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O ESPAÇO ESCOLAR NA SOCIALIZAÇÃO DAS CRIANÇAS E COMBATE A DISCRIMINAÇÃO

Juliana Ferreira de Almeida

Taisa Rodrigues Soares

 

 

RESUMO

A criança quando está com sua família, ela sente como se o seu lar fosse o mundo. Quando a mesma vai para a escola e se depara com a diversidade que existente no mundo, acaba entrando em conflito com os colegas, algum praticando o racismo e outras sendo a vítima. A escola é um espaço aonde é possível encontrar crianças multiétnica, com tipos de culturas e vivencias diferentes. Está pesquisa busca estudar através de alguns autores a importância do espaço escolar, na socialização das crianças e combate a discriminação. Com enfoque no papel do professor e da escola, para a sensibilização e a desconstrução do racismo no espaço escolar.

 

Palavras-chave: Diversidade. Racismo. Escola.

 

 

ABSTRACT

The child when he is with his family, he feels as if his home was the world. When she goes to school and is faced with the diversity that exists in the world, she ends up in conflict with her colleagues, some practicing racism and others being the victim. The school is a space where it is possible to find multiethnic children, with different types of cultures and experiences. This research seeks to study through some authors the importance of the school space, in the socialization of children and combating discrimination. With a focus on the role of the teacher and the school, to raise awareness and deconstruct racism in the school environment.

 

Keywords: Diversity. Racism. School.

 

 

INTRODUÇÃO

 

Os primeiros anos de uma criança na escola, é cheio de diferentes significados, acostumados em viver refugiados em seus lares, com sua própria cultura, forma de pensar e agir, acabam achando que seu lar é o próprio mundo. As experiências que trazem são as de observação ou vivenciadas no comportamento de sua família. Algumas são boas que agregam e fortalece o conhecimento de mundo de todos em sua turma. No entanto outras experiências são carregadas de coisas negativas que refletem como: Xingamentos, brincadeiras ofensivas e racistas. A experiência no lar destas crianças reflete o que elas são na escola, se existir experiências boas ou ruins elas acabam achando como algo normal, pois para ela é a vivencia de mundo que ela tem, com base em Marandola, Holzer e Oliveira (2012):

 

O lar é na verdade todo lugar, não é delimitado por limites precisamente definidos, mas, no sentido de ser o foco de intensa e experiência, é ao mesmo tempo sem limites. Lugar é onde conflui a experiência cotidiana, e também como essa experiência se abre para o mundo. O ser é sempre articulado por meio de lugares específicos, ainda que tenha sempre se estender para além deles para compreender o que significa existir no mundo. (MARANDOLA, HOLZER E OLIVEIRA, 2012 , pg. 29).

 

Neste contexto, podemos dizer que na escola é onde as crianças obtém experiências, aprendizado, ensinamentos, e uma compreensão de mundo. Caracterizando a existência de um lar, no entanto com suas diversidades na convivência de crianças multiétnicas. Convivência está que muita das vezes são agregadas de desrespeito, e conflito entre as crianças. Cavalheiro (2020, pg.98) explica que: “No espaço escolar há toda uma linguagem não verbal expressa por meio de comportamentos sociais e disposições - formas de tratamento, atitude, gestos, tons de voz e outros - que transmite valores marcadamente preconceituosos e a respeito do grupo negro”. Uma criança negra, por ela encontrar em sala de aula colegas que não querem ficar perto dela, para brincar, fazer atividades ou até mesmo uma refeição. Acabam se sentindo excluída daquele lar, pois ela precisa ter uma intimidade com outras crianças para compreender as relações étnico-racial. Que para Tuan ( 1983) :

 

A intimidade entre pessoas não requer o conhecimento de detalhes da vida de cada um; brilha nos momentos de verdadeira consciência e troca. Cada troca íntima acontece em um local, o qual participa da qualidade do encontro. Os lugares íntimos são tanto quantos as ocasiões em que as pessoas verdadeiramente estabelecem contato. ( TUAN,1983, pg.156)

 

O lugar na onde as crianças podem ter intimidade umas com as outras e igualmente se relacionar com indivíduo de diferentes culturas, religiões e etnias é na escola. Estás diferenças são percebidas ao entrar no espaço escolar, nas atividades proposta pelos professores, na maneira de falar, agir ou vestir da criança. Alguns pais preferem manter as crianças longe da escola nos períodos iniciais, para que as crianças não convivam com estás diferenças e venha a ter perguntas ou indagações que os mesmos não estão prontos a responderem. Tuan (1983 pg.154) “Para a criança pequena, os pais são seu “lugar” primeiro. O adulto que lhe protege é para ela uma fonte de alimento e um paraíso de estabilidade. O adulto é também quem dá as explicações à criança, para quem o mundo pode frequentemente parecer confuso”. Entendemos que para a criança começar a ter uma relação étnica com os colegas, ela precisa primeiro ser ensinada em casa, pois os pais são suas referências primarias.

Para a criança compreender o mundo ela precisa de um lugar diferente do que vivenciado em suas famílias, para Marandola, Holzer e Oliveira (2012) compreende-se que: “Porém, é igualmente importante compreender que é por meio de lugares que indivíduos e sociedades se relacionam com o mundo, e que essa relação tem potencial para ser ao mesmo tempo profundamente responsável e transformadora”. Muito importante que a criança esteja no espaço escolar desde dos primeiros anos, para que a vivencia em lugares e com pessoas diferentes, possibilita a compreensão de mundo. Cavalheiro (2020) afirma que:

 

A experiência escolar amplia e intensifica a socialização das criança. O contato com outras crianças de mesma idade, com outros adultos não pertencentes ao grupo familiar, com outros objetos de conhecimento, além daqueles vividos pelo grupo família vai possibilitar outros modos de leitura de mundo ( CAVALHEIRO, 2020, pg.17)

 

Quando a prática de racismo e descriminação começa no espaço escolar, a convivência entre as crianças fica desagradável, acaba tendo brigas, ou desmotivo de ir à escola. Embora algumas pessoas levam como brincadeiras, piadas ou que a criança falou inocentemente. De acordo com Cavalheiros (2020), quando não se toma uma atitude ao ver uma criança sofrendo algum tipo de racismo, ou em situações que as empurram e as mantêm em permanente estado de exclusão da vida social, isto se torna um silêncio criminoso. Prejudicando o desenvolvimento escolar, ou evasão escolar. No entanto qual o papel da escola neste espaço escolar? Para Cavalheiro (2020):

 

Ao silenciar, a escola grita inferioridade, desrespeito e desprezo. Neste espaço, a vergonha de hoje somada à de ontem e, muito provavelmente, á de amanhã leva a criança negra a repensar suas emoções, conter os seus gestos e falas para, quem sabe, passar despercebida num “espaço que não é o seu”. (CAVALHEIRO, 2020, pg.100)

 

A escola precisa trabalhar as relações multiétnicas, o respeito as diferenças, o racismo estrutural, preconceito, a discriminação étnico-racial. A criança negra ela precisa se sentir parte deste lar, parte da escola, e ter a certeza do seu “lugar no mundo”. Que para Marandola , Holzer e Oliveira, 2012, remete:

 

Lugar não é meramente aquilo que possui raízes, conhecer e ser conhecido no bairro; não é apenas a distinção e apreciação de fragmentos de geografia, O núcleo do significado de lugar se estende, penso eu, em suas ligações inextricáveis com o ser, com a nossa própria existência. Lugar é um microcosmo. É onde cada um de nós se relaciona com o mundo e onde o mundo se relaciona conosco. (MARANDOLA, HOLZER E OLIVEIRA, 2012, pg. 31)

 

Falar sobre questões étnico-racial na escola, deve ser feito em todos os dias do ano, com todas as idades, pois uma criança negra e indígena ela sofre racismo e preconceito a partir do primeiro momento em que ela entra na escola. Jovens e adultos também sofrem diariamente, por ter pessoas que não aceitam as diferenças, e acabam atacando ou menosprezando as pessoas por questões étnica. Algumas escolas ou professores apenas se dão conta do tema no dia 20 de novembro, - por se tratar de um dia para se lembrar da luta dos negros contra a opressão vivida no Brasil-. Infelizmente questões como está existem, e não deve ser adiada e deixadas para os últimos dias letivos para falar sobre a negritude e branquitude. Com base em Ribeiro, 2019:

 

É importante ter em mente que para pensar soluções para uma realidade, devemos tirá-la da invisibilidade. Portanto, frases como “eu não vejo cor” não ajudam. O problema não é a cor, mas seu uso como justificativa para segregar e oprimir. Vejam cores, somos diversos e não há nada de errado nisso - se vivemos relações raciais, é preciso falar sobre negritude e também sobre branquitude. (RIBEIRO,2019, p.30)

 

O papel do professor na escola é estar atendo as atitudes de seus alunos, pois não existem brincadeiras com questões de tons de pele, tipos de cabelo, roupas ou outras condutas que venham deixar o aluno constrangido pelas diferenças existente. A desconstrução do racismo, ou a sensibilização para com as diversidades, precisa-se de algum tempo, para que o aluno tenha a plena consciência de suas práticas. Cavalheiro (2020, pg.101) “É importante, indispensável a elaboração de um trabalho que promova o respeito mútuo, o reconhecimento das diferenças, a possibilidade de se falar sobre elas sem receio e sem preconceito”. Os formuladores de opiniões – professores, educadores e pesquisadores -, precisam estar atendo as relações étnicas, as crianças precisam falar deste assunto abertamente, para levar está informação para suas famílias, e crescerem crianças que possam pensar e lutar por práticas que objetivem a inclusão positiva de crianças e de jovens negros na estrutura educacional.

 

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS:

 

O espaço escolar é muito importante para a convivência e socialização de crianças multiétnica, onde elas possam se expressar, conhecer, e entender o seu “lugar no mundo”. Compreender este espaço como um “lar”, que abriga e acolhe todos os tipos de pessoas, com suas experiências diversas, trazendo coisas boas e no entanto coisas desagradáveis também desta experiência. Cabe a cada educador saber se posicionar todas as vezes com as questão relacionadas ao racismo e a discriminação contra crianças negras e indígenas, e mostrar para elas que existe um mundo bem maior de pessoas diferentes, que precisam ser respeitadas. O espaço escolar deve ser um lugar para se falar e ser ouvido, a criança que está sofrendo algum tipo de discriminação deve ser atendida e resolvida a questão, sem levar o que foi dito como algo banal. Acredito que desta forma irão crescer crianças com suas devidas opiniões, e antirracista, ajudando a sociedade a compreender e respeitar as diferenças e serem as multiplicadoras de diversidade pelo mundo.

 

 

REFERÊNCIAS:

 

CAVALHEIRO. Eliane dos Santos. Do silêncio do lar ao silêncio escolar: racismo, preconceito e discriminação na educação infantil. 6 edição São Paulo: contexto.2020

 

MARANDELA JUNIOR, EDUARDO. II.Holzer, Werther. III.Oliveira, Lívia. Qual o espaço do lugar?: geografia, epistemologia, fenomenologia/ São Paulo: Perspectiva, 2012.

 

RIBEIRO, Djamila. Pequeno manual antirracista. 1 edição. São Paulo: Companhia das letras, 2019.

 

TUAN, Yi-Fu. Espaço e lugar: a perspectiva da experiência. São Paulo: Difel, 1983.