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CULTURA REGIONAL: CASA DE RONDON

Nádia Fritz de Oliveira

 

 

INTRODUÇÃO

 

Embora o conceito seja difícil em razão de sua complexidade, um trabalho como o que aqui se apresenta não pode prescindir do trato da cultura. Mas cultura se diz de diferentes modos e entre os próprios pesquisadores o conceito não é unívoco. Começando pela criação do conceito, a palavra cultura é criada no ocidente. Como as palavras são conceitos, o que expressam está carregado de sentido originado da própria sociedade onde se constituem. Para os iluministas, cultura é “[...] soma dos saberes acumulados e transmitidos pela humanidade, considerada como totalidade, ao longo de sua história” (CUCHE, 1999, p. 21). Outra maneira de entender cultura é considerá-la como acúmulo de conhecimento, notadamente científico. Nesse caso culto é o homem ou mulher dotado de erudição adquirida ao longo de anos de estudo.

Entre os diferentes sentidos de cultura, o que vai interessar no presente trabalho monográfico é aquele mais próximo do etimológico, notadamente o que se refere à cultura como cultivo do campo, originário do latim. É o que aponta, por exemplo, Alfredo Bosi em “Dialética da Colonização” (BOSI, 1992) destacando que as palavras cultura, culto e colonização derivam do mesmo verbo latino colo cujo passado é cultus. De colo deriva a palavra agrícola, no sentido de cultivar o campo, pois que em latim ager, agri é campo e incola, incolae. Também culto no sentido mesmo de cultuar os mortos ou realizar culto religioso. Sobre um mesmo solo ou pedaço de chão, Vilhena, a cultura do cultivo da terra e do culto religioso, pode ser percebido como maneiras de cultura que não podem ser esquecidas quando se trata de estudar a relação entre um objeto cultural como a “Casa de Rondon” e o modo como as escolas podem ou poderiam estudá-la com seus alunos. Mas Vilhena, a rigor, não é só cultivo do solo, isso é observável em sua história depois que o homem branco aqui chegou e mesmo assim não adotou de imediato lavouras extensivas. Mesmo desse período de ocupação e tratando de colonização podemos distinguir dois processos: o que se atem ao simples povoamento, e o que conduz a exploração do solo.

A colonização pode ser vista como um ar de recomeço em meio ao ciclo de colonização, que em suas diversas maneiras não tem apenas o sentido de cuidar ou de mandar. Mas existe aquele colonizador que se vê apenas como conquistador descobridor e povoador procurando desta maneira transmitir a seus descendentes além dos bens materiais, um modo de ser e de viver próprios.

Podemos destacar que num sentido geral que cabe também para Rondônia a cada novo ciclo de colonização evidenciam-se mudanças no meio social por meio das relações de poder, a esfera econômica e a esfera política, o ciclo de colonização dá um ar de recomeço às culturas seculares.

 

[...] a colonização não pode ser tratada como uma simples corrente migratória: ela é a resolução de carências e conflitos da matriz e uma tentativa de retomar, sob novas condições, o domínio sobre a natureza e o semelhante que tem acompanhado universalmente o chamado processo civilizatório (BOSI, 1992, p.13).

 

Se transpusermos essa ideia de Alfredo Bosi relativa à colonização do Brasil, para o que ocorreu em Rondônia e, em especial, em Vilhena, quando da “Missão Rondon” e da construção da famosa “Casa de Rondon”, é possível observar certa necessidade da matriz, entendida aqui como governo do Brasil, desejoso em manter o domínio sobre essas terras. Consequentemente houve o choque de culturas entre os que já habitavam essas terras e os homens que para cá vieram em missão no trabalho da linha telegráfica. Mas isso será mostrado mais detalhadamente no primeiro capítulo.

Voltando as considerações acerca do conceito de cultura, ainda segundo o texto “Dialética da Colonização” de Alfredo Bosi, a palavra Cultus destaca-se não apenas como cultivo do solo, sobre isso é mais apropriado para culto dos mortos uma forma de religião e de lembrar, enquanto colo é mais próximo do cultivo da terra, no sentido de ocupar a terra e nela trabalhar. De todo modo, o culto religioso sobre os que já se foram preservando assim sua memória.

Como destaque nas comunidades Neolíticas não se tem registros de enterros dos mortos, normalmente os mortos eram enterrados em tumbas juntamente com alguns utensílios que eram utilizados pelos mesmos representando assim a participação deles naquela comunidade. “Mas, agora, as terras na qual repousam os antepassados é considerada como o solo do qual brota cada ano, magicamente, o sustento alimentício da comunidade” (BOSI, 1992, p.14).

Sendo assim através dos gestos, do canto, da dança tudo isto no mundo arcaico é fundamental para manter um laço entre as comunidades força esta que através do tempo preserva a identidade de um povo. “Cultura é o conjunto de práticas, técnicas, dos símbolos e dos valores que se devem transmitir para as novas gerações para garantir a reprodução de um estado de coexistência social” (BOSI, 1992,p.16). Entrelaçam-se na cultura o culto e o cultivo, se relacionam nos rituais de fertilidade, no trabalho agrícola, na criação de deuses e símbolos que se entrechocarão com novas formas de expressão trazidas pelos colonizadores.

Segundo Gordon Childe (apud BOSI), o passado de alguns povos se mantém presentes através da dança, dos gestos e do canto, ficando enraizadas através do tempo e mantendo vivas as expressões de cultura de um povo. Contudo, observar-se que apesar das diferentes maneiras de se falar em cultura o sentido de cultura é sempre o mesmo, destacando a importância de manter sempre vivo através das gerações elementos variados de crença, de produção de artefatos, de modos de viver expressos em rituais e símbolos. A “Casa de Rondon” guardou por muito tempo, e de certo modo ainda, esse sentido do simbólico de um tempo pretérito que fundou a cidade.

Como se pode depreender brevemente do que foi dito, a cultura é ampla e significativa, relacionada à tradição de um povo, a sua identidade e a seu modo de ser. Como aponta Fernando Azevedo, a palavra cultura se destaca por sua variedade de sentidos, seja ela antropológica material ou imaterial. Mas a cultura, num estranho paradoxo, como sentido permanece modificando-se, ou, em outras palavras, o que acontece é que de acordo com cada grupo social ela é modificada incorporando novos sentidos sobre aquilo já dado pelo passado. Modifica-se, mas não deixa de existir enquanto cultura, pois “o homem não é concebível sem a sua cultura, ou não é um homem” (AZEVEDO, 1996, p.29-30). Sendo assim é possível destacar que a cultura está sempre em constante transformação e que possui diversas formas e tende a mudar de acordo com o meio. A aliança entre cultura e civilização é o que o autor chama de humanismo, termo próprio da primeira metade do século XX e hoje de uso bem menos generalizado.

Como não há sociedade sem elementos culturais que a identificam de algum modo, dos vários aspectos da cultura de Vilhena, o presente trabalho escolheu a “Casa de Rondon” pelo seu elevado valor histórico, já que se constituiu no marco inicial de Vilhena. Este símbolo de Vilhena tem sua própria história, que será contada no primeiro capítulo, por ter sido por alguns anos posto telegráfico e em seguida, a partir da década de 70, transformado em museu. Ora, os museus são espaços singulares de preservação da memória de um povo, de sua cultura e de suas tradições. A abordagem que será feita aqui sobre as condições em que se encontra este marco histórico e simbólico da cidade que atualmente podem ser reveladores de certa perda da memória no imaginário vilhenense. A educação num sentido mais amplo e a escola num sentido mais específico têm a ver com essas questões.

Procurando dar conta de questões que envolvem cultura, memória, educação, relacionadas à “Casa de Rondon”, e ciente de que tais elementos se constituem historicamente, o presente trabalho discorre inicialmente sobre a pessoa de Marechal Rondon, que dá nome a famosa Casa museu. Em seguida trata dos trabalhos desenvolvidos na construção da linha telegráfica, apontando elementos significativos ligados à existência das chamadas casas de apoio às linhas de telégrafo. Essa narrativa na monografia visa situar historicamente as razões da construção e o sentido da “Casa de Rondon”.

Feito esse trabalho inicial, a monografia trata da “Casa de Rondon” em situação, isto é, de como era seu tempo de esplendor enquanto museu, das visitações e espaço de lazer, e de como aos poucos se tornou abandonada. Talvez que em tempos passados era valorizada como sintoma de apontamento histórico daquele marco inicial e, posteriormente, de desmemorização lamentável de cultura de um povo.

Por fim, mas de modo significativo e de extrema importância o presente trabalho trata de algumas ações de caráter educacional voltados para a “Casa de Rondon”. Nesse caso, seja observando como instituições de ensino trataram da questão, seja pelas indicações que serão dadas como possibilidade de trabalho educacional voltados para a preservação e o conhecimento desse marco histórico.

Os capítulos a seguir tendem a relatar a vida de um grande homem Candido Mariano da Silva Rondon, desde seu nascimento até as grandes missões realizadas pelo mesmo ainda nos tempos de ajudante até chefe da comissão. Destaca pontos de sua carreira que foram de grande importância para a nação, e em especial relata a  passagem dele pelo estado Rondônia e consequentemente na cidade Vilhena.  Nesse último caso, deixando aqui sua marca registrada a “Casa de Rondon” ponto de apoio de sua comissão e ponto turístico de nossa cidade por um grande período, e que lamentavelmente está se perdendo no tempo.

Para dar desenvolvimento a este trabalho buscou-se investigar nos capítulos a seguir:

Capítulo I - Destaca-se a biografia de Candido Mariano da Silva Rondon com o título: O Nome, o Homem, onde através da obra de Esther de Viveiros “Rondon conta sua vida”, é destacado desde seu nascimento até as missões realizadas, entre estas os fatos que levaram a construção da “Casa de Rondon” na cidade de Vilhena.

Capítulo II - Neste capítulo são destacadas as casas de apoio que eram criadas por Rondon e sua comitiva, para facilitar o contato e o abastecimento de alimentos, além de destacar Marciano Zonoece responsável pela casa de apoio durante anos em Vilhena.

Capítulo III - Neste último capítulo com o título: Esperança de Consciência e Educação, vem sendo destacado as visitas realizadas em algumas escolas do município, a Secretaria de Cultura, entre outras reportagens que destacam a história e a atual situação da “Casa de Rondon” em Vilhena.

Sendo possível observar a atual situação através de reportagens coletadas, e de recortes de matérias publicadas sobre a realidade de uma parte da história de Vilhena.

 

 

CAPÍTULO I

O NOME, O HOMEM

 

Homem de conhecida biografia, entre as quais a mais destacada é a obra de Esther de Viveiros que em seu livro intitulado “Rondon conta sua vida”, destaca além da vida, muitos aspectos de sua obra. Candido Mariano da Silva Rondon nasceu em Mimoso distrito do município de Santo Antônio localizado no estado de Mato Grosso, local no qual seus bisavós escolheram para constituir a família. Como ele nos conta no relato autobiográfico organizado por Viveiros, “meus bisavôs José Francisco Lucas Evangelista e Joaquina Gomes escolheram para viver uma bela sesmaria, na região do pantanal, a Sesmaria de Morro Redondo, mais tarde Mimoso, e desde logo destinaria a seus nove netos” (VIVEIROS, 1958, p.23).

Candido Mariano Rondon nasceu em 5 de maio de 1865 era filho de Cândido Mariano da Silva e Claudina Lucas Evangelista. O futuro sertanista não chegou a conhecer seu pai que faleceu antes mesmo de seu nascimento. Quanto a sua mãe pouco foi o convívio com ela, em razão do seu falecimento apenas dois anos e meio depois de o menino ter nascido. Ou seja, Candido ainda era muito pequeno quando perdeu seus pais, o que trouxe implicações importantes em sua vida, inclusive na adoção do nome “Rondon” como será visto adiante.

Em razão da morte dos pais foi criado por seus avós maternos até os sete anos. Após atingir essa idade seu tio, Manoel Rodrigues da Silva, cumprindo um compromisso feito com seu irmão, e pai de Candido Mariano Rondon, mandou buscar o menino para que fosse criado em Cuiabá. Apesar da resistência dos avôs maternos conseguiu convencê-los em levá-lo para aquela cidade, mais bem preparada para os estudos que o menino deveria fazer. Com isso Manoel Rodrigues acabou realizando assim o sonho do pai de Cândido Rondon que não queria que seu filho fosse apenas mais um mimoseano. O relato dramático de um pai que imagina não chegar a conhecer o próprio filho é descrito pelo já velho Marechal Rondon quando cita um diálogo nunca existido, mas conjecturado a partir de um suposto pensamento de seu pai. Poetiza Rondon:

 

Em colóquio íntimo, transmitira meu Pai a meu tio seus tristes pensamentos: ‘Mano Manoel Rodrigues, sinto-me muito doente. Penso no primeiro filho que vou ter. Posso morrer antes que ele nasça. Meu irmão, se isso acontecer, e se o filho esperado for um menino, não o deixe no Mimoso. Mande-o buscar, a fim de o salvar da triste ignorância em que jazem os filhos dos mimoseanos. Aqui em Mimoso, será ele um vaqueiro ignorante; na cidade, poderá se preparar para servir melhor nossa Terra’ (VIVEIROS, 1958, p.28).

 

Assim em 1873 chega a Cuiabá Cândido Rondon e como já estavam as matrículas da escola pública fechada, seu Tio, Manoel, o colocou em uma escola particular, para que este não perdesse o ano. No ano seguinte Rondon foi matriculado na escola do Professor João Batista de Albuquerque, professor este que Cândido reencontrou anos mais tarde, quando Rondon se tornara capitão e Mestre João rico comerciante em Coxim.

Antes disso o ainda jovem Candido Mariano da Silva Rondon resolveu que estava na hora de seguir seus próprios passos, informando a seu tio Manoel que iria para o Rio de Janeiro estudar. Seu tio ficou muito preocupado, já que não tinha recursos para mantê-lo. Mas Candido, certo de seu objetivo, foi estudar no Rio de Janeiro.

Como foi dito anteriormente sobre as implicações de seus pais terem morrido tão prematuramente, cabe agora informar que o nome “Rondon” de seu sobrenome foi adotado em gratidão a seu tio Manoel Rodrigues da Silva Rondon. Os cuidados dispensados ao menino acabaram por homenagear seu tio com o nome de nosso estado.

Já instalado no Rio de Janeiro, não demorou muito para que conseguisse se tornar soldado, mesmo entre as dificuldades enfrentadas e até certo ponto esperadas em tais condições.

Rondon era considerado aluno brilhante possibilitando que frequentasse certa festa e fosse apresentado ao Dr. Xavier, d. Teresa sua esposa e as suas filhas Teresita e Chiquita, surgindo assim o primeiro encontro de Candido com sua futura esposa, Chiquita.

Já entre1890 a 1891 por se destacar por sua dedicação como aluno, conseguindo neste caso já estar formado em engenharia militar, é diplomado bacharel em matemática e ciências físicas e naturais.

A carreira militar de Candido Rondon só fazia prosperar. Foi indicado por Gomes Carneiro para fazer parte da comissão da construção da linha telegráfica de Cuiabá ao Araguaia, na qualidade de seu ajudante. “Incluiu-me desde logo como ajudante na sua comissão e, sem me consultar, propôs meu nome a Benjamin Constant” (VIVEIROS, 1958, p.62). Era ainda alferes-aluno quando foi nomeado na antevéspera do natal de 1889.

Rondon abandonou sua vida na cidade, a qual lhe era oferecida melhor conforto, para fazer parte da referida comissão. Era também uma oportunidade interessante, pois depois de oito anos longe, vivia Candido a emoção de voltar ao seu estado natal, conseguindo rever seu tio e levar a notícia a de que iria se casar com uma bela moça da cidade a senhora Francisca Xavier “Chiquita”.

Conforme ainda destaca Esther de Viveiro ao longo da construção telegráfica Candido Rondon, assim como Gomes Carneiro, demonstrou ser grande defensor dos indígenas. Nesse sentido, tanto da parte de Rondon quanto de Carneiro, era expressamente proibido matar ou usar de força para assustar um indígena, como ficou patente nos cartazes afixados por Gomes Carneiro, que dizia: “Quem, Dora em diante, tentar matar ou afugentar os índios de suas legítimas terras, terá de responder, por esse ato, perante a chefia desta comissão” (VIVEIRO, 1958, p.67).

Rondon lamentava que as expedições anteriores tivessem se aproveitado da força que proviam armas em posse do homem branco desbravado, para se impor sobre os indígenas. Sendo assim, e em tais situações, aos selvícolas apenas restava escolher entre morrer defendendo sua família com os arcos e flechas que possuíam, ou se sujeitarem a humilhação de serem reduzidos à miséria, ao alcoolismo e a prostituição.

Estando aí um dos grandes obstáculos encontrados pela comissão de Rondon durante as expedições, pois precisavam conquistar os indígenas como meio de contato, como mão de obra e como forma de conseguirem facilitar o trajeto. Isso porque já que grande parte das áreas por qual a comissão se dirigia encontrava-se tribos indígenas e algumas escaramuças com homens brancos tornava certas tribos arredias.

Foi neste período que Gomes Carneiro inaugurou a primeira estação telegráfica cujo nome era Capim branco, iniciando aí o reconhecimento do sertão leste de Mato Grosso e Candido Rondon foi escolhido para acompanhar Gomes Carneiro neste processo de reconhecimento.  Ao longo de todo trajeto Rondon sempre teve o objetivo de tornar povos esquecidos parte da civilização e segundo Esther de Viveiro ele não poderia desistir de alcançá-lo.[1]

Rondon, segundo relatado em um prefácio do Senado Federal, Missão de Rondon foi além de seus sonhos de moço não apenas ligou o estado mato-grossense à capital através das linhas telegráficas como também veio a ligá-lo ao resto do país. Rondon foi  ainda  o primeiro a rasgar matas misteriosas sendo que outras cinco expedições já haviam tentado tal fato e desistiram.

Durante as expedições que Rondon comandou tinha como intenção tornar lugares desertos parte da civilização. Rondon passou por alguns desafios, no qual guiado por um ideal maior submeteu-se com o intuito de vencê-los, inclusive quando tudo parecia perdido. O próprio Rondon estava com 41 graus de febre e sua tropa de soldados exausto e doentes, o médico responsável pela expedição, DR. Tanajura o disse que era necessário regressar para evitar uma catástrofe. Mostrando tenacidade, porém, Rondon recusou-se a desistir da missão a qual havia assumido, principalmente por ser ele o chefe da expedição, demonstrando então que seria ele o único a continuar se preciso fosse.

 

Rondon respondeu-lhe que o chefe da expedição era o único dos seus membros que não podia voltar atrás; que fossem, pois, examinados e mandados regressar todos os doentes que precisavam dessa providência; ele, porém, seguiria sempre, ainda que ficasse só (VIVEIRO, 1958, p. 14)

 

Como relata Esther Viveiro, Rondon nunca desistiu de seus ideais sempre, caminhava em frente atravessando todas as dificuldades encontradas em seu caminho e era um exemplo para a comissão que o acompanhava, demonstrando sempre que era possível atravessar o sertão mato-grossense, e levar aquelas pessoas ao contato com a civilização.

Ao longo de sua vida Rondon pode presenciar dois momentos muito importantes na história do Brasil Lei áurea e a proclamação da Republica.

Durante o percurso percorrido pelas missões que Rondon realizou, uma que enfatiza tal trabalho é a passagem do mesmo juntamente com sua comissão pela nossa cidade Vilhena na qual como de costume foi construído um ponto de apoio a conhecida “Casa de Rondon” ou Museu Marciano Zonoece, local este que teve grande destaque em nossa cidade por ter sido um ponto de encontro dos moradores de nossa região, era considerado um espaço de lazer já que era o marco inicial de nossa cidade e que atualmente encontra-se em total estado de abandono como destacado no capitulo a seguir.

 

 

CAMINHOS QUE LEVARAM À “CASA DE RONDON”

 

A casa de Rondon é um artefato cultural, histórico presente em Vilhena. A origem da famosa residência deve ser buscada nos trabalhos realizados por Cândido Rondon. A “casa de Rondon” é uma das marcas da passagem de Candido Mariano da Silva Rondon por nosso estado, onde este tinha como intenção a ligação dos estados do Rio de Janeiro até o Acre através da construção de linha telegráfica. Por conta disso, o presente item deste capítulo trata da “Missão Rondon”, ou seja, dos trabalhos que resultaram na construção da linha telegráfica, dos caminhos e realizações levados a efeito no transcurso que compreende a passagem por Vilhena. Tal relato se prende às razões que levaram a construção da chamada Casa de Rondon, procurando situá-la historicamente, a partir dos eventos que confluíram para ela. Evidentemente que a organização dos trabalhos e sua execução, que em conjunto são chamados de “Missão Rondon” não é obra da vontade única desse militar, deve antes ser buscada nos interesses brasileiros em integrar a Amazônia ao restante do País. Ligam-se, portanto, ao próprio sentido da história do Brasil, uma vez que executava o projeto que era do Estado brasileiro. Avancemos detalhando os esforços empreendidos nessas ações.

Antes dos trabalhos de construção da linha telegráfica que passou por terras de Vilhena, Rondon já tinha trabalhado como ajudante do tenente coronel Antônio Ernesto Gomes Carneiro, como foi dito anteriormente. Com o futuro General Carneiro, Rondon adquiriu experiência em trabalhos desse tipo, como na construção da linha telegráfica Cuiabá- Araguaia. Já nessa ocasião teve seu nome ventilado para a “Comissão construtora de linha Telegráficas no estado de Mato Grosso” que ainda não são os da famosa Missão Rondon em terras de Vilhena, mas na qual pode experimentar-se como chefe da expedição. Os trabalhos dessa comissão ocorreram entre 1900 a 1904, abrangendo o percurso de Cuiabá, Corumbá, até fronteira do Paraguai e Bolívia. Pode ser dito aqui que o cumprimento adequado dessa missão habilitava o militar de Mimoso a comandar a extensa obra que viria a passar por Vilhena (VIVEIROS, 1958, p.120-2).

Em 1906 foi Rondon incumbido de sua maior missão pelo então presidente Afonso Pena que pretendia construir a linha-tronco de Mato Grosso ao vale do rio Madeira, e depois levá-la ao Acre, Purus, Juruá e a Manaus. Rondon aceitou a missão sem pestanejar, publicando-se assim as instruções no Diário Oficial em maio de 1907. Desse modo iniciou Rondon a missão que teve seu término de 1910, com a chegada da formosa comissão nas águas do Madeira.

Diferente de outras expedições que foram realizadas, neste mesmo sertão, sejam com a intenção de descobertas geográficas, estudos etnográficos, ou apenas especulação, a comissão de Rondon tinha em mente a integração nacional, sem a necessidade de sacrifícios de vidas como era anteriormente feito, quando a população indígena era exterminada ou reduzidos a miséria do alcoolismo, da prostituição.

 

Graças aos esforços de exclusiva iniciativa do benemérito sertanista, graças á sua coragem moral e inquebrantável firmeza do seu caráter, que o sustentaram no caminho aberto por uma concepção nova e original desses problemas e do modo de os resolver, na conquista do noroeste mato-grossense, não se tiveram de lamentar as cenas bárbaras ultrajantes da nossa civilização, de que foram teatro outros sertões do Brasil, onde os civilizados penetraram e se estabeleceram de arma em punho, matando e exterminando as respectivas populações indígena (BRASIL, SENADO FEDERAL, 2011,p.29)

 

Ao contrário de tudo que se tinha sido visto anteriormente, dentro e fora do Brasil, era possível assistir a um modo de agir bem diferente do Coronel Rondon, que entregou a pátria, não apenas um território ainda quase desconhecido do homem branco e pouco explorado por ele. Além do conhecimento geográfico advindo com os trabalhos da “Missão Rondon”, mas também a descoberta, o contato e as relações profícuas com toda a população que nele existia sendo estes preparados para receber costumes o modo de vida e o KnowHow da sociedade, e mesmo que de modo gradativo sendo incorporado e incorporando-se a nação contribuindo inclusive, e de certo modo, com a guarda do território e das fronteiras do Brasil.

Como se pode depreender dos documentos estudados para esta pesquisa, durante a expedição, Rondon não se limitou as instalações de obras telegráficas como também buscou a descoberta de segredos dos pantanais. Foram realizando estudos geográficos, de tal modo que após seus trabalhos a região Sul-Mato-Grossense se tornou uma das mais conhecidas já que nesses trabalhos tratou-se de conhecer sua população, riquezas naturais do solo, capacidade de produção, recursos atuais e vias de comunicação.

Durante as explorações realizadas podemos destacar duas fases: a de reconhecimento e exploração a outra que se refere à construção de estradas e linhas telegráficas propriamente ditas. Rondon pretendia que tanto o levantamento dos postes como o esticar dos fios acompanhassem as explorações de caráter científico, para que terminassem ao mesmo tempo. Mas isso não foi possível devido às grandes dificuldades, previstas e outras não imaginadas ocorridas durante o percurso e trabalhos da comissão. Nem sempre o trabalho de pesquisa caminhou ao mesmo tempo em que o trabalho braçal.

A construção das picadas, o erguer dos postes e fixar a linha telegráfica era uma parte do trabalho. Fazia-se necessário criar pontos de telégrafos, se possível com seus agentes telegráficos. Por isso, ao longo do trajeto a comissão de Rondon, foi construindo postos telegráficos de acordo com as exigências da Repartição Geral dos Telégrafos. Ao todo foram construídas 31 casas de estação com a distância máxima entre duas estações de noventa quilômetros. A distribuição das casas ao longo do percurso deu-se da seguinte forma: na linha-tronco, de Cuiabá a Santo Antônio, foram construídas 21 casas. No ramal de São Luís de Cáceres à cidade de Mato Grosso, 3 casas foram erguidas. No ramal da Barra dos Bugre, que sai de Parecis, 2 casas .Por fim, no ramal de Guajará-Mirim, foram erguidas 5 casas.

Durante todo o percurso a comissão de Rondon encontrou diversos obstáculos, mas um em destaque era a grande distância que era necessário percorrer com pesadíssimos fardos. Se até certo ponto era possível ir por via fluvial, de uma altura em diante era necessário caminhar, o que dificultava manter a tropa organizada, além do esforço em suportar o cansaço de longas caminhadas em mata fechada.

Vendo esta dificuldade dividiu Rondon os trabalhos da comissão em duas seções: a do lado sul e a destinada ao norte. A seção norte foi entregue aos trabalhos do coronel Agostinho Raimundo Gomes de Castro seguindo este para Santo Antonio em 1910. Mas atacado pelas febres tropicais teve este apenas o tempo de organizar os trabalhos de sua seção e se viu forçado a se recolher ao Rio de Janeiro, com quase todos os oficiais e auxiliares. O mesmo destino estava reservado a outros homens da comissão, pois em 1911 a seção entre ao Capitão Nestor Sezefredo dos Passos, o qual também em pouco tempo teve que se recolher por motivo de doenças. Sendo assim neste mesmo ano assumiu os trabalhos o Tenente Sebastião Pinto da Silva. Tenente Silva reorganizou os trabalhos abrindo um picadão de 50metros nas partes de mais difícil acesso e assim atingiu o Jamari, ao fim de 53 quilômetros, e após atingir o Jamari continuou o tenente no comando e em 1912 chegou a um local chamado Torno Largo localizado a 80 quilômetros da estação anterior.

Somente em 1913 o então substituto do Tenente Sebastião Pinto o capitão Costa Pinheiro conseguiu terminar o trecho que compreendia o Torno Largo até a estação de Ariquemes, compreendendo a de Caritianas, com uma extensão de 101 quilômetros. Então em abril de 1914 também por motivo de doenças foi o capitão Costa Pinheiro substituído pelo Tenente Mário de Magalhães Cardoso Barata que levou a construção até a estação de Presidente Pena, e além dessa havia sido erguida a estação intermediaria de Jarú. No total foram 169 quilômetros de extensão construídos e desbravados. Essas trocas constantes de comandantes de trabalhos dão uma pequena mostra da precariedade e das dificuldades impostas pelo desbravamento da mata com seus perigos e doenças como a malária, constrangendo os homens a estados febris terríveis e a indisposições físicas acentuadas.

A todo o momento a comissão de Rondon sobrevivia a desafios impostos pelo sertão desconhecido, que trazia surpresas ameaçando desorganizar os serviços até então planejados pela comissão. Mesmo assim os relatos demonstram que queria Rondon continuar sem cessar para assim cumprir seu compromisso com o governo e com a nação.

Já a seção do Sul pode ser dividida em duas fases: de 1907 a outubro de 1911 compreendendo a construção do ramal de S.Luis de Cáceres a Mato Grosso, e a linha-tronco desde Cuiabá a Vilhena e de outubro de 1911 a 31 de dezembro de 1914 compreendendo os serviços de Vilhena até a estação de Presidente Pena. Assumia a direção dos trabalhos o Major Félix Fleuri de Sousa Amorim, que os levou até a entrada da mata do Guaporé, um trecho de 225 até Pontes e Lacerda tendo a estação de Porto Espiridião como intermediaria. Em dezembro o major Felix Fleuri terminou o serviço e pediu dispensa do cargo. Assume então o coronel Rondon que em menos de dois meses conseguiu inaugurar a estação de Mato Grosso, na antiga Vila Bela a 76 quilômetros de Pontes e Lacerda. Rondon deu continuidade aos trabalhos superando os obstáculos e vencendo o que talvez tenha sido maior desafio nesta região o risco do impaludismo que tinha grande frequência neste local.

Como já se podia esperar, houve momentos de dificuldade em relação à saúde dos homens, tendo quase toda a tropa  tendo ficado doente. Ao contrário do que se diz quanto à de que para cada poste implantado havia um homem morto, a comissão não perdeu tantas pessoas, pois se isso fosse verdade é de se supor que não haveria homens suficientes para dar continuidade aos trabalhos. De fato poderiam mesmo comemorar os cuidados que o Dr. Calazãs tinha com a comissão e ao fato de estarem bem preparados quando a medicamentos e aparelhagem necessários. O resultando dessa preparação está no fato de que de 201 que ficaram doentes apenas seis vieram a óbito ao final de todos os trabalhos da expedição a morte de apenas quinze homens da tropa.

Além dos trabalhos da construção da linha telegráfica, Rondon reconstruiu a ponte da antiga estrada de Vila Bela, sobre o rio Guaporé, ordenou que fossem realizadas obras, para conservação do antigo palácio dos governadores e do quartel. São trabalhos que acabaram melhorando as construções, bem como as condições sanitárias da cidade. Neste mesmo local ensinou Rondon a função de telegrafista a um morador desta cidade e a seu filho para que ficassem encarregados da estação.

Sobre a direção do Capitão Marciano de Oliveira Ávila e do Capitão Custódio de Sena Braga atacou-se os trabalhos no trecho de Diamantino a Ponte de Pedra, numa extensão de 173 quilômetros, com a estação de Parecis como intermediaria. Mas no meio do sertão apareceram vários desafios, como falta de transportes, o gado foi dizimado pela febre aftosa, sendo os trabalhos paralisados até a chegada de Rondon ao local e quando ele chegou conseguiu resolver os embaraços. Pode então dar continuidade ao trabalho de tal modo que conseguiu avançar 234 quilômetros até Utiariti, tendo ainda sido construída a  estação de Barão de Capanema inaugurada em 1° de Janeiro de 1909.

No início de 1910, o major Ávila veio a adoecer sendo necessário entregar seu cargo ao Capitão Marçal Nonato de Farias que ocupou o lugar do Major Ávila até a chegada do Tenente Luis Carlos F. Ferreira designado pelo Coronel Rondon. Em 14 de julho de 1910, após a construção de 101 quilômetros, e inaugurada à estação de Juruena, o Tenente Luiz Calor F. Ferreira obrigado a se dirigir ao Rio de Janeiro por causa das febres tropicais. Foi por conta disso que os trabalhos foram entregue ao Tenente Cândido Cardoso, que mais tarde também veio a adoecer e a entregar seu cargo. O relato aqui expresso, com vários nomes de militares que assumindo parte da imensa obra se viam na contingência de abandonar seus afazeres por conta de problemas de saúde dá uma mostra da precariedade das condições e das dificuldades que uma obra desse porte impunha. Havia inclusive pequenas interrupções nos trabalhos diante desses problemas. Além das doenças outras preocupações ocupavam a cabeça desses militares.

Depois dos trabalhos terem ficado parados por mais de um mês em 5 de setembro eles recomeçaram sobre a direção do Tenente Nicolau Bueno Horta Barbosa e seu auxiliar Tito de Barros. Na medida em que os trabalhos caminhavam foram os homens da Missão atacados por índios nambiquaras em uma emboscada. Determinados a procurar a paz com os indígenas os oficiais, não reagiram e não permitiu que seus praças o fizessem tal ato sendo assim elogiado por Rondon.

 

O chefe da comissão, aludindo depois em Ordem do Dia a este fato, elogia os dois oficiais, por não terem consentido que os praças, em represálias, caíssem sobre os índios, a pretexto de defesa dos seus oficiais, e explica que, assim precedendo, eles prestaram maior serviço do que o maior esforço técnico que pudessem ter empregado diretamente a favor da construção (BRASIL, SENADO FEDERAL,2011, p.137).

 

Em razão de alguns terem ficado feridos com o ataque dos nambiquaras, Rondon achou por bem convocar para continuar a missão os Tenentes Júlio Caetano Horta Barbosa e Boanerges Lopes de Sousa. Esses militares deram continuidade nas construções levando a mesma até Vilhena distante 139 quilômetros de Juruena, tendo como intermediaria em 1908 a estação nambiquara.

Neste mesmo ano conseguiu o Tenente Júlio Caetano, através do intermediário de um grupo da aldeia pertencente à Juruena e Juína, um encontro pacífico que Rondon tanto queria com a tribo nambiquara que era tão temida pela comissão. Tal fato parece demonstrar o acerto na decisão sempre frisada por Rondon de não haver represarias a possíveis ataques que os homens da Missão viessem a sofrer. Atacar os indígenas, como quase sempre se fez acabaria por dificultar a ajuda deles. Com represarias, seria muito difícil conseguir manter o contato com estes povos que eram de suma importância para o crescimento da construção telegráfica e o reconhecimento daquela região, o homem branco dependia da amizade com os indígenas para alcançar seus objetivos.

Foi então que em 12 de outubro de 1911 veio Rondon inaugurar as estações de Nambiquara e Vilhena, estando presente um grupo de índios, tendo em vista o encontro entre o Tenente Julio Caetano e esta tribo ocorrido de modo pacífico pouco antes. Seguindo com o seu traçado Rondon sabia que de Vilhena para diante era necessário atravessar duas vezes o vale do rio da Dúvida, que era coberto por matas, realizando novas pesquisas e explorações, encontrando vasta pastagem e alimentos que serviriam para a tropa e para os animais. Já em 1912, no dia 13 de Junho inaugurou Rondon uma estação localizada a 83 quilômetros de Vilhena na qual deu o nome do patriarca da independência que fazia aniversário neste mesmo dia, José Bonifácio. Desta estação avançou-se 67 quilômetros onde foi inaugurada a estação de Barão de Melgaço, sendo realizado um trabalho com a intenção de navegação como fonte de abastecimento através do rio Ji-Paraná sendo os objetivos alcançados pôde ser dispensadas as tropas.

Em outubro de 1913, Rondon foi chamado a retornar para o Rio de Janeiro, para acompanhar o Sr. Theodore Roosevelt a uma viagem de exploração e estudos pelo interior do Brasil. Apesar das dificuldades encontradas como as fortíssimas epidemias de beribéri e paralisação da construção, a mesma foi retomada em 1914, pelo Capitão Cândido Cardoso que acabou por pegar também a doença em razão da qual não resistiu vindo a falecer após dois dias que contraiu a doença.

Rondon em 1914 regressou ao acampamento de Barão de Melgaço, pois ainda faltava ligar o vale do rio Ji-paraná ao do Jamari. Os trabalhos realizados naquele ano permitiram que em 31 de dezembro estivessem concluídos os trabalhos e feita a ligação entre os fios do telégrafo da seção do Sul com os da seção do Norte. Foram oito meses de serviços realizados por Rondon num trecho no qual foram construídos 372.235 metros de linha e um total de cinco estações, a saber: Pimenta Bueno, a 61.431 metros de Melgaço; a de Presidente Hermes, distante 96.802 metros de Pimenta Bueno; Presidente Pena, afastada 45.914 metros; de Jaru, colocada a 77.061 metros da última; e a de Ariquemes, distante de Jaru 91.417 metros.

Além dos objetivos principais de construção da linha telegráfica, do contato e conhecimento acerca dos povos da região e da geografia, os trabalhos resultaram em outros benefícios. Pode ser destacada também entre os serviços prestados por Rondon a adaptação de uma estrada, na qual o tráfego de carros facilitava a chegada a povos tão afastados, e, claro a facilidade maior no deslocamento pela região. Como se sabe destaque também pode ser dado os serviços astronômicos sem os quais seria inviável a exploração geográfica e construção das linhas telegráficas, este ponto de observação astronômica foi montado em Cuiabá com o fim de permitir a longitude exata dos principais pontos do sertão e localidade de Mato-Grosso. O que foi dito até aqui tem a pretensão de localizar de modo breve, mas necessário, o sentido da construção da casa de Rondon.

Como o que existe é sempre uma criação histórica, e nesse caso mais ainda, fez-se necessário apontar a trama e as razões da existência de tal casa. A seguir serão apontados alguns elementos mais próximos acerca desse significativo marco histórico cultural de Vilhena.

 

 

CAPÍTULO II

AS CASAS DE APOIO

 

A construção da linha telegráfica era um dos trabalhos, mas o telégrafo depende de outros cuidados que exigem zelo permanente para sua conservação. Por isso, como foi demonstrado no item anterior, foram construídas pequenas habitações ao longo do trecho da linha. As chamadas casas de apoio eram batizadas com nomes escolhidos de acordo com algum acidente notável ou em forma de homenagem, como era o caso do ilustre José Bonifácio, Capanema, Pimenta Bueno, Barão de Melgaço, ou de tribos indígenas como Parecis, Nambiquara, Ariquemes, Caratianas e Caripunas. Eram encontradas para esses locais pessoas responsáveis para que fosse possível manter  contato com os mesmos. Contato que serviria, logicamente, para dar e receber informações da região norte, até então incomunicável com o sul por meios mais rápidos do que os barcos ou o lombo de mulas, nos longos trajetos que separavam regiões de um país continental.

Operar o telégrafo exigia preparo. Baseado em seu criador o telégrafo inventado por Samuel Morse, donde deriva o código Morse. O telégrafo foi o primeiro meio de comunicação utilizado em Vilhena de 12 de outubro de 1910 até o início dos anos de 1970, destacando aí o nome dado por Candido Rondon à Vilhena, que foi em homenagem a Álvaro Coutinho de Melo Vilhena, comunicador e engenheiro de telégrafo. O nome da cidade se liga, portanto intrinsecamente à estação telegráfica e a um dos engenheiros por ela responsável, Vilhena teve sua origem a partir da criação desta estação telegráfica. Convém lembrar mais uma vez que esta casa telegráfica que acabou se tornando o marco de nossa cidade, se deu com a passagem da comitiva de Rondon por nosso estado. Essa passagem necessitava de pontos que servissem de apoio para sua comitiva, para facilitar a comunicação e o abastecimento de alimentos caso fosse necessário.

Se, como foi dito anteriormente, para operar o telégrafo e em consequência ser responsável pela estação telegráfica era preciso certo conhecimento e habilidade, em Vilhena podemos destacar Marciano Zonoece. Sua importância para Vilhena e particularmente para o nosso objeto de pesquisa reside no fato de ter sido nomeado responsável pelo telégrafo de nossa cidade, a partir de 1943 até 1966. Escolhido para este trabalho por Candido Rondon, Marciano Zonoece era casado com Maria Augusta com quem teve oito filhos, sete deles nasceram na conhecida “Casa de Rondon” em Vilhena. Segundo familiares de Marciano ele conheceu Rondon pessoalmente, claro, e depois de assumir os trabalhos na estação telegráfica Marechal Rondon este esteve por duas vezes em Vilhena, mas Marciano não chegou a trabalhar diretamente e cotidianamente com Rondon.

Como foi apontado anteriormente por longo período predominou o telégrafo. Somente em 1974 foi instalado em Vilhena o Posto de Serviço Telefônico (PS) que era interligado com o Sistema Nacional de Telecomunicações. No início este posto telefônico funcionava onde atualmente se encontra a TV Vilhena e tinha apenas uma telefonista responsável.

Em razão das mudanças cada vez mais rápidas nos meios de comunicação, e com o avanço tecnológico a “Casa de Rondon” que serviu por anos como posto telegráfico perderia sua razão de ser, passou a ser então nomeado Museu. Seu estatuto social mudou bem como sua utilidade o mesmo serviu durante um bom tempo como ponto turístico apreciado pelos moradores da região, no entanto acabou por fechar e se encontra atualmente em total estado de abandono. Sobre a Casa de Rondon como museu o presente trabalho trata a seguir.

 

 

O MUSEU CASA DE RONDON

 

Casa de Rondon eis aqui o nome do tão apreciado marco histórico de nossa cidade, local que serviu por longos anos como ponto turístico, é que era o ponto de encontro dos vilhenenses e de visitantes de outras localidades. Muitos queriam admirar o museu que existia neste lugar, desfrutar do espaço de lazer que o mesmo provinha, e  por um bom tempo fez a alegria daqueles que puderam conhecer um pouquinho da história representada por este espaço, do início a história de nossa cidade.

É possível destacar que algumas escolas e creches da época em que a “Casa de Rondon” era aberta ao público levavam seus alunos para visitar o museu e o zoológico nele existente. Era possível admirar o museu, os animais e conhecer um pouco da história, fazer  piqueniques entre outras formas que traziam lazer para todos daquela época.

Conhecendo de perto o marco inicial da cidade de Vilhena, todos os dias era possível visitar o museu, mas aos finais de semana era o ponto de encontro dos mais significativos da cidade para os Vilhenense que tinham em mente ver os amigos, ou então para divertimento em família. O volume de pessoas que se dirigiam á Casa de Rondon nos finais de semana era tão significativo que inclusive haviam pessoas que provinham renda deste local para sua subsistência. O próprio pai da pesquisadora Sr. Edgar Francisco de Oliveira faz parte desta realidade, pois o mesmo prestava serviço como vendedor de pipocas, doces entre outras coisas neste local, que faziam a alegria das crianças.

E que infelizmente não é nossa realidade atual, a “Casa de Rondon” está em completo estado de abandono, a mercê de governantes e da sua própria população a verdade é que muitos nem conhecem a verdadeira história apenas escutam falar do que foi o museu de Vilhena.

Deixando assim nossa história e por consequência a nossa cultura se perder com o tempo assim como as ruínas que estão consumindo a “Casa de Rondon”. Essa casa é um espaço que marcou o início da história vilhenense, não a toa chamado de marco zero. Infelizmente, a persistir o atual quadro, ela está chegando ao seu fim em sua pior maneira pelo descaso e o abandono, e sem seu sentido real “Marco Histórico” que deveria ser preservado.

A situação de abandono por que passa a Casa de Rondon foi divulgada em reportagem realizada em dezembro de 2011 pelo jornal Folha de Vilhena, cujo tema é “Casa de Rondon: Nossa História jogada no lixo”, de autoria de Jésica Labajos.

A jornalista destaca que várias matérias, vídeos, documentários, artigos e entre outros trabalhos foram realizados no intuito de que alguma coisa fosse feita por este patrimônio histórico, mas o que conseguimos são apenas promessas inclusive em ano eleitoral como é o caso de 2012. Em destaque existe a lembrança de vilhenenses que puderam conhecer o museu de perto e que deram seu relato sobre a atual precariedade do lugar. “É uma tristeza ver que uma parte da história de Vilhena se apagou, diz Valdir Uecker, conhecido como Alemão proprietário da TV Som” (LABAJOS, 2012, p.03).

Esta não é a primeira e nem será a última declaração sobre uma parte da nossa história que está se perdendo com a falta de comprometimento por ambas as partes dos governantes e da população, sendo que é de suma importância que esta história seja mantida viva para as próximas gerações.

A reportagem ainda destaca que mesmo com a atual situação existe uma família que mora no local, a senhora Maria de Lourdes Oliveira, seu esposo e duas filhas, em uma casa aos fundos da “Casa de Rondon”. Esta família foi ali colocada para cuidar do museu e da casa, mas acabaram por presenciar triste desfecho da casa de Rondon, pois com o passar do tempo vândalo estavam realizando roubos e destruindo a casa. Segundo dona Maria só melhorou a segurança do local quando o pessoal da aeronáutica se instalou nas proximidades. Além disso, alguns documentos e objetos importantes foram levados pelo governo para a Capital para que fossem preservados. A preocupação é que no futuro não se tenha nem a lembrança do que chamamos de marco zero de nossa cidade, e que esta história seja esquecida através do tempo.

 

 

CAPÍTULO III

ESPERANÇA DE CONSCIÊNCIA E EDUCAÇÃO

 

Sendo assim, a presente pesquisa visitou e procurou conhecer escolas que de algum modo dessem valor a esse projeto voltado para a história de Vilhena e de preferência, para a “Casa de Rondon”.

Apesar de todo o descaso podemos destacar um fato muito importante que aconteceu recentemente e foi destacado pelo “Jornal Jovens Construindo a Cidadania (JCC)”. Alunos da Escola Shirlei Ceruti foram presenteados com uma aula diferenciada de História e Geografia. Por ela puderam estar presentes no pátio da Casa de Rondon podendo aprender sobre a nossa história dentro do próprio ambiente cultural e histórico.

Este trabalho, que foi realizado pelos professores Emmerson e Marcelo, é de fundamental importância, pois se trata de resgatar de certa maneira a história de nossa cidade. Ao mesmo tempo em que se ensina história e geografia conforme carga horária. Interessante ainda é trabalhar de acordo como se exige nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), o conteúdo voltado para a realidade do aluno, fazendo com que este aluno consiga trabalhar a história com a realidade presente nela.

Na maioria das vezes se busca realidades de outras histórias e culturas o que não deixa de ser importante, mas é necessário trabalhar com a realidade deste aluno. Parte-se do princípio de que o aluno consegue assimilar melhor quando o presente conteúdo tema ver com a realidade em que ele está inserido, trabalhando assim fatos como a cultura e a história, das quais sua própria existência está ligada de algum modo.

Apesar do abandono, a “Casa de Rondon” ocupa singular espaço no imaginário vilhenense, sendo evocado no hino do município como lugar de brilho. Destacando a grande importância que tem a Casa de Rondon, a letra do hino de nossa cidade, que foi escrita por Adailton de Souza Medeiros, e na qual a casa é destacada como o marco da nossa história. Sendo este hino ensinado nas escolas e para a população de nossa cidade, a certa altura afirma.

 

(...) Impões grandes asas. Oh glória

No belo de rijas nascentes

No marco registro da história

Casa de Rondon, patrimônio luzente (...)

 

De tudo isso é ainda preciso lembrar a importância de uma educação na qual a cultura regional seja trabalhada, pois trabalhar com o aluno a importância de sua cultura e sua origem é essencial para que a cultura não seja esquecida. Sem negar o valor da história de outros povos e lugares, a escola deve ocupar-se em ensinar a realidade mais próxima do aluno. Que este possa reconhecer na sociedade onde vive os elementos que o constituíram.

Sobre a cultura de Vilhena, as entrevistas a seguir servem como perspectivas de análise de um tempo já vivido, mas que se faz presente na memória dos que viveram uma época marcada pela presença e pelo fluxo de pessoas que visitavam a Casa de Rondon. Valem as entrevistas como documento histórico por isso as reproduzimos na íntegra.

 

 

3.1 ENTREVISTAS

 

Uma das possibilidades de conhecer o passado, e particularmente do marco histórico de Vilhena, a Casa de Rondon, é inquirir pessoas que com ela conviveram mais proximamente. Nesse sentido é um achado importante saber que pessoas que cuidaram da casa durante algum tempo estão vivas e dispostas a contribuir para a manutenção de certos espaços de memória local. Em vista disso, a pesquisa procurou e entrevistou duas pessoas cuja vida está ligada a Casa de Rondon. As entrevistas apresentadas a seguir, na íntegra, são uma demonstração da riqueza e de detalhes de convivência significativos de um período da história a ser destacado sempre.

Preferiu-se aqui apresentar as entrevistas em sua totalidade, sem cortes, para dar a melhor idéia possível desses espaços de memória individual que de algum modo se confundem com o passado vilhenense.

Primeiramente a entrevista realizada com a Senhora Nélia Maria Barbosa, no dia vinte e seis de março de dois mil e doze. A entrevista a seguir destaca a participação da mesma no período em que a “A casa de Rondon” ou mais conhecido como o Museu funcionava em nossa cidade, destacando como era importante este marco cultural.

O relato é de alguém que pode descrever como é importante que não deixemos esta história se perder. Há indicativos de que se deve fazer algo em prol de sua reabertura e sua conservação mantendo a mesma como forma viva para as próximas gerações antes que seja tarde e tenhamos apenas que lamentar o esquecimento de uma história que relata a passagem de pessoas como Rondon e sua comissão por nossa cidade e sua participação na constituição da mesma.

É necessário destacar que a memória de um povo neste caso dos Vilhenense, esta perdendo ao menos um pedaço de sua criação por falta de atitude seja da população, seja do meio político, mas em geral de toda sua sociedade, que perdera elementos importantes de memória social.

 

3.1.1 Entrevista A

 

“Meu nome é Nélia Maria Barbosa estou em Vilhena desde 1987.Quando eu cheguei aqui o museu já funcionava aí eu fiz o concurso, comecei a trabalhar na prefeitura contrato emergencial quando foi em 1992 eu me efetivei e como eu trabalhada na Secretaria Municipal de Educação (SEMEC) a gente cuidava também do zoológico e levando alimentação para os animais que eu era da área da merenda escolar.[3] E antigamente o ponto turístico da cidade era o zoológico lá tinha os animais muita área aqui da Amazônia tinha o tratador, que nos domingo o pessoal ia visitar lá  e tinha o tratador pra explica da onde venho o animal o que o animal come que não podia mexer nos animais que eram selvagens.

“Na época o prefeito, que eu cheguei, era o Rutmann e ele tinha muito carinho pelo zoológico e inclusive os alunos aproveitavam muito que as escolas antigamente dava muito valor aos animais da Amazônia e tinha muita excursão de escola à prefeitura da época não tinha ônibus disponível, mas eles iam a pé porque a cidade era pequena era tudo mato naquela região era muito fácil de andar porque não era perigoso, os alunos iam fazer piquenique iam passear as famílias iam passar domingo fazer piquenique lá para ver os animais tinha uma mata muito linda que eles entravam dentro da mata para verificar flora fauna as flores os frutos que tinham naquela época, o zoológico ficou aberto muito anos quando foi em 1997 que começou o abandono total pelo zoológico os animas começaram a morrer e os últimos animais que tinham eu com a equipe da merenda o Tonhola que é velho na cidade cuidou do zoológico nos fomos e levamos os animais vivos para a fazenda. Para, que os outros começaram a morrer de fome por causa do abandono do zoológico, e os objetos que tinham lá zoológicos alguns estão lá na casa de Rondon ainda estragando, acabando e outros foram levados para o almoxarifado da prefeitura que não tinha muita coisa não.”

Numa linguagem fácil e clara, dona Nélia aponta elementos que vão para além do espaço histórico, revelam à importância da consciência ecológica, dada a valorização que, segundo ela, os alunos tinham para com os animais da Amazônia e o contato com a flora da região. Lembrando aquele tempo e comparando com o atual, dona Nélia lamenta a situação do antigo zoológico.

“E depois do fechamento do museu não teve até agora, eu tô na prefeitura até agora ainda não vi nenhum projeto de abertura do zoológico eu não sei qual é o motivo, mas os prefeitos não tão tendo interesse nenhum em voltar aquele ponto turístico que era a porta de entrada de Vilhena todo mundo que chegava aqui queria visitar o zoológico porque era lindo, era muito bem tratado conservado todo muito tinha maior interesse até hoje a população reclama de o zoológico ter acabado.”

Depois dessa fala inicial e espontânea, apresenta-se a entrevista, com todas as expressões exatamente como aparece na fala de Dona Nélia.

Nádia: E para você Nélia você assim gostava quando o era aberto para você ir lá você ia sempre com a sua família?

Nélia: Ixi eu ia direto eu trabalha na prefeitura só de manhã a tarde eu ia para lá com os meus meninos brincar para a gente ver os animais fazer caminhada, eu ia sempre domingo às vezes ia com meus filhos fazia piquenique lá era muito bom infelizmente o abandono fez com que ele fecha-se.

Nádia:  Você chegou assim a ir com alguma escola?

Nélia: Sim. Fui à escola eu trabalhava na época na escola Ivete Brustolin, nós chegamos a fazer excursão com os alunos para eles fazerem trabalhos de geografia ver onde ‘tava’ localizado quais animais que tinham na região quais animais que tinha lá na época alimentação dos animais, quem cuidava dos animais.

Nádia: Você conheceu alguém que vendia doces e pipocas La na época ?

Nélia: Eu conheci uma dona que vendia cocada, ela até mora na estrada de Juína. Ela é casada com um funcionário da secretaria de obras, ela tá até hoje ainda ela ia para lá vender pipocas vender cocada esta eu conheci.

Nádia: é?! Ela é viva até hoje?

Nélia: Ela é viva até hoje, uma senhora viva até hoje, e ainda continua vendendo cocada.

Nádia: você acha que deveria reabrir esta casa de marechal Rondon conserva ali para visitação?

Nélia: Com certeza a casa de Marechal Rondon é a mesma coisa da madre Maria lá em Porto Velho é o cartão postal da cidade se for aberto aquele museu Vilhena só tem a ganhar.

Nádia: Com certeza que será um ponto turístico

Nélia: Mas hoje também tá muito difícil por causa do IBAMA tinha muito animais ali que eram pegados sem documentação hoje para abrir este zoológico é preciso ter a licença do IBAMA e ver mesmo se a prefeitura assume mesmo o compromisso de deixar aquilo ir para frente .

Nádia: Mas assim e quanto à casa de marechal?

Nélia: A casa de marechal Rondon tá lá jogada as traças. Nós fizemos agora um projeto na escola Marcos Donadon, “conhecendo Vilhena”, para visitar os pontos turísticos da cidade e nós fomos lá no zoológico tá um abandono total. A casa de Marechal Rondon tem casa e casas de marimbondo que nós não podemos nem entrar lá com medo de ser picado.

Nádia: porque será que ele não pode ser tombado como patrimônio histórico?

Nélia: Porque a prefeitura precisa reconhecer precisa de reconhecimento da prefeitura e ninguém fez isto até hoje.

Nádia: O Nélia, mas é verdade assim que por causa de um tijolo que foi trocado lá não pode ser tombado?

Nélia: Isto eu não posso informar não tenho conhecimento não, mas a casa de marechal Rondon tá lá tudo antigo tá lá.

Nádia: Mesmo jeito?

Nélia: Mesmo jeito

Nélia: Inclusive tem um caseiro que mora lá que a casa dele é de madeira, há muitos anos quem morava lá era o Tonhola.

Nádia: Mora lá o caseiro?

Nélia: Ele Mora lá ainda o caseiro está lá,

Nádia: Verdade?

Nélia: quem quiser ir lá porque ele mora lá ainda o caseiro está lá,

Nádia: Que legal!

Nélia: Ele ficou lá de favor da prefeitura morando lá.

Nádia: Na casa de Marechal?

Nélia: Não, ele não mora na casa de Marechal, ele mora lá dentro também tem uma casinha de madeira lá, inclusive se você quiser mais informação você procura ao Tonhola que o Tonhola é que acompanhou todo o processo do museu ali.

Nádia: A então tá bom, obrigada.

Nélia: Tá bom minha amada?

Nádia: Tá bom, obrigada.

Nélia: De nada.”

Nessa primeira entrevista, transcrita aqui inclusive com detalhes de expressões populares, denota-se o entusiasmo em alguns momentos, quando dona Nélia enfatiza que está tudo lá ainda na Casa de Rondon, e que, portanto, se mantém como patrimônio histórico da cidade.

Dada à indicação de entrevista ao Senhor Tonhola feita por dona Nélia, à pesquisa se encaminhou para entrevistá-lo. O que foi feito no mês de abril. Transcreve-se na íntegra, também, a entrevista com esse Senhor, até mesmo como documento importante para a história de Vilhena. Segue a transcrição da entrevista tal e qual aparece na gravação realizada com o Senhor Tonhola.

 

3.1.2 Entrevista B

 

“Eu sou a acadêmica Nádia Fritz de Oliveira estou cursando o 8° período de pedagogia, na Unir-Universidade Federal de Rondônia, e hoje dia 25/04/2012 estou aqui com o Senhor Antônio Bispo Pereira Filho, mais conhecido como “Tonhola” e ele vai contar um pouquinho para a gente do que ele se lembra da época em que a “Casa de Rondon” mais conhecida como museu funcionava e era aberta ao publico.

Antônio: Eu trabalhei de 1970, aliás, esse foi o ano em que cheguei a cidade, trabalhei de 1994 a 1996, na época era o prefeito Ruttmann, e eu até hoje sinto um pouquinho de falta da Casa de Rondon acabou o pessoal desistiu dela, mas o tempo que eu trabalhei lá era bom o pessoal gostava, visitava.

Nádia: Era aberta ao público?

Antônio: Aberto ao público, assim o pessoal tinha os horários, a gente quando trabalhava lá que eu tomava conta porque eu era responsável por lá na época, a gente abria das 08:00 até as 17:00.

Nádia: Era um dia específico da semana ou era todos os dias?

Antônio: Todos os dias, entendeu?

Nádia: Era para visitação mesmo qualquer hora das 08:00 as 17:00 da tarde.

Antônio: Huhumm (sinal de assentimento)isto era direto de segunda a segunda vamos supor, não tinha feriados.

Antônio: O pessoal, o final de semana era que tinha bastante gente, e tinha muita gente que vinha de fora o pessoal daqui gosta muito na época de visitar o museu. E tinha animais também.

Nádia: Que tipo de animais que tinham lá na época no zoológico?

Antônio: No zoológico a gente tinha macaco, tinha gavião real, eram dois, tinha cobra, tinha leão que era uma atração do povo.

Nádia: Como era mesmo o nome dele (leão)?

Antônio: Leo, eu até hoje tenho saudades do Leo ele era meu amigo pra caramba.

Nádia: Amigo atrás da grade né?

Antônio: Não eu cansei de entrar dentro da jaula, eu tinha medo não.

Nádia: E tinha alguém especifico que tratava ou era você?

Antônio: Não tanto tinha eu e tinha um rapaz que é o Vantui hoje ele trabalha de vigia na prefeitura e ele é até um cara eu tinha, até visto se trazia ele esta semana, porque ele conviveu muito mais que eu lá dentro ele morava dentro era o caseiro.

Nádia: Ah, ele era o caseiro?

Antônio: Huhumm, a esposa dele, acho que tua mãe até conhece ela, hoje não é mais esposa dele não que é a Mirla uma que trabalhava no Martin Lutero hoje trabalho no Dalila sabe.

Antônio: Então eu gostei muito e gosto até hoje do Museu, acabou nós não sabemos assim porque acho que foi ficando difícil para a prefeitura.

Nádia: Mas era a prefeitura então que mantinha o zoológico aberto o que tinha de custo era ela quem mantinha?

Antônio: Huhumm era ela quem mantinha

Nádia: A questão da alimentação era tudo ela?

Antônio: Era tudo ela a gente buscava no matadouro, era dado aquele bezerro para tratar dos animais e a gente buscava até o matadouro era municipal da época.

Nádia: E você se lembra assim a questão das brincadeiras o que o pessoal costumava fazer?A gente sabe que as escolas levavam as crianças para passeio.

Antônio: O pessoal levava o pessoal da escola para passeio eles gostavam de jogar futebol, vôlei, brincavam naquela área de lazer que tinha ali.

Nádia: Então as escolas levavam as crianças mesmo?

Antônio: Levavam as crianças para fazer piquenique.

Nádia: E as escolas costumavam levar com frequência essas crianças ou?

Antônio: Com frequência sim.

Nádia: Então era um ponto turístico da cidade?

Antônio: Era um ponto turístico da Cidade, as escolas assim até pediam se a gente tia um dia para ele, então às vezes tinham muito escolas daí para não misturar muito por causo do lazer que eles faziam a gente fazia em etapas.

Nádia: E vinha pessoas de fora também ou era aberto apenas par ao pessoal da cidade?

Antônio: Era aberto em geral para quem quisesse chegar ali principalmente o pessoal vinha de longe de outro estado visitar o zoológico.

Nádia: E o que você se lembra dos objetos que tinham na casa, realmente tinha alguma coisa que pertenceu a marechal Rondon?

Antônio: Olha tinha e tem até hoje que não faz muito tempo que eles recolheram as coisas que tavam lá e está na prefeitura no almoxarifado.

Nádia: Ah, então tá aqui na cidade mesmo?

Antônio: Hahamm (sinal de concordância) algumas coisas as outras sumiram outras o pessoal roubaram, e até que esta semana passada eu tava olhando aquelas coisas tudo jogada tem uma cama feita de arame, eu acho ela bonita pelo jeito que é feita porque é tudo de ferro uma mola que tá lá enferrujada, mas você não quebra ela.

Que segundo as outras pessoas que eu conheci, e as histórias dizem que quando ele veio para cá com os desbravadores dele que andavam com ele trouxe aquela cama que era exclusiva para ele.

 Nádia: Para o Marechal?

Antônio: Hahamm, dormir ali, então tem ela até hoje ali

Nádia: E o que as pessoas diziam na época em que o museu foi fechado?

Antônio: Ah foi uma revolta muito grande, para a gente do município e até hoje o pessoal reclama, porque era um lugar que o pessoal, aqui no nosso município a gente não tem lugar para passear a não ser as praças ou sair para fora.

Então aquele museu ali na época era um lugar que o povo ia para descansar para se divertir.

Nádia: Na verdade era e é um ponto turístico desde que seja conservado?

Antônio: Justamente, que nem eu trabalhei lá você via assim sempre as mesmas pessoas que saiam de casa com a família inteira e ia para o zoológico ia olhar os animais, conversar com os bichinhos.

Nádia: Você trabalhou de que ano até que ano dentro da Casa?

Antônio: Olha, eu trabalhei lá dentro de 1994 a 1996, para falar a verdade eu trabalhei esta época, mas depois continuei trabalhando como voluntário, como tinha aqueles animais que sobrou para eles não passar fome eu levava as coisas combinava com o pessoal dos açougue e eles me davam aqueles osso.

Nádia: Você ia por conta?

Antônio: Eu ia por conta porque não tinha mais ninguém

Nádia: E quando o museu foi fechado que dizem que teve alguns animais que começaram a passar fome isto é verdade?

Antônio: É verdade sim, por isto eu comecei a fazer um serviço voluntário para os bichinhos não ficarem com fome, aí logo que fechou foi mandado um bocado em borá para o amazonas, nordeste.

Nádia: Aqui para Rondônia ficou algum?

Antônio: Não, para não dizer que não ficou algum para o estado na época levaram uns dois macacos para Guajará-Mirim, mas logo o museu dela fechou.

Nádia: E quem que era o prefeito no início da abertura até quando ele chegou a ser fechado?

Antônio: Vitorio Abrão, depois Elcio Rossi, Ruttmann e depois veio o senhor Ademar Suckel e eles não fizeram muita conta e foi quando fecharam.

Nádia: Quando o museu chegou a fechar então era o Ademar Suckel?

Antônio: Hahamm.

Nádia: E logo depois que o museu chegou a ser fechado teve algum projeto ou você sabe se tem algum projeto para reativação?

Antônio: Olha de ter projeto teve, mas ninguém nunca chegou a colocar em prática.

Nádia: E vendo a situação em que o museu se encontra hoje por que você acha importante que ele seja reaberto hoje?

Antônio: Olha, eu acho que se ele fosse reaberto hoje ele daria um ponto turístico para a população se não tivesse nenhum animal, mas fosse só para o pessoal ver aquela “Casa de Rondon” o povo ia passear gosta porque, você vê é fechado e tem um colega meu que mora lá abandonado porque nem energia tem o povo vai lá.

Nádia: Mesmo fechado?

Antônio: Sim mesmo fechado só que não pode entrar porque é fechado somente com autorização dele, mas o povo vai  em vez em quando eu conheço gente que fala poxa eu vim de tão longe, fui no museu e tava fechado, mas não tem nada somente mata tem umas peças na chuva.

Nádia: Então na verdade é uma questão assim se fosse reaberto provavelmente.

Antônio: é o povo vai visitar é um ponto que o povo quer saber uma historinha.

Nádia: E tem uma história fundamental que é o início

Antônio: É o início e você sabe a curiosidade da gente é grande aí chega uma pessoa porque fecharam esta casa? Ou reabriram que bom. Como foi o começo disto aqui? Outro porque fechou e agora abriu?

Antônio: Nós temos políticos aí que fala que tentou abrir, mas até hoje nada.

Nádia: Nós sabemos que o museu ou a “Casa de Rondon” tem este nome por causa de Candido Rondon o que você sabe sobre ele?

Antônio: Olha, o que eu sei é que ele veio de Cuiabá aí pela picada de uma rede elétrica, fazendo uma rede elétrica de energia e telégrafo e chegou até Vilhena e foi o lugar que ele chegou e ficou gostou daqui e se instalou aqui e daqui mandava o pessoal que desbravava para ele.

Nádia: Como você trabalho lá dentro diretamente você chegou a ser convidado a divulgar a importância da reabertura ou na época quando ele era aberto nas televisões,rádio chegou fazer algum tipo de entrevista falando da importância da casa?

Antônio: Cheguei.

Nádia: Recentemente ou na época?

Antônio: Na época, e faz tempinho já a gente tentou fazer uma divulgação para tentar influir ou cutucar os políticos para reabrir o bicho, mas não deu o resultado esperado.

Nádia: Como você trabalhou de 1994 a 1996, 1994 foi o ano que abriu o museu ou ele já era aberto?

Antônio: Já era aberto o museu começou a funcionar em 1983.

Nádia: E ficou aberto até que ano você se lembra?

Antônio: Até 2000 se não me engano.

Nádia: Então ele ficou um bom tempo aberto o que ocasionou o fechamento dele na verdade porque decidiram fechar você se lembra o que aconteceu na época para que decidirem fechar?

Antônio: Assim era a situação financeira a prefeitura não dava mais conta de tratar dos animais, cuidar e também as políticas ajudam era uma área de turismo para eles que não dava lucro.

Nádia: Por que a gente sabe que ate hoje como você mesmo disse tem pessoas que vão visitar mesmo com o museu fechado então a cidade tinha orgulho daquele ponto turístico?

Antônio: É sim

Nádia: E provavelmente hoje com o fechamento dele como no seu caso que esteve presente lá dentro deve ser uma situação ruim já que era um ponto de lazer.

Antônio: Justamente era um ponto de lazer

Nádia: E o que você tem saudade daquela época algo que te chamava a atenção?

Antônio: Eram os animais e o povo que ia visitar porque surpreendia a gente era uma coisa que era mínima. Mas aparecia muita gente ali era cheio, aquele pátio que você conhece lá, final de semana era cheio nos trabalhávamos de três a quatro pessoas passava o tempo inteiro ali cuidando daqueles animais para ninguém jogar comida que eles não poderiam comer.

Nádia: A então tinha este cuidado?

Antônio: Tinha a gente tinha estes cuidados ficava ali o tempo inteiro, cuidando mesmo para porque o povo enchia de gente.

Nádia: Inclusive até aonde a gente sabe existiam pessoas que tinha renda daquele local também?

Antônio: É o pessoal vendia pipoca com seu carrinho, salgados era lucro para eles.

Nádia: Então a gente tem a dizer que é um ponto turístico ainda e que precisa de.,.

Antônio: Justamente a gente tem ali uma nascente do rio Melgaço nos fundos do museu é uma coisa que está lá abandonado, mas é uma coisa linda. Eu até hoje quando não tem nada para fazer em casa no final de semana eu vou lá, eu junto meus filhos e nós vamos lá, a gente gosta de ver aquela água azulzinha brotando de dentro da terra.

Nádia: Até hoje então vocês vão lá em família?

Antônio: Vamos junta nossa família e vamos lá dar uma olhadinha no museu.

Nádia: Lembrando da época?

Antônio: Lembrando da época

Nádia: Então sente saudades?

Antônio: Eu sinto saudade dali.

 

Nádia: E você sabe me dizer se existe algum projeto para reativação hoje por parte da prefeitura?

Antônio: Não, não sei não posso dizer para você porque eu ouvi falar que tinha, mas eu já andei procurando e ninguém me informa se tiver tá escondido em alguma gavetinha aí.

Nádia: Então para você é importante que se tenha a reabertura já que é um ponto turístico para toda a cidade

Antônio: Para toda a cidade

Nádia: E provavelmente a questão da renda também porque se vem pessoas de fora para visitar, provavelmente vão ter pessoas lá dentro para visitação, para brincadeiras é uma forma de se divertir e ao mesmo tempo se é aberto ao publico é uma forma de renda para algumas pessoas que na época já trabalhavam lá.

Antônio: Justamente

Nádia: Você sabe se teve alguma iniciativa por parte de alguém de talvez derrubar e reconstruir aquela casa?

Antonio: Teve! Eu não trabalhava mais lá foi quando eu saí, teve sim aí foi interditado alguém não aceitou que fizesse aquilo tiraram madeiras tijolinhos, pintaram ela de amarela.

Nádia: Ela não era amarela?

Antônio: Não ela era natural um barro um tijolo feito de barro mesmo isto foi pintado depois, quando eles tentaram reativar umas vezes e não deu certo e aí pintaram daquela cor amarela.

Nádia: Então houve a tentativa, mas não seguiu em frente?

Antônio: Não seguiu em frente.

Nádia: E como que tá a casa hoje você que costuma ir ainda hoje?

Antônio: Ah, tá acabada precisa restaurar a “Casa de Rondon”. Outra coisa. Não sei se você sabe tem um cemitério ali também, teve uns anos que teve um rolo porque ela fica em uma área que o pessoal plantar e eles queriam derrubar o cemitério aí a gente juntou um pessoal eu, um índio que trabalhar no hospital regional, fez tipo uma greve não deixamos os caras gradear.

Nádia: A vocês estavam no local quando o pessoal pretendia fazer isto?

Antônio: A gente descobriu que os caras já estavam com as máquinas derrubando umas catacumbas velhas que tem abandonada e a gente fomos para (lá).

Nádia: Este era o cemitério da época dos indígenas?

Antônio: Olha segundo eles eram dos indígenas sim daqueles desbravadores que morriam de malária, febre amarela eles enterravam lá era o povo que andava com Rondon.

Nádia: E está lá próxima a casa mesmo?

Antônio: Próximo a casa.

Nádia: Então eles não chegaram a usar este espaço vocês conseguiram?

Antônio: Graças a Deus não, hoje nós cercamos de arame hoje ta tudo caído, porque faz parte da história nem todo mundo sabe que ali tem um cemitério, faz parte da história de Rondon da casa do museu, segundo os mais velhos, que moraram aqui e contaram a história para a gente, a gente tentou não deixar e até hoje se eu souber que vão mexer naquele lugar se eu descobri eu sou o primeiro a interditar porque eu acho que não deve mexer é um pedacinho de terra que tá no meio de um monte de lavora de soja.

Nádia: Não a necessidade faz parte da história.

Antônio: Faz parte da história.

Nádia: E isto aconteceu recente ou faz um tempo?

Antônio: Faz uns quatro anos.

Nádia: E você então sente saudade da época que ia com a família passear?

Antônio: Ah,  eu sinto mesmo sempre. Eu falo a tempo do museu dia de domingo assim ia para descansar se divertir, porque mesmo que você não está ali brincando no meio do povo você tá olhando o povo ficava brincando, olhando, revendo aqueles telex ‘véio’ do banco do Brasil, da época que são curiosidade para a gente, para mim mesmo seria curiosidade ainda mais os jovens que não chegaram a ver aquele tipo de coisa.

Nádia: Preservar a memória daquela época, as família iam lá então reunidas para ver isto e se divertir.

Então tá bom nós agradecemos pela contribuição e como podemos perceber assim como o “Tonhola” muitos vilhenenses ainda acham que é importante a questão de se manter a cultura viva. É interessante desenvolver projetos e mover a própria população para que haja uma forma de reativar para que não se perca o que ainda se tem.

É possível observar através das reportagens pesquisadas e das entrevistas realizadas que a comunidade vilhenense, se preocupa com a falta de comprometimento com uma parte de nossa história. História que vem sendo esquecida ao longo dos anos com o abandono da “Casa de Rondon” marco cultural e histórico que faz parte da história de nossa cidade.

Este museu ficou aberto ao público por longo período como destaca o senhor Antônio Bispo que contribuiu para a nossa entrevista, segundo o que ele se lembra desta época já que trabalhou no museu de 1994 a 1996. Segundo ele o museu foi aberto em 1983 e segundo o que ele se lembra fechou em 2000 o mesmo ficava aberto das 8:00 as 17:00 de segunda a segunda ou seja não fechava durante toda a semana, mas ele complementa destacando que os finais de semana era o dia em que o museu mais era visitado, as famílias saiam de suas casas para ver os animas, ver a casa que serviu de ponto de apoio para Marechal Rondon e sua comitiva. Ainda aproveitar do espaço que este local provinha como local de lazer, tudo isto contribuía para que a história fosse lembrada a cada visita realizada a este local, inclusive as escolas levavam as crianças para conhecer este ambiente e aproveitando do espaço jogavam futebol, vôlei, brincavam naquela área de lazer e faziam piqueniques.

Antônio: Era um ponto turístico da Cidade, as escolas assim até pediam se a gente tinha um dia para eles, então às vezes tinham muitas escolas daí para não misturar muito por causa do lazer que eles faziam a gente fazia em etapas, levavam as crianças para fazer piquenique.”

E em outra a entrevista realizada com a senhora Nélia Maria Barbosa ela confirma esta informação destacando também a importância deste marco histórico para nossa cidade e como as escolas aproveitavam deste local para levar os alunos a conhecer a história de nossa cidade.

Nélia: A escola que eu trabalhava na época a escola Ivete Brustolin, nós chegamos a fazer excursão com os alunos para eles fazerem trabalhos de geografia ver onde estava localizado quais animais que tinham na região quais animais que tinha na época alimentação dos animais, quem cuidava dos animais.”

Ao longo dos anos, conforme destaca o Sr. Antônio Bispo Pereira Filho, o museu era o ponto de encontro dos vilhenense e de outros visitantes que vinham de fora para conhecer o museu que existia em Vilhena. Segundo ele havia um espaço amplo onde todos podiam se divertir e levar a família para um ambiente agradável, ele destaca ainda que por longos anos este foi um ponto de lazer a todos de nossa região.

Quando ambas as pessoas entrevistadas foram questionadas sobre se iam ao museu na época em que o mesmo funcionava podemos observar que este local não só marcou como ainda tem grande importância para estas pessoas que sabem da necessidade de se preservar uma história de grande importância para as futuras gerações.

Nélia: Ixi eu ia direto eu trabalhava na prefeitura só de manhã a tarde eu ia para lá com os meus meninos brincar para a gente ver os animais fazer caminhada, eu ia sempre domingo às vezes ia com meus filhos fazia piquenique lá era muito bom infelizmente o abandono fez com que ele fechasse”.

“Antônio: Então eu gostei muito e gosto até hoje do Museu, acabou nós não sabemos assim porque acho que foi ficando difícil para a prefeitura, A eu sinto mesmo sempre eu falo a tempo do museu dia de domingo assim ia para descansar se divertir, porque mesmo que você não está ali brincando no meio do povo você tá olhando o povo ficava brincando, olhando, revendo aqueles telex ‘véio’ do banco do Brasil, da época que são curiosidade para a gente, para mim mesmo seria curiosidade ainda mais os jovens que não chegaram a ver aquele tipo de coisa.”

Segundo as informações colhidas era a prefeitura quem mantinha o museu aberto era ela quem disponibilizava a alimentação dos animais como macaco, gavião, cobra, leão que existia no local, mas depois de alguns anos a prefeitura começou a não mais disponibilizar verbas e com isto os animais começaram a passar fome.

Nélia: Em 1997 que começou o abandono total pelo zoológico os animas começaram a morrer e os últimos animais que tinham eu com a equipe da merenda o (Antônio) “Tonhola” que é velho na cidade cuidou do zoológico nós levamos os animais vivos para a fazenda Para, que os outros começaram a morrer de fome por causa do abandono do zoológico.”

“Antônio: E o local foi ficando abandonado até que veio o fechamento do mesmo, para a revolta da população que sentiu muito com o fechamento, por isto eu comecei a fazer um serviço voluntário para os bichinhos não ficarem com fome, aí logo que fechou foi mandado um bocado embora para as amazonas, nordeste.”

O fechamento deste espaço como é marcado nas entrevistas foi uma grande perca para a população vilhenense que está vendo parte da história de sua cidade se perdendo ao longo dos anos, através do descaso, do abandono e da falta de comprometimento com uma parte de nossa história.

 

3.2 AS ESCOLAS, A HISTÓRIA E A CASA DE RONDON

 

Como destaca a reportagem realizada pelo jornal Jovens Construindo a Cidadania (JCC) alguns alunos da Escola Shirlei Ceruti tiveram uma aula diferenciada de História e Geografia, estiveram presentes no antigo museu “Casa de Rondon” e juntos puderam estudar de maneira presente a nossa história dentro do próprio ambiente cultural e histórico, os alunos vendo a atual situação de abandono em que se encontra o antigo museu puderam relatar a importância de se preservar e como isto é necessário para que as futuras gerações também possam se beneficiar de um marco tão importante para nossa cidade. E com isto os alunos Aquison Carminatti e Jéssica da Silva que estavam presentes no local deixaram seus apelos a população e as autoridades competentes dizendo:

 

Deixamos aqui nosso apelo às autoridades competentes para que tenham um compromisso onde possam tomar atitudes com relação aos cuidados do local que significou o núcleo populacional de nosso município para que possa voltar a ser um ponto turístico de nossa cidade e resgatar o valor cultural das populações indígenas. (Jornal JCC, 2011, p.5)

 

Portanto, como citado acima pelos alunos da Escola Shirlei Cerutti, o local além do museu, e da “Casa de Rondon” possui uma cultura indígena entrelaçado a este espaço um cemitério indígena ao fundo do pátio, segundo as histórias era um cemitério indígena e onde eram enterrado as pessoas que faziam parte da comitiva de Rondon e que morriam de doenças da época como malária, febre amarela entre outras doenças, este cemitério possui ainda parte das catacumbas, mas corre risco de ser esquecido também já que há uma grande plantação de soja ao seu redor e que já ameaçou tomar conta do local.

Há necessidade de rever projetos, e tomar atitudes que levam a ações em prol da reabertura e da conservação de uma história de suma importância para todos nós somente assim poderemos dizer no futuro que este espaço faz parte de uma história antiga e de grande contribuição para a nossa população.

Algumas escolas visitadas como Ivete Brustolin, Vilma Vieira e Luiz Carlos já realizaram algum projeto que envolvemos pontos turísticos de Vilhena ou algum trabalho no qual os alunos fossem envolvidos com a história regional e seus pontos culturais.

Pode ser destacado o projeto realizado pela Escola Estadual de Ensino Fundamental “Professor Luiz Carlos Paula Assis”, com o título “Pequenos Leitores, Grandes Descobertas”. Este projeto foi realizado com as crianças do 4° ano e atingiu cerca de 80 alunos tendo três turmas envolvidas. O projeto teve como objetivo enfocar o prazer pela leitura e escrita e ao mesmo tempo torná-la prazerosa partindo assim da realidade que há ao redor da criança neste contexto os pontos turísticos e históricos do município. Vários pontos importantes de Vilhena foram visitados, entre eles esta a “Casa de Rondon”.

Conforme cronograma do projeto realizado durante o período de maio a novembro de dois mil e onze, o objetivo seria conhecer a “Casa de Rondon”, ou que sobrou dela, lembrando o zoológico que existiu no local, a existência de objetos pessoais que faziam parte da expedição de Candido Rondon e o que a mesma representa na história de Vilhena, projetos como este dão ênfase a grande importância de se refletir sobre a atual situação em que se encontra parte da história do nosso município, alunos como os desta escola estão tendo uma realidade totalmente diferente do que os que puderam presenciar o museu em funcionamento e saber da história através da visualização de algo concreto como era o caso da casa que ainda era bem conservada e dos animais que existiam no local para visitação, é necessário se pensar nas consequências deste abandono para toda a população Vilhenense.

Em outro projeto realizado com a participação da Prefeitura Municipal de Vilhena, o público alvo eram as Escolas Municipais, este projeto teve como órgão executor a SEMED- Secretaria Municipal de Educação, tendo como tema “Vilhena: Conhecer melhor para valorizar”. Como o próprio nome já diz é necessário conhecer para que possamos valorizar e este conhecimento contribui para que haja uma memória cultural para a comunidade em geral. Como a própria finalidade do projeto destaca a intenção é explanar o conceito de cidadania, bem como desenvolver a consciência crítica sobre os cuidados com o meio, especificamente com o município.

O projeto destaca ainda o compromisso da escola com a construção de uma compreensão da realidade social e as responsabilidades com o meio. Utilizando sempre os conceitos do PCN que deixa bem claro a necessidade de trabalhar com a realidade do aluno para uma melhor compreensão. É dever da escola que faz parte integrante da vida de um aluno fazer a sua parte como contribuição para a formação do mesmo, fazendo com que estes alunos se sintam parte da história do local onde vivem.

 

3.3 VISITA AO ALMOXARIFADO DA PREFEITURA DE VILHENA.

 

Em visita ao almoxarifado da Prefeitura Municipal de Vilhena, é possível se deparar com a situação em que se encontram os objetos que ainda restam da “Casa de Rondon” e foram guardados no almoxarifado para que não fossem saqueados. É lamentável saber que os objetos que fizeram parte da história de Vilhena estão se acabando, com o desgaste do tempo e a falta de conservação.  Objetos que representam parte da história e que de fato deveriam ser conservados.

É de grande necessidade que a população e os órgãos competentes analisem a grande perca que será quando tivermos apenas histórias a serem contadas, mas sem nenhum objeto de fato que possa ser manuseado ou observado pela população e em especial para os alunos que terão que aprender história regional sem poder velá-la de perto, em seguida temos algumas fotos de objetos que se encontram em situação deplorável.

 

Figuras

Fotos de objetos que pertenciam à Casa de Rondon

Fonte: Pesquisa de Campo, Vilhena, 2012

 

Portanto, a história é de fato um marco cultural da população e perder parte desta história é como perder parte da cultura de um povo, que de fato é lamentável.

Porém, se faz necessário que haja mudanças em relação à situação atual da “Casa de Rondon”.  São no sentido da conscientização que se pode ter uma atitude de conservação e respeito por marcos históricos significativos, como este de Vilhena. Daí a importância do trabalho pedagógico em nossas escolas que chamem a atenção, por meio do conhecimento histórico, para nossas crianças e jovens.

Conforme imagens a seguir é possível perceber a grande importância que o espaço em que se encontra a “Casa de Rondon” juntamente com o zoológico que existia na época eram de suma importância para a população vilhenense.

 

CONCLUSÃO

 

 

Este trabalho de conclusão do curso proporcionou entrar em contato com autores que falam um pouco sobre o significado amplo de Cultura, em suas mais variadas formas. Também estudar um pouco sobre a História do Brasil, destacando as missões realizadas por comissões entre elas a que esteve presente Candido Mariano da Silva Rondon o qual teve grande participação na construção do estado de Rondônia em especial de nossa cidade Vilhena.

Ao realizar esta pesquisa foi possível observar o descaso em que se encontra uma parte da história de Vilhena, quando destacamos a conhecida “Casa de Rondon” , que é o marco histórico da cidade. Quanto aos entrevistados é possível perceber que os mesmos destacam a grande importância deste pedaço da história de Vilhena que vem se perdendo com o tempo.

Trabalhar a história em especial regional nas escolas é de grande importância para a continuidade da memória cultural, em especial para as futuras gerações que necessitam conhecer sua realidade para, a partir dela, compreender as demais a sua volta.

O método utilizado foi pesquisa de campo, por meio de visitar locais, encontros nas escolas, pesquisa em arquivos e fontes, consulta à Secretaria da Educação do Município, e a Secretaria de Cultura. Além  disso, destaque-se  duas significativas entrevistas realizadas, com pessoas que fizeram parte da História de Vilhena na época em que a “Casa de Rondon”. Importante, pois essas pessoas trabalhavam na “Casa de Rondon” quando ela era aberta para visitação, portanto no momento áureo da Casa. Além disso, foram realizadas visitas em algumas escolas do município para compreender se a cultura regional vem sendo trabalhada atualmente nas escolas e de que forma isto vem ocorrendo.

Com as informações colhidas da situação atual deste marco histórico, e com os relatos dos entrevistados é visível a necessidade de preservação deste pedaço da nossa história não apenas para o presente, mas também para o futuro. Para tanto se faz necessário que alguma atitude seja tomada por parte dos responsáveis seja as autoridades ou a própria sociedade, ou ambas, uma vez que sendo a memória coletiva e a história partilhada, é dever de todo o cuidado com o passado que construiu o presente. A escola tem seu papel a desempenhar nesse sentido.

 

 

 

REFERÊNCIAS

 

ALUNOS da escola ShirleiCeruti visitam a Casa de Rondon. Jornal Jovens Construindo a Cidadania (JCC), N° 02, ANO 01, 2011, p.5

 

AZEVEDO, Fernando de. A cultura brasileira. Rio de Janeiro: Editora UFRJ; Brasília: Editora UnB, 1996.

 

BOSI, Alfredo. Dialética da colonização. São Paulo: Companhia das Letras, 1992.

 

BRASIL. Missão Rondon: apontamentos sobre os trabalhos realizados pela comissão de linhas telegráficas estratégicas de Mato Grosso ao Amazonas sob a direção do Coronel de Engenharia Cândido Mariano da Silva Rondon de 1907 a 1915. Brasília: Editora do Senado, 2011.

 

BRASIL, Pedro. Vilhena Conta sua Historia. Vilhena: Gráfica Delta, 2000.

 

BURKE, Peter. Variedades de História Cultural. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2000.

 

CARDOSO, Ciro Flamarion; VAINFAS, Ronaldo. Domínios da História: Ensaios de teoria e metodologia. Rio de Janeiro.

 

CAUCHE, Denys. A noção de cultura nas ciências sociais. Trad. Viviane Ribeiro. Bauru: EDUSC, 1999.

 

FREITAS, Marcos Cezar (Org.). Historiografia brasileira em perspectiva. São Paulo: Contexto, 2000.

 

LABAJOS, Jésica. Casa de Rondon - Nossa História jogada no lixo. Folha de Vilhena. Nº 1281, Ano XXVII, 2011

 

ROQUETTE-PINTO, Edgar. Rondônia. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1935.

 

VIVEIROS, Esther de. Rondon conta sua vida. Rio de Janeiro: Livraria São José, 1958.

 

 

[1]Numa exposição rápida de seus trabalhos, é importante apontar que  ele é nomeado em 1889, mas só vai em 1890, trabalhar com Gomes Carneiro, na construção da linha telegráfica de Cuiabá - MT ao Araguaia - GO, dois anos portanto, 1890-1891. Mas aqui ele é colaborador de Gomes Carneiro.

Ainda em Mato Grosso será nomeado chefe das linhas telegráficas desse estado, que se resumia na Cuiabá - Araguaia. Isso em 1892.

Em 1893-1894, como já cuidava dessa linha telegráfica, foi incumbido de construir a estrada ligando Cuiabá ao Araguaia.

Em 1900 é nomeado chefe de outra linha telegráfica, cuja linha tronco ligaria Cuiabá a Corumbá. Esta obra foi concluída em 1904. E entre 1904 e 1906, outra linha telegráfica até o Paraguai. Finalmente em 1907 a Linha telegráfica que passa por Vilhena, que chegou ao Madeira em 1910, mas que teve inúmeros desdobramentos até 1915, com construções de casas, com as missões científicas, com a visita de Rooselvet, isso até 1915.

 

[2] Posso destacar que eu mesma vivi esta prazerosa realidade, pois  consegui fazer parte de uma geração de vilhenense que ainda teve a oportunidade de usufruir deste espaço e pode conhecer de perto uma parte da história de Vilhena e que, aliás, é um dos motivos desta pesquisa.

[3] É importante destacar que a senhora Nélia Maria Barbosa, na época trabalhava na secretaria que pertencia a área da merenda escolar do município, mas isto não significa que era destes alimentos que distribuíam para aos animais do zoológico.