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Separar para Somar Saúde

Selma de Oliveira Silva[1]

 

Resumo

A preocupação básica deste artigo é refletir sobre a reciclagem do lixo e resultados possíveis no impacto refletido na saúde e no meio ambiente. Aborda impactos considerados negativos, ocasionados pelas formas de uso, costumes e hábitos culturais perceptíveis à sociedade. Constata- se que o lixo influência de forma negativa em determinados ambientes urbanos como nas margens de ruas e leitos de rios, pela existência de hábitos e disposição final inadequada de resíduos. Realizou- se uma pesquisa bibliográfica considerando as contribuições de autores como VIOLA (1987) e TUAN (1980), entre outros. É estimulada a preocupação ambiental e a busca de apoio social às comunidades locais para que o processo educativo em saúde seja efetivado.

Palavras-chave: Reciclagem. Meio Ambiente. Educação em Saúde.

 

Abstract

The basic concern of this paper is to discuss the recycling of waste and possible outcomes reflected in the impact on health and the environment. Addresses impacts considered negative, caused by the use of forms, customs and cultural habits noticeable to society. It appears that the garbage negatively influences in certain urban environments such as the edges of streets and riverbeds, the existence of habits and improper waste disposal. We performed a literature search of the contributions of authors like Viola (1987) and TUAN (1980), among others. It stimulated the environmental concern and seeking social support to local communities to the health education process is finalized.

Keywords: Recycling. Environment. Health Education.

 

Introdução

Apresenta- se neste trabalho considerações a respeito do lixo, formas de reciclagem, disposição inadequadas dos resíduos e a percepção quanto ao aproveitamento desse material. Um dos maiores desafios do século XXI é reduzir os milhões de toneladas de lixos que se produz diariamente e ao mesmo tempo educar a população sobre o manuseio e disposição adequada do mesmo. A criação da cidade e a crescente ampliação das áreas urbanas têm contribuído para o crescimento de impactos ambientais negativos. No ambiente urbano, determinados aspectos culturais como o consumo de produtos industrializados e a necessidade da água como recurso natural e indispensável à vida, influenciam como se apresenta o ambiente, onde as pessoas devem ser educadas a adquirir costumes e hábitos no uso da água e na produção de resíduos, responsáveis por inúmeras alterações na saúde pública. Um ambiente em equilíbrio reflete na qualidade de vida dos povos.

A geração excessiva de resíduos sólidos, afeta a sustentabilidade urbana e a sua redução depende de mudanças nos padrões de produção e consumo da sociedade. Atualmente a maior parte das pessoas habita em ambientes urbanos. Dados apresentados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE)-em comparação com o Censo 2000, ocorreu aumento de 20.933.524 pessoas recenseadas em 2010. Esse número demonstra que o crescimento da população brasileira no período foi de 12,3%, inferior ao observado na década anterior (15,6% entre 1991 e 2000). O Censo 2010 mostra também que a população é mais urbanizada que há 10 anos. Em 2000, 81% dos brasileiros viviam em áreas urbanas, agora são 84%.

Conforme Fernandez:

As culturas das comunidades têm contribuído para que ocorram alterações físicas e biológicas no meio ambiente e ao longo do tempo modificam a paisagem e comprometem ecossistemas, mais do que qualquer outra atividade humana. (FERNANDEZ, 2004).

A produção de lixo nas cidades é de tal intensidade que não é possível conceber uma cidade sem considerar a problemática gerada pelos resíduos sólidos, desde a sua geração até a sua disposição final.

A mobilização para a separação dos materiais recicláveis na fonte geradora de papéis, vidros, plásticos e metais entre outros deverão ser realizadas através de campanhas de sensibilização promovidas junto aos bairros, condomínios, escolas, comércios, empresas e indústrias. A maior parte dos resíduos é lançada a céu aberto, representando um grande desperdício de matéria-prima, resultando numa grave degradação ambiental e sérios danos à saúde, ora citado. A coleta seletiva é uma alternativa politicamente correta e deve ser assumida pelos municípios com responsabilidade compartilhada por todos os atores envolvidos (fabricantes, distribuidores, comerciantes, gestores públicos e consumidores em geral). Jogar o lixo no seu devido lugar contribui de forma significativa com a saúde, proporciona a reciclagem e conscientiza a população de suas responsabilidades na sociedade.

 

Desenvolvimento

A importância da reciclagem para o meio ambiente é uma saída para amenizar a quantidade de lixo produzida por cada pessoa. Procura-se desenvolver atitudes de conservação e preservação do ambiente natural, na comunidade e mostrar que a utilização de práticas de proteção do meio ambiente resulta no proveito próprio e comunitário, ajudando a desenvolver uma postura social e política preocupada e comprometida com a questão da vida na Terra, assim, fica mais fácil reconhecer os prejuízos e benefícios que causa o lixo acumulado na saúde pública e a importância da redução da reutilização e da reciclagem do lixo para a natureza (Correa, 2001). A expressão “reforma ecológica” que Viola (1987) usa para reivindicar um ambiente urbano melhor, sugere, de imediato, que tal ambiente está aquém de uma cidade ideal como propôs Tuan (1980). Acreditamos que tal reforma seja urgente, especialmente no ambiente urbano pelos perceptíveis impactos indesejados. A maioria das cidades brasileiras apresenta um serviço de coleta que não prevê segregação de resíduos na fonte (IBGE, 2006). É comum observarmos hábitos de disposição final inadequado de lixo. Materiais sem utilidades se amontoam indiscriminada e desordenadamente, muitas vezes em locais indevidos como lotes baldios, margens de estradas, fundos de vales e margens de lagos e rios.

Com a prática da coleta seletiva haverá redução na quantidade de resíduos encaminhados aos aterros sanitários com consequente aumento de sua vida útil; redução da exploração de recursos naturais; incentivo à participação de comunidades na solução de problemas; redução dos impostos ambientais durante a produção de novas matérias primas, do consumo de energia elétrica, da poluição ambiental, ampliação do desenvolvimento econômico pela geração de novos empregos e renda na produção dos materiais, nas residências e na expansão dos negócios relativos à reciclagem.

Entre os impactos ambientais negativos originados a partir do lixo urbano produzido estão os efeitos decorrente da prática de disposição inadequada de resíduos sólidos. Essas práticas ambientais podem provocar, entre outras coisas, contaminação de corpos d’água, assoreamento, enchentes, proliferação de vetores transmissores de doenças, tais como os cães, gatos, ratos, baratas, moscas, vermes, entre outros. Some- se a isso a poluição visual, mau cheiro e contaminação do ambiente.

A vivência quotidiana muitas vezes mascara circunstâncias visíveis, mas não perceptíveis. Mesmo contemplando casos de agressões ao ambiente, os hábitos quotidianos concorrem para que o ser humano não reflita sobre as consequências de tais hábitos, mesmo quando possui informações a esse respeito. Em contraposição aos hábitos não saudáveis gerados por impulsos, técnicas para segregação do lixo vêm sendo introduzidas através do uso de contentores utilizados para depositar materiais como papel, cartão, embalagens, vidro e pilhas, localizados em lugares públicos - por exemplo, escolas, parques, piscinas, complexos desportivos, mercados, feiras e outros locais de grande produção de resíduos. Os contentores são constituídos por depósitos individualizados ou por um grande depósito com divisórias onde poderão ser colocados os materiais separadamente:

·  Contentor Azul: papel e cartão;

·  Contentor Verde: garrafas e embalagens de vidro;

·  Contentor Amarelo: embalagens de plástico, metal e cartão complexo.

·  Contentor Vermelho de pequena dimensão: pilhas.

Os símbolos podem variar de local para local, pelo que é aconselhável observar com atenção a sinalética colocada nos equipamentos ou consultar a sua autarquia. Nas grandes cidades existem parques amplos com contentores de grandes dimensões destinados a receber e armazenar separadamente os resíduos com viabilidade de valorização, recuperação e reciclagem. São usados para os resíduos de grandes dimensões como entulhos, restos de madeira, eletrodomésticos antigos, entre outros materiais. Existem também, depósitos para a recepção de óleos usados. Verifique se está a colocar os produtos no contentor adequado, caso não tenha a certeza é preferível colocá-los num contentor do lixo indiferenciado.

A questão de redução de consumo supérfluo e do importante papel do cidadão enquanto agente dessa mudança irá adquirir centralidade no âmbito das políticas ambientais. Os resíduos sólidos são gerados em todos os locais onde trabalham e circulam as pessoas: nos domicílios residenciais, comerciais e industriais, nos hospitais e nos serviços de saúde, nos matadouros e estábulos, assim como nas áreas públicas com as varrições das ruas, as podas das árvores, a limpeza das praças, das feiras livres e eventos. Em suma, os resíduos sólidos são lixos e lixo é uma palavra latina (lix) que significa cinza, vinculada às cinzas dos fogões. Segundo Ferreira:

Lixo é “aquilo que se varre da casa, do jardim, da rua e se joga fora; entulho. Tudo o que não presta se joga fora. Sujidade, sujeira, imundície. Coisa ou coisas inúteis, velhas, sem valor”. (FERREIRA, 1999). JARDIM E WELLS (1995, p. 23) definem lixo como “[...] os restos das atividades humanas considerados pelos geradores como inúteis, indesejáveis, ou descartável”.

É necessário prevenir e controlar doenças relacionadas ao lixo, pois esses resíduos sólidos, quando não recebem os cuidados convenientes, podem apresentar muitos organismos prejudiciais à saúde. Além de ser uma fonte potencial de contaminação química do ambiente, favorecem a proliferação de moscas, são criadouros de ratos e viveiros de baratas. Estes vetores transmitem doenças causadas por parasitas como amebas, áscaris lumbricoide (conhecida como lombriga) e tênia. Em função do contato com o lixo ocorrem também doenças como a diarreia infecciosa, as leptospiroses (transmitida pela urina do rato) e graves problemas respiratórios especialmente em crianças residentes em áreas próximas aos lixões. Uma parcela importante da solução do problema está no desenvolvimento do programa de recuperação econômica de materiais recicláveis e orgânicos, através de projetos, que podem gerar renda além de reduzir significativamente o volume de lixo descartável. A redução de consumo de materiais não biodegradáveis é uma possibilidade real: muitos produtos tóxicos (como pilhas, baterias) são lançados no lixo comum porque as indústrias não se responsabilizam pelo impacto social de suas atividades lucrativas. Muitas embalagens, saquinhos, latas, objetos e utensílios, que compramos regularmente, são transformados imediatamente em lixo. É inevitável a geração do lixo, devido a cultura do consumo. Em média, o lixo doméstico no Brasil, segundo Jardim e Wells (1995) é composto por: 65% de matéria orgânica; 25% de papel; 4% de metal; 3% de vidros; 3% de plásticos. Apesar de atender a legislação específica de cada município o lixo comercial até 50 Kg ou litro e o domiciliar são de responsabilidade das prefeituras, enquanto os demais são de responsabilidade do próprio gerador. Reciclar é indispensável, entretanto melhor ainda é diminuir a produção de lixo.

Percepção é uma palavra de origem latina - perceptione - que pode ser entendida como tomada de consciência de forma nítida a respeito de qualquer objeto ou circunstância.

Para Ferreira:

A percepção é a elaboração mental e consciente a respeito de determinado objeto ou fato, quer clarificando, distinguindo ou privilegiando alguns de seus aspectos, quer associá-la a outros objetos ou contexto (Ferreira, 1999).

A percepção é um desafio. É necessário criar o senso de percepção e reeducar para situações de risco que a própria sociedade produz, modificando suas práticas. Há necessidade de repensar estratégias de abordagem de assunto como planejamento em serviços de saúde. Atitudes concretas deverão ser iniciadas em casa e incentivadas no trabalho e na comunidade. Através das equipes de estratégias de saúde da família e as associações de bairros, pode-se mudar, tornando- se gradativamente, sujeitos mais ecológicos.

 

Conclusão

Diante do exposto, conclui- se que a interação existente entre o poder público e a população está relacionada com o trabalho educacional e é um dos mais urgentes e necessários meios para reverter essa situação, pois grande parte desse desequilíbrio está relacionada a condutas humanas geradas pelos consumidores que não se comprometem com a coleta seletiva. Faz- se necessário buscar soluções para questões sociais mudando as atitudes e práticas pessoais na vivência quotidiana, moldando padrões comportamentais habituais, pois o tratamento do lixo está intrinsecamente relacionado aos hábitos e variam segundo a profissão dos atores envolvidos.

Observa- se com isso, que a produção, o acondicionamento, o transporte da disposição final dos resíduos sólidos são todas etapas importantes na prevenção e no controle de doenças. A participação e a colaboração da sociedade, tanto no controle direto sobre a produção domiciliar do lixo como no controle social sobre os projetos de saneamento ambiental, são essenciais para a prevenção dos problemas que a sociedade está gerando para si e para as futuras gerações. Desse modo, urge a formação de cidadãos conscientes e multiplicadores, mesmo sabendo que para haver mudança de hábitos requer um tempo, considerando também a formação de parceiros para incentivar a comunidade na obtenção de melhor qualidade de vida.

 

Referências

_______.Artigo Educação Ambiental e Reciclagem do lixo, 2012. Disponível em: http://www.gepexsul.unisul.br/extensão2012/amb2.pdf>. Acesso em: 10 ag. 2013.

 

FRANCO, Augusto.  Por que precisamos de desenvolvimento local integrado e sustentável.

 

FELIX, Rozeli Aparecida Zanon, Coleta Seletiva em ambiente escolar.

 

FERNANDEZ, F. A. dos S. O poema imperfeito: crônicas e Biologia, conservação da natureza, e seus heróis. 2. ed. Curitiba: UFPR, 2004.

 

GUERRA, Yolanda. A instrumentalidade do serviço social.

 

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JARDIM, N. S.; WELLS, C. (Org.) Lixo Municipal: Manual de Gerenciamento integrado. São Paulo: IPT: CEMPRE, 1995.

 

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VIOLA, E., et al. Ecologia e Política no Brasil. Rio de Janeiro: Espaço e Tempo: IUPERJ, 1987.

 

ZENONE, Luis Claudio, Marketing Social- São Paulo: Thomson Learning, 2006.



[1] Graduada em Serviço Social pela Fundação Universidade do Tocantins- UNITINS, Pós- graduada em Gestão de Políticas Públicas pela Universidade FASIPE - Faculdade de Sinop. Pós-graduada em Gestão de Programas de Saúde da Família e Instrumentalidade do Serviço Social pela Universidade Cândido Mendes.