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Construindo com Sucata 

Belmira Batista Chaves[1]

Jorge José de Arruda[2]

 

RESUMO

Este projeto busca desenvolver em Filosofia o projeto Construindo com sucata, fazendo com o que antes fosse “lixo” transforme-se em arte. Este artigo é resultado de uma pesquisa bibliográfica sobre a importância do lixo reciclável na criação de brinquedos na aula de filosofia, onde observo a carência desse tipo de atividade com as crianças da escola. Para tanto se inicia um levantamento teórico dos autores ALMEIDA (2004), MACHADO (1994), OSTROWER (1997), entre outros buscando conscientizar a importância do produto que descarta após ser consumido. Este esboço teórico prioriza a reflexão sobre a importância do ensino de Filosofia, o uso de sucatas na construção de brinquedos e o papel do educador na construção desses materiais. Concluiu-se que o ensino de Filosofia enquanto disciplina ajuda o pensar sobre o meio ambiente.

Palavras-chave: Brinquedos. Ensino de Filosofia. Meio Ambiente.

 

Abstract

This project seeks to develop in the Philosophy Building project with junk, making what was before "junk" transform yourself into art. This article is the result of a literature survey on the importance of recyclables in creating toys in philosophy class, where I note the lack of this type of activity with schoolchildren. For both starting a theoretical survey of the authors ALMEIDA (2004), AX (1994), Ostrower (1997), among others seeking to raise awareness of the importance of the product rule after being consumed. Outline prioritizes This theoretical reflection on the importance of teaching philosophy, the use of scrap in the toy building and construction teacher role of these materials. It was concluded that the teaching of philosophy as a discipline helps to think about the environment.

Keywords: Toys. Teaching Philosophy. Environment.

 

Introdução

Observando a carência desse tipo de atividade com as crianças da escola, por esse motivo resolvi desenvolver esse trabalho nas aulas de filosofia, onde esses materiais jogados fora proporcionarão a confecção de objetos úteis a sua vida de criança no que diz respeito ao criar e ao brincar. 

Conforme Almeida:

“O brincar é uma necessidade básica e um direito de todos. O brincar é uma experiência humana, rica e complexa. (Almeida. M. T.2000).

Brincar é uma atividade paradoxal: livre, imprevisível e espontânea, mas, ao mesmo tempo, regulamentada. Brincando o indivíduo age como se estivesse em outro tempo e lugar, embora esteja inteiramente conectado com a realidade.

Brincar em um cantinho, sozinho, ou apenas com um amigo pode ser bom, mas também é uma delícia brincar com muitos amigos no recreio ou na sala de aula. A escolha que as crianças fazem acerca dos objetos, espaços e companheiros de brinquedo é um meio fundamental de acesso ao seu universo mental. Suas escolhas contam muito dos seus desejos, medos, capacidades e potencialidades.

A brincadeira é tão importante para o desenvolvimento humano que até mesmo quando ocorrem brigas ela contribui para o crescimento e a aprendizagem. Negociar perspectivas, convencer o opositor, conquistar adesões para uma causa, ceder, abrir mão, lutar por um ponto de vista- tudo isso ensina a viver (Oliveira, Borja Solé e Fortuna, 2010).

A construção de brinquedos com sucata nas aulas de filosofia contribuiu para tornar a brincadeira no momento do recreio mais enriquecida e diversificada.

Trabalhando desta forma com esses materiais recicláveis, possibilitará as crianças um ambiente lúdico e prazeroso e ao mesmo tempo despertará as potencialidades das mesmas, tornando-se seres responsáveis preservando o meio ambiente.   Brincando a criança aprende e assim se desenvolve, extravasando o que sente descarregando tensões aprendendo a respeitar os outros e a participar de grupos.

Partindo desses princípios esse trabalho de pesquisa consiste em como reduzir os materiais jogados fora utilizando e transformando em brinquedos nas mãos das crianças, desenvolvendo sua criatividade e habilidade por fim sobre o uso da sucata e o papel do educador no processo de construção desses materiais.

Portanto, essa pesquisa foi fundamentada por referenciados bibliográficos e junto às crianças do 4º ano, na faixa etária de 09 a 10 anos, da Escola Municipal Selvino Damian Preve, localizada no município de Santa Carmem, no Estado de Mato Grosso.

 

Desenvolvimento

O mundo atualmente vive com um grande número de consumidores muitas vezes sem conhecimento do reaproveitamento do produto que descarta após ser consumido. E com o aumento do consumo, as pessoas produzem cada vez mais lixo.

Nesse sentido, é preciso os indivíduos se conscientizar da importância da preservação do meio ambiente e para que esta tomada de consciência se alastre entre presentes e futuras gerações, é importante que se trabalhe a educação ambiental. (Cascino,2000).

Porém, educação ambiental na escola é hoje o instrumento muito eficaz para se conseguir criar e aplicar formas sustentáveis de interação sociedade-natureza. E, também, que é possível proporcionar às crianças experiências de reaproveitamento de materiais descartáveis, “sucata” como recurso pedagógico desenvolvendo potencialidades e habilidades.

Para isso, deve-se buscar o material alternativo sem preconceitos e muita determinação através da coleta e posteriormente sua seleção e uso.

Costuma-se denominar material alternativo, ou sucata aquele material que é usado e desprezado, descartado pela sociedade.

A escola é o espaço onde o aluno tentará aprender a se integrar diretamente com a sociedade. E é na prática que o aluno vai ter a chance de ter essa experiência ambientalmente correta, para que seja exemplo de um cidadão responsável.

Diante deste contexto acreditamos que a escola possui um papel relevante no que diz respeito a desenvolver o senso crítico dos alunos. Como discorre os Parâmetros Curriculares Nacionais (2001):

O convívio escolar será um fator determinante para a aprendizagem de valores e atitudes. Considerando a escola como um dos ambientes mais imediatos do aluno, relação a elas se darão a partir do próprio cotidiano da vida escolar do aluno. (p.50).

A educação ambiental é um processo participativo, onde a criança assumirá o papel de elemento central do processo de ensino aprendizagem pretendido, participando ativamente na avaliação dos problemas ambientais em busca de soluções.

A relação entre educação ambiental nas escolas e a reciclagem caracteriza uma importância fundamental conscientizando a cidadania e preparando-o para participar ativamente numa sociedade exigente.

E por ser um material facilmente encontrado e com baixo custo financeiro, a sucata representa inúmeras possibilidades quanto ao seu uso dentro das várias modalidades expressivas e criativas existentes na arte.

Por princípio a sucata traz consigo o elemento da transformação: é algo que é usado fora do seu habitual (copos, garrafas plásticas, arcos, tampinhas, caixas de fósforos, vasos de margarina, sacolas plásticas, caixas de papelão, e tantos outros). Mais é necessário um trabalho de coleta e armazenamento adequado desse material para uma melhor utilização do mesmo.

São várias as maneiras de se fazer a coleta do material. Uma delas, é talvez a mais prática, é ficar atento a sucata local, observar os recursos oferecidos pelo bairro ou pela cidade. Numa cidade de litoral, por exemplo, pode-se trabalhar com a sucata extraída da praia: areia, conchas, cascas de coco, folhagens de árvores da região, etc. Numa outra região localizada próxima a uma fábrica de borrachas e plástico disporá mais facilmente desses materiais.

Também existe a possibilidade de incentivar a coleta através de doações de embalagens de remédios, caixas de sapato, de revistas velhas, jornais velhos, carretéis, rolos de papel toalha, e tantos outros materiais que no dia-a-dia não percebemos que poderiam ser utilizados de maneira criativa para produzir e criar outros objetos.

Após a tarefa da coleta da sucata, com toda a sua variedade, a próxima etapa é a seleção do material coletado. Primeiro, a sucata deve ser bem limpa e desinfetada, usando-se água e sabão na maioria dos casos. Feita a desinfecção, faz-se a listagem que poderá ser feita de acordo com a disponibilidade e a criatividade do “artista” que vai manusear o material.

Essa listagem é semelhante a uma biblioteca. Do mesmo modo que se compõe de livros, o sucatário é um acervo de sucata, organizado e classificado. Para montá-lo é preciso ter espaço, desde uma gaveta, apenas, até algumas prateleiras, um armário ou uma salinha. Depois de resgatado e limpo o material, passa-se a organizá-lo, de acordo com o espaço disponível.

Essa proposta requer envolvimento das pessoas interessadas em montar um sucatário: é diferente de ir guardando devagarzinho “sucata caseira“ (caixas de fósforo, palitos de fósforos riscados, rolhas...). De fato, o seu tamanho e a sua variedade e diversidade devem estar de acordo com os objetivos de quem se utilizará.

Sobre a arrumação daquilo que foi coletado, pode ser interessante começar a separar primeiro pelo tipo do material: isopor, papel, madeira, lata, e assim por diante. Surge assim um colorido todo especial no sucatário, e os materiais ali, passam a ser nobres, com a diferença de que são materiais que já trazem em si uma trajetória. O mesmo deve ser sempre bem limpo e esteticamente bonito, tão “belo” quanto um varal de papéis de seda coloridos. Que seja agradável de tocar, que seja estimulante e sugestivo, atraente, e dê vontade de mexer, usar, sentir, pensar e ter ideias para brincar, trabalhar, esburacar e transformar.

Para trabalhar criativamente com sucata é necessário estar num momento criativo de seu trabalho pessoal, podendo usar seu potencial com prazer e humor. Na sua prática deixar ideias fluírem, fazer associações, criar, recriar, reexperimentar, procurar o movimento e a ação. Na realidade, sucata são matéria-prima que deve ser reaproveitada com criatividade na construção de brinquedos, jogos, materiais e objetos de arte.

...é qualquer material que pode ser reaproveitado em trabalhos artesanais. Bueno (2000)

Transformar em arte aquele material que é usado e descartado, ou sobras de lixo urbano que aparentemente não possuem mais utilidade, como também materiais encontrados facilmente na natureza, é um desafio excitante.

No contexto da vida humana, brincar e criar com os materiais de sucata ou com o “lixo” traz certa ironia diante da cidade e da sociedade capitalista e de consumo.

E acreditando que construindo brinquedos com sucatas, possibilita que os educandos reutilizem materiais que seriam destinados ao lixo e possam exercitar sua criatividade e troca de conhecimento.

Isso também vale para o brincar com sucata: que a criança exerça sua capacidade de escolha e que possa utilizar o material que escolheu da maneira que quiser.

A sucata usada é um material muito rico, que não custa nada e que muitas vezes é jogada fora e que poderia ser reaproveitada na construção de brinquedos para as crianças.

E a criança ao usar sua imaginação, surgirá diversas possibilidades de se divertirem com a construção dos brinquedos com sucata.

É interessante o professor estimular a criticidade de seus alunos em tudo o que faz, portanto através da reciclagem será possível trabalhar nesse intuito.

O repertório de brinquedos e brincadeiras de um educador também é altamente revelador de sua proposta de trabalho e da concepção que tem a escola. Afinal, os brinquedos e as brincadeiras contam muitos segredos!

Assim como a interação criança-criança na brincadeira é fundamental, também é importante a interação da criança com o educador. A presença do educador na brincadeira é agregadora e estimulante. Brincando junto, o educador mostra como se brinca, não só porque sugere modos de resolução de problemas e atitudes alternativas em relação aos momentos de tensão.

Sua presença não deve inibir como também não pode ficar ausente. Circulando pela sala e pelo pátio, não para fiscalizar, e sim para acompanhar, partilhar a alegria e os desafios de brincar, o educador mostra-se disponível: é um autêntico “amigo do brinquedo”.

No entanto, a atuação do educador não deve restringir-se à observação e à oferta de brinquedos: ele intervém no brincar, não para apartar brigas e sim para estimular a atividade mental, social e psicomotora dos alunos. Segundo SANTOS:

(...) o educador que busca novos paradigmas para a educação (...) deixa de ser um transmissor de informações e passa a ser um estimulador, um provocador de situações, um animador, um líder, um orientador, um comunicador, um desafiador e um mediador por excelência, na medida em que encoraja o aluno a enfrentar problemas que o motiva a pensar crítica e criativamente soluções. (SANTOS 2010, P.19)

 Ao produzirem esses brinquedos as crianças poderão perceber que muitos materiais são denominados “lixos”, ou seja, inúteis podem ser reutilizados contribuindo para a preservação ambiental, onde proporcionará uma aprendizagem significativa para as crianças.

Trabalhar com esses eixos favoreceram o trabalho do professor, visto que são eixos norteados para sua prática contribuindo para o desenvolvimento das crianças enquanto sujeitos ativos.

Logo, numa sala de artes, surge a oportunidade de voltar energias para a execução de um pequeno projeto, na construção de objetos de sucata, enriquecendo o mundo da criança, favorecendo uma melhora na autoimagem e na autoestima impressionantes.

A utilização da sucata como um recurso pedagógico vem mobilizando a realização do saber fazer e a superação das frustrações próprias do ser que aprende, passando da reflexão à prática e dizendo das possibilidades, aquém é além do reconstruir permanente em educação. Portanto:

...a educação artística deve propiciar o impulso para a ação construtiva e a oportunidade para que cada indivíduo se veja como ser aceitável, em busca de novas harmoniosas organizações, confiante em seus meios de expressão. (Viktor Lowenfeld).

É surpreendente o que uma criança pequena pode aprender brincando com materiais construídos por ela mesma, pois sabe o sucesso que esses materiais ou esses “brinquedos” esses brinquedos-sucata, fazem junto às crianças.

A confecção do brinquedo de sucata é uma brincadeira, pois acontece com a ação da própria criança, permitindo-lhe desvendar seu uso e ressignificá-lo. Faz com que as mesmas valorizem sua participação na confecção dos objetos, promovendo também a interação entre as outras pessoas que participam da construção.

As crianças aproveitam essa sucata, que é um recurso importante, enquanto desenvolve sua criatividade, As mesmas ficam mais motivadas quando monta o seu próprio brinquedo. E o que é melhor; sem gastar muito.

Acreditamos que, ao produzirem o seu próprio brinquedo a criança desenvolverá sua criatividade e habilidade e pensar um mundo menos violento.

  

Conclusão

Desta forma, conclui-se que o tema “construindo com sucata” foi escolhido por oferecer atividades práticas no momento do recreio as crianças, mostrando de forma lúdica a importância de preservar o meio ambiente e ao mesmo tempo de conscientizá-la da importância do reaproveitamento do lixo reciclável na construção de brinquedos.

A sucata pode e deve ser reaproveitada com criatividade na construção de brinquedos, jogos e materiais pedagógicos para serem trabalhados em aula.

Portanto, pertence ao educador à tarefa de propiciar aos seus alunos a estimulação e a criação de brinquedos.

Pois para a criança é mais importante construir do que pegar o brinquedo pronto. É também necessário que este educador tenha conhecimento suficiente para levar o aluno a brincar pelo mundo dos brinquedos através da criação.

Dessa forma constatou-se que algumas crianças já tomaram consciência de que o lixo pode ser reciclado (reaproveitado, reutilizado) transformado em algo útil. Em casa ou na escola as crianças aprendem a dar valor para materiais que visivelmente não serviriam se não para a cesta do lixo e transformam em brinquedos.

 

Referências

Almeida, M.T.P. Jogos divertidos e brinquedos criativos. Petrópolis: Vozes, 2004

 

BUENO, Silveira. Silveira Bueno: minidicionário da língua português. São Paulo FTD, 2000

 

LOPES, Maria Helena. Resgate dos brinquedos de sucata. 2007. Disp. em: http://www.ibmcomu nidade.com.br/kidmart  Acesso em 18 nov.07.

 

Machado, Maria Marcondes. O brinquedo – sucata e a criança. São Paulo, Loyola, 1994.

 

Os jogos e Lúdico na Aprend. Escolar. Lino Macedo, Ana L. Sircoli. Petty, N. C. Passos.

 

O jogo e a Educação Infantil Tizuko Morchida Kashimoto Editora Pioneira.

 

Ostrower, Faya. Criatividade e processos de criação. Rio de Janeiro, Vozes. 1997.



[1] Formada em Pedagogia pela universidade Federal de Mato Grosso, Pós-graduada em Filosofia e Sociologia pela Universidade Cândido Mendes. Trabalha na escola municipal  Selvino Damian Preve na cidade de Santa Carmem, Mato Grosso nas séries inicias do Ensino Fundamental.

[2] Formado em Ciências habilitação Biologia. Trabalha na escola Selvino Damian Preve na cidade de Santa Carmem, Mato Grosso no ensino de ciências do 6 ao 9 anos.