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Dificuldades de Aprendizagem em Leitura e Escrita no Primeiro Ciclo do Ensino Fundamental

Sonia Maria Cadina Elias[1]

Bernadete Hister[2]

 

Resumo

A preocupação básica deste estudo é de refletir e conhecer um pouco sobre as possíveis dificuldades de aprendizagem que ocorrem com os alunos no primeiro ciclo do ensino fundamental. Este artigo tem como objetivo analisar o processo de desenvolvimento da criança e evidenciar suas dificuldades de aprendizagem. Para compreensão da realidade estudada, foram realizadas pesquisas bibliográficas considerando as contribuições de autores como Piaget, (1973), Smith (2001), Ferreiro (1987), Ferreiro e Teberosky (1986), Ellis (1995), Oliveira (1992), dentre outros, procurando enfatizar que o trabalho do educador.    Concluímos que muitas são as possíveis causas das Dificuldades de Aprendizagem e as mais variadas possibilidades de combinações entre as mesmas. Muitas considerações precisam ser feitas por quem decide tratar as dificuldades de aprendizagem, dentre elas, verificar se existem os recursos disponíveis para avaliação e intervenção e qual o tratamento indicado para aquele aluno. Não deixando de mencionar que existem diferentes estágios no tratamento de qualquer dificuldade de aprendizagem. Assim, ressaltamos a importância do comprometimento profissional, da busca pela continuidade de estudos para que possamos obter melhorias no processo educacional, pois acreditamos que a aprendizagem do aluno se constitui da intervenção do educador. Aprendizagem não tem fim, pois somos seres inacabados.  Nunca é tarde para aprendermos.

Palavras-chave: Dificuldades.  Aprendizagens. Leitura. Escrita.

 

Abstract

The primary concern of this study is to reflect and learn about possible learning difficulties that occur with students in the first cycle of primary education. This article aims to analyze the process of child development and demonstrate their learning difficulties. To understand the reality studied, literature searches were performed considering the contributions of authors such as Piaget (1973), Smith (2001), Smith (1987), Smith and Teberosky (1986), Ellis (1995), Oliveira (1992), among other, trying to emphasize that the work of the educator. We conclude that there are many possible causes of Learning Disabilities and the most varied possibilities of combinations between them. Many considerations need to be made by anyone who decides to treat learning disabilities, among them, check if there are available resources for assessment and intervention and what treatment indicated for that student. Not neglecting to mention that there are different stages in the treatment of any learning disability. Thus, we emphasize the importance of professional commitment, the quest for continuing studies so we can get improvements in the educational process, we believe that student learning constitutes the intervention of the educator. Learning has no end, because we are unfinished beings. It is never late to learn.

Keywords: Difficulties. Learning. Reading. Writing.

 

Introdução

Durante o processo de desenvolvimento de uma criança, a aprendizagem é um processo natural. Ao ingressar a escola, muitas crianças têm grandes dificuldades de aprendizagem, principalmente tratando-se dos primeiros anos do ensino fundamental, pois a cobrança é maior com relação ao aprendizado da leitura e à escrita.  Neste contexto o processo de aprendizagem e suas dificuldades precisam ser analisados conforme a realidade de cada aluno, munindo-se de várias estratégias, compreendendo a condição do aluno como um sujeito que tem suas dificuldades em relação ao aprendizado da escrita e da leitura. Sabemos que a construção do conhecimento do ser humano é natural e espontânea.

No entanto, O objetivo desse estudo foi entender o porquê, ao longo do processo de escolarização a criança pode enfrentar vários obstáculos. Um grande contingente de alunos apresenta dificuldades de aprendizagem nas primeiras fases do primeiro ciclo. Essas crianças, na maioria das vezes, são tratadas pelos professores na escola de forma preconceituosa e são discriminadas, sem que se investiguem suas reais habilidades e potencialidades. É sabido que precisamos levar em consideração a realidade de cada criança, de como é o seu o processo de aprendizagem, e consequentemente suas dificuldades, pois “o conhecimento humano é essencialmente coletivo, e a vida social constitui     um dos fatores essenciais da formação e do crescimento dos conhecimentos” (Piaget, 1973 p.17). 

 Tal fato se explica pela importância que tem estas duas atividades na formação de cada individuo já que, além de ser um instrumento de acesso às demais áreas de conhecimento, constituem- se num meio cultural pessoal.

Tal fato se explica pela importância que tem estas duas atividades na formação de cada individuo já que, além de ser um instrumento de acesso às demais áreas de conhecimento, constituem- se num meio cultural pessoal.

Independentemente de qualquer processo de aprendizagem, ser diferente para cada criança com DA, já que é um ser único e individual, a aprendizagem envolve sempre uma interação entre o individuo e a atividade, ou seja, quando alguém aprende qualquer coisa, como ler ou escrever, está sempre em jogo um procedimento de construção e informação entre o aluno e a tarefa desenvolvida, neste caso, a leitura ou a escrita.

O educador deve ter consciência dos problemas das crianças com DA, respeitar os dados de investigação, na medida em que tais dados têm consequências para a sua detecção precoce, certo da importância de criar vínculos através das atividades habituais, construindo e reconstruindo o laço afetivo e consequentemente atingindo o cognitivo, obtendo assim, construções positivas e significativas na aprendizagem.

 

Conceituando Dificuldade de Aprendizagem

Após consultarmos diversos autores, percebemos que existem diferentes denominações/termos, dentre muitos, tais como, Dificuldade de Aprendizagem, Distúrbios da Aprendizagem, deficiência na aprendizagem e Problemas na aprendizagem. Para abranger todas as terminologias aqui usaremos o termo “Dificuldade de Aprendizagem” (DA).

Segundo Smith (2001), Dificuldades de Aprendizagem (DA) são “problemas neurológicos que afetam a capacidade do cérebro para entender, recordar ou comunicar informações”.

 (...) dificuldades de aprendizagem refere-se não a um único distúrbio, mas a uma ampla gama de problemas que podem afetar qualquer área do desempenho acadêmico. Raramente, elas podem ser atribuídas a uma única causa: muitos aspectos diferentes podem prejudicar o funcionamento cerebral, e os problemas psicológicos destas crianças frequentemente são complicados, até certo ponto por seus ambientes domésticos e escolares. (SMITH, 2001, p. 15).

É visto e notório que o aluno, ao entender que se depara com certas dificuldades em sua aprendizagem, geralmente começa a apresentar desapego, distração, torna-se agressivo e irresponsável, dentre outros. A dificuldade origina muito sofrimento e nenhum indivíduo tem baixa produtividade na construção do seu conhecimento por comodismo.

 

Dificuldades de Aprendizagem na Escrita

 FERREIRO (1987), afirma que a idéia da escrita é, para a criança, um objeto do conhecimento social elaborado, pois a alfabetização acontece em ambiente social e para VYGOTSKY (1993), a escrita tem origem no gesto, um signo visual inicial que contém a futura escrita da criança. FERREIRO e TEBEROSKY (1986) complementam que a escrita tem relação com a imagem, o desenho e a fala.

De acordo com FERREIRO (1987), o processo da escrita desenvolve-se em quatro níveis que são; Nível pré-silábico, Nível silábico, Nível silábico-alfabético, Nível alfabético, e, é neste nível que o sujeito já domina a leitura e a escrita. Onde o meio social interfere muito na escrita neste período, pois o contato com a linguagem é que vai retornar numa escrita mais elaborada.

Entretanto ao escrever, a criança estabelece uma relação entre o som, o significado e a palavra impressa, que é o que se escreve. Para que ela se expresse graficamente, a relação existente entre palavra impressa e som, precisa estar automatizada. Ou seja, a criança deve saber ler para poder escrever. A escrita precisa ser ensinada.

Entender o mundo das letras, sobretudo nos centros urbanos, é, para a criança, a possibilidade de começar a utilizar alguns códigos do mundo adulto, bem como a de dar significados consistentes às inúmeras grafias com as quais ela se defronta todos os dias. Sem dúvida é um processo muito rico para a criança e muito envolvente e desafiador para o professor. (SILVA, 1988).

Este caso mostra que há crianças que se encontram defasadas em relação aos demais colegas de classe, ou de idade, em determinadas tarefas, como, por exemplo, na escrita. De maneira geral, essas crianças são classificadas, pelos pais e professores, como não inteligentes, ou lentas. Entretanto, há inúmeros fatores que podem estar causando a dificuldade em escrever corretamente.

O processo da escrita ocorre geralmente em crianças com aproximadamente seis anos de idade. Nessa idade, ela já terá desenvolvido as discriminações visuais e auditivas necessárias para a leitura e a integração visual motora necessária para formar letras. Nessa idade a criança já terá adquirido as funções cognitivas e de linguagem necessárias para selecionar e organizar palavras.

Para Vygotsky (1993), o desenvolvimento da escrita não repete o desenvolvimento da fala, pois a motivação para a escrita é muito pequena pelo fato de a criança não sentir necessidade de escrever. Na fala, por exemplo, a criança nem sempre tem consciência dos sons que emite e, ao mesmo tempo, está inconsciente das operações mentais que executa.

Na escrita, por ser mais complexa, a criança tem que tomar conhecimento da estrutura sonora de cada palavra para reproduzi-la, e, quando formula frases, é necessário também conhecer a sequência das palavras para que haja sentido na escrita.  A escrita exige, portanto, um trabalho consciente, construções mentais e motivação.

No desenvolvimento da escrita, alguns fatores são fundamentais para que esta se aperfeiçoe, como, por exemplo, a prática do exercício. Essa prática é necessária para melhorar os movimentos no manejo do lápis, por exemplo. Consequentemente, a criança que escreve muito produz um grafismo melhor do que aquela que não desenvolve tanto essa atividade.

 

Dificuldades de Aprendizagem na Leitura

Quando se trata de leitura, encontra-se desde o conceito de atribuição de sentido ao que se lê, até a aprendizagem da mesma, ou seja, a alfabetização. Mas, no consenso geral para diferentes autores, ler é, sem nenhuma dúvida, compreender o significado do texto.

Segundo ELLIS (1995), “a leitura não é uma habilidade natural, mas é uma capacidade artificial culturalmente transmitida de uma geração para a próxima”. O processo de compreensão da leitura abrange capacidades como a percepção, a atenção, a memória, o raciocínio, a imaginação, a motivação, o interesse e muitos outros aspectos. 

A aprendizagem da leitura, segundo OLIVEIRA (1992), envolve várias habilidades como as lingüísticas, perceptivas, motoras, cognitivas e, por essa razão, não se pode atribuir a nenhuma delas, isoladamente, a responsabilidade pelas desadaptações escolares. É preciso, portanto, identificar em qual área ela se encontra mais comprometida.

A leitura não é apenas um processo pelo qual as pessoas reproduzem o som de sinais ou símbolos. A leitura dá se quando existe compreensão do que se lê, por meio da interpretação dos sinais escritos.

Este processo inicial da leitura, que envolve a discriminação visual dos símbolos impressos e a associação entre palavra impressa e som é chamado de decodificação e é essencial para que a criança aprenda a ler. Mas, para ler, não basta apenas realizar a decodificação dos símbolos impressos, é necessário que exista também, a compreensão e a análise crítica do material lido (...). Sem a compreensão a leitura deixa de ter interesse e de ser uma atividade motivadora, pois nada tem a dizer ao “leitor”. Na verdade só se pode considerar realmente que uma criança lê quando existe a compreensão. Quando a criança decodifica e não compreende, não se pode afirmar que ela está lendo. (MORAIS, 1986, citado por OLIVEIRA, (1992, p.153)

No entanto, a leitura faz parte de um complexo processo linguístico de desenvolvimento da linguagem. Pois os alunos não contam exclusivamente com o contexto escolar para a construção de conhecimento sobre conteúdos considerados escolares.  A mídia, a família, a igreja, os amigos, são também fontes de influência que incidem sobre o processo de construção de significado desses conteúdos.

 Essas influências sociais normalmente somam-se ao processo de aprendizagem escolar. Porém, muitas vezes, essa mesma influência pode apresentar obstáculos à aprendizagem escolar.

 

Conclusão

Diante do exposto, abordamos as dificuldades de aprendizagem durante o primeiro ciclo do ensino fundamental. Com a intenção de estar contribuindo com a discussão sobre dificuldades de aprendizagem, apresentando algumas das possibilidades de contribuição que foram observadas na prática cotidiana. Desta forma, este trabalho bibliográfico se constitui no início de um estudo que não possui respostas simples.

Entretanto, muitas são as possíveis causas das Dificuldades de Aprendizagem e as mais variadas possibilidades de combinações entre as mesmas.

Muitas considerações precisam ser feitas por quem decide tratar as dificuldades de aprendizagem, dentre elas, verificar se existem os recursos disponíveis para avaliação e intervenção e qual o tratamento indicado para aquele aluno. Não podemos deixar de mencionar que existem diferentes estágios no tratamento de qualquer dificuldade de aprendizagem.

Assim, ressaltamos a importância do comprometimento profissional, da busca pela continuidade de estudos para que possamos obter melhorias no processo educacional, pois acreditamos que a aprendizagem do aluno se constitui da intervenção do educador.

Aprendizagem não tem fim, pois somos seres inacabados.  Nunca é tarde para aprendermos.

           

Referências

ELLIS, A.W. Leitura, escrita e dislexia: uma análise cognitiva. 2. Ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995.

 

FERREIRO, E. Alfabetização em processo. 3ª ed. Tradução de Sara

Cunha Lima, Marisa do Nascimento Paro. São Paulo: Cortez, 1987.

 

FERREIRO, E; TEBEROSKY, A. Psicogênese da língua escrita. Porto Alegre: Artes Médicas, 1986.

 

OLIVEIRA, G.C. Psicomotricidade: um estudo em escolares com dificuldades em leitura e escrita. 1992. Tese (doutorado) – Faculdade de Educação, Universidade Estadual de Campinas. Campinas, São Paulo.

 

 PIAGET, J. (1973) Estudos sociológicos. Rio de Janeiro: Forense.

 

SILVA, M.A.S.S. Construindo a leitura e a escrita: reflexões sobre uma prática alternativa em alfabetização. São

Paulo: Editora Ática, 1988.

 

SMITH, C.; STRICK, L. Dificuldade de Aprendizagem de A a Z: Um guia completo para pais e educadores. Tradução de

Dayse Batista. Porto Alegre: Artmed, 2001.

 

VYGOTSKY, L.S. Pensamento e linguagem. Tradução Jéferson Luiz Camargo. São Paulo: Martins Fontes. 1993.



[1] Professora Pedagoga. Pós-graduada em Psicopedagogia Clínica e Institucional pela Universidade Cândido Mendes. Alfabetizadora em uma Escola da Rede Estadual de Ensino do Estado do Mato Grosso. O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo..

[2] Licenciada em Pedagogia pela UNOPAR. Pós-graduada em Psicopedagogia Clínica e Institucional pela Universidade Cândido Mendes. Alfabetizadora em uma Escola da Rede Estadual de Ensino do Estado de Mato Grosso. O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo..