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Alfabetização e letramento no processo de ensino-aprendizagem

Herica Tolotti Machado Pereira

Sandra Vieira de Souza Moço

Jocelaine Carvalho Rodrigues

 

DOI: 10.5281/zenodo.14231154

 

 

RESUMO

Este artigo apresenta uma reflexão sobre a alfabetização e letramento no processo de aprendizagem, refletindo sobre seus conceitos e significados, no seu contexto de desenvolvimento e na relação entre teoria e prática. No decorrer do desenvolvimento desta pesquisa busca-se compreender como ou de que forma pode-se alfabetizar letrando. A metodologia utilizada para desenvolvimento dessa pesquisa foi a descritivo-bibliográfica, a qual se fundamenta em teorias de diversos autores, os quais são mencionados por suas relevantes contribuições. Dentre estes citam-se: Marcuschi, Saltini, Soares, Cagliari, Ferreiro. Para Marcuschi (2007) a alfabetização é um aprendizado mediante ensino, e compreende o domínio das habilidades de ler e escrever, enquanto o letramento é um processo de aprendizagem social e histórica da leitura e da escrita em contextos informais e para usos utilitários, por isso, é um conjunto de práticas sociais. O primeiro compreende a saber ler e escrever, já o segundo compreende a saber fazer uso dessas aprendizagens.

 

Palavras-chave: Alfabetização. Letramento. Ensino. Aprendizagem

 

 

ABSTRACT

This article presents a reflection about literacy and literacy in the learning process, reflecting on its concepts and meanings, in its context of development and in the relation between theory and practice. In the course of the development of this research it is sought to understand how or how literacy can be taught. The methodology used to develop this research was descriptive-bibliographical, which is based on theories of several authors, which are mentioned by their relevant contributions. Among these are: Marcuschi, Saltini, Soares, Cagliari, Ferreiro. For Marcuschi (2007) literacy is a learning by teaching, and includes the mastery of reading and writing skills, while literacy is a process of social and historical learning of reading and writing in informal contexts and for utilitarian uses, so, is a set of social practices. The first one understands how to read and write, while the second understands how to make use of those learnings.

 

Keywords: Literacy. Literature. Teaching. Learning

 

 

Introdução

 

Atualmente, em nosso pais muitas pessoas já escolarizadas são consideradas analfabetas funcionais, ou seja, não são capazes de compreenderem o que lêem. através dessa realidade presente nas escolas é fundamental que  compreendamos o que é alfabetização e o que é letramento para poderemos desenvolver melhor nossa prática pedagógica, visando uma alfabetização significativa. Logo, o presente texto é resultado de uma pesquisa bibliográfica sobre alfabetização e que teve por objetivo expressar os significados do processo de alfabetização e do processo de letramento, mostrando a especificidade de cada um e a importância da conciliação entre ambos, além de propor uma reflexão entre teoria e prática educacional de se alfabetizar letrando.

O processo de alfabetizar e letrar exige muita dedicação, paciência e profissionalismo. Esse processo é lento e precisa do envolvimento do professor, aluno e família, para se obter resultados satisfatórios. Envolve muitos aspectos, dentre eles: a metodologia, os recursos (material didático), o esforço do aluno, o compromisso do professor, e a participação dos pais que deve se fazer presente na escola e também auxiliar em casa no que é passado na aula pelo professor, para que o aluno crie o hábito de ler e escrever.

Hoje não há mais pessoa somente alfabetizada ou letrada, esses dois processos estão entrelaçados. Para Marcuschi (2007) a alfabetização é um aprendizado da leitura e da escrita mediante ensino na escola. Para o autor o letramento é a aprendizagem do uso utilitário da escrita e da leitura.

Portanto, tornou-se cada vez mais importante saber tanto ler e escrever quanto saber seus usos. Pois, na sociedade eles aparecem em diversos contextos, por exemplo: a leitura de um discurso político não tem o mesmo significado que a leitura de um anúncio de supermercado, a escrita da bula de um remédio não é a mesma escrita de um convite para um amigo.

 

 

Desenvolvimento

 

Alfabetização e Letramento

 

O termo Alfabetização, segundo Soares (2007), etimologicamente, significa: levar à aquisição do alfabeto, ou seja, ensinar a ler e a escrever. Assim, a especificidade da Alfabetização é a aquisição do código alfabético e ortográfico, através do desenvolvimento das habilidades de leitura e de escrita.

Na história do Brasil, a alfabetização ganha força, principalmente, após a Proclamação da República, com a institucionalização da escola e com o intuito de tornar as novas gerações aptas à nova ordem política e social. A escolarização, mais especificamente a alfabetização, se tornou instrumento de aquisição de conhecimento, de progresso e modernização do país.

Segundo Marcuschi (2007):

 

A alfabetização é um aprendizado mediante ensino, e compreende o domínio ativo e sistemático das habilidades de ler e escrever que acontece na instituição escolar. Ainda segundo o autor, o letramento é um processo de aprendizagem social e histórica da leitura e da escrita, em contextos informais e para usos utilitários, é um conjunto de práticas sociais.

 

O letramento é um processo de aprendizagem social e histórica da leitura e da escrita em contextos informais e para usos utilitários, por isso, é um conjunto de práticas sociais. A alfabetização pode dar-se, como de fato se deu historicamente, à margem da instituição escolar, mas é sempre um aprendizado mediante ensino, e compreende o domínio das habilidades de ler e escrever.

Podemos dizer que a escrita, enquanto manifestação formal dos diversos tipos de letramento é mais do que uma tecnologia. Ela se tornou um bem social indispensável para enfrentar o dia a dia, seja nos centros urbanos ou na zona rural. Essas aprendizagens têm repercussão na vida do aluno, é por meio dela que ele poderá viver na sociedade que cada vez mais surgem mais formas de comunicação e que está presente em tudo que fazemos desde a zona rural na leitura das instruções de um produto agrotóxico até nas cidades na leitura do ônibus que se deve entrar.

As pessoas Algumas vezes estão alfabetizadas e letradas com intensidades diferentes enquanto umas sabem escrever cartas outras somente sabem escrever o nome, elas também podem apresentar dificuldades em ler e escrever, mas não é porque sejam incapazes, pode ser falta a de material escolar ou uma dificuldade de aprendizagem específica. Seja por meio da alfabetização ou do letramento a pessoa pode se beneficiar dessas práticas aprendendo ou se comunicando. Aprendendo porque a pessoa leva para escola suas próprias vivencias e aprendizagens exteriores, se comunicando porque assim saberá os usos da escrita e da leitura.

Segundo Soares, (2003):

 

Letramento é de uso ainda recente e significa o processo de relação das pessoas com a cultura escrita. Assim, não é correto dizer que uma pessoa é iletrada, pois todas as pessoas estão em contato com o mundo escrito. Mas, se reconhece que existem diferentes níveis de letramento, que podem variar conforme a realidade cultural.

 

E isso, ganha espaço a partir da constatação de uma problemática na educação, pois através de pesquisas, avaliações e análises realizadas, chegou- se à pode-se dizer que nem sempre o ato de ler e escrever garante que o indivíduo compreenda o que lê e o que escreve.

Entretanto, se reconhece que muito mais que isso, é realizar uma leitura crítica da realidade, respondendo satisfatoriamente as demandas sociais.

Analisando a evolução humana, fica explícito que o homem antes mesmo de aprender a escrita, apreende o mundo a sua volta e faz a leitura crítica desse imenso mundo material.

Não existe pessoa iletrada, mesmo que ela ainda não seja alfabetizada, pois ela desde o princípio da vida reflete sobre as coisas. O letramento está intimamente ligado às práticas sociais, exigindo do indivíduo, uma visão do contexto social em que vive. Isso faz da alfabetização uma prática centrada mais na individualidade de cada um e do letramento uma prática mais ampla e social.

É importante, destacar o papel do professor dentro desse processo. Este profissional deve acreditar e promover a construção de pensamento crítico em si próprio e em seus alunos. No que se refere ao tempo escolar dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental, que é sem dúvidas um período decisivo para o processo da alfabetização, o letramento deve ser entendido como uma forma de ampliação do próprio entendimento da alfabetização ou como modo de complementar este processo.

Para Marcuschi (2007) essas práticas determinam o lugar, o papel e o grau de relevância da oralidade e das práticas de letramento numa sociedade e justificam que a questão da relação entre ambos seja posta no eixo de um contínuo sócio-histórico de práticas. Dependendo do grau de leitura e escrita da pessoa é que pode saber se a pessoa está somente letrada, alfabetizada ou os dois.

Sendo assim, para um sujeito ser letrado não necessariamente tem que estar frequentando uma escola regularmente, estando frequentando-a ou não o sujeito pode ser letrado, pois como já foi comentado o letramento pode estar em contextos informais e ser usado para usos utilitários.

Quando falamos do processo de ensino-aprendizagem torna-se relevante mencionar a dimensão pedagógica do processo de alfabetização. E sobre esse assunto Emília Ferreiro (2001) afirma que:

 

Na prática pedagógica nada é imutável, fechado e dependente do modo de conceber o processo de aprendizagem. As mudanças necessárias para a alfabetização inicial não se resolvem com um novo método, novos testes e materiais didáticos. Na realidade, o professor precisa mudar essa imagem em relação à escrita e à criança. A escrita é uma representação da linguagem e a criança não é: “um par de olhos, um par de ouvidos, uma mão que pega, um instrumento para marcar e um aparelho fonador que emite sons”. Para a autora, a criança é um sujeito “que pensa; que constrói interpretações, que age sobre o real para fazê-lo seu”. (FERRREIRO, 2001, P.40).

 

Para a autora a criança, possui acertos e erros, aprendizagens e dificuldades, e cabe ao educador buscar diagnosticar e compreender as dificuldades de aprendizagem de seus alunos, superando cada um deles, buscando métodos para superá-los.

Segundo Cagliari (1993),

 

A alfabetização era tida como a aprendizagem da leitura e da escrita. Porém, o conceito é muito mais amplo, e deve chegar também à compreensão do que se lê ou escreve. Para ele a alfabetização vai além de ler e escrever, ela nos leva a compreensão da sociedade, passando a usar essa prática na nossa realidade, ou seja, ser alfabetizado significa distinguir, decifrar os símbolos e ser capaz de escrevê-los, buscando a interação entre o meio social inserido.

 

Percebe-se que se  faz necessário uma busca pelo conhecimento da parte do professor visando como a criança se envolve com a sociedade, pois é através dessa interação que a criança começa a ver o mundo que rodeia; no meio letrado em que está inserida, como: os avisos, placas, outdoors, entre outros, ou seja, folheiam livros, fingem lê-los, brincam de escrever, ouvem histórias lidas pela família ou pelo professor, percebendo seus usos e funções, crianças que são ainda não são alfabetizadas, mas de uma forma estão inseridas no contexto letramento.

De acordo com Saltini (1997) é preciso que:

 

[...] encorajar a criança a descobrir e inventar, sem ensinar ou dar conceitos prontos. A resposta pronta só deve ser dada quando a pergunta da criança focaliza um ato social arbitrário (funções do objeto cotidiano). Manter-se atento à série de descobertas que as crianças vão fazendo, dando-lhes o máximo de possibilidades para isso. Dar atenção a cada uma delas, encorajando-as a construir e a se conhecer. Dar maior incentivo à pergunta que à resposta. Sempre buscando no grupo a resposta o professor procurará sistematizar e coordenar as ideias emergentes. A relação que se estabelece com o grupo como um todo e a pessoal com cada criança é diferenciada em todos os seus aspectos quantitativos e cognitivos respeitando-se a maturidade de seu pensamento e a individualidade. [...] (SALTINI, 1997, p.90)

 

Pode-se perceber que a criança precisa ser estimulada a vivenciar de forma prática o seu processo de construção do conhecimento, tendo o professor em sua prática educativa respeitar os conhecimentos cognitivo da criança, o seu processo de maturação, a sua individualidade e o seu processo de aprender.

Fica, portanto, evidenciado por estudiosos, a necessidade de se cuidar do aspecto afetivo no processo ensino-aprendizagem, levando em conta que a criança é diferente, cognitiva e afetivamente falando, em cada fase do seu desenvolvimento.

 

 

Práticas Pedagógicas que conciliam no processo de alfabetização e letramento

 

As práticas pedagógicas no que se diz respeito a alfabetização devem contemplar a com textualização da escrita com base nas situações reais de uso dessa tecnologia na sociedade, oferecendo condições para o letramento ao tempo que situam os gêneros textuais demarcando suas funções comunicativas. 

Consideramos a ressalva de que a escola não pode garantir o acesso a todos os tipos de leitura ou mesmo a sua utilização, no entanto, enquanto agência promotora do letramento deve encaminhar o aluno ao acesso da cultura letrada, possibilitando o conhecimento das diferentes formas de utilização dos recursos comunicativos.

Ferreiro afirma que “nenhuma prática pedagógica é neutra. Todas estão apoiadas em certo modo de conceber o processo de aprendizagem e o objeto dessa aprendizagem” (2000, p.31).

Precisamos constantemente discutir acerca do papel do professor alfabetizador nesse contexto, a fim de que possa desenvolver práticas significativas de ensino que possibilitem o desenvolvimento do aluno acerca do funcionamento e utilização da escrita.

 

Há crianças que chegam à escola sabendo que a escrita serve para escrever coisas inteligentes, divertidas ou importantes. Essas são as que terminam de alfabetizar-se na escola, mas começaram a alfabetizar muito antes, através da possibilidade de entrar em contato, de interagir com a língua escrita. Há outras crianças que necessitam da escola para apropriar se da escrita. (Ferreiro, 1999, p.23)

 

Podemos dizer que quando falamos de prática pedagógica temos que reconhecer que os alunos já possuem conhecimentos prévios, assim, é importante que os professores façam um diagnóstico do conhecimento de seus alunos, para saberem de onde devem partir e planejar suas atividades. Buscando sanar as dificuldades e aumentar as potencialidades de cada aluno.

Partindo da prática social, o conteúdo terá sentido para os alunos, que irão construindo conhecimentos gradativamente e desenvolvendo uma atitude transformadora da sociedade, pois ele perceberá que conhecimento científico faz parte da sua vida e pode contribuir para melhorá-la. As atividades devem promover tanto a alfabetização como o letramento, de maneira, que o ensino do código alfabético seja conciliado com o seu uso social em diferentes ocasiões.

Enfim, o professor alfabetizador deve também utilizar, criar estratégias de ensino de acordo com as características de seus alunos, deve identificar a realidade vivida de cada criança, seus hábitos, costumes, conhecer o seu processo familiar, buscando então a criticidade de uma aprendizagem que proporcione o verdadeiro sentido do saber.

 

 

Considerações finais

 

De acordo com os estudos realizados pode-se concluir que alfabetização e letramento são práticas distintas, mas uma segue paralela a outra, e para que o professor exerça de forma eficaz a sua prática pedagógica, é necessário que consiga aprimorar a ação de alfabetizar e letrar.

 O professor e aluno devem estar interligados na teoria e prática, num contexto dinâmico que todos se tornem aprendizes e construtores de histórias, sendo assim necessário compreender a prática pedagógica como elemento de produção do conhecimento, dessa forma, ocorre a necessidade e precisão do alfabetizar letrando.

Possibilitou rever a importância do alfabetizar letrando, pois o letramento ajuda a desenvolver o entendimento do indivíduo, aprender a ler entendendo o  que se ê,  e construir  o  seu  próprio  conhecimento.

Assim, conclui-se que a alfabetização e o letramento se complementam no sentido de contribui para a significativa aprendizagem da leitura e escrita e da aprendizagem dos mesmos se de seus usos em nosso meio.

E sendo assim podemos perceber o quanto se faz necessário alfabetizar letrando para que a criança seja inserida no contexto cultural da sociedade, que está fundamentalmente relacionado à leitura.

Outra coisa que não se podemos esquecer é de que durante o processo de ensino/aprendizagem o papel dos educadores é essencial, pois eles irão atuar como agentes facilitadores ao incentivar e guiar a criança ao longo de sua vida escolar.

 

 

Referências

 

MARCUSCHI, Luiz Antônio. A oralidade e letramento. In:_____ Da fala para a escrita: atividade de retextualização. 8ª ed. São Paulo: Cortez, 2007. Cap. 1, p. 15-43.

 

SOARES, M. Letramento e alfabetização: as muitas facetas. Trabalho apresentado na 26° Reunião Anual da ANPED, Minas Gerais, 2003.

 

FERREIRO, Emília. ​Reflexões sobre alfabetização ​tradução Horácio Gonzáles et.al.24ed. São Paulo: Cortez, 2001.

 

FERREIRO, Emília. Reflexões Sobre Alfabetização. São Paulo: Cortez, 2000. 104p.

 

SALTINI, Cláudio. J. P. ​Afetividade & inteligência. ​ Rio de Janeiro: DPA, 1997. P.90.

 

FERREIRO, Emília. Com Todas as Letras. São Paulo: Cortez, 1999. 102p v.2.

 

CAGLIARI, Luiz Carlos. ​Alfabetização e Linguística ​. 6ed. São Paulo: Scipione, 1993.