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A LITERATURA COMO INSTRUMENTO DE INSERÇÃO DO SABER NO CONTEXTO DA EDUCAÇÃO INFANTIL

Débora Lara Martins de Oliveira

Jaqueline Priscila dos Santos

Juvelina Batista de Souza Cruz

Priscylla Cristina Santos da Silva

Thalita Lopes dos Reis Arruda

                                            

RESUMO

O presente artigo é resultado da pesquisa realizada no final do curso de Especialização em Educação Infantil, como tema “A Literatura no contexto da Educação Infantil” e tem como objetivo analisar a importância da Literatura Infantil para o desenvolvimento social, cognitivo e afetivo das crianças; problematizar a concepção do professor de como trabalhar a Literatura Infantil e investigar as concepções de Literatura Infantil presentes no Brasil a partir do século XX. Para tanto, o trabalho está dividido em dois momentos e para sua composição foram pesquisadas fontes bibliográficas em que se destaca Cunha (1997) Coelho (1986), Abramovich (1993), Góes (1990), Pinto (2004), Martins (1983), Souza (1992) e Zillarman (1984). Contempla literatura Infantil brasileira no século XXI e nela são destacados os principais contextos históricos vividos pela sociedade da época e os principais autores e livros que fizeram parte da construção da educação neste século. Já a segunda parte ressalta que este artigo tem como destaque, as atividades, as metodologias para ser trabalho com literatura para as crianças ainda não alfabetizadas juntamente com a prática de algumas professoras de uma determinada escola. Para finalizar, é destacada a relevância que as histórias infantis têm no momento da aquisição da escrita, uma vez que as crianças da Educação Infantil estão se preparando para entrar no mundo da escrita (na educação infantil) e por isso acredita-se que este trabalho seja de fundamental importância, pois enfatiza a Literatura Infantil no percurso do estudante desde seus dois anos de idade, uma vez que não há necessidade de esperar pela alfabetização formal para que as crianças se envolvam com a leitura de histórias infantis e a produção de textos.

 

Palavras-Chave: Inserção da alfabetização. Literatura infantil. Imaginação

 

INTRODUÇÃO

 

O presente artigo foi elaborado com duas finalidades: preencher os pré-requisitos necessários para a conclusão do curso de Pós Graduação, em Educação Infantil como também consolidar os saberes em torno da prática pedagógica na educação infantil, sendo o caminho para compreender o processo de ensino-aprendizagem de crianças da educação infantil.

A escolha do tema foi definida por ser um fator perturbador na sociedade Brasileira, em que possamos afirmar a falta de hábitos de leituras e um fator negativo para a população brasileira e especificamente os alunos, uma prática que poucos gostam de fazer. Sendo a leitura é fundamental para o desenvolvimento integral do indivíduo como parte da aprendizagem e desenvolvimento em sua totalidade.

Podendo ser uma tentativa de ampliar os recursos a serem utilizados pelo aluno em interação com o meio, a escola adota vários procedimentos embora nem sempre esse objetivo seja alcançado. Hoje, convivemos com uma realidade escolar onde grande parte dos alunos alcança a 1ª etapa do Ensino Fundamental sem desenvolver a competência de interpretação de textos.

Os objetivos propostos pelo neste trabalho são: Conscientizar a equipe de professores que a escola deve ajustar em sua proposta pedagógica com intuito de buscar alternativas para ajudar os alunos a desenvolverem suas capacidades e auxiliá-los nas suas adequações às diversidades culturais que são expostas em seu universo sociocultural, potencializando o desenvolvimento de todas as capacidades do aluno, tornando o ensino mais digno e humano e analisar o jogo e a brincadeira como proposta pedagógica para o processo de desenvolvimento do conhecimento; Conhecer a importância dos jogos e as brincadeiras, para o desenvolvimento mental, social, emocional e cognitivo da criança; Refletir sobre a aprendizagem.

Diante dessa constatação, surgem as problemáticas que pairam sobre as responsabilidades dos educadores: Como desenvolver nos alunos a habilidade de interpretar textos? “Qual é o olhar que dos professores de educação infantil com relação ao fenômeno da inserção da leitura?” Por que nossos alunos não têm hábitos da leitura? O que devemos fazer enquanto formadores de seres politizados para mudar esse quadro lastimável da nossa sociedade?

Sendo os conteúdos serão desenvolvidos através de trabalho pedagógico voltado para interdisciplinaridade: Movimento. Expressividade, Equilíbrio e coordenação. Artes visuais. Fazer artístico, Apreciação em artes visuais. Linguagem oral e escrita. Falar e escutar, Práticas de leitura, Práticas de escrita.

Embora o artigo esteja sendo elaborada através de pesquisa bibliográfica, em que as análises de artigos e livros darão o norte para compreender a importância da leitura na vida do ser humano. Acreditamos que nessa investigação é importante considerar as práticas de leitura e de escrita como elementos significativos para ampliar a nossa compreensão sobre o objeto de pesquisa proposto. A prática da leitura se faz presente em todos os níveis educacionais desde o período da alfabetização. A escola concebe o livro didático como instrumento básico, como um complemento primeiro às funções pedagógicas exercidas pelo professor.

É por essa razão a pesquisa é colocado no centro da vivência professor – aluno, despontando como mediador dessa relação e veículo para instigar discussões, reflexões ou novas práticas. Percebemos que a escola dá um enfoque especial nas atividades de leitura; essa tendência a trabalhar a leitura como uma “ação mecanizada”, descontextualizada de seu real sentido, compromete a construção de sentido e significado do texto para os (as) alunos (as).

 

DESENVOLVIMENTO

 

Uma vez que a metodologia usada para desenvolver o artigo será na busca de adicionar constantemente atividades em que o aluno estará constantemente com texto, em que fazer análise do mesmo será uma pratica diária. Então o artigo será avaliação da seguinte forma: continuada, observando o desenvolvimento da criatividade e produção da escrita dos alunos. Registro, os debates e opiniões a cada atividade e em grupo.

Cunha defende que,

 

A ideia de que a leitura vai fazer um bem à criança ou ao jovem leva-nos a obrigá-los a ler, como lhes impomos à colher de remédio, à injeção, à escova de dentes, à escola. Assim, é comum o menino sentir-se coagido, tendo de submeter-se a uma avaliação, e sendo punido se não cumprir as regras do jogo que ele não definiu, nem entendeu. É a tortura sutil e sem mar “observáveis a olho nu”, de que não nos damos conta (CUNHA, 1997, p. 51).

 

Para a autora, a prática da leitura vem sendo tratada, quase sempre, com um caráter utilitarista, pouco ou nada contribuindo com a formação de alunos leitores. O ato de ler e interpretar são um processo abrangente e completo, é um processo de compreensão, de entender o mundo a partir de uma característica particular: a capacidade de interação com o outro através das palavras, que por sua vez estão sempre submetidas a um contexto.

Para embasarmos nosso pensamento usamos Souza (1992, p. 22) que afirma:

 

Leitura é, basicamente, o ato de perceber e atribuir significados através de uma conjunção de fatores pessoais com o momento e o lugar, com as circunstâncias. Ler é interpretar uma percepção sob as influências de um determinado contexto. Esse processo leva o indivíduo a uma compreensão particular da realidade.

 

Viemos por meio de essa citação afirmar a importância da leitura, as crianças enquanto sujeitos formadores dos seus saberes devem estar em constante contato com o mundo das letras, pois tendo convívio constante com a leitura é que vão criar gosto pela mesma. Buscamos nesta pesquisa criar um clima de descontração com hora do conto através da representação das histórias, assim as crianças sentem que ler pode ser prazeroso e divertido, tentamos excluir aquela imagem de que a leitura é algo maçante e simplesmente obrigatório.

A literatura infantil pode influenciar na formação da criança, que passa a conhecer o mundo em que vive e a compreendê-lo. Assim como destaca GOES (1990, p. 16) “A leitura para a criança não é, como às vezes se ouve, meio de evasão ou apenas compensação. É um modo de representação do real. Através de um "fingimento", o leitor reage, reavalia, experimenta as próprias emoções e reações." Ao contemplarmos esta afirmativa vemos como a leitura e a sua utilização pode promover condições de aprendizagem e relaxamento, buscando um aprendizado fluente.

Também Coelho (2000, p.141) explica que,

 

[...] a literatura infantil vem sendo criada, sempre atenta ao nível do leitor a que se destina [...] e consciente de que uma das mais fecundas fontes para a formação dos imaturos é a imaginação – espaço ideal da literatura. É pelo imaginário que o eu pode conquistar o verdadeiro conhecimento de si mesmo e do mundo em que lhe cumpre viver.

 

A hora do conto encanta as crianças fixando sua atenção e instigando sua imaginação. Ao buscarmos a leitura como apoio pedagógico, procuramos alcançar nas crianças um nível de conexão com a realidade e consequentemente com sua aprendizagem.

As histórias infantis oportunizam atividades que objetivam a interdisciplinaridade na alfabetização tornando esta menos cansativa e repetitiva para as crianças. Ao trazermos o mundo da imaginação dos contos para a realidade das crianças conseguimos abordar algumas temáticas que puderam ser trabalhadas dentro dos objetivos da educação infantil.

Oportunizamos para as crianças histórias que abordaram o preconceito, os valores os sentimentos a individualidade, a fé a negligencia e por fim a alimentação. Dentro dessas abordagens conseguimos trabalhar a escrita, a interpretação a criatividade, entre outros aspectos fundamentais que o processo de alfabetização contempla.

Durante todo o processo conseguimos observar que as crianças conseguiram transformar o mundo das fantasias das histórias em situações reais, as quais ocorrem em seu dia-a-dia, onde exemplificaram por inúmeras vezes estas passagens e obtiveram o entendimento de que forma agir e como se posicionar diante desses fatos. Em um aspecto geral todos os objetivos que nós propusemos aos alunos foram alcançados, pois os aspectos de leitura e escrita foram contemplados de uma forma lúdica e coerente.

A Literatura Infantil tem um grande significado no desenvolvimento de crianças de diversas idades, onde se refletem situações emocionais, fantasias, curiosidades e enriquecimento do desenvolvimento perceptivo. Para ele a leitura de histórias influi em todos os aspectos da educação da criança: na afetividade: desperta a sensibilidade e o amor à leitura; na compreensão: desenvolve o automatismo da leitura rápida e a compreensão do texto; na inteligência: desenvolve a aprendizagem de termos e conceitos e a aprendizagem intelectual.

Visualizarmos desta forma quão enriquecedora é a literatura para a construção cognitiva dos alunos. Foram realizados trabalhos de leitura com a hora do conto, foi ofertado as crianças histórias, atrativas e ricas em conhecimento, nas quais, foram realizadas diversas atividades. Oportunizar para as crianças o mundo das histórias, é oportunizar uma facilitação para a alfabetização futuramente, pois com as histórias as crianças já tem a familiaridade do mundo das letras e a vontade de decifra-las, para Zilberman, (1984, p. 107):

 

As pessoas aprendem a ler antes de serem alfabetizadas, desde pequenos, somos conduzidos a entender um mundo que se transmite por meio de letras e imagens. O prazer da leitura, oriundo da acolhida positiva e da receptividade da criança, coincide com um enriquecimento íntimo, já que a imaginação dela recebe subsídios para a experiência do real, ainda quando mediada pelo elemento de procedência fantástica.

 

Ainda em relação a literatura temos também ABRAMOVICH (1993, pg. 16) que ressalta:

 

"[...] Ah, como é importante para a formação de qualquer criança ouvir muitas, muitas histórias... escutá-las é o início da aprendizagem para ser leitor, e ser leitor é ter um caminho absolutamente infinito de descoberta e de compreensão do mundo[...]".

 

Podemos, assim, começar a compreender a importância da Literatura Infantil no desenvolvimento cognitivo das crianças. Utilizou-se o apoio literário para desenvolver o lado afetivo dos alunos, tanto a afetividade entre professor aluno, quanto em relação aos colegas entre si.

Buscamos pesquisar o valor do carinho, da atenção e do amor existente em sala de aula, segundo Freire, não existe educação sem amor. “Ama-se na medida em que se busca comunicação, integração a partir da comunicação com os demais” (FREIRE, 1983, pg. 29),isto reforça o quanto é necessário o laço afetivo para que haja uma produção cognitiva e uma relação interpessoal na turma.

Segundo Marchand, (1985, p.19).

 

[...] na prática pedagógica, podem surgir entre professor e aluno, sentimentos de atração ou de repulsão. Essas atitudes sentimentais têm o poder de influenciar a metodologia com risco de alterá-la, provocando no aluno, rudes transformações afetivas mais ou menos desfavoráveis ao ensino. O poder do professor é maior que o do livro, e a qualidade do diálogo estabelecido entre professor e aluno é importante para uni-los, criando um laço especial, ou para separá-los, criando obstáculos intransponíveis.

 

E foi buscando este laço afetivo que foi realizado este trabalho, tendo em vista que a clientela devido a idade necessite de uma maior ligação afetiva, tanto com os professores como com os colegas.

Uma criança é capaz de interpretar uma história é capaz de codificar símbolos e significados ligados aos fatos do seu cotidiano, e a afetividade faz parte destes signos, uma vez que o cognitivo e o afetivo estão interligados, como nos afirma Pinto (2004, p. 109).

 

[...] acredita-se que as duas estruturas (afetividade e cognição) funcionem psicologicamente de maneira dinâmica e construtiva, como peças conjuntas de um processo único no funcionamento psicológico, sendo assim de pouco valor dividi-las em fragmentos dissociados entre si. Em cada experiência, o ser humano é cognitivo afetivo ao mesmo tempo, estando em proporções variáveis ‘mais’ afetivo ou ‘mais’ cognitivo, ou quem sabe ambas as duas somadas. Ou seja, sendo inseparáveis.

 

Com isso podemos afirmar o funcionamento parceiro entre esses dois processos mentais, e no que diz respeito a nossa pesquisa, ao se desenvolver um momento de leitura, onde as crianças possam participar ativamente, suas codificações acabam por transformar seus sentimentos em soluções ou simples entendimento de mundo.

Para Teodoro (1995, p. 23):

 

... o cidadão é como uma planta que, desde a forma de semente, precisa ser cuidada para que cresça forte e bonita. Assim é a leitura. Para se fazer leitores é necessário cultivar os atos de ler e entender. Desde o trabalhador que precisa ler manuais relativos as suas atividades até o advogado que necessita de decifrar os textos legais, passando pelo estudante nos exames, pelo cidadão diante das urnas, pela dona de casa que enfrenta a educação da família e pelo executivo que trabalha com sua papelada, a leitura se faz importante.

 

Abramovic (1995) acrescenta que:

 

Esses livros (feitos para crianças pequenas, mas que podem encantar aos De qualquer idade) são, sobretudo experiências de olhar... (...) E é tão bom saborear e detectar tanta coisa que nos cerca usando este instrumento nosso tão primeiro, tão denotador de tudo: a visão. Talvez seja um jeito de não formar míopes mentais. (ABRAMOVIC, 1995, p. 10)

 

Para Peruzzo:

 

Todos os membros de uma sociedade, com maior ou menor grau de civilização, precisam dominar a escrita e utilizar várias formas de leitura e interpretação de livros, jornais, revistas, relatórios, documentos, textos, resumos, tabelas, formulários, cartas e uma imensidão de outros escritos, mas esses são leitores por obrigação ou por necessidade. (PERUZZO, s.d., p.1)

 

Cagliari (1994) explica a leitura como sendo uma atividade essencialmente ligada à escrita, e, da mesma forma que existem diversos tipos de escrita, também há os tipos correspondentes de leitura. Freire (1998) acrescenta a ideia de que a leitura não apresenta fronteiras e compreende todo o processo de ensino/aprendizagem, sendo o princípio iniciado no instante do nascimento do indivíduo.

Peruzzo (s.d.) acrescenta o seguinte:

 

O hábito da leitura não está, necessariamente, ligado ao poder aquisitivo do cidadão, mas sim, como as pessoas tratam a leitura, individualmente, ou nas famílias, e também como ela é oferecida nas escolas. necessidade, não possuem curiosidade e não têm iniciativa e estímulo para conhecê-los. A escola é um espaço bastante amplo ao incentivo à leitura. Apesar do baixo prestígio à leitura, principalmente da escola pública, pela pouca disponibilidade de meios e recursos, ela ainda continua sendo um dos principais meios de formar leitores críticos, contando, atualmente, em muitas localidades, com o apoio solidário de colaboradores individuais e da comunidade. (PERUZZO, s.d., p.2)

 

A autora acima também afirma ser a literatura infantil responsável desembocar o exercício da compreensão, sendo, deste modo, um ponto de partida e preparação para os outros estilos textuais, haja vista que, com o decorrer do tempo, as crianças começam a sentir necessidade de uma variação com relação aos temas de leitura, já que ela se mostra como a forma mais sistematizada para a elaboração da fantasia, passando a apresentar níveis mais elevados de cultura. Neste ponto, estimula a capacidade de escolha, bem como a crítica relativa aos textos.

Assim, para a conquista de uma situação de constante desenvolvimento da cultura de leitura, é preciso o fortalecimento de uma conscientização da importância desta prática para a vida, bem como para a adequada formação de uma sociedade. Neste sentido entende-se que não pode haver nação desenvolvida se que esta seja uma nação de leitores, conforme afirmado por Monteiro Lobato, um dos mais importantes escritores infantis de nosso país.

No entanto, adquirir o hábito da leitura não se mostra como uma tarefa simples para todos. Existem indivíduos que apresentam resistência para atingir o desenvolvimento pleno de leitura consciente e verdadeira. Assim, sendo a leitura um instrumento capaz de levar à transformação da cultura alienante, despertando a cidadania, se apresenta como prática indispensável ao indivíduo. Silva, 1995, acrescenta que: “...o ato de ler é uma necessidade concreta para aquisição de significados e consequentemente, de experiências nas sociedades onde a escrita se faz presente”.

Com relação a essa importância social da leitura, Peruzzo afirma o seguinte:

 

A leitura crítica e não mecanizada leva o leitor à verdadeira ação cultural. Essa leitura é feita por meio de um conjunto de exigências com o qual o leitor se defronta, trata-se de uma determinada complexidade de atos da consciência que são acionados durante o encontro do leitor com tornar possível a aprendizagem desta atividade. Para facilitar a entrada da criança no mundo da leitura e da escrita, o adulto deve ler para ela. (PERUZZO, s.d., p.3)

 

Corroborando, Abramovich (1997, p. 23) afirma que:

 

... que o escutar pode ser o início da aprendizagem para se tornar leitor. Ouvir muitas e muitas histórias é importante para se integrar num mundo de descobertas e de compreensão do mundo. Ouvindo histórias pode-se também sentir emoções importantes, como a raiva, a tristeza, a irritação, o bem-estar, o medo, a alegria, o pavor, a insegurança, a tranquilidade. Enfim, ouvir narrativas é uma provocação para mergulhar profundamente em sentimentos, memórias e imaginações. As histórias podem fazer a criança ver o que antes não via, sentir o que não sentia e criar o que antes não criava. O mundo pode se tornar outro, como mais significados e mais compreensões.

 

Peruzzo (s.d., p. 4 e 5), complementa:

 

É de responsabilidade do leitor adulto, mostrar à criança como os escritos que circulam no cotidiano podem ser utilizados a fim de que a mesma compreenda seus sentidos. A criança só é capaz de compartilhar deste mundo quando compreende o seu significado. Esse descobrimento a faz descobrir a diferença entre a fala e a escrita, ambos necessários a aprendizagem inicial da leitura.
Diante de toda a complexidade do desenvolvimento da leitura e da escrita, algumas estratégias de incentivo devem ser adotadas pela sociedade em prol da evolução da aprendizagem das nossas crianças, e além de ser um problema governamental no quesito de investimento de fundos para educação e valorização dos educadores, e também de um alto incentivo familiar, a escola ainda continua a ser o melhor local para se formar leitores.
É importante observar se a escola tem mesmo incentivado as crianças à leitura e à escrita, de forma correta e prazerosa, ou tem vivenciado essas habilidades ainda como forma de punição às diversas situações comportamentais ocorridas em sala de aula, ou ainda, simplesmente usam a leitura e escrita para cumprir com conteúdos já propostos, sem dar aberturas para que as crianças conheçam situações significativas nas quais possam se aperfeiçoarem e sentirem prazer em ler e escrever.

 

Corroborando a esta ideia, Morais (1991), afirma que: “É nesse sentido que o espaço concretiza a história do grupo na medida em que ele agiliza muitas formas de conhecimento refletido”.

Cavalcanti complementa:

 

Ler sempre representou uma das ligações mais significativas do ser humano com o mundo. Lendo reflete-se e presentifica-se na história. O homem, permanentemente, realizou uma leitura do mundo. Em paredes de cavernas ou em de aparelhos computação, lá está ele reproduzindo seu “estar no mundo” e reconhecendo-se capaz de representação. Certamente, ler é engajamento existencial. Quando dizemos ler, nos referimos a todas as formas de leitura. Lendo, nos tornamos mais humanos e sensíveis. (CAVALCANTI, 2002, p. 13)

 

Contudo, Perozzo (s.d., p.5) explica:

 

Para que a escola venha contribuir na formação de pessoas ativas, faz-se necessário que seja aplicada uma pedagogia que valorize a formação humana, propondo às crianças situações de aprendizagem nas quais elas possam se envolver de forma dinâmica e prazerosa. O educador deve procurar estratégias para promover uma aprendizagem que se encontre intimamente à tomada de consciência da situação atual real vivida pelo educando, proporcionando-lhes momentos de sistematização e associação, fazendo com que os recursos utilizados pelos alunos sejam próprios de suas vivências, dessa forma, a leitura e a escrita, que anteriormente, não lhes faziam sentido, passam a ter significado.

 

Freire (1983), acrescenta que: “... é fundamental partir de que o homem é um ser de relações e não só de contatos, que está com o mundo e não apenas no mundo”.

Para Cavalcanti:

 

Dizer que a literatura é catarse, ou elemento de purificação apenas, é reduzi- lá a conceitos demais limitados. A literatura é uma grande metáfora da vida do homem. Sendo assim, é sempre surpreendentemente, uma maneira nova de se apreender a existência e instituir novos universos. (CAVALCANTI,2002, p. 12)

 

Complementando, Perozzo afirma seguinte:

 

Aprender e ensinar novos universos, eis o desafio ao educador. Para atender às novas exigências da sociedade, é necessário pensar em uma nova postura profissional para que o acesso à leitura e escrita tornem- se algo efetivo e eficaz, pois mesmo com a presença maciça e diversificada de leitura e escrita nas atividades que se realizam nas escolas, vivemos às voltas com altos índices de analfabetismo funcional, evasão e repetência escolar. (PERUZZO, s.d., p.6)

 

Freire (1979) acrescenta que:

 

... nos lembra que para ocorrer uma mudança de postura é necessário que haja compromisso em querer mudar. Não se pode permitir que a neutralidade continue permeando diante às situações que são impostas, perpetuando comportamentos manipuláveis pelo sistema educacional que castra qualquer possibilidade de desenvolvimento reflexivo, sendo o homem sujeito de sua educação e não objeto dela.

 

Wajskop acrescenta:

 

A criança está imersa, desde o nascimento, em um contexto social que a identifica enquanto ser histórico e que pode por esta ser modificado é importante superar as teses biológicas e etológicas da brincadeira que idealizam a criança e suas possibilidades educacionais. (WAJSKOP, 1995, p. 25).

 

Para Peruzzo:

 

Toda a aprendizagem e o processo sistemático da aquisição da aprendizagem do ser humano se dão socialmente, com as interações que estabelece com o outro e os significados que isso lhe faz sentir. Portanto, a recuperação ou o nascimento do ato da leitura nas escolas será possível se o educador demonstra boa relação com os textos. Se o educador não for um bom leitor e o aluno não perceber o prazer na leitura por parte desse adulto, serão grandes as chances de ele ser um mau professor, refletindo nos pequenos leitores. (PERUZZO, s.d., p.6)

 

Nota-se ainda, por meio de Lobato (1981), que através da literatura os aspectos “da alma de um povo” são fixados e fortalecidos. Deste modo, mostra-se indispensável que poder público estimule o hábito de ler, equipando as bibliotecas com materiais a leitura, vastos e de qualidade, bem como reconhecendo o trabalho docente de forma mais adequada.

 

É preciso ler, é preciso ler...

E se, em vez de exigir a leitura, o professor decidisse partilhar sua própria felicidade de ler?

A felicidade de ler? O que é isso, felicidade de ler?

(PENNAC, 1998, p. 21)

 

Peruzzo acrescenta o seguinte:

 

Outro ponto a ser valorizado na escola é a forma como a literatura é apresentada à criança. É importante que a escola dinamize e explore a literatura infantil. Quando o professor demonstra prazer em determinadas atividades, desperta também esse sentimento em seus alunos que o observam o tempo todo. O movimentar-se do professor é tão importante e valoroso no sentido de exemplo quanto às palavras que dirige aos ouvidos do grupo de crianças que se inclinam para ouvi-lo. (PERUZZO, s.d., p.7)

 

Silva (1995) desta a responsabilidade da instituição de ensino na formação de leitores:

 

... a promoção da leitura nas escolas é de responsabilidade de todo corpo docente e não apenas de alguns professores específicos que receberam a responsabilidade de incentivar a leitura. O escritor enfatiza que não se supera uma dificuldade com ações isoladas. (SILVA, 1995, p. 53)

 

Assim, evidencia-se que a construção de uma sociedade de leitores é algo que deve ir além do desejo, chegando à prática enfática da valorização e estímulo à leitura em todas as idades da vida humana.

Neste sentido, Abramovich (2004), convida a uma profunda reflexão por meio do trecho abaixo:

 

Como falar mais de encantamento da história, das emoções sentidas e vividas pelos personagens, das sofrências e alegrias, dos sufocos e deslumbrâncias, se eu deixei passar batido tudo isso em mim? Como fazer a criança ou o jovem lerem se eu leio tão pouco? (ABRAMOVICH, 2004, p. 61)

 

Assim, Peruzzo acrescenta:

 

Quando o adulto mostra prazer em determinadas atividades, a tendência infantil é de solicitar que lhe deixe espaço para também executar tal tarefa juntamente com a presença do adulto. É nesse sentido que o profissional da educação, demonstrando que ler é “gostosura”, transfere esse sentimento à criança, que por ser sabido que a leitura é um hábito adquirido dentro de um processo sistemático, o ato de ler funde-se com o cotidiano escolar e extraescolar da criança, levando-a a construir-se com o hábito da leitura. (PERUZZO, s.d., p.7 e 8)

 

Neste sentido, segundo Renato Ortiz (1994), a escola deve sim ofertar uma diversidade de atividades didáticas a seus alunos, promovendo o aprendizado do conteúdo curricular das várias disciplinas estudadas, mas é imprescindível um trabalho fortalecido e valorizado em Literatura, de modo a promover a leitura e estimular o desenvolvimento do hábito de ler.

À esta ideia, acrescenta-se que:

 

Entendemos que o texto literário é constituído por uma grande metáfora, porque nos parece que o sentido metafórico é aquele que remete sempre ao sentido anterior, portanto ao significante, então, apreendemos a escritura como algo que gera possibilidades; assim um texto é sempre outro texto e o sujeito que lê torna-se capaz de viver uma vida simbólica mais rica, fazendo da realidade concreta um palco para vivências significantes. (CAVALCANTI, 2002, p. 25)

 

Referindo-se também ao hábito de leitura, Peruzzo (s.d.) afirma o seguinte:

 

Constata-se que o ato de ler é um instrumento de grande valia de conscientização e libertação, indispensável à emancipação do homem. Porém, em geral, a leitura não faz parte do cotidiano da grande maioria das pessoas e que não é uma tarefa, nem menos um hábito presente na vida dos cidadãos, infelizmente, desde o gari ao profissional da educação. Os estudantes, por sua vez, leem por obrigação das tarefas escolares obrigatórias, obtendo-se um número muito restrito dos que leem por prazer ou hábito. (...) A maioria das pessoas não vê e nem considera a leitura um instrumento de afirmação e de defesa da liberdade individual, de participação na sociedade, de inserção em determinados grupos e de ver e perceber as diversas formas e as intencionalidades que os fatos sociopolíticos são apresentados nas diversas mídias. É possível que o conscientizar-se só ocorra ou pode ocorrer num processo mais veloz com o contato que é feito com a literatura. (PERUZZO, s.d., p.8)

 

Rossini destaca a possibilidade de mudanças de comportamento promovidas pelo ato de ler:

 

Para educarmos um ser humano, convém saber o que queremos que ele se torne. É necessário indagar para que vivem os homens, ou seja, qual é a finalidade da vida e como ela deve ser. Nós, pais e educadores, devemos estar atentos às mudanças sociais questionando sobre a natureza do mundo e os limites saber e fazer. (ROSSINI, 2008, p. 8)

 

Peruzzo complementa com o seguinte:

 

Verdadeiros leitores não são apenas decodificadores de signos, reconhecedores de códigos, mas muito, além disso, são entendedores do significado dos signos e dos códigos registrados nos livros e nas mais diversas mídias. O leitor consegue procurar na leitura as respostas àquilo que deseja, como por exemplo, desde satisfação e prazer às respostas de inquietações cotidianas.
Para materializar a formação de leitores é necessária motivação, tendo como uma das bases o constante ouvir histórias literárias e posteriormente, associadas ao ato do ler. Outro fator indispensável é a convivência com livros diversos, contendo diversificadas informações, despertando os mais variados interesses dos futuros leitores. Os livros devem ser materiais comuns na vida da criança, onde a literatura é familiarizada como os tantos outros hábitos adquiridos desde a mais tenra idade. (PERUZZO, s.d., p.9

 

Rossini (2008) destaca alguns pontos a serem respeitados na escolha da leitura a ser ofertada às crianças:

 

... é importante respeitar a faixa etária do leitor e propor temas adequados a idade e aos seus interesses. Também o ambiente da sala de aula influencia para estimular o interesse sobre o tema por meio da utilização de materiais diversos, como fotos, painéis, objetos e amostras. Os materiais concretos são importantes à criança pequena, pois esta ainda está estabelecendo a construção do concreto para o abstrato, despertando no aluno o interesse de conhecer o mundo, tornando-o participativo, libertando-o de alienações, emergindo do egocentrismo infantil e imergindo no altruísmo jovem. (ROSSINI, 2008, p. 73)

 

Contudo, é preciso entender ainda que interesses pelos diversos estilos de leituras modificam-se de acordo com o desenvolvimento do leitor e as experiências por ele vivenciadas, tanto no âmbito da leitura, como também em sua vivência cotidiana. O importante então, é o ato de buscar na literatura os assuntos que permeiam seu desejo de conhecimento, entretenimento e aprendizagem.

  

CONSIDERAÇÕES FINAIS

  

Com a realização deste estudo as pesquisadoras aprenderam muito sobre a temática em questão e espera poder despertar o gosto pela leitura tanto por alunos quanto por professores, cuja pesquisa temos muitos educadores que não tem esse habito. Portanto se faz importante apresentar aos alunos diversos gêneros textuais, envolvendo os conhecimentos prévios (os contos de fadas), e, além disso, terão, ao longo do ano, o contato com as leituras a serem feitas.

As leituras mediadas pelo professor, oportunizará a participação do aluno nas discussões. Espera-se, envolver todos os alunos e despertar o gosto e o prazer pela leitura, bem como contribuir na formação de leitores autônomos e competentes.

É importante desenvolver nas escolas projetos voltados para a leitura. Para tanto, precisamos de professores comprometidos com o trabalho e que estejam dispostos a envolverem-se de tal maneira a quebrar barreiras para a realização de um trabalho inovador.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

ABRAMOVICH, Fani. Literatura infantil: gostosuras e bobices. São Paulo: Scipione, 1995.

 

BROUGÈRE, Gilles. Brinquedo e cultura. São Paulo: Cortez. 1995.

 

COELHO, Nelly Novaes. Literatura infantil: teoria e prática. São Paulo: Ática, 1986.

 

CAVALCANTI, Joana. Caminhos da literatura infantil e juvenil: dinâmicas e vivências na ação. São Paulo: Paulus, 2002.

 

COELHO, N. N. Literatura infantil: teoria, análise, didática. São Paulo: Moderna, 2000.

 

CUNHA, Maria Antonieta A. Literatura infantil: teoria, análise e didática. São Paulo: Moderna, 2000.

 

CUNHA, Maria Antonieta Antunes. Literatura Infantil Teoria e Prática. São Paulo: Ática, 1997.

 

FREIRE, Paulo. Educação e mudança. São Paulo: Paz e Terra, 1979

 

GÓES, Lucia Pimentel. A aventura da Literatura para crianças. São Paulo: Melhoramentos, 1990.

 

MARTIN. Rio de Janeiro: Ed. Paz e Terra, 1983. Coleção Educação e Comunicação vol. 1.

 

PERUZZO, Adreana. A importância da literatura infantil na formação de leitores. S.d. Disponível em: http://filologia.org.br/xv_cnlf/tex_completos/a_importancia_da_literatura_infantil_na_ADREANA.pdf

 

PINTO, F. E. M. Por detrás dos seus olhos: a afetividade na organização do raciocínio humano Dissertação (Mestrado em Educação) – FE/Unicamp, Campinas, 2004.

 

ROSSINI, Maria Augusta Sanches. Pedagogia Afetiva. Editora Vozes. São Paulo: 2008.

 

SOUZA, Renata Junqueira de. Narrativas Infantis: a literatura e a televisão de que as crianças gostam. Bauru: USC, 1992.

 

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