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A Importância da Afetividade na Relação Professor-Aluno no Processo Ensino Aprendizagem

Bernadete Hister[1]

Sonia Maria Cadina Elias[2]

 

Resumo

O presente artigo fundamenta-se na necessidade de se refletir mais sobre a importância da afetividade na relação professor-aluno no processo ensino-aprendizagem, para a formação de uma sociedade melhor, mais humana e com uma formação voltada para a educação afetiva e emocional. Foram realizados estudos bibliográficos de diferentes teóricos como, Piaget, Wallon, Vygotsky, e outros importantes estudiosos da nossa educação, para compreender melhor a dimensão da relação afetiva e emocional entre professor e aluno no processo ensino-aprendizagem. Através dos estudos realizados preocupamo-nos em apontar que a aprendizagem só ocorre através de um processo emocional e afetivo. Vivemos em função do outro nas relações estabelecidas dia-a-dia, como tudo na vida do ser humano. Percebemos que mesmo compreendendo a necessidade do professor se relacionar bem com os alunos, existem alguns obstáculos e algumas resistências em relação a esta ideia, mas há aqueles, que como nós, tem a preocupação com uma educação afetiva e emocional e que de fato exercem seu papel de educador.

Palavras-chave: Professor. Aluno.  Afetividade. Ensino. Aprendizagem.

 

 

Abstract

This article is based on the need to think more about the importance of affection in the teacher-student in the teaching-learning process for the formation of a better, more humane society and a training focused on affective and emotional education. Bibliographical studies of different theorists such as Piaget, Wallon, Vygotsky, and other important scholars of our education were conducted to better understand the scale of affective and emotional relationship between teacher and student in the teaching-learning process. Through the studies we care to point out that learning only occurs through an emotional and affective process. We live according to other established relationships in day-to-day, as everything in human life. We realized that while understanding the need of the teacher to relate well with students, there are some obstacles and some resistance with regard to this idea, but there are those who, like us, is concerned with an affective and emotional education and who actually exercise their role of educator.

Keywords: Teacher. Student. Affectivity. Education. Learning.

 

Introdução

As emoções estão presentes em todos os momentos de nossa vida, nas relações com objetos e principalmente com o outro, onde se criam laços afetivos. Partindo desse pressuposto, o papel do outro no processo de aprendizagem torna-se fundamental. Consequentemente, a mediação e a qualidade das interações sociais ganham destaque. Com o objetivo de ressaltar a importância da afetividade na relação professor-aluno como fator de interferência no processo de ensino-aprendizagem, e como a afetividade influência no aprendizado, e pode interferir na vida do aluno e do professor. Pois, FREIRE (1992, p.11) posiciona bem essa questão:

“É na fala do educador, no ensinar (intervir, devolver, encaminhar), expressão do seu desejo, casado com o desejo que foi lido, compreendido pelo educando, que ele tece seu ensinar. Ensinar e aprender são movidos pelo desejo e pela paixão”.

Assim, torna-se relevante enfocar especificamente: a educação enquanto atividade essencialmente criadora; a necessidade de uma boa convivência entre professor e aluno; e a importância do diálogo, ficando a necessidade de lançar um alerta sobre o papel representativo do professor a partir de uma visão dialética, num traço mais unificador e que resida numa igualdade básica de relações sociais.

Pois a construção é constituída por momentos afetivos ou cognitivos, não paralelos, mas integrados. Partindo deste pressuposto, intenciona-se demonstrar como os fatores afetivos se apresentam na relação professor-aluno e a sua influência no processo de aprendizagem. Destacando a importância das interações sociais, a ideia da mediação e da internalizarão como aspectos fundamentais para a aprendizagem, defendendo que a construção do conhecimento ocorre a partir de um intenso processo de interação entre as pessoas.

Nesse sentido, a importância do outro não só no processo de construção do conhecimento, mas também de constituição do próprio sujeito e de suas formas de agir. Todas as funções no desenvolvimento da criança aparecem primeiro no nível social e, depois no nível individual. Da mesma forma, é a partir da relação com o outro, através do vínculo afetivo que, na escola, a criança vai tendo acesso ao mundo simbólico e, assim, conquistando avanços significativos no âmbito cognitivo.

Discorremos então, a afetividade, a emoção e as manifestações afetivas e emocionais, para compreender melhor como se manifestam e qual sua importância para o processo ensino-aprendizagem. A influência de acontecimentos afetivos no processo ensino-aprendizagem, com intuito de relatar a importância da relação afetiva entre professor e aluno. Apontando ainda, qual a importância das relações afetivas entre professor e aluno para a aprendizagem, como essa relação interfere na formação do caráter do indivíduo aluno, futuro cidadão. E, concluímos com o intuito de mostrar como o desenvolvimento humano, a afetividade e a aprendizagem andam juntas, nas teorias de Piaget, Vygotsky, Wallon e outros teóricos que tanto nos auxiliam a entender um pouco do desenvolvimento humano.

Para tanto, o professor deve buscar uma relação afetiva com seus alunos, pois isso implicará em reconhecê-los como indivíduos autônomos, com direito a ter preferências, desejos, ritmos de aprendizagem e maturidade cognitiva nem sempre igual, ou seja, padronizados. E, para entender os momentos e sentimentos, é preciso ter sensibilidade para perceber que, atrás de um aluno agressivo, inseguro ou imaturo, esconde muitas vezes, um sujeito, se sentindo inferior às outras.

Pois, são pelas emoções que nos expressamos, demonstrando nossos sentimentos e vivências sociais.

 

Conceituando Afeto / Afetividade

Existe uma grande divergência quanto à conceituação dos fenômenos afetivos. O dicionário Aurélio define afetividade como um conjunto dos fenômenos afetivos (tendências, emoções, sentimentos, paixões etc.). No entanto, analisaremos a afetividade na perspectiva pedagógica, visando à relação professor-aluno estabelecida em sala de aula. Entendemos então que, afeição (vinda de afeto), é representada por um apego a alguém ou a alguma coisa, gerando carinho, saudade, (quando distantes), confiança e intimidade, o termo perfeito para amor entre duas pessoas. O afeto é um dos sentimentos que mais gera autoestima entre pessoas. Trata-se deste conjunto, movendo nossas mentes, sentimentos e emoções na complexidade do nosso ser influenciando vidas. Nossos impulsos emocionais têm início no afeto.

Na sua definição etimológica, o afeto é neutro, entretanto, quando resultante do amor, torna-se amorosidade, atitude que se reveste em um estimulo para o aprendizado, dando clareza e entendimento a consciência. É desta pulsão que trataremos: o ato de ser bom, de ser amoroso, possuindo como resultado o afeto que, por sua vez tem como consequência o prazer de aprender e de educar.

É por meio do amor que se obtém a saúde mental e emocional. E é por sua ação que nossos alunos são encorajados a romperem seus limites em vôos mais altos e a respeitarem voluntariamente os limites estabelecidos para sua disciplina e aprendizado. Quando se ama, é quando se devem disciplinar e estabelecer limites, não em momentos de rancor instintivo, mas nos quais agimos mais em razão de nós mesmos do que pelas necessidades dos nossos alunos ou filhos. Reflexos condicionados não educam.

Podemos então, conferir que a afetividade/afeto é necessária para a formação de indivíduos éticos, felizes, seguros e capazes de viver e conviver em sociedade. No âmbito escolar, afetividade é muito mais do que dar carinho, é sim aproximar-se do educando, saber ouvir, valorizá-lo, é depositar confiança, assim acreditando nele.

Influenciando assim, a velocidade na construção do conhecimento, pois, alunos seguros aprendem com mais facilidade.

 

Afetividade e Inteligência segundo Piaget

Criador da Epistemologia Genética, Piaget foi um pesquisador cuja principal preocupação era o desenvolvimento humano e seu objeto de estudo centrava-se no pensamento lógico-matemático, também entendido como sinônimo da inteligência e de estrutura cognitiva, reconhecendo que a afetividade é o agente motivador da mesma.  Não há comportamento cognitivo puro, como não há comportamento afetivo puro. Em cada caso, o comportamento tem influência da afetividade.

O conhecimento implica a ação sobre os objetos, mas essa ação nunca é puramente cognitiva, pois nela intervêm em graus diversos a afetividade, os interesses e os valores. No ato de conhecer e em todo comportamento humano, a afetividade e a inteligência estão sempre presentes. Para Piaget (apud La Taille, 1992), a afetividade e inteligência são dois aspectos indissociáveis de uma mesma ação. Assim:

[...] quando se trata de analisar o domínio dos afetos, nada parece haver de muito misterioso: a afetividade é comumente interpretada como uma “energia”, portanto como algo que impulsiona as ações. [...] o desenvolvimento da inteligência permite, sem dúvida, que a motivação possa ser despertada por um número cada vez maior de objetos ou situações. Todavia, ao longo desse desenvolvimento, o princípio básico permanece o mesmo: a afetividade é a mola propulsora das ações, [...] (LA TAILLE, 1992, p.65)

Portanto, os motivos e o dinamismo energético do comportamento provêm da afetividade, enquanto que as técnicas empregadas constituem o aspecto cognitivo.

Assim sendo, as situações que estimulam a inteligência, repercutem também na afetividade e consequentemente, nas relações sociais. As ações, a motivação e a cooperação social estão intimamente ligadas às funções intelectuais e disso decorre que o progresso intelectual traz consigo modificações ao nível da afetividade e das relações sociais.

 

Wallon – A construção do sujeito e a teoria das emoções

Na psicogenética de Henri Wallon, “a dimensão afetiva ocupa lugar central tanto no ponto de vista da construção da pessoa quanto do conhecimento”. (DANTAS, 1992, p. 85). Assim, a construção afetiva e cognitiva, na construção da pessoa, inicia-se num período que Wallon denomina como impulsivo-emocional e se estende ao longo do primeiro ano de vida, onde a afetividade reduz-se a revelações fisiológicas da emoção, tendo assim como o ponto de partida do psiquismo.

No entanto, Wallon considera a emoção fundamentalmente social, como enfatiza Dantas (1992, p.85), “ela fornece o primeiro e mais forte vinculo entre os indivíduos e supre a insuficiência da articulação cognitiva nos primórdios da história do ser e da espécie”.

A afetividade nesta perspectiva, não é apenas uma das dimensões da pessoa: ela é também uma fase do desenvolvimento [...] O ser humano foi, logo que saiu da vida puramente orgânica, um ser afetivo. Da afetividade diferenciou-se, lentamente a vida racional. Portanto no inicio da vida, afetividade e inteligência estão sincreticamente misturadas, com o predomínio da primeira. (DANTAS, 1992, p.90)

 A partir daí, a história da construção da pessoa será constituída por momentos afetivos ou cognitivos, não paralelos, mas integrados.

Uma das originalidades da teoria Walloniana é a tentativa de ver a criança de um modo mais integral, buscando compreender o desenvolvimento de forma integrada, levando em conta os domínios cognitivo, afetivo e motor e promove o seu desenvolvimento em todos os níveis, e que a escola é um lugar onde se educa, mas, principalmente, onde se deve estudar a personalidade da criança.

Dantas (1992, p.86) resume o pensamento de Wallon, afirmando que, “A razão nasce da emoção e vive da sua morte”.

 

A afetividade no processo de formação de conceitos segundo Vygotsky

Vygotsky (1992) menciona que:

Um dos principais defeitos da psicologia tradicional é a separação entre os aspectos intelectuais, de um lado, e os volitivos e afetivos, de outro, propondo a consideração da unidade entre esses processos. Coloca que o pensamento tem sua origem na esfera da motivação, a qual inclui inclinações, necessidades, interesses, impulsos, afeto e emoção. Nesta esfera estaria à razão última do pensamento e, assim, uma compreensão completa do pensamento humano só é possível quando se compreende sua base afetivo-volitiva. (apud OLIVEIRA, 1992, p.76)

Apesar de a questão da afetividade não receber aprofundamento em sua teoria, Vygotsky (1992), evidencia a importância das conexões entre as dimensões cognitivas e afetivas do funcionamento psicológico humano, propondo uma abordagem unificadora das referidas dimensões, e questiona como a emoção modifica o pensamento.

O indivíduo se apropria das formas culturais que já existem e, a partir de então, internaliza e elabora novos conceitos que haverão de dar-lhe possibilidades de um desenvolvimento cada vez mais complexo.

Para que esta interação se efetive, criou o que ele chamou de ZDP - (Zona de Desenvolvimento Proximal), ou seja: distância entre o nível de desenvolvimento real, determinado pela capacidade de resolver um problema sem ajuda, e o nível de desenvolvimento potencial, determinado através de resolução de um problema sob a orientação de um adulto ou em colaboração com outro companheiro.

Vygotsky (1992) acredita que a possibilidade de desenvolvimento cognitivo perdura para o resto da vida. Tanto um adulto, quanto uma criança tem as mesmas condições e possibilidades de aprendizagem, e esta acontece através do meio social e cultural, na interação com outros sujeitos.

 

A afetividade na relação professor-aluno e o processo ensino-aprendizagem

Atualmente, “o professor não é mais a principal fonte do conhecimento” (LIBÂNEO, 2002, p.133), ou apenas aquele que transmite conhecimentos, mas, sobretudo, trata-se de um mediador e não um detentor do saber. Sabe-se que a aprendizagem é um processo que engloba os indivíduos como um todo. Nesse sentido, é importante que o professor perceba-se como facilitador do processo de aprendizagem, pois quando a relação que estabelece com seu aluno é pautada no vínculo e no afeto, propicia a ele a oportunidade de mostrar, guardar, criar, entregar o conhecimento e permite que o outro possa interagir, incorporar e apropriar-se do mesmo.  Pois, “O afeto e a inteligência curam as feridas da alma, reescrevem as páginas fechadas do inconsciente” (CURY, 2008, p.57-58).

É sabido que o ser humano está em constante formação. Assim, numa relação não autoritária, onde o crescimento é estimulado, o professor também aprende enquanto ensina e, enquanto aprende o aluno também ensina. Nesse contexto, o professor que ouve e respeita o ponto de vista de seus alunos, deixa de ser um instrutor ou treinador para transformar-se em educador. Freire (1996, p.33), enfatiza que,

O bom professor é o que consegue, enquanto fala trazer o aluno até a intimidade do movimento do seu pensamento. Sua aula é assim, um desafio e não “uma cantiga de ninar”. Seus alunos cansam, não dormem. Cansam porque acompanham as idas e vindas de seu pensamento, surpreendem suas pausas, suas dúvidas, suas incertezas.

É preciso que o professor se perceba importantíssimo enquanto agente histórico e atuante na sociedade em que vive e enfatiza:

[...] o professor autoritário, o professor licencioso, o professor competente, sério, o professor incompetente, irresponsável, o professor amoroso da vida e das gentes, o professor mal-amado, sempre com raiva do mundo e das pessoas, frio, burocrático, racionalista, nenhum deles passa pelos alunos sem deixar sua marca. (idem, 1996, p.27).

 

A afetividade domina a atividade pessoal na esfera instintiva, nas percepções, na memória, no pensamento, na vontade, nas ações, na sensibilidade corporal – é componente do equilíbrio e da harmonia da personalidade.

A falta de afetividade na vida da criança, cria certa barreira, onde não vê motivação alguma, nem vontade para que possa desenvolver qualquer atividade. O pleno desenvolvimento da afetividade tem pontos básicos e o limite é um deles, a criança deve ter seus próprios limites, não esquecendo que ela vive em uma sociedade que diariamente apresenta a ela situações diversas. Onde temos o grande desafio da educação da emoção.

 

Conclusão

Pensar na construção de uma sociedade escolar mais justa e solidária é refletir sobre os valores e afetos que fazem a diferença humana nas relações escolares no dia-a-dia.  Portanto dicorremos neste trabalho, aspectos releventes que podem mudar nossos conceitos, enquanto educação afetiva e emocional, beneficiando não somente os alunos com a aprendizagem, mas a todos através de uma sociedade melhor com pessoas mais humanas. Nesta perspectiva verifica-se que a afetividade, moral e educação estão inerentemente ligadas à aprendizagem.

Portanto, vivemos em função do outro nas relações estabelecidas dia-a-dia, como tudo na vida do ser humano. Vemos diariamente nos noticiários, as consequencias do descaso com a educação afetiva e emocional, e consequentemente o aumento da violencia social.

Porém estar sintonizado com a realidade do aluno, flexível, afetivo e companheiro, tentar transformar o “ter que aprender” em “querer saber” é ser um educador bem sucedido. Quanto mais humanos formos, maior será a nossa capacidade de amar, mais divinos nos tornaremos.

A mente humana é o depósito de todas as experiências, de todos os condicionamentos que são delineados perante as exigências impostas. Faz parte errar. O grande desafio é aceitar as limitações e amar outros seres tão imperfeitos quanto nós. Assim é o ser humano. Quando observamos suas atitudes, sua visão de mundo, sua forma de resolver diferentes situações não imaginamos o seu interior, sua base de formação que influenciou seu modo de ser, sua maneira de valorizar o outro.

Só quem ama verdadeiramente vai se dedicar a educar dentro dos limites necessários, para que o individuo se torne um ser humano feliz.

           

Referências

AURELIO, Dicionário. Afetividade. Disponível em:< http://www.dicionariodoaurelio.com/. Acesso em 05 de abril 2011.

 

CURY, Augusto. Pais brilhantes, professores fascinantes. Rio de Janeiro: Sextamte, 2008.

 

FREIRE, M. O sentido da aprendizagem. Petrópolis, RJ: Vozes, 1992.

 

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 25ª ed. São Paulo: Paz e Terra, 1996.

 

LA TAILLE, Yves de. OlIVEIRA, Marta Kohl de.DANTAS, Heloisa. Piaget, Vygotsky, Wallon:teorias psicogenéticas em discussão. São Paulo: summus, 1992.

 

LIBÂNEO, José Carlos. Didática: velhos e novos tempos.  2002.



[1] Licenciada em Pedagogia pela UNOPAR. Pós-graduada em Psicopedagogia Clínica e Institucional pela Universidade Cândido Mendes. Alfabetizadora em uma Escola da Rede Estadual de Ensino do Estado de Mato Grosso. O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo..

[2] Professora Pedagoga. Pós-graduada em Psicopedagogia Clínica e Institucional pela Universidade Cândido Mendes. Alfabetizadora em uma Escola da Rede Estadual de Ensino do Estado do Mato Grosso. O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo..