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A educação infantil e a importância do hábito da leitura

Maria Estela Hernandes Carlotti[1]

 

DOI: 10.5281/zenodo.16645754

 

 

RESUMO

Esta pesquisa tem o objetivo de esclarecer sobre a importância que o desenvolvimento da competência leitura exerce na aprendizagem dos alunos desde a educação infantil. Não aquela leitura mecânica, obrigatória, realizada apenas em sala de aula, mas uma leitura reflexiva, uma leitura que se transcende a escola e continua dentro do lar dos alunos. O aluno deve ser estimulado desde cedo criar esse hábito, para que cresça e se desenvolva como um bom leitor. Estamos rodeados de informações, internet, livros, revistas, jornais, artigos, e diversas outras fontes de conhecimento que podem ser consultadas e lidas pelas crianças. Este hábito não vem como um dom, ele precisa decorrer do processo de ensino-aprendizagem na escola, e também na convivência familiar. A prática da leitura proporciona um enriquecimento do vocabulário, uma melhor organização das ideias, o desenvolvimento da criatividade, entre outras contribuições. A escola e a família são educadores essenciais neste contexto, precisam motivar e elaborar estratégias que incentivem os alunos a adquirirem este hábito. Diversas atividades que possuem como objetivo promover nos alunos o interesse pela leitura, também são discutidas neste trabalho. Todas as áreas do conhecimento ensinadas na escola e também as tarefas e exigências do meio social necessitam da competência leitora, por isso se faz necessário à discussão sobre o seu incentivo. Para o alcance dos objetivos propostos pela pesquisa, utilizou-se consultas bibliográficas sobre autores que discutem assuntos relacionados aos benefícios e importância da leitura.  Este tipo de pesquisa nos permite explorar os conceitos e discussões de diversos autores e estabelecer assim um diálogo com o nosso tema em discussão.

 

PALAVRAS-CHAVE- Hábito da leitura. Aprendizagem. Educação Infantil.

 

 

ABSTRACT

This research aims to clarify the importance that the reading habit has on the learning of students in early childhood education. Not that compulsory mechanical reading, done only in the classroom, but a reflective reading, a reading that extends from school and continues into students' homes. The student must create this habit early on, so that a good reader can grow and develop. We are surrounded by information, the Internet, books, magazines, newspapers, articles, and various other sources of knowledge that can be consulted and read by children. This habit does not come as a gift for children, it needs to come from their teaching-learning process at school, and in their family, life learn to enjoy reading. The practice of reading provides vocabulary enrichment, better organization of ideas, and the development of creativity, among other contributions. School and family are essential educators in this context, they need to motivate and develop strategies that encourage students to acquire this habit. Several activities that aim to promote students' interest in reading are also discussed in this paper. All areas of knowledge taught in school and also the tasks and demands of the social environment need reading, so it is necessary to discuss their encouragement. To achieve the objectives proposed by the research, we used bibliographic queries about authors who discuss issues related to the benefits and importance of reading. This type of research allows us to explore the concepts and discussions of various authors and thus establish a dialogue with our topic under discussion. 

 

KEYWORDS: Reading Habit. Learning. Early Childhood Education.

 

 

INTRODUÇÃO

 

Em toda a vida escolar, a leitura vai ser o instrumento mais importante para o desenvolvimento e a própria aprendizagem de todos os conhecimentos. Aprender a ler é essencial para prosseguir com sucesso os estudos. Esta pesquisa mostra uma discussão sobre a importância que a leitura exerce na aprendizagem dos alunos, não a leitura mecânica, obrigatória realizada apenas em sala de aula, mas uma leitura reflexiva, uma leitura que se estende da escola e continua dentro do lar dos alunos.

A importância da leitura torna-se ainda mais relevante quando se trata de crianças que estão em fase de compreensão da realidade através de textos, livros e atividades praticadas em sala de aula, ou seja, inicialmente na educação infantil. O hábito constante da leitura é que vai proporcionar as crianças o desenvolvimento da escrita, a capacidade de criticar, de ser criativo, autônomo, estar sempre motivado e superar com facilidade possíveis dificuldades que surgem na construção da aprendizagem. Este trabalho possui o objetivo de esclarecer as principais contribuições do hábito da leitura no processo de ensino-aprendizagem, mostrando ainda a importância que a escola e a família exercem no incentivo deste hábito:

 

O livro, dado o seu conteúdo, possibilita ao leitor situar-se no mundo e o auxilia a interpretar a realidade e os acontecimentos que o cercam, de maneira crítica, reflexiva e consciente. O mundo da linguagem leva à formação das ideias, dos valores e dos sentimentos que estão presentes na vida real. Os livros e os textos, se apresentados de maneira prazerosa, criativa e agradável, despertam interesse, entusiasmo e desejo de participação (FERNANDES, 2003, p.70).

 

 

Os alunos nos dias hoje estão cada dia mais desinteressados nos livros, com a chegada de tecnologias acessíveis a todas as camadas da população, a internet, videogame etc, tem preenchido o tempo livre das crianças, que acabam ficando sem mesmo aprender satisfatoriamente o processo de domínio do ato de ler.  

 

 

O HÁBITO DA LEITURA E A APRENDIZAGEM

 

No processo de ensino aprendizagem na educação infantil, a leitura e a escrita são os principais aprendizados dos alunos, o foco não é alfabetizar formalmente, mas criar condições para que a criança se interesse pela leitura e escrita. A aprendizagem deve ocorrer no contexto das interações e brincadeiras, como propõe a BNCC.   A mediação do professor é essencial para ampliar o repertório linguístico e cultural da criança.

Considera-se o ato de ler fundamental no processo de ensino e aprendizagem, pois a formação de leitores competentes e críticos contribui diretamente para o desenvolvimento de bons escritores. De acordo com a BNCC, a leitura deve ser compreendida em seu sentido amplo, indo além da simples decodificação de palavras, para alcançar a construção de sentidos, a análise e a interpretação dos textos em seus diversos gêneros e suportes. Assim, ao desenvolverem a leitura crítica — aquela que permite refletir, argumentar, posicionar-se e dialogar com diferentes perspectivas — os estudantes ampliam sua capacidade de expressão escrita, tornando-se sujeitos mais autônomos, criativos e conscientes em sua produção textual.

A leitura se faz presente desde cedo em nossas vidas. É necessário aprender a ler para compreender o que é transmitido no cotidiano. O ser humano é um ser social, que interage com os demais, e nesse processo de comunicação em meio à sociedade, a leitura é essencial.:

 

O indivíduo é um ser interativo, pois seus conhecimentos se estabelecem a partir das relações interpessoais e intrapessoais, ou seja, é um processo que se dá de fora para dentro. Desse modo, o ser humano se apropria de conhecimentos através da interseção entre aspectos da história pessoal e social. É nesse processo de ensino-aprendizagem que ocorre a apropriação da cultura e o consequente desenvolvimento do indivíduo (PICANÇO, PEREIRA, 2019, p.3).

 

O que pretendemos abordar neste trabalho, não é o simples fato de aprender a ler, mas sim a importância de criar constante o hábito da leitura. Segundo Souza (2007, p.1) “Não basta apenas ler, mas é importante analisar, interpretar, conhecer para agregar valor à atividade ou necessidade que se tem”.

O autor Ferreira (2000, p.422) define leitura como sendo “um ato, arte ou hábito de ler, que significa percorrer com a vista o que está escrito, decifrando e interpretando as palavras”. Segundo Infante (2000, p.57) a leitura “é o meio de que dispomos para adquirir informações e desenvolver reflexões críticas sobre a realidade”.

Todos os que convivem no meio social são cidadãos que possuem direitos e deveres iguais, isso pelo menos é o que garante à Constituição, e como cidadãos as pessoas precisam possuir interpretação, criticidade, discernimento sobre diversas áreas que envolvem a vida em sociedade.

Mas estas características só ocorrem e são inseridas na vida de uma pessoa se houver uma boa formação educacional. A educação é um dos pilares que sustenta e faz progredir uma sociedade, para que uma criança cresça e tenha uma opinião formada conscientemente sobre os fatos e decisões do cotidiano, é essencial que possua conhecimento, e para adquiri-lo a criança precisa desde cedo, apoiado pelos agentes escola e família a conseguir obter não somente o aprendizado da leitura, mas sim o hábito de ler.

 

O conhecimento está disponível nas mais diversas fontes de informação, sejam formais – registrado - em livros, artigos, entre outros, sejam informais onde se destaca a conversa direta, face a face e se tem o acúmulo do conhecimento tácito ou implícito, fruto das experiências vivenciadas ao longo do tempo, da troca de informação, de conhecimento, - externalizados, mas não registrados (SOUZA, 2007, p. 4).

 

O aluno deve desde cedo criar esse hábito, para que cresça e se desenvolva um bom leitor. Estamos rodeados de informações, internet, livros, revistas, jornais, artigos, e diversas outras fontes de conhecimento que podem ser consultadas e lidas pelas crianças. Este hábito não vem como um dom para as crianças, ele precisa ao decorrer do seu processo de ensino-aprendizagem na escola e também na sua convivência familiar aprender a gostar de ler. Banberger, (1988, p.58) diz que “Só se atinge o objetivo do ensino de leitura – o desenvolvimento do gosto literário e da capacidade crítica – quando se começa com os interesses existentes, tentando constantemente expandir-lhes o horizonte”.

A prática constante da leitura tem a capacidade de desenvolver na criança diversas habilidades, isso ocorre gradativamente e aumenta de acordo com a intensidade do ato de ler. Um dos benefícios mais importantes que a leitura proporciona aos alunos é a capacidade de escrever melhor. Um processo desenvolve o seguinte, quanto mais uma criança for instigada a ler, mas ela vai aprimorando sua escrita, isso porque ao praticar o hábito constante da leitura, a criança vai conhecendo e armazenando diversas palavras que ainda não conhecia, além de aprender organizar melhor as suas ideias.

A diversidade de temas referentes à leitura e essencial na educação infantil. É importante para os alunos, desde muito cedo, serem incentivados a ler diferentes tipos de textos, abordando diversos temas, pois cada um possui características e vocabulários específicos e todo esse conhecimento vai sendo absorvido na mente dos alunos que começam a escrever melhor utilizando essas ricas informações.

Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 2001, p. 53-54):

 

O trabalho com a leitura tem como finalidade a formação de leitores competentes e, consequentemente, a formação de escritores, pois a possibilidade de produzir textos eficazes tem sua origem na prática de leitura, espaço de construção da intertextualidade e fonte de referências modelizadoras. A leitura é um processo no qual o leitor realiza um trabalho ativo de construção do significado do texto, a partir dos seus objetivos, do seu conhecimento sobre o assunto, sobre o autor, de tudo que sabe sobre a língua: características do gênero, do portador, do sistema de escrita. Não se trata simplesmente de extrair informação da escrita, decodificando-a letra por letra, palavra por palavra [...] (BRASIL, 2001, p. 53-54).

 

O que podemos considerar é que: crianças pequenas e bem pequenas, quando submetidas a ambientes incentivadores do ato de ler, com frequência, consequentemente poderão tornar-se bons leitores e escritores. Este fato é observado em sala de aula quando os professores pedem para que os alunos descrevam algo proposto em uma atividade, e como resultado pode-se observar que as melhores escritas, com um vocabulário mais rico, com menos erros gramaticais e com as ideias mais bem organizadas são daqueles alunos que possuem maior hábito de leitura.

 

A leitura é um dos principais instrumentos para que o indivíduo construa o seu conhecimento e aprenda a exercer sua cidadania e também o exercício da fantasia e levando quem lê a construir um mundo imaginário, exercendo a reflexão crítica e promovendo o debate de ideias. Sabe-se também que a leitura é uma condição prévia para a escrita, pois bons leitores são bons escritores (PERUCHI et al 2010, p. 1).

 

Como os próprios autores descreveram, a leitura é essencial para adquirir conhecimento e com isso torna-se uma importante ferramenta para melhoria da escrita.

Outro benefício que a prática da leitura proporciona as crianças que estão iniciando os estudos é o desenvolvimento da criatividade, que é a capacidade que a criança tem de criar, de inovar.

E essa característica é de extrema importância para as crianças nas series iniciais, mas seu desenvolvimento começa muito antes na educação infantil. As crianças nesta fase da idade, estão em plena evolução cognitiva e o que mais exercitam neste momento é a imaginação. Começam a compreender coisas do cotidiano, questionam diversos fatos no ambiente familiar, ou seja, necessitam do desenvolvimento da criatividade. O ato constante de ouvir histórias desenvolve as ideias, fazendo com que as crianças cresçam e se tornem argumentativas, autoconfiantes e assim passam a observar tudo o que ocorre no dia a dia.

 

 

A FUNÇÃO DA ESCOLA NO HÁBITO DE LEITURA DOS ALUNOS

 

A escola é a principal responsável pelo ensino da leitura e escrita dos alunos. O ato constante da leitura é essencial para que a criança cresça e desenvolva reflexões sobre aquilo que lê. Pois não basta simplesmente ler o que está escrito se não houver uma compreensão crítica, uma reflexão. Para Cardoso e Pelozo (2007, p.1): “O ato de ler é imprescindível ao indivíduo, pois proporciona a inserção do mesmo no meio social e o caracteriza como cidadão participante. A criança aprende a ler antes mesmo de entrar na escola, nas situações familiares.”

Como um dos principais agentes formadores das crianças, a escola deve direcionar seus esforços por meio de estratégias e metodologias diferenciadas para despertar, desde os primeiros anos — seja na creche ou na pré-escola — o gosto e o hábito da leitura. É fundamental relacionar o aprendizado da leitura ao prazer, garantindo que os alunos sintam prazer durante as atividades didáticas, mesmo quando a leitura for conduzida pelo professor. Caso os estudantes percebam o processo como um esforço excessivo, tenderão a se afastar da prática, desenvolvendo apenas a leitura estritamente necessária, sem incorporar o hábito da leitura diária.

 

Nos primeiros anos de escolarização o discente precisa ser incentivado e instigado a ler, de modo que se torne um leitor autônomo e criativo. Cabe ao professor proporcionar momentos de leitura significativa, incentivando a formação do indivíduo crítico e reflexivo (CARDOSO, PELOZO, 2007, p. 1).

 

Os alunos da educação infantil precisam ser constantemente motivados e incentivados à prática da leitura, razão pela qual a escola desempenha um papel fundamental na formação e no desenvolvimento do hábito de leitura nas crianças. Para isso, é imprescindível que os educadores estejam capacitados e conscientes da importância desse processo, buscando estratégias eficazes para despertar o interesse dos alunos. Nos primeiros anos de estudo, enfrentam-se diversas dificuldades no processo de alfabetização, pois ensinar a criança a ler e escrever já é um desafio considerável. Além disso, cultivar nos alunos, além dessas habilidades básicas, o hábito, o interesse e o prazer pela leitura torna-se uma tarefa ainda mais complexa.

A gestão escolar deve atuar de forma motivadora, proporcionando condições favoráveis para o ensino e o incentivo ao hábito da leitura. Nesse sentido, é fundamental que haja planejamento e capacitação direcionados aos professores, pois, sem esse suporte, o estímulo à leitura torna-se bastante dificultado. Observa-se que muitos educadores adotam métodos mecânicos e exercem pressão sobre os alunos para que leiam, além de aplicarem atividades incompatíveis com a realidade dos estudantes. Para promover o hábito constante da leitura, é imprescindível que as atividades pedagógicas sejam adequadas à faixa etária dos alunos, pois, caso não despertem interesse, o processo de ensino pode ser comprometido.

Neste contexto observamos a real importância dos professores, que precisam adotar didáticas que despertem o interesse dos alunos e serem flexíveis as mudanças que ocorrem na sociedade moderna.

 

[...] grande parte das escolas brasileiras não tem desenvolvido um trabalho sistemático de leitura com a preocupação de se formar leitores, pois o livro é compreendido como instrumento necessário ao cumprimento de tarefas escolares, através de exercícios, privilegiando-se a memorização e a repetição do já ensinado (VALIO, 1996, p.20).

 

Na educação infantil, os alunos encontram-se em um momento de intenso desenvolvimento cognitivo, o que torna fundamental a presença de um mediador do conhecimento. Nesse contexto, o professor desempenha um papel essencial ao conduzir as crianças à prática constante do hábito de leitura, que será consolidado nas séries iniciais do ensino fundamental. Os educadores devem ir além do ensino do conteúdo programático, promovendo atividades e estímulos que incentivem atos de leitura e escrita, possibilitando a apropriação dessas práticas em seu uso social. Dessa forma, proporcionam elementos que levam o aluno a refletir sobre a escrita, habituando-o a perceber a leitura não apenas como uma obrigação, mas como uma necessidade e uma fonte de prazer.

 

 

A FAMÍLIA E SUA INFLUÊNCIA NO HÁBITO DE LEITURA

 

A família desempenha papel fundamental no desenvolvimento da competência leitora das crianças, sendo indispensável seu acompanhamento contínuo da trajetória escolar, bem como o apoio e a participação efetiva nas atividades educativas dos filhos. No entanto, observa-se que, atualmente, muitos pais adotam posturas distanciadas ou autoritárias, buscando estimular a leitura por meio de imposições, o que pode comprometer o interesse e a motivação das crianças. Assim, faz-se necessário que o ambiente familiar proporcione condições favoráveis e harmoniosas, incentivando a prática da leitura de forma prazerosa e significativa. Os responsáveis devem servir como modelos, demonstrando envolvimento e apreço pela leitura, criando situações propícias para que os filhos incorporem o hábito de ler de maneira espontânea e duradoura.

 

É na infância pré-escolar que se formam as atitudes fundamentais diante do livro. A criança que toma contato com o livro pela primeira vez ao entrar na escola, costuma associar a leitura com a situação escolar, principalmente se não há leitura no meio familiar. Se o trabalho escolar é difícil e pouco compensador, a criança pode adquirir aversão pela leitura e abandoná-la completamente quando deixar a escola. É conveniente então, que o livro entre para a vida da criança antes da idade escolar e passe a fazer parte de seus brinquedos e atividades cotidianas (BARKER, ESCARPIT, 1987, p.7).

 

O universo da criança é marcado pelos brinquedos, pelos jogos, brincadeiras etc, neste cenário é preciso inserir o livro, que deve fazer parte da vida da criança não somente na escola, mas sim antes mesmo deste período, para que a criança se habitue a leitura com mais facilidade e adaptação, pois se a leitura se fizer presente para os alunos apenas enquanto estiverem estudando, quando terminarem seus estudos, possivelmente deixarão de cultivar esta prática compensatória.

A família exerce uma fundamental importância, não basta cobrar responsabilidade da escola, se em casa o ambiente não for favorável a leitura. Muitos pais querem ver seus filhos crescerem como amantes das letras, mas não contribuem para que isso aconteça, ou seja, não participam da vida escolar dos filhos e não servem como espelho, exemplo para as crianças.

Um método eficaz para estimular o interesse pela leitura nas crianças consiste no exemplo proporcionado pelos próprios pais. Ao perceberem o hábito da leitura no ambiente familiar, as crianças tendem a despertar a curiosidade, reconhecendo na família valores essenciais para sua formação. Assim, aliado ao processo educativo, o núcleo familiar configura-se como uma das bases fundamentais para a sustentação da sociedade.

 

Nos livros infantis, mais do que na maioria dos textos sociais, se reflete a maneira como uma sociedade deseja ser vista, e pode-se observar que os modelos culturais dirigem os adultos às novas gerações e que o itinerário de aprendizagem literária se pressupõe realizem os leitores, desde que nascem até sua adolescência. (COLOMER, 2003, p.14)

 

Muitas famílias concentram sua atenção apenas nas tarefas escolares atribuídas pelos educadores, especialmente nos deveres de casa. No entanto, a leitura restrita às atividades obrigatórias não é suficiente para formar leitores competentes; é fundamental que as crianças tenham acesso a leituras complementares. Para tanto, é necessário que o ambiente doméstico ofereça variadas fontes de leitura, diversificadas e adequadas à faixa etária dos filhos. Os pais devem, portanto, manter livros disponíveis em diferentes espaços da casa e praticar a leitura regularmente, servindo como exemplo para as crianças. A partir dos três ou quatro anos de idade, as crianças ampliam seu vocabulário e começam a construir suas primeiras frases, tornando a leitura, tanto em casa quanto na escola, um elemento essencial para o desenvolvimento linguístico e cognitivo nessa fase.

 

 

ATIVIDADES PARA PROMOVER O INTERESSE PELA LEITURA

 

Para que os conceitos teóricos discutidos nesta pesquisa tenham sentido e aplicabilidade, é imprescindível que sejam articulados com a prática pedagógica. É necessário promover atividades que propiciem aos alunos o contato direto ou indireto com os livros, sendo a escola e a família agentes fundamentais nesse processo. Conforme orienta a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), especialmente no campo da Educação Infantil, é essencial garantir experiências que estimulem a escuta, a fala, o pensamento e a imaginação por meio da literatura. A leitura deve ser inserida de forma gradual e significativa na rotina das crianças, de modo que se torne uma experiência prazerosa. Com o tempo, esse envolvimento natural com os textos poderá desenvolver nelas o desejo espontâneo de ler, a ponto de sentirem a leitura como parte essencial de seu cotidiano.

Banberger (1988, p.80) relata algumas dicas importantes para promover nos alunos o interesse pela leitura:

  1. a) Leitura em voz alta e relato de histórias. A leitura em voz alta e o relato de histórias que ofereçam vigorosa motivação para a leitura pessoal são empreendidos com facilidade na escola, nas bibliotecas, nas creches e nos jardins de infância. Ler em voz alta uma história até chegar a um trecho emocionante, de modo que a expectativa da criança seja de tal forma despertada que ela queira continuar lendo por conta própria, é um método que tem tido muito êxito.
  2. b) Amostras de livros com discussões. Na Casa de Livros Infantis de Moscou realizam-se amostras regulares de livros, em que o bibliotecário apresenta diversos livros interessantes ao mesmo tempo.
  3. c) Autores lêem trechos de suas obras. O contato pessoal com o autor aumenta o interesse.
  4. d) Cursos, reuniões e outros acontecimentos informa sobre o conteúdo da leitura das crianças. Os livros deveriam ser levados em maior consideração tanto no treinamento prévio do professor quanto quando no exercício da profissão. Assim como na educação dos pais, reuniões e seminários, geralmente combinados com exposições e discussões, são altamente recomendados, e o campo de ação não deve limitar-se ao trabalho na escola e na biblioteca, mas deve também incluir o trabalho em grupos de jovens, clubes e nos meios de comunicação de massa.
  5. Clubes do livro e de leitura. Em muitos países se envidam esforços para interessar as crianças pela leitura e dar-lhes a oportunidade de descobrir o material de leitura que lhes convém, através da sua inscrição como sócios de clubes do livro. Tais clubes são organizados de várias maneiras, que se adequam a diferentes condições.
  6. f) Exposições de livros. As melhores exposições são as que se combinam com acontecimentos como as leituras feitas por autores etc.

Além das grandes exposições representativas, realizadas anualmente durante a Semana do Livro e a Semana do Livro Infantil, convém organizar exposições menores nas escolas, bibliotecas, grupos de jovens e salas de aula. Quanto menor for o grupo a que se destina a exposição, tanto melhor se pode ajustar a escolha de livros aos interesses dos visitantes. Em algumas escolas, estudantes das séries mais adiantadas ajudam a organizar a exposição e apresentá-la aos seus pares. Para todas as finalidades práticas, geralmente cinco ou mais estudantes são responsáveis por um grupo de livros e estão preparados para dar informações sobre eles. É preciso, naturalmente, que tenham lido os livros em seu grupo, de modo que possam aconselhar de forma convincente os outros estudantes, no que se refere ao conteúdo, à emoção e às dificuldades que eles encerram.

Pequenas amostras de livros para uma ocasião especial como, por exemplo, a leitura recomendada para as férias ou livros sobre várias atividades das horas de lazer (livros sobre fotografia, esportes etc.) - interessam muitas vezes a jovens que ainda não chegaram a um bom relacionamento com os livros em geral.

  1. g) Ouvir ou olhar, ler e discutir. Os livros e os meios de comunicação audiovisuais não devem ser vistos como adversários, e sim como meios interagentes a que os jovens devem ser apresentados. Os meios de comunicação de massa oferecem “estímulos educacionais” , isto é, estimulam a imaginação, despertam a curiosidade e o desejo de aprender, mas é preciso complementar com livros o que se ouve ou que se vê. Eis aqui um exemplo prático: anuncia-se um programa de televisão sobre países em desenvolvimento. O professor ou o líder do grupo de jovens chama a atenção dos estudantes para ele e comunica que o programa será discutido. Em seguida solicita-se aos jovens que procurem livros sobre o assunto na biblioteca e leiam o que puderem a respeito do problema. Outra possibilidade: num programa, faz-se menção de livros apropriados para complementá-lo e anuncia-se a oportunidade de participar de uma discussão sobre o assunto, que será travada no rádio ou na televisão ou em centros de educação popular, onde todos podem participar ativamente. Tentativas desse gênero têm tido resultados muito positivos. Ainda que não se constate um grande sucesso no início, esse tipo de trabalho educacional deve ser paciente e sistematicamente desenvolvido. De qualquer maneira, as partes responsáveis não devem esquecer que uma única apresentação não basta e que o excesso de informações e de influências educacionais tende a deixar as pessoas insensíveis.

Até então, o aluno tem desempenhado, em grande medida, o papel de receptor passivo do conhecimento. No entanto, a partir do momento em que é estimulado a desenvolver atividades de reflexão individual e a participar da discussão de problemas, seus saberes deixam de ser meramente reproduzidos e passam a ser ressignificados. Esse processo favorece a construção do conhecimento de forma ativa e contextualizada, contribuindo para uma aprendizagem mais significativa e autêntica. De acordo com Vygotsky (1998), a aprendizagem é potencializada na interação social e na mediação do outro, sendo o aluno protagonista do seu próprio processo formativo. Nessa perspectiva, a educação se configura não apenas como transmissão de conteúdos, mas como um espaço de construção crítica e consciente do saber.

  1. h) Propaganda de livros. De qualquer maneira, as informações acerca de livros frequentemente não ultrapassam o círculo dos interessados por leitura e bibliotecas. A propaganda feita pelas casas editoras costuma visar a livros isolados, e não ao livro em si mesmo. Há uma autêntica necessidade desta última em muitos países.

Os programas e certames de leitura realizam-se em conexão com essas campanhas. As crianças fazem uma lista de todos os livros que leram nos dias feriados, em cartões de leitura ilustrados, por exemplo.

A propaganda nas escolas, nas creches e nos jardins de infância oferece inúmeras possibilidades. Uma ocasião para tais programas, por exemplo, é o Dia Internacional do Livro Infantil, que em muitos países se comemora a 2 de abril, data do aniversário de Hans Christian Andersen. Infelizmente, inúmeras atividades planejadas para essa ocasião também só são eficazes onde já existe interesse pela leitura: na escola e na biblioteca. O rádio e a televisão, que têm um público tão grande dificilmente tomam conhecimento da ocasião,como também, não toma a imprensa.

Outras oportunidades de uma propaganda mais intensa dos livros são oferecidas pelos prêmios concedidos a livros infantis, como se costuma fazer em muitos países.

Para poderem promover hábitos de leitura, os livros precisam ser levados com maior frequência aos programas infantis e aos programas educativos, tanto direta como indiretamente. Esses programas incluem discussões sobre livros, filmes, exposições e relatórios sobre exposições, leituras e entrevistas com autores de livros infantis.

  1. i) Círculos de livros. Um grande problema, sobretudo nas áreas rurais, é que pouquíssimos livros estão à disposição dos alunos nas escolas, ao passo que as bibliotecas públicas são inadequadas e as bibliotecas pessoais das crianças são muito pequenas..

 

O clube do livro infantil coloca folhas especiais em cada caixa de livros, com informações sobre o conteúdo, a forma e o tema do livro, além de sugestões para discussão.

Os objetivos que se pretendem com a prática constante da leitura, é descrito por Bordini (1986, p.104-105):

 

Estimular atividades sensibilizantes, preparatórios; desenvolver as capacidades de ler e escrever, como forma de apreensão do mundo; aproximar o texto da realidade psicológica e social do aluno, como meio de refinamento cognitivo e emocional, bem como socializador; valer-se da tradição literária para o conhecimento da herança cultural, condição indispensável para a atuação inovadora e criadora do aluno em termos existenciais; apurar o senso crítico do jovem leitor em relação aos textos que consome, a fim de que estes lhe abram caminho para avaliação da realidade e de si mesmo, e para adoção de opções existenciais com base em seu julgamento (BORDINI, 1986, p. 104-105).

 

Incentivar os alunos a adotarem o hábito da leitura, é formar cidadãos conscientes, críticos, capazes de transformar a realidade. A gestão das escolas, juntamente com os professores, aliados a uma parceria com a família pode, e deve proporcionar essa conquista a todos os alunos.

 

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

Os professores da Educação Infantil enfrentam o importante desafio de preparar e despertar nos alunos o interesse pela leitura e pela escrita desde os primeiros anos escolares. Embora a alfabetização mecânica — caracterizada pela decodificação de símbolos — seja alcançada com êxito por grande parte dos alunos, este trabalho buscou evidenciar que a leitura, no contexto do processo de ensino-aprendizagem, deve ultrapassar esse aspecto técnico. É necessário promover uma leitura mais reflexiva e significativa, capaz de permitir que os alunos compreendam, formulem opiniões, façam inferências e expressem-se a partir dos textos lidos.

Essa abordagem mais ampla da leitura oferece inúmeros benefícios ao desenvolvimento das crianças. A partir dela, ampliam-se o vocabulário, a organização de ideias e a capacidade de expressão escrita. Além disso, os textos literários estimulam a imaginação e a criatividade, aspectos fundamentais para o desenvolvimento cognitivo e emocional na infância.

Todas as áreas do conhecimento exigem competências leitoras para a efetiva construção do saber. Por esse motivo, o incentivo à leitura deve ser uma prática contínua e valorizada em todo o processo educativo. Crianças que desenvolvem o hábito da leitura tornam-se, com frequência, também melhores escritoras, mais críticas e autônomas em seu percurso escolar e pessoal.

Nesse contexto, tanto a escola quanto a família desempenham papéis indispensáveis. A escola, como espaço de formação integral, deve empregar estratégias e metodologias diferenciadas, voltadas ao estímulo da leitura desde a creche e a pré-escola, períodos marcados pelo desenvolvimento acelerado de habilidades cognitivas e linguísticas. A gestão escolar, por sua vez, precisa atuar de forma motivadora, garantindo condições favoráveis à implementação de práticas que promovam o gosto pela leitura.

Os professores, juntamente com as famílias, são os educadores que mantêm contato direto e constante com as crianças. Por isso, devem atuar como mediadores do conhecimento, utilizando-se de atividades lúdicas e experiências significativas que despertem nos alunos o prazer de ler. O diálogo, a escuta e a valorização das expressões infantis são ferramentas indispensáveis nesse processo.

A família, por sua vez, exerce um papel essencial na formação leitora das crianças. Acompanhar a vida escolar, participar das atividades e oferecer um ambiente favorável ao convívio com os livros são atitudes que fortalecem o vínculo com a leitura desde os primeiros anos de vida. É fundamental que o livro faça parte do cotidiano infantil não apenas no ambiente escolar, mas também no espaço doméstico — ainda antes da entrada da criança na escola —, promovendo familiaridade, afeto e interesse pela leitura.

O universo infantil é naturalmente marcado por jogos, brinquedos e brincadeiras, e nesse contexto, o livro deve ser inserido como mais um elemento de prazer e descoberta. Se o contato com a leitura ocorrer apenas durante o período escolar, corre-se o risco de que, ao final dessa etapa, o hábito leitor seja abandonado. Por isso, é necessário consolidá-lo como uma prática prazerosa, significativa e contínua.

Em suma, desenvolver o hábito da leitura desde a infância é uma ação de impacto profundo e duradouro. A leitura, por si só, amplia a imaginação, aprimora as habilidades linguísticas, estimula a criatividade, contribui para o desenvolvimento emocional e fortalece as competências comunicativas das crianças. Todos esses aspectos têm reflexos positivos no percurso acadêmico, pessoal e profissional, tornando a formação leitora um dos pilares essenciais da educação de qualidade.

 

 

REFERÊNCIAS

 

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