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Conscientização no ambiente escolar como forma de combate ao assédio e violência contra a mulher

Luciano José P. S. da Silva

 

 

RESUMO

A violência contra a mulher é um fenômeno histórico e estrutural, que se manifesta em diferentes contextos sociais, inclusive no ambiente escolar. Este artigo analisa a importância da conscientização no espaço educativo como estratégia de enfrentamento ao assédio e à violência de gênero. Por meio de pesquisa bibliográfica e análise qualitativa, discute-se como a escola pode se constituir em um espaço de reflexão, prevenção e transformação de comportamentos e mentalidades machistas e sexistas. A proposta defende a necessidade de práticas pedagógicas baseadas em valores de igualdade, respeito e direitos humanos, enfatizando a importância da formação continuada de professores, da inclusão de temáticas de gênero no currículo e da atuação conjunta entre escola, família e comunidade. Conclui-se que a educação crítica e transformadora é essencial para a construção de uma sociedade mais justa e segura para todas as mulheres.

 

Palavras-chave: Violência de gênero. Assédio. Escola. Educação para a igualdade. Direitos das mulheres.

 

 

Introdução

 

A violência contra a mulher constitui um grave problema social e uma violação dos direitos humanos, cujas raízes estão profundamente ligadas à cultura patriarcal e às desigualdades de gênero historicamente construídas. Em suas múltiplas formas — física, psicológica, sexual, moral e patrimonial —, essa violência atravessa todos os espaços da vida em sociedade, inclusive os ambientes escolares.

A escola, como espaço privilegiado de socialização e formação de valores, tem papel fundamental na construção de uma cultura de paz, respeito e igualdade. Através da educação, é possível questionar estereótipos de gênero, promover o empoderamento feminino e desenvolver atitudes críticas diante de práticas discriminatórias e violentas.

Este artigo tem como objetivo analisar a importância da conscientização no ambiente escolar como estratégia de combate ao assédio e à violência contra a mulher. Propõe-se discutir o papel da educação na prevenção da violência de gênero, refletindo sobre as possibilidades pedagógicas e institucionais para a promoção da equidade e do respeito mútuo entre meninas e meninos.

 

 

Fundamentação teórica: gênero, violência e educação

 

A compreensão da violência contra a mulher exige uma análise interdisciplinar que considere os aspectos culturais, históricos e sociais que legitimam e perpetuam a desigualdade de gênero. De acordo com Scott (1995), o gênero é uma construção social que organiza as relações de poder entre homens e mulheres, produzindo normas, papéis e expectativas distintas.

A violência de gênero, segundo Saffioti (2004), é resultado das assimetrias de poder que estruturam as relações entre os sexos. Ela se manifesta de formas diversas, que vão desde a discriminação simbólica até a agressão física e o feminicídio. Nesse sentido, o combate à violência contra a mulher requer ações que enfrentem as raízes culturais do problema.

A escola, como instituição formadora, deve ser vista não apenas como reprodutora de saberes, mas como agente de transformação social. Para Freire (1996), a educação é prática da liberdade, na medida em que propicia a reflexão crítica da realidade e a construção de uma consciência emancipadora.

 

 

A violência contra a mulher e o contexto escolar

 

A presença de comportamentos discriminatórios e violentos no ambiente escolar é uma realidade preocupante. Assédio, bullying de cunho sexista, piadas machistas, silenciamento de meninas e exclusão de conteúdos sobre igualdade de gênero são formas de violência simbólica e institucional que ocorrem frequentemente nas escolas.

A naturalização dessas práticas contribui para a perpetuação da desigualdade de gênero e impede que meninas se desenvolvam plenamente. Conforme os dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (2022), meninas em idade escolar são frequentemente vítimas de assédio, abuso sexual e violência psicológica, tanto por colegas quanto por adultos.

O silêncio institucional, a ausência de protocolos e a falta de formação dos educadores para lidar com essas situações agravam o problema. Torna-se, portanto, imperativo que a escola assuma o compromisso de enfrentar a violência de gênero com ações preventivas, educativas e acolhedoras.

 

 

A conscientização como estratégia de prevenção

 

Conscientizar é tornar consciente. No contexto escolar, isso significa criar oportunidades para que alunos e alunas reflitam criticamente sobre as relações de gênero, os direitos das mulheres e as formas de violência que as afetam. A conscientização é uma estratégia educativa fundamental para prevenir o assédio e a violência.

A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) prevê o desenvolvimento de competências socioemocionais e a formação ética dos estudantes. A inclusão da temática de gênero nos projetos pedagógicos está em sintonia com esse objetivo e deve ser tratada de forma transversal, contínua e sistemática.

Práticas como debates, rodas de conversa, leitura de obras literárias com protagonismo feminino, análise de filmes, oficinas temáticas e campanhas de sensibilização são instrumentos pedagógicos que podem ser utilizados para promover a conscientização.

 

 

A formação de professores e a gestão escolar comprometida

 

A formação continuada de professores é um dos pilares da conscientização escolar. Muitos educadores e educadoras ainda têm dificuldade em abordar temas de gênero em sala de aula, seja por falta de preparo, seja por medo de resistência por parte de pais e da comunidade.

Segundo Louro (1997), a formação docente deve incluir uma abordagem crítica das relações de gênero, desnaturalizando as desigualdades e promovendo a inclusão de saberes feministas e antidiscriminatórios no fazer pedagógico.

A gestão escolar também desempenha papel decisivo na construção de um ambiente seguro e igualitário. A elaboração de políticas institucionais de enfrentamento à violência de gênero, a criação de comissões de apoio e escuta, e o estabelecimento de canais de denúncia são medidas que fortalecem a atuação da escola na proteção dos direitos das meninas e mulheres.

 

 

O papel da comunidade escolar na promoção da igualdade de gênero

 

A conscientização não é tarefa exclusiva dos professores. Ela exige o engajamento de toda a comunidade escolar: direção, coordenação, funcionários, estudantes e familiares. A escola deve atuar como um espaço democrático e inclusivo, que promova a participação de todos na construção de uma cultura de paz.

Projetos interdisciplinares, encontros com famílias, parcerias com instituições de defesa dos direitos das mulheres e campanhas de sensibilização podem contribuir para criar uma rede de apoio à prevenção da violência.

Além disso, é essencial ouvir as estudantes. Dar voz às meninas, valorizar suas experiências e reconhecer seus direitos são passos fundamentais para que se sintam protegidas e empoderadas. A escuta ativa e o acolhimento são práticas educativas que fortalecem os vínculos e promovem a confiança na instituição escolar.

 

 

A escola como agente de transformação social

 

A educação tem poder transformador. Quando orientada por princípios de equidade, justiça social e respeito às diferenças, ela contribui para a desconstrução de valores patriarcais e a construção de novas formas de convivência baseadas no respeito e na dignidade humana.

A escola pode e deve atuar como espaço de resistência à cultura da violência e do silenciamento. Por meio da conscientização, do diálogo e da educação para os direitos humanos, é possível formar novas gerações mais sensíveis, justas e comprometidas com a construção de uma sociedade sem violência contra a mulher.

 

 

Considerações finais

 

A violência contra a mulher é um problema estrutural que requer ações articuladas em todas as esferas da sociedade. A escola, como espaço privilegiado de formação, tem o dever de promover a conscientização sobre o tema e contribuir para a superação das desigualdades de gênero.

Este artigo defende a importância da inclusão de temáticas de gênero nos currículos escolares, da formação continuada dos educadores, da criação de políticas institucionais de enfrentamento à violência e da participação ativa de toda a comunidade escolar.

Conscientizar é prevenir. E prevenir é proteger. A escola tem um papel essencial nesse processo, podendo contribuir significativamente para o combate ao assédio e à violência contra a mulher, por meio da construção de uma educação emancipadora, crítica e transformadora.

 

 

Referências

 

BRASIL. Base Nacional Comum Curricular. Ministério da Educação, 2017.

 

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.

 

FÓRUM BRASILEIRO DE SEGURANÇA PÚBLICA. Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2022. Disponível em: https://forumseguranca.org.br. Acesso em: 02 maio 2025.

 

LOURO, Guacira Lopes. Gênero, sexualidade e educação: uma perspectiva pós-estruturalista. Petrópolis: Vozes, 1997.

 

SAFFIOTI, Heleieth I. B. Gênero, patriarcado, violência. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2004.

 

SCOTT, Joan. Gênero: uma categoria útil de análise histórica. Educação & Realidade, Porto Alegre, v. 20, n. 2, p. 71-99, jul./dez. 1995.

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