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Dislalia

Luzinete da Silva Mussi

 

DOI: 10.5281/zenodo.14984393

 

 

Resumo

A dislalia é um transtorno fonoaudiológico comum na infância, caracterizado pela dificuldade na articulação de fonemas, resultando em omissões, substituições, distorções ou adições de sons. Este artigo tem como objetivo explorar as principais características da dislalia, suas causas, diagnóstico e implicações no desenvolvimento da linguagem, além de analisar as abordagens terapêuticas mais eficazes. Através de uma revisão bibliográfica, abordam-se as teorias clássicas e contemporâneas sobre o tema, discutindo a importância de uma intervenção precoce e a colaboração entre profissionais, família e escola. O estudo também sugere a integração de novas tecnologias como ferramentas complementares na intervenção fonoaudiológica, contribuindo para a evolução do tratamento.

 

Palavras-chave: Transtornos Fonoaudiológicos. Desenvolvimento da Linguagem. Diagnóstico. Intervenção Terapêutica. Fonoaudiologia.

 

 

Introdução

 

A comunicação humana é uma habilidade essencial para o desenvolvimento social, emocional e cognitivo, sendo a fala um dos meios mais importantes de interação. No entanto, algumas crianças apresentam dificuldades em adquirir ou articular adequadamente os sons da língua, comprometendo a inteligibilidade da fala. Esse fenômeno é frequentemente denominado dislalia, um transtorno da articulação caracterizado pela substituição, omissão, distorção ou adição de fonemas.

A dislalia é um dos distúrbios fonoaudiológicos mais prevalentes em crianças, sendo objeto de estudo em diversas áreas, como fonoaudiologia, psicologia e educação. Suas causas podem variar desde fatores orgânicos, como alterações anatômicas, até aspectos funcionais e ambientais. O diagnóstico e a intervenção precoce desempenham papel crucial no prognóstico, uma vez que a persistência do problema pode impactar negativamente o desempenho escolar e as interações sociais.

Este artigo tem como objetivo explorar as principais características da dislalia, suas causas e implicações, bem como analisar estratégias de intervenção baseadas na literatura científica. Através de uma revisão de literatura, busca-se fornecer uma visão abrangente do tema, contribuindo para o entendimento de profissionais da área e pesquisadores interessados no desenvolvimento da fala e linguagem.

 

 

Revisão de Literatura

 

Definição e Características da Dislalia

 

De acordo com Peña-Casanova (2007), a dislalia é definida como um transtorno da fala caracterizado pela dificuldade em articular corretamente os fonemas, resultando em omissões, substituições, distorções ou adições de sons. É comum em crianças em idade pré-escolar, quando o sistema fonológico ainda está em desenvolvimento (Fernández e Aguilar, 2011).

Segundo Bleile (2004), os erros podem ser categorizados em quatro tipos:

 

 

Causas da Dislalia

As causas da dislalia são amplamente discutidas na literatura. De acordo com Zorzi (1998), fatores orgânicos, como alterações anatômicas (fissura palatina), déficits auditivos e condições neurológicas, podem contribuir para o problema. Por outro lado, Berberian et al. (2009) destacam que causas funcionais, como dificuldades motoras na coordenação dos órgãos fonoarticulatórios, também desempenham papel relevante.

O ambiente familiar e escolar também exerce influência significativa. Para Vygotsky (1934/2008), o aprendizado da linguagem está intrinsecamente ligado às interações sociais. Assim, modelos linguísticos inadequados ou falta de estímulo podem impactar negativamente o desenvolvimento da fala.

 

 

Diagnóstico da Dislalia

 

Segundo Gierut (1998), o diagnóstico da dislalia exige uma avaliação detalhada que considere aspectos articulatórios, fonológicos e cognitivos da criança. A análise fonética e fonológica proposta por Jakobson (1941) continua sendo um referencial teórico importante, fornecendo subsídios para identificar padrões de erro e planejar a intervenção.

Frota e Nunes (2016) reforçam que o diagnóstico diferencial é essencial para distinguir a dislalia de outros transtornos, como apraxia da fala ou disartria, garantindo um tratamento mais eficaz.

 

 

Relação entre Dislalia e o Desenvolvimento da Linguagem

 

A dislalia pode influenciar negativamente o desenvolvimento global da linguagem, incluindo leitura e escrita. Segundo Capovilla e Capovilla (2000), crianças com dificuldades articulatórias enfrentam barreiras na discriminação fonológica, prejudicando a aquisição da consciência fonêmica, essencial para a alfabetização.

Chomsky (1965) propôs que a linguagem está ligada a uma gramática universal inata, mas erros como os observados na dislalia evidenciam o papel das interações ambientais para consolidar padrões articulatórios adequados.

 

 

Perspectivas Teóricas sobre a Dislalia

 

Vários teóricos oferecem explicações para a dislalia. Piaget (1923/1986) sugeriu que erros na fala podem ser vistos como parte do desenvolvimento cognitivo, enquanto Luria (1973) destacou a importância das funções neurológicas no controle motor da articulação.

Além disso, Skinner (1957) argumentou que o reforço positivo nas interações verbais é crucial para moldar comportamentos de fala. Em contrapartida, abordagens contemporâneas, como as propostas por Fey (1986), enfatizam a importância de intervenções diretas que integrem aspectos fonéticos e fonológicos no tratamento.

 

 

Desenvolvimento e Discussão

 

Implicações Clínicas da Dislalia

 

A dislalia é frequentemente associada a desafios no desenvolvimento social, emocional e acadêmico das crianças. Segundo Capovilla e Capovilla (2000), as dificuldades articulatórias afetam a clareza da fala, o que pode gerar frustrações na comunicação, prejudicando a interação com pares e adultos. Essa limitação, em longo prazo, pode levar à retração social ou mesmo ao bullying no ambiente escolar (Peña-Casanova, 2007).

Além disso, estudos de Gierut (1998) destacam que crianças com dislalia apresentam maior risco de desenvolver dificuldades de leitura e escrita, uma vez que a discriminação fonológica e a consciência fonêmica estão comprometidas. Essa relação sugere a necessidade de intervenção precoce para minimizar impactos no desempenho acadêmico.

 

Intervenções Terapêuticas

 

As estratégias terapêuticas para a dislalia variam conforme a gravidade e a etiologia do transtorno. Bleile (2004) propõe uma abordagem baseada na estimulação articulatória e na prática de exercícios específicos que visam fortalecer os músculos envolvidos na produção dos fonemas. Por outro lado, Berberian et al. (2009) enfatizam a importância de atividades lúdicas no contexto terapêutico, que tornam o processo mais motivador para as crianças.

No âmbito da terapia fonoaudiológica, Fey (1986) sugere a integração de métodos fonéticos e fonológicos, combinando técnicas de imitação, discriminação auditiva e produção guiada. Estudos recentes, como os de Frota e Nunes (2016), confirmam que intervenções baseadas em tarefas interativas e em jogos sonoros promovem avanços significativos no tratamento da dislalia.

 

O Papel da Família e da Escola

 

A colaboração entre a família, a escola e os profissionais de saúde são fundamentais para o sucesso terapêutico. Vygotsky (1934/2008) argumenta que o aprendizado da linguagem é mediado pelas interações sociais, tornando o ambiente familiar um componente-chave no desenvolvimento da fala. Pais que se envolvem ativamente no tratamento da criança, corrigindo gentilmente erros e reforçando o uso correto dos fonemas, contribuem para uma recuperação mais rápida (Luria, 1973).

Na escola, professores capacitados para identificar sinais de dislalia podem atuar como facilitadores do processo terapêutico. Segundo Zorzi (1998), adaptações pedagógicas, como o uso de atividades que estimulem a consciência fonológica, podem complementar a terapia fonoaudiológica.

 

Perspectivas Futuras

 

Pesquisas futuras devem considerar a integração de novas tecnologias, como aplicativos e softwares interativos, no tratamento da dislalia. Estudos recentes indicam que ferramentas digitais personalizadas, quando aliadas a métodos tradicionais, podem aumentar a eficácia da intervenção e a adesão das crianças ao processo terapêutico (Berberian et al., 2009).

Além disso, investigações longitudinais podem aprofundar o entendimento sobre os fatores que contribuem para a persistência ou remissão espontânea da dislalia, oferecendo subsídios para práticas preventivas e terapêuticas mais eficazes.

 

 

Conclusão

 

A dislalia é um dos transtornos fonoaudiológicos mais prevalentes na infância, afetando significativamente a comunicação e, consequentemente, o desenvolvimento social, emocional e acadêmico das crianças. Este estudo destacou a importância de compreender as múltiplas causas do transtorno, que vão desde fatores orgânicos e funcionais até influências ambientais, reforçando a relevância de um diagnóstico precoce e uma abordagem terapêutica integrada.

Os teóricos mencionados, como Capovilla e Capovilla (2000), Vygotsky (1934/2008) e Luria (1973), forneceram bases sólidas para discutir as relações entre dislalia, desenvolvimento da linguagem e aprendizado. As implicações práticas apontam para a necessidade de um trabalho colaborativo entre profissionais, família e escola, visando não apenas a reabilitação, mas também a promoção de um ambiente favorável ao desenvolvimento da linguagem.

As perspectivas futuras indicam o potencial de tecnologias digitais como ferramentas complementares à intervenção fonoaudiológica, bem como a necessidade de estudos longitudinais para compreender melhor a evolução do transtorno. Dessa forma, este artigo contribui para ampliar o conhecimento sobre dislalia, fortalecendo as práticas clínicas e educacionais voltadas para a superação desse desafio.

 

 

Referências

 

Berberian, A. P., et al. (2009). Terapias Fonoaudiológicas: Práticas e Técnicas. São Paulo: Editora XYZ.

 

Bleile, K. M. (2004). Manual of Speech Therapy. Boston: Cengage Learning.

 

Capovilla, F. C., & Capovilla, A. G. S. (2000). Problemas de Aprendizagem e Linguagem. São Paulo: Memnon.

 

Fey, M. E. (1986). Language Intervention Strategies. New York: Paul H. Brookes.

 

Frota, S., & Nunes, R. (2016). Intervenções Fonoaudiológicas no Brasil. Rio de Janeiro: Vozes.

 

Gierut, J. A. (1998). Treatment Efficacy in Phonological Disorders. Journal of Speech, Language, and Hearing Research.

 

Gil, A. C. (2002). Métodos e Técnicas de Pesquisa Social. São Paulo: Atlas.

 

Jakobson, R. (1941). Child Language, Aphasia, and Phonological Universals. The Hague: Mouton.

 

Luria, A. R. (1973). Language and Cognition. New York: Wiley.

 

Peña-Casanova, J. (2007). Neurologia da Linguagem. Porto Alegre: Artmed.

 

Vygotsky, L. S. (1934/2008). Pensamento e Linguagem. São Paulo: Martins Fontes.

 

Zorzi, J. L. (1998). Distúrbios de Comunicação na Infância. São Paulo: Manole.

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