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Inclusão é vez, voz e ação: uma reflexão sobre práticas e possibilidades no contexto escolar

 

Ana Reni Gonçalves[1]

 

DOI: 10.5281/zenodo.13905196

 

 

Resumo

A inclusão escolar é um tema central nas políticas educacionais, com o objetivo de criar ambientes acessíveis e equitativos para todos os estudantes, independentemente de suas condições. Este artigo, intitulado Inclusão é Vez, Voz e Ação, explora como esses três pilares para garantir a participação dos alunos, dar voz a suas necessidades e implementar práticas pedagógicas inclusivas, as quais podem ser aplicadas na escola. A pesquisa está estruturada em quatro etapas: uma revisão teórica sobre a inclusão e seus marcos legais; a análise do conceito de vez, focando na presença e participação efetiva de todos; o estudo da voz, destacando a importância de escutar e considerar os alunos no processo educativo; e a reflexão sobre ação, investigando como as práticas inclusivas podem ser aplicadas de forma concreta. O estudo bibliográfico, busca oferecer diretrizes e soluções para educadores e gestores, evoluindo uma educação verdadeiramente inclusiva, capaz de atender às necessidades de todos os alunos.

 

Palavras-chave: Inclusão. Alunos. Educação.

 

 

Abstract

 

School inclusion is a central theme in educational policies, with the aim of creating accessible and equitable environments for all students, regardless of their conditions. This article, entitled Inclusion is Time, Voice and Action, explores how these three pillars ensure student participation, give voice to their needs and implement inclusive pedagogical practices, which can be applied at school. The research is structured in four stages: a theoretical review on inclusion and its legal frameworks; the analysis of the concept of time, focusing on the presence and effective participation of everyone; the study of voice, highlighting the importance of listening and considering students in the educational process; and reflection on action, investigating how inclusive practices can be applied in a concrete way. The bibliographic study seeks to offer guidelines and solutions for educators and managers, evolving a truly inclusive education, capable of meeting the needs of all students.

 

Keywords: Inclusion. Students. Education.

 

Introdução

 

A inclusão escolar é uma questão central nas políticas educacionais contemporâneas, com o objetivo de promover um ambiente acessível e equitativo para todos os estudantes, independentemente de suas características ou condições. A frase "inclusão é vez, voz e ação" encapsula uma perspectiva que vai além da mera integração de alunos com necessidades especiais, buscando, em vez disso, um ambiente escolar onde cada estudante tenha a oportunidade de participar, ser ouvido e influenciar a prática educativa. Este artigo busca explorar essa temática e suas implicações na construção de uma escola inclusiva, oferecendo uma análise detalhada de como esses três elementos — vez, voz e ação — podem ser desenvolvidos na prática educativa.

A pesquisa será estruturada em diferentes etapas, contemplando tanto uma revisão bibliográfica quanto uma análise qualitativa de práticas escolares já implementadas em diferentes contextos educacionais. O primeiro passo será a construção teórica do conceito de inclusão, abordando marcos legais, diretrizes da educação inclusiva e a fundamentação pedagógica que embasa essa prática nas escolas. Será dado destaque à legislação brasileira, como a Lei Brasileira de Inclusão (Lei 13.146/2015) e a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que oferecem diretrizes para uma prática pedagógica que respeite a diversidade e promova a inclusão.

Em seguida, a segunda etapa envolverá a análise do que significa "vez" no contexto da inclusão, explorando como as escolas podem garantir a presença e participação efetiva de todos os alunos, independentemente de suas dificuldades ou condições. Nesta etapa, serão analisados estudos de caso e exemplos de práticas pedagógicas que garantem o direito de estar presente em sala de aula, incluindo adaptações curriculares, infraestrutura e o papel dos educadores na facilitação da inclusão.

A terceira fase se dedicará à "voz" dos alunos, enfatizando a importância de criar espaços de escuta ativa e participação no processo educativo. Será investigado como a voz dos estudantes, especialmente daqueles com deficiências ou dificuldades, pode ser ouvida e levada em consideração no planejamento pedagógico e no cotidiano escolar. Para isso, serão analisados dados qualitativos de entrevistas e questionários aplicados a professores e alunos de escolas que já desenvolvem práticas inclusivas, buscando identificar os desafios e sucessos dessas abordagens.

Por fim, a última fase da pesquisa abordará a "ação", refletindo sobre como as práticas inclusivas podem ser aplicadas no dia a dia escolar, desde a adaptação das metodologias de ensino até o uso de tecnologias assistivas e a capacitação contínua dos professores. Serão analisadas as práticas de intervenção já utilizadas em escolas, com foco na ação pedagógica que transforma a inclusão em uma realidade concreta e significativa.

Ao longo da pesquisa, será realizada uma reflexão crítica sobre a eficácia dessas práticas e sua aplicabilidade em diferentes contextos escolares, visando fornecer sugestões e diretrizes para a implementação de uma educação verdadeiramente inclusiva. O desenvolvimento desta pesquisa busca, portanto, contribuir para a compreensão e aprimoramento das políticas de inclusão nas escolas, propondo soluções práticas para os desafios enfrentados por educadores e gestores escolares ao buscar garantir vez, voz e ação para todos os alunos.

 

 

A Inclusão e seus Desafios

 

 A inclusão escolar é muitas vezes desafiadora, especialmente em contextos onde o sistema educacional está em processo de adaptação de suas estruturas, currículos e metodologias. No Brasil, essa realidade é ainda mais complexa devido às diferenças regionais e ao histórico de desigualdades educacionais. Uma das principais barreiras enfrentadas pelas escolas é a falta de capacitação dos profissionais para lidar com a diversidade de formas de aprendizagem e com as necessidades educacionais especiais (NEE). Essa falta de preparo reflete-se no desafio de garantir que todos os alunos tenham acesso igualitário a uma educação de

A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) estabelece que o desenvolvimento de uma educação inclusiva é um direito fundamental de todos os alunos, conforme previsto na Constituição Federal de 1988 e na Lei Brasileira de Inclusão (Lei nº 13.146/2015). No entanto, a implementação de uma educação realmente inclusiva vai além da formulação de diretrizes curriculares. Ela exige uma reestruturação profunda nos métodos pedagógicos, nas políticas públicas e, principalmente, uma mudança de mentalidade por parte dos educadores e da comunidade escolar

Conforme argumenta Mantoan (2006), uma das referências brasileiras em inclusão escolar, o sucesso da inclusão depende da crença de que todos os alunos são capazes de aprender, desde que recebam o suporte adequado. A formação continuada de professores, focada na inclusão e no uso de práticas pedagógicas que atendem à diversidade, é essencial para promover um ambiente verdadeiramente inclusivo. Além disso, é crucial que os gestores escolares, as famílias e os próprios alunos estejam envolvidos nesse processo, para que a inclusão se torne uma prática diária e não apenas uma direção

Em resumo, a inclusão escolar, conforme proposta da BNCC, é uma construção coletiva, que requer mudanças estruturais, formação de qualidade para os professores e um comprometimento por parte de toda a comunidade educativa. Embora os desafios sejam muitos, o caminho para uma educação inclusiva no Brasil é um imperativo legal e social, sendo fundamental garantir que todos os alunos, independentemente de suas particularidades, possam desenvolver suas potencialidades e participar plenamente da vida

 

 

A vez dos alunos e o direito de participar

 

Dar vez significa criar oportunidades para que todos os alunos estejam incluídos no ambiente escolar. É garantir que o espaço físico e social da escola seja acessível e acolhedor, proporcionando aos alunos com deficiências, transtornos de desenvolvimento ou dificuldades de aprendizagem a chance de estar junto de seus pares, sem discriminação ou segregação. A legislação brasileira, por meio da Lei Brasileira de Inclusão (Lei 13.146/2015), reforça o direito à educação inclusiva, garantindo que a vez dos alunos seja uma realidade nas escolas. Entretanto, garantir presença física é apenas o primeiro passo para uma inclusão eficaz.

 

 

A voz dos alunos sendo escuta ativa e participativa nos processos

 

A inclusão verdadeira vai muito além da simples presença física dos alunos na sala de aula. Para que seja realmente significativa, é necessário que os alunos tenham voz ativa no processo educativo, ou seja, suas opiniões, necessidades e capacidades devem ser reconhecidas e levadas em consideração. Essa dimensão da inclusão envolve a valorização da singularidade de cada estudante, permitindo que eles participem ativamente da construção do ambiente escolar e da formulação de soluções para os desafios que enfrentam.

A escuta ativa torna-se, nesse contexto, uma ferramenta essencial para que os educadores possam compreender como os alunos se sentem em relação ao processo de aprendizagem, suas dificuldades, bem como seus desejos e expectativas. Esse conceito está fortemente alinhado com as ideias de Paulo Freire, (1968), que em sua obra Pedagogia do Oprimido, defende que o diálogo é uma prática de liberdade e essencial para uma educação democrática. Para Freire, ouvir verdadeiramente os alunos é reconhecer seu papel como sujeitos no processo educativo.

Da mesma forma, a importância das interações sociais na aprendizagem, conforme argumentado por Lev Vygotsky em sua teoria da Zona de Desenvolvimento Proximal, ressalta o papel fundamental da comunicação entre aluno e professor no avanço do conhecimento. Quando os professores, orientadores e gestores utilizam a escuta ativa, conseguem identificar e apoiar o desenvolvimento dentro dessa zona, promovendo intervenções pedagógicas que atendem às necessidades dos alunos de forma mais eficaz.

Oliveira, (1993), reforça a ideia de que a aprendizagem é um processo mediado pela comunicação e pelo diálogo, o que torna essencial a escuta ativa e o respeito pelas perspectivas dos alunos. Ouvir verdadeiramente suas vozes permite que os educadores adaptem as práticas pedagógicas e respondam às realidades e desafios individuais de cada estudante.

Além disso, Arroyo (2000), destaca a importância de uma escuta sensível por parte dos professores para que compreendam as experiências e realidades dos alunos, principalmente daqueles em situações de vulnerabilidade. Arroyo defende que, ao dar voz aos estudantes, as escolas se tornam espaços mais democráticos, onde a inclusão é uma prática cotidiana que reconhece e valoriza a diversidade.

Quando a escola promove espaços de escuta ativa, por exemplo, em rodas de conversa, assembleias escolares ou atividades de mediação, ela cria um ambiente em que os estudantes se sentem à vontade para compartilhar suas experiências. Esses espaços de diálogo proporcionam uma interação mais próxima entre alunos e educadores, fortalecendo o senso de pertencimento e colaboração. Esse princípio também está presente nas reflexões de Celso Antunes (2000), ele argumenta que a escuta das necessidades e capacidades dos alunos é crucial para a adaptação das práticas pedagógicas e para a promoção de uma educação inclusiva e significativa.

Ao ouvir a voz dos alunos, a escola também se enriquece, tornando-se um espaço mais plural e dinâmico, onde as práticas pedagógicas podem ser constantemente ajustadas para atender melhor às necessidades de todos. Bernard Charlot (2000), discute a importância de entender o ponto de vista dos alunos e de como suas vivências impactam sua relação com o saber. Para Charlot, a escola deve ser um espaço de construção conjunta de significados, onde os alunos têm a oportunidade de expressar suas vozes e participar ativamente da construção do conhecimento.

Entende-se que a inclusão não é apenas física; é uma prática que envolve escutar, valorizar e agir em resposta às necessidades e percepções dos alunos. Ao fazê-lo, as escolas não apenas cumprem seu papel social de integrar todos os estudantes, mas também promovem um ambiente mais saudável e propício ao aprendizado para todos.

 

 

A ação são as práticas inclusivas no dia a dia escolar

 

A ação é a concretização das práticas inclusivas, que se refletem em vários aspectos da escola, desde a organização do currículo até as adaptações pedagógicas e a formação continuada dos professores. A inclusão vai além de ajustes pontuais, demandando uma transformação integral nas práticas pedagógicas e na cultura escolar. Como defendido por Paulo Freire (1968), a educação inclusiva requer uma prática dialógica, onde o educador e o aluno aprendem juntos, promovendo um ambiente que valoriza a diversidade de perspectivas e necessidades.

É fundamental que a inclusão se manifeste em práticas cotidianas que promovam o desenvolvimento integral de todos os estudantes. Para isso, o uso de metodologias ativas é essencial. Essas metodologias, ao priorizarem a participação ativa do aluno no processo de aprendizagem, permitem que os estudantes explorem suas próprias formas de aprender, respeitando suas individualidades. Segundo Celso Antunes (2000), compreender que os alunos possuem diferentes estilos de aprendizado é crucial para o sucesso das práticas inclusivas. Antunes defende que, ao adotar metodologias que estimulam múltiplas formas de inteligência, o professor consegue atender melhor às particularidades dos estudantes.

Além das metodologias ativas, a adoção de tecnologias assistivas desempenha um papel crucial para garantir o acesso de todos os alunos ao conteúdo escolar. Ferramentas como softwares de leitura para deficientes visuais, dispositivos de amplificação para alunos com deficiência auditiva ou até materiais pedagógicos adaptados para dificuldades motoras são fundamentais para a criação de um ambiente inclusivo. Como menciona Miguel Arroyo (2000), a inclusão não pode ser pensada apenas como uma adaptação curricular; ela deve levar em consideração os diversos fatores que impactam a aprendizagem, como as desigualdades sociais e culturais. Arroyo ressalta que as adaptações pedagógicas devem ser pensadas para garantir que todos os alunos, independentemente de suas condições, possam se desenvolver plenamente no ambiente escolar.

No entanto, para que essas práticas inclusivas sejam efetivas, é necessário que a formação continuada dos professores seja robusta e alinhada com as demandas da inclusão. Oliveira (1993), enfatiza que o processo de ensino-aprendizagem é mediado pelas interações sociais. Nesse sentido, a formação docente deve focar em estratégias pedagógicas que promovam essas interações, considerando as necessidades dos alunos com deficiência ou com diferentes ritmos de aprendizagem. A formação deve proporcionar aos professores não apenas o conhecimento técnico, mas também habilidades socioemocionais que os capacitem a lidar com a diversidade de alunos em suas salas de aula.

Charlot (2000), ressalta a importância de uma formação docente que vá além do conteúdo acadêmico, focando na escuta ativa e no entendimento das vivências dos alunos. Para Charlot, é fundamental que os professores sejam capazes de ouvir os estudantes e de adaptar suas práticas pedagógicas às realidades sociais e emocionais que eles trazem consigo. Dessa forma, a formação continuada deve incluir não apenas estratégias pedagógicas, mas também momentos de reflexão sobre o papel do professor como mediador do conhecimento e facilitador de um ambiente inclusivo.

A inclusão escolar não é uma meta a ser atingida de forma isolada. Ela é um processo contínuo que exige uma transformação nas práticas pedagógicas, no uso de tecnologias e na postura dos educadores. A prática inclusiva se concretiza diariamente por meio de ações que vão desde a adaptação de conteúdos até a criação de espaços de diálogo onde a escuta ativa e o respeito pela diversidade são a base de uma educação verdadeiramente democrática.

 

 

Considerações Finais

 

A inclusão nas escolas só será efetiva quando todos os seus pilares — vez, voz e ação — forem colocados em prática de maneira integrada. Isso exige não apenas o comprometimento dos professores e gestores, mas também a colaboração de toda a comunidade escolar. A inclusão não deve ser vista como um objetivo final, mas como um processo contínuo de transformação das práticas pedagógicas e das relações sociais dentro da escola. Afinal, uma escola verdadeiramente inclusiva é aquela que, além de dar vez e voz aos alunos, age de forma concreta para garantir que todos, sem exceção, possam aprender e se desenvolver em um ambiente acolhedor e respeitoso.

 

 

Referências

ANTUNES, Celso. A teoria das inteligências libertadoras. 2. ed. Petrópolis, Vozes, 2000.

 

ARROYO, Miguel Gonzalez. Ofício de Mestre: imagens e auto-imagens. Petrópolis: Vozes, 2000. 251 p.

 

CHARLOT B. Da relação com o saber: elementos para uma teoria, Porto Alegre: Artmed, 2000.

 

BRASIL. Lei 13.146/2015. Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência. Brasília, 2015.

 

BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR. (BNCC). Documento homologado, Brasília, 2017.

 

FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. São Paulo: Instituto Paulo Freire, 1968.

 

GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 3. ed. São Paulo: Atlas, 1994.

 

MANTOAN, Maria Teresa Eglér e PRIETO, Rosângela Gavioli. Inclusão escolar: pontos e contrapontos. São Paulo: Summus. Acesso em: 07 out. 2024, 2006

 

OLIVEIRA, M. K. de (1993). Vygotsky: Aprendizado e desenvolvimento Um processo sócio-histórico. São Paulo: Scipione, 1998.

 

 

[1] Graduada em Pedagogia pela Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT). E-mail: O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.

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