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Alfabetização e Letramento: Um Olhar Sobre a Construção da Escrita

Josiane Fátima Zamignan[1]

 

RESUMO

O presente trabalho foi elaborado para conclusão da Pós Graduação em Alfabetização e Letramento cursado pelo Instituto Prominas da Universidade Candido Mendes. Trata-se de uma pesquisa bibliográfica que aborda um breve contexto histórico, conceitos e distinções entre Alfabetização e Letramento, bem e sua importância no processo de construção da escrita. Concluindo com a importância do educador na escolha do método de alfabetização e do importante papel que o letramento exerce no processo de erradicação do analfabetismo funcional no Brasil.

Palavras Chave: Alfabetização. Letramento. Escrita.

 

Abstract

This paper was prepared for completion of the Graduate Literacy and Literacy attended by Prominas Institute of Universidade Candido Mendes. It is a literature that addresses a brief historical context, concepts and distinctions between Literacy and Literacy as well and its importance in the construction process of writing. Concluding with the importance of the educator in the choice of teaching methods and the important role that literacy plays in the process of eradication of functional illiteracy in Brazil.

Keywords: Literacy. Literacy. Writing.

 

Introdução

Ler não é decifrar, escrever não é copiar

(Emília Ferreiro)

Esse trabalho visa apresentar algumas considerações e análises sobre o processo de construção da escrita no processo de alfabetização e letramento. Discutiremos os conceitos de alfabetização e letramento destacando suas principais diferenças para o processo ensino aprendizagem da escrita e desenvolvimento cognitivo do aluno.

É inquestionável a importância que a leitura e a escrita exercem em nossa sociedade, o que tem levado profissionais de diversas área da educação a unirem-se pela busca da compreensão do processo de aquisição das mesmas, visando o desenvolvimento de métodos e procedimentos para prevenção e correção de distúrbios apresentados pelos alunos durante o processo ensino/aprendizagem.

Ao longo da história, a alfabetização tem sido objeto de muitos estudos e pesquisas enfocando principalmente o processo de construção da escrita e da leitura. Neste artigo faremos algumas reflexões sobre a Alfabetização e o Letramento e como ela vem sendo desenvolvida ao longo do tempo.

Este tema tem sido objeto de estudos e pesquisas em especializações por pedagogos e professores atuantes nas séries iniciais, ou não. Os profissionais da educação tem buscado aprimorar-se na matéria para que possam proporcionar à seus alunos uma melhor qualidade no processo ensino/aprendizagem e, assim contribuem para formação de cidadãos com múltiplas habilidades.

Em busca de conhecimentos sobre o tema e, visando à conclusão do trabalho de conclusão da especialização, realizamos pesquisa de forma qualitativa norteando-se em artigos científicos já publicados em meios eletrônicos e estudo bibliográfico sobe o tema. Contudo, não nos aprofundamos, pois o tema é bastante amplo e exigiria um maior tempo de estudo.

 

Desenvolvimento

O trabalho que pretende-se desenvolver são os conceitos de alfabetização e letramento como elementos formadores da escrita e para uma melhor compreensão do tema faremos uma breve explanação do contexto histórico da alfabetização e letramento no Brasil.

 

Alfabetização e Letramento no Brasil

O processo de alfabetização tem sofrido grandes transformações ao longo de sua história passando por crescente evolução. Segundo Carvalho e Mendonça (2006 p.15) “o primeiro censo nacional de 1872, demonstrou que naquele ano o índice de alfabetização era de apenas 17,7% entre pessoas de cinco anos ou mais,” esses índices foram aumentando com o decorrer do tempo progredindo até chegar aos indicativos atuais.

Desde o final do Século XIX, a dificuldade das crianças em aprender a ler e escrever, principalmente nas escolas públicas, proporcionaram debates e reflexões que dera origem a métodos de resolução desses problemas. Com a Proclamação da República o processo de aprendizagem de leitura e escrita ganharam mais forças.

Percebe-se que ao longo do tempo a escola vem se firmando como instituição de aprimoramento das novas gerações, visando o cumprimento dos ideais impostos pelo Estado embasado pela necessidade de se afirmar uma ordem política e social inovadora.

Porém, no final do século XIX e início do século XX as práticas de leitura e escrita ainda era privilégio de poucas pessoas que eram alfabetizados em casa ou nas escolas do império em suas aulas régias conforme afirma Conceição:

Até o final do império, as “aulas régias” ofereciam condições precárias de funcionamento e o ensino dependia muito do empenho dos professores e dos alunos. Para a iniciação do ensino da leitura eram utilizadas as chamadas “cartas de ABC” e os métodos de marcha sintética, ou método sintético (da “parte” para o “todo”); da soletração, partindo dos nomes das letras; fônico (partindo dos sons correspondentes às letras); e da silabação (emissão de sons), partindo das sílabas. (2011. on line)

Em 1876, em Portugal, foi publicada a Cartilha Maternal ou Arte da Leitura, escrita por João de Deus, um poeta português. O conteúdo dessa cartilha ficou conhecido como “método João de Deus” e foi bastante difundido principalmente a partir do início da década de 1880. “O “método João de Deus”, também chamado de “método da palavração”, fundamentava-se nos princípios da linguística moderna da época e consistia em iniciar o ensino da leitura pela palavra, para depois analisá-la a partir dos valores fonéticos”. (Conceição, 2011, online)

O método analítico, que diferentemente dos métodos de marcha sintética (ensino da leitura com a apresentação das letras e seus nomes reunindo-as posteriormente em sílabas) foi instituído na primeira década republicana e orientava que o ensino da leitura deveria ser iniciado pelo todo para depois se analisar as partes que constituem as palavras. Somente no final da década de 1920, o termo “alfabetização” começou a ser utilizado para se referir ao ensino inicial da leitura e da escrita. Conceição afirma ainda que:

...a partir da segunda metade da década de 1920, passa-se a utilizar métodos mistos ou ecléticos, chamados de analítico - sintético, ou vice-versa. Esses métodos se estendem até aproximadamente o final da década de 1970”. Já no início da década de 1980, foi introduzido no Brasil, o pensamento construtivista de alfabetização, fruto das pesquisas de Emília Ferreiro e Ana Teberosky sobre a Psicogênese da Língua Escrita. O Construtivismo não se constitui como um método, mas sim como uma desmetodização em que na verdade, propõe-se uma nova forma de ver a alfabetização, como um mecanismo processual e construtivo com etapas sucessivas e hipotéticas. (2011, online).

Segundo Conceição (2011. online) nessa mesma época, foi constatado um grande número de pessoas “alfabetizadas”, mas consideradas como analfabetos funcionais, que são as pessoas que decodificam os signos linguísticos, mas não conseguem compreender o que leram. Surge então o termo “letramento”. Estar letrado seria então, a capacidade de ler, e escrever e fazendo uso desses conhecimentos em situações reais do dia-a-dia.

Alfabetizar letrando é de fundamental importância, pois garante uma aprendizagem muito mais significativa, afinal como afirma Soares (2004) apud Conceição:

Alfabetizar letrando ou letrar alfabetizando pela integração e pela articulação das várias facetas do processo de aprendizagem inicial da língua escrita é sem dúvida o caminho para superação dos problemas que vimos enfrentando nessa etapa da escolarização; descaminhos serão tentativas de voltar a privilegiar esta ou aquela faceta como se fez no passado, como se faz hoje, sempre resultando no reiterado fracasso da escola brasileira em dar às crianças acesso efetivo ao mundo da escrita. (2011, online).

 

Atualmente vivenciamos uma crise de modelos e os métodos de abordagem tradicional e/ou tecnicista, que já não dão conta do contexto atual e o Construtivismo, que afirma “que as estruturas do conhecimento e da aprendizagem são construídas pelo sujeito mediante sua ação sobre o meio físico e social” (Becker, 2011 p. 14), na maioria das vezes, continua sendo mal interpretado, incompreendido e utilizado de forma equivocada, isso quando utilizado.

 

Conceito de Alfabetização

Segundo o Dicionário Aurélio, “Alfabetização é a ação de alfabetizar, que significa ensinar a ler ou ainda dar instrução primária”. Soares diz que:

...entende-se por alfabetização o ensino/aprendizagem das letras que constituem o alfabeto e as diversas maneiras de utilizá-las, isto é, como por meio das letras do alfabeto poderá se comunicar com a sociedade em geral, sendo considerado o processo de fator fundamental para a comunicação. (1999, online).

Pode-se certificar, que através da alfabetização a população foi e continua sendo capaz de criar e compreender a gramática e suas transformações, afirmando-se ainda que o indivíduo alfabetizado é capaz de realizar diversas atividades, como por exemplo, ele conseguirá ler, compreender, criticar, interpretar entre outras funções que a alfabetização lhes permite atingir.

Carvalho e Mendonça definem alfabetização “como o processo específico e indispensável de apropriação do sistema de escrita, a conquista dos princípios alfabéticos e ortográficos que possibilitam ao aluno ler e escrever com autonomia”.

Souza (online) afirma que:

A alfabetização habilita o indivíduo a desenvolver diferentes métodos de aprendizagem da sua língua podendo então compreender com mais facilidade e também se comunicar e expressar com maior clareza, proporcionando uma maior interação social em que ocorrerá uma transmissão de diferentes conhecimentos e culturas de acordo com cada indivíduo. Ser alfabetizado significa ser um cidadão ativo no crescimento social em todos os aspectos.

Acreditava-se que a criança era iniciada no mundo da leitura somente ao ser alfabetizada, pensamento este ultrapassado pela concepção de letramento, que leva em conta toda a experiência que a criança tem com leitura, antes mesmo de ser capaz de ler os signos escritos. Atualmente, não se considera mais como alfabetizado quem apenas consegue ler e escrever seu nome, mas quem sabe escrever um bilhete simples.

De acordo com tais concepções estar alfabetizado significa saber ler e escrever. Sendo assim, alfabetização é o ato de alfabetizar, ou seja o ato de concretização da leitura e escrita.

 

Conceito de Letramento

Letramento é o processo pelo qual a criança, ou pessoa, desenvolve suas habilidades de escrita e leitura com perfeição, ou ao menos com bastante facilidade, uma pessoa letrada é capaz de associar diversos assuntos distintos, por exemplo, sobre cultura, sociedade, política, economia, tecnologia e outros inúmeros assuntos que estão em contato diário.

Segundo Soares, 2003, “letramento é o estado ou a condição que adquire um grupo social ou um indivíduo como consequência de ter-se apropriado da escrita”, ou seja, o indivíduo que após algum tempo de alfabetizado obteve maior facilidade para desenvolver as práticas de uso das letras.

Contudo, existem pessoas que mesmo sem terem tido o domínio da leitura e escrita conseguiram desenvolvê-las por meio do contato direto diariamente, o que lhes proporcionou uma compreensão e alcance das práticas da leitura e da escrita mesmo sem ter sido alfabetizado. Como bem afirma Carvalho e Mendonça:

É de compreensão razoável, portanto, que o letramento influencie até mesmo culturas e indivíduos que não dominam a escrita, pois se trata de um processo mais amplo do que a alfabetização, embora esteja intimamente relacionado à existência de um código escrito. Assim, culturas ou indivíduos que podem ser considerados ágrafos ou iletrados são somente aqueles que vivem em uma sociedade que não possui, nem sofre, a influência, mesmo que indireta, de um sistema de escrita. Por esta razão, pode-se afirmar que não existe uma relação direta entre escolaridade e letramento, embora a escolarização possibilite uma inserção mais democrática do sujeito nas sociedades letradas. (2006,  p.10).

Souza corrobora esta tese e define o letramento como:

Processo de aprendizado do uso da tecnologia da língua escrita. Isto é, a criança pode utilizar recursos da língua escrita em momentos de fala, mesmo antes de ser alfabetizada. Esse aprendido se dá a partir da convivência dos indivíduos (crianças/adultos, crianças/crianças), com materiais escritos disponíveis - livros, revistas, cartazes, rótulos de embalagens, entre outros -, e com as práticas de leitura e de escrita da sociedade em que se inscrevem. Esse processo acontece pela mediação de uma pessoa mais experiente através dos bens materiais e simbólicos criados em sociedade. (2008, online).

 

Carvalho e Mendonça (2011. p. 19) complementa que o “letramento pode ser definido como o processo de inserção e participação na cultura escrita”, que se inicia quando a criança adquire a prática de leitura de placas, rótulos embalagens e etc., e, se prolonga por toda a vida com o desenvolvimento da prática de leitura.

Souza ainda descreve o letramento de acordo com níveis adquiridos pela criança:

...é determinado pela variedade de gêneros de textos escritos que a criança ou adulto reconhece. A criança que vive em um ambiente em que se lêem livros, jornais, revistas, bulas de remédios, enfim, e qualquer outro tipo de literatura (ou, em que se conversa sobre o que se leu, ou mesmo, em que uns lêem para os outros em voz alta, lêem para a criança enriquecendo com gestos e ilustrações), o nível de letramento será superior ao de uma criança cujos pais não são alfabetizados e não teve o privilégio de conviver com pessoas que pudessem favorecer este contato com o mundo letrado. (2008, online).

Portanto, segundo os conceitos apresentados por Souza (online) letramento decorre das práticas sociais que leituras e escritas exigem nos diferentes contextos que envolvem a compreensão e expressão lógica e verbal. É a função social da escrita. Enquanto que a alfabetização se refere ao desenvolvimento de habilidades da leitura e escrita.

O letramento abrange a capacidade de o sujeito colocar-se como autor, ou seja sujeito do próprio discurso, no que se refere não só a relação com texto escrito, mas também a relação com o texto oral (Carvalho e Mendonça, 2006, p. 10).

 

Conclusão

Este trabalho é um conjunto de ideias que pretendeu mostrar os conceitos de alfabetização e letramento como elementos de formação da escrita.

Através das pesquisas realizadas percebeu-se que o processo de alfabetização passou por transformações ao longa de sua história vindo de um modelo tradicional de alfabetização até o modelo construtivista atualmente aplicado nas escolas.

O estudo proporcionou a percepção de que a aprendizagem da leitura e da escrita deve ser atrelada aos contextos de letramento, percebemos a importância do educador relacionar o contexto social e o cotidiano escolar de modo a levar o aluno a refletir sobre a escrita.

Observamos ainda que, conceito de letramento surge após a constatação pelo censo, do alto índice de pessoas “alfabetizadas”, mas que não conseguiam sequer compreender o que liam. Assim nota-se que o letramento é capacidade de ler, escrever e fazer uso desses conhecimentos em situações cotidianas.

Assim, infere-se que alfabetização e letramento são processos que se diferem muito devido as necessidades e exigências contidas em cada um deles, ser alfabetizado não significa que o indivíduo também é letrado e vice-versa, pois um indivíduo alfabetizado e letrado é aquele que além de conhecer, compreender as letras e as práticas da leitura e escrita é capaz ainda de desenvolver novas formas de compreensão e desenvolvimentos das práticas para que atenda as condições e requisitos que lhes são solicitados na sociedade em a qual convive.

No processo de alfabetização e letramento através de leitura e escrita significativa para o aluno, o educador exerce papel de fundamental importância, pois cabe a ele a adoção de métodos que proporcionem a melhor assimilação da escrita e da leitura.

As perspectivas são que, com as atuais políticas educacionais, a cada dia o índice de pessoas iletradas seja reduzido até que o Brasil chegue a índices próximos de zero, e quiçá possa erradicar o analfabetismo e o analfabetismo funcional das estatísticas nacionais.

 

REFERÊNCIAS

BECKER, Fernando. O Caminho da Aprendizagem em Jean Piaget e Paulo Freire- Da ação a operação. 2. ed. Petrópolis-RJ, Vozes. 2011

 

CARVALHO, Maria Angélica Freire de, e Rosa Helena Mendonça. Prática de Leitura e Escrita.Brasília-DF. Bárbara Bela Editora Gráfica e Papelaria. 2011

 

CONCEIÇÃO, Alexsandro. Um Breve Histórico da Alfabetização e Letramento no Brasil. Publicado em 19 e março de 2011. Disponível em: http://educandoeconversando.blogspot. com.br/2011/03/um-breve-historico-da-alfa betizacao-e. Acesso em 10 de nov de 2013.

 

Educar para Crescer - Guia da Alfabetização. Disponível em <http://educarparacrescer.abril. com.br/alfabetizacao/1/>. acesso em: 20 de nov de 2013.

 

MORTATT ,Maria Rosário Longo. História dos Métodos de Alfabetização no Brasil. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/ Ensfund/alf_mortattihisttextalfbbr.pdf. Acesso em 05 de nov de 2013.

 

SOARES, Magda. Alfabetização e Letramento: Caminhos e Descaminhos. Disponível em: http://www.acervodigital.unesp.br/bitstream/123456789/40142/1/01d16t07.pdf. acesso em 15 de nov de 2013.

 

________, Magda. O que é letramento e alfabetização. Publicado em janeiro de 1999.

 

SOARES, Magda Becker. Alfabetização e letramento. São Paulo: Contexto, 2003.

 

________, Magda Becker. "Letramento e alfabetização: as muitas facetas." apresentado em 05/08/2003 e publicado em 2006. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rbedu/ n25/ n25a01.pdf/ Acesso em 10 de nov 2013.

 

SOUZA, Vivi. Letramento e alfabetização. Diponível em: http://letramentoealfabetizacao .blogspot.com.br/2008/08/letramento-e-alfabe tizao.html. Acesso em 10 de nov de 2013.

 

http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/Ensfund/alf_mortattihisttextalfbbr.pdf

 

http://www.slideshare.net/joaomaria/alfabetizao-aspectos-histricos-legais-e-metodolgicos-osmar-de-oliveira



[1] Graduada em Pedagogia pela UNINTER - Centro Universitário de Curitiba-PR e Pós Graduanda em Alfabetização e Letramento pela Universidade Candido Mendes. O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.