos e brincadeiras, atividades escritas, orais e artísticas, observação em diferentes situações e espaços, apresentações, debates, entrevistas, dentre outros. A pedagoga responsável pelos professores auxiliou o trabalho dentro da sala de aula, na avaliação das crianças, o que possibilitou verificar que a função do pedagogo está articulado com o que ocorre em sala de aula, tanto no auxílio  do desenvolvimento das tarefas, bem como, na análise dos resultados.

            Foi possível compreender, também, que a atuação da pedagoga, frente ao processo avaliativo, foi de ler, analisar e entregar a devolutiva das Avaliações Diagnósticas contendo orientações metodológicas a cada professora, sendo que tais orientações foram elaboradas a partir dos resultados detectados no relatório da avaliação feita pelas professoras, de forma individual.

            Na devolutiva da avaliação diagnóstica da turma que acompanhamos, a pedagoga observou a aula das professoras e orientou os encaminhamentos metodológicos, a cada uma delas. No relatório elaborado pela pedagoga, a partir dos dados apresentados no relatório da avaliação diagnóstica dos professores, ela apresentou diversas sugestões de tarefas que podem ser desenvolvidas com as crianças, nas disciplinas de Língua Portuguesa e Matemática e também tarefas envolvendo jogos e brincadeiras para contribuir com a aprendizagem e desenvolvimento de funções as quais as crianças apresentaram defasagem.  Tivemos a oportunidade de participar em todas as etapas de elaboração da devolutiva.

            Finalizamos o Estágio Supervisionado na modalidade de Gestão escolar produzindo, também, um relatório com sugestão de intervenção pedagógica, no qual ressaltamos não só os resultados detectados na avaliação diagnóstica, como também, buscamos atender a relação teoria e prática, como indissociáveis ao mostrar às professoras que os jogos não são apenas passatempos lúdicos, mas que estes, quando desenvolvidos de maneira planejada, com objetivos previamente estabelecidos, tornam-se importantes instrumentos que com a mediação do professor vai promover a aprendizagem e o desenvolvimento das funções psíquicas superiores.

 

REFERÊNCIAS

 

BREGOLATO, Roseli Aparecida. Cultura Corporal do Jogo. V. 4. São Paulo: Ícone, 2008, p. 256.

  

LIBÂNEO, José Carlos. Educação Escolar: políticas, estruturas e organização. 10.ed. São Paulo: Cortez, 2011.

  

______. Que Destino os Educadores Darão à Pedagogia. In: Pedagogia, ciência da educação? Coordenação de Selma Garrido Pimenta. 4.ed. São Paulo: Cortez, 2001. P. 107 a 134.

 

LURIA, A. R. Fundamentos da Neuropsicologia. Tradução de Juarez Aranha Ricardo. Editora da Universidade de São Paulo, 1981.

  

______. Curso de Psicologia Geral. Vol. III. 2.ed. Tradução: Paulo Bezerra. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1991.

  

LUCKESI, Cipriano Carlos. A avaliação da aprendizagem...mais uma vez. Revista ABC Educatio. Nº 46, junho de 2005. Disponível em: http://www.luckesi.com.br/textos/abc_educatio/abceducatio_46_avaliacao_da_aprendizagem_mais_uma_vez.pdf

 

 

MARTINS, Lígia Márcia. O Desenvolvimento do Psiquismo e a Educação Escolar: contribuições à luz da psicologia histórico-cultural e da pedagogia histórico-crítica. Campinas, SP: Autores Associados, 2013.

 

 

PIMENTA, Selma Garrido. O Pedagogo na Escola Pública: uma proposta de atuação a partir da análise crítica da orientação educacional. São Paulo: Edições Loyola, 1995.

 

 ______. Estágio e Docência. São Paulo: Cortez, 2004

  

VIGOTSKI, Lev Semenovich. A formação social da mente: o desenvolvimento dos processos psicológicos superiores. 1991, 4º edição.

  

VYGOTSKY, L.S. et al. Linguagem, desenvolvimento e aprendizagem. São Paulo: Ícone; EDUSP, 1988.

 

______. Lev Semenovich. Psicologia e Pedagogia: bases psicológicas da aprendizagem e desenvolvimento. São Paulo: Centauro, 2005.



[1] Licenciatura Plena em Pedagogia pela UNESPAR – Universidade Estadual do Paraná – Campus de Campo Mourão, e-mail: O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.