TDAH – Transtorno do Déficit de Atenção/ Hiperatividade
Patricia Maria da Silva
Resumo
Esse trabalho foi feito pela necessidade de melhor entendimento sobre o TDAH.
Qual a sua histórica clínica? Onde nasce esse termo? Como chegamos a ele? O caminho que os pesquisadores percorreram para chegarem ao conceito TDAH.
O trabalho realizado ajuda a explicar os princípios teóricos do Transtorno do Déficit de atenção, e também os procedimentos diagnósticos e terapêuticos relacionados aos sintomas da Hiperatividade tanto em crianças quanto em adolescentes.
Colocar na pratica clinica a contribuição das áreas da psicopedagogia, levando em consideração que a pessoa colocada como hiperativa, tem seus impasses mediados pelo corpo e sofre por não conseguir colocar em palavras, aquilo que sente.
É preciso conscientizar aqueles que são responsáveis por essas crianças ou adolescentes, também os educadores e profissionais da saúde, para que saibam como lidar com o TDAH, e não tratem como que fosse apenas um corpo inquieto, para que possam dar um diagnóstico preciso.
O próprio nome TDAH, “ transtorno do déficit de atenção’, já nos aponta para um déficit orgânico que deverá ser tratado com medicamentos.
Palavra-chave: Transtorno de Déficit de Atenção/ Hiperatividade (TDAH), diagnostico, sintoma. Psicanalise, corpo.
Sumário
- A História do Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade 7
- - A visão da neurociência e o conceito das chamadas Funções Executivas 8
- - Transtorno ou síndrome? 10
- – Contribuições da psicologia 11
- - Diagnostico Psicanalítico 11
- - Etapas da constituição da subjetividade 14
1. Introdução
O transtorno de Déficit de Atenção/ Hiperatividade (TDAH), pode ser muito polêmico, e é um verdadeiro desafio aos profissionais da área da saúde e da educação. Pois como definir, diagnosticar e como intervir clinicamente da forma correta, sem obter diagnósticos equivocados?
Cada vez mais necessitamos de profissionais mais bem informados e que tenham uma formação de qualidade, para saber lidar de forma correta com o TDAH, e diferenciar os diversos modos de lidar com esse transtorno.
É necessário aperfeiçoarmos nossos conhecimentos e nossas praticas clinicas para ajudar essas crianças e adolescentes a construir sua própria história, como sujeitos capazes, e não tratar como sujeitos incapazes, que ficam silenciados por medicamentos.
Com o crescente uso de medicação há um problema muito claro de excesso de diagnósticos infantis. Em Cypel (2003) nos alerta para que essa epidemia seja mais criteriosa e para que se use mais critérios para os diagnósticos deixando de lado os rótulos:
“ Quero ressaltar a importância de que diante de uma criança com déficit de atenção e hiperatividade, seja adotada uma atitude de avaliação multiprofissional, procurando aferir todas as circunstancias que a cercam, principalmente a familiar, escolar e social. ” (p.57)
O consumismo em nossa sociedade atual está cada vez mais desenfreado, e com isso aumenta a crença de que o objeto de satisfação pode ser oferecido pelo mercado, ou por alguma técnica comportamental que permita maiores acertos. Diante disso vemos, agonizar diante de nossos olhos a pratica clínica da escuta.
Segundo Blanco (2007):
“É hoje mais necessária do que nunca a utilidade social da escuta em uma sociedade onde a resposta tecnocrática ao sofrimento se baseia nos protocolos estandardizados que apagam a particularidade do sintoma e sua dimensão individual, condenando cada um a cronicidade. Acrescenta-se a esse quadro uma clínica infanto-juvenil dominada pelo déficit da palavra o qual condena as crianças à hiperatividade e ao consumo maciço e precoce de drogas e álcool. O mau-viver encontra cada vez mais lugares de tratamento e menos lugares de escuta e de acolhimento. ” (p.05)
Conforme o pensamento de Blanco, Gorodiscy (2006) diz que tem observado “efeitos desastrosos” resultado do que ela chama de “ abordagem farmacológica” em distúrbios de hiperatividade, que acontece principalmente por atendimentos apressados e muitas vezes sem profissionais que realmente estão preparados para dar tal diagnostico.
Freud diz em seu texto “ O sentido dos sintomas” (1916), uma questão crucial em relação aos sintomas psicanalíticos, no entanto qual o sentido de tudo isso? “Atos falhos, sonhos, e sintomas neuróticos, tem um sentido e se referem estritamente a vida intima do paciente. ” (p.305)
Estudos recentes nas áreas da genética e psiquiatria, apontam para um determinismo genético com relação ao transtorno de déficit de atenção e hiperatividade TDAH.
Partindo de uma pesquisa bibliográfica esse trabalho busca conceituar o TDAH de acordo com as mais recentes pesquisas, mostrando uma visão da psiquiatria, da neurociência, da psicologia e da psicanalise. Estudar o TDAH analisando as relações dessa síndrome com as questões que ligam pais e filhos, alertando a questão da patologização da educação e consequentemente medicalização do espaço pedagógico.
2. TDAH em uma visão psiquiátrica
2.1 - Definição
O transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) é colocado como um transtorno do desenvolvimento infantil, cujos sintomas surgem ainda na infância e na maioria dos casos continuam na vida adulta, dificultando a vida pessoal, acadêmica, familiar, social e profissional da pessoa portadora do TDAH, além de também provocar forte impacto na vida das pessoas com quem se relaciona no dia-dia (Rhode et. al. 2003).
3. A História do Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade
Nesse trabalho será estudado o transtorno que se apoia sobre três aspectos, desatenção, hiperatividade e impulsividade.
TDAH surge na medicina, mais especificamente na psiquiatria. Cypel, Barkley, Topoczewshi, Benczic entre outros citam o século XIX como sendo o início dos estudos do termo TDAH ao longo da história.
Paul Bercherie (1989) traz em seu livro “Os Fundamentos da Clínica” que Dupré apresentou no ano de 1909, sua primeira descrição, onde ele colocou como “constituição emotiva”. Dupré descrevia:
“Certo modo desequilíbrio do sistema nervoso simultaneamente caracterizado pelo eretismo difuso da sensibilidade e pela insuficiência da inibição motora, reflexa e voluntaria, em virtude do qual o organismo apresenta ante os abalos que solicitam sua sensibilidade, reações anormais em sua vivacidade sua extensão e sua duração” (pg. 213).
Henry Wallon no ano de 1925 publicou sua tese de doutorado “L ‘enfant Turbulent” (A criança Inquieta), pesquisa que foi marco fundamental e inicial do autor na área da Psicologia, foi observado e analisado com detalhes 214 crianças entre dois e três anos e quatorze e quinze anos, com distúrbios psicológicos como: instabilidade, perversidade e delinquência.
Essas observações foram muito importantes para psicologia, trouxe grandes contribuições, a teoria de Wallon nos auxilia muito com as questões do TDAH, em vários âmbitos, desde a familiar, educação entre outros.
Na década de 1980 a hiperatividade e o transtorno psiquiátrico infantil, foi mais bem estudado. Com a tentativa de desenvolver diagnósticos mais específicos para a hiperatividade e outros transtornos, buscando um diagnóstico diferencial.
De acordo com Legnani (2008):
Na década de 1980, na edição do DSM-lll-R, a Academia Americana de Psiquiatria propõe uma separação das perturbações por déficit de atenção e hiperatividade em relação aos distúrbios de aprendizagem. Propõe, também, uma abordagem operacional para o diagnóstico das perturbações por déficit de atenção. Esta orientação será, posteriormente, incorporada pelo DSM LV, o qual, como já se destacou, em nome de uma facilitação da pratica diagnostica, propõe como critério de inclusão em uma determinada categoria diagnostica os traços comportamentais apresentados pelo paciente.
O DSM-IV-TR traz as últimas revisões do TDAH dentro dessas novas revisões criteriosas, o DSM IV traz três subtipos:
- Predominante desatento
- Predominante hiperativo/impulsivo
- Combinado
Apesar de ser feito a partir da disfunção atencional, o diagnóstico do
TDAH, exige que também estejam presentes a impulsividade e hiperatividade e em mais de um ambiente.
4. - A visão da neurociência e o conceito das chamadas Funções Executivas
Segundo Cypel (2003) os primeiros cuidados com o recém-nascido são essenciais para criar um ambiente acolhedor e deixar o bebe mais tranquilo. No caso de deixar um bebê por várias horas sem alimentação, sem cuidados, faz com que essa criança fique ansiosa e desenvolva um modo de resposta, desencadeando um mecanismo de desadaptação, podendo assim gerar altos níveis de ansiedade, que são fatores que vai afetar muito no vinculo mãe-bebê trazendo uma desorganização.
“As vivencias dessas ansiedades iniciais do bebê não acolhidas adequadamente manteriam o núcleo amidaloide funcionando de modo exagerado (stress) com registros inclusive na memória, atuando sobre as suas conexões com sistema nervoso autônomo e provocando um funcionamento catecolaminérgico exagerado, mais especialmente com a liberação de noradrenalina. Nessas circunstancias, os mecanismos inibitórios e de regulação mediados pela região pré-frontal e cíngulo não iriam atuar de modo eficiente no controle e regulação da atividade da amigdala. ”
“Do ponto de vista clinico verifica-se um bebê bastante irritado, com choro frequente e voraz, solicitando mamadas a curtos períodos; em geral há dificuldade no sono acordando diversas vezes e ficando boa parte do tempo no embalo do colo materno. ”
“ A mãe por sua vez está exaurida sem estratégias nem condições emocionais para lidar com essas circunstancias, agregando-se, com relativa frequência, uma ausência da participação paterna. ” (p.14)
Isso com certeza contribuirá para que o cérebro do bebê deixe de formar uma homeostase comportamental interferindo assim, em sua “self regulation”, que é a base da formação das funções Executivas.
Baron (2004) identifica como subdomínio da Função Executiva (FE) as seguintes funções:
- Antecipação;
- Autocontrole e autogerenciamento;
- Bom senso e criatividade;
- Capacidade de fazer estimativas;
- Comportamento inibitório;
- Controle de atenção;
- Controle de comportamento;
- Flexibilidade mental;
- Fluência;
- Formação de conceitos;
- Generalização de hipóteses;
- Iniciativa;
- Memória operacional;
- Organização e mapeamento de objetos;
- Planejamento de ação;
- Raciocínio abstrato;
- Resolução de problemas.
Baron (2004) concluiu que “o termo Função Executiva, engloba capacidades metacognitivas que permitem um indivíduo perceber estímulos do ambiente, responder adaptativa mente, ter flexibilidade para mudanças, antecipar, medir consequências e responder de uma maneira integrada e com bom senso, utilizando-se de todas as capacidades para atingir um objetivo final. ”
5. - Transtorno ou síndrome?
Os critérios usados para que seja dado um diagnóstico de transtorno psíquico são os seguintes:
- Significância clínica: os sintomas, para serem considerados em a um diagnóstico, devem ter intensidade suficiente para interferirem de forma considerável na vida do indivíduo. Esta interferência é avaliada de forma objetiva e subjetiva. Na primeira se avalia os sintomas que causam prejuízos na funcionalidade do indivíduo, como problemas na escola ou no trabalho. Problemas nos relacionamentos interpessoais, problemas familiares, queda na produtividade, incapacidade para se envolver em atividades de lazer ou do dia-dia, entre outros. Ou então os sintomas devem representar riscos de deficiência, perda da liberdade ou danos a integridade física, psíquica e emocional do indivíduo que os apresenta ou de terceiros. Por exemplo, sintomas que causem surtos de agressividade; sintomas que impedem a pessoa que o porte de viver de forma independente; sintomas que alteram o humor de forma tão intensa que levam o indivíduo a ter pensamentos suicidas. E a avaliação subjetiva é aquela que não é “visível”, mas a pessoa relata como sendo um sofrimento muito intenso, dor e incapacidade de se manter em um patamar satisfatório de bem-estar e de qualidade de vida.
- A frequência dos sintomas; os sintomas estão presentes na maior parte do tempo. Em transtornos de ansiedade, os sintomas estão presentes quase sempre, todos os dias e na maior parte do tempo.
- Quantidade de sintomas; cada diagnostico existe um número mínimo de sintomas presentes. Os sintomas-chave são sintomas que devem obrigatoriamente estar presentes para ser considerado um diagnóstico. Os sintomas secundários não são tão importantes para se considerar um possível diagnostico e sua ocorrência é muito variável. Por isso deve haver uma listagem de sintomas para cada transtorno, e cada diagnostico exige um determinado número de sintomas observados.
- Período de duração dos sintomas; para se obter um diagnóstico deve-se ter um período de tempo mínimo dos sintomas que deve estar presente. No TDAH deve estar presente no mínimo seis meses, os sintomas.
6. – Contribuições da psicologia
O sintoma da hiperatividade se faz mais presente no corpo do indivíduo, e assim a criança manifesta seu mal-estar.
A pesquisa de Wallon, médico e psicólogo ocupa-se do movimento humano, e da como sendo prioridade na construção psiquismo, o que permite Wallon relacionar o movimento ao afeto, a emoção, ao meio ambiente e aos hábitos de cada uma dessas pessoas.
Wallon nos mostra que, para conhecer a natureza das funções e suas relações, não basta uma simples analise neurológica. Porem a analise pode dar referências sobre o desenvolvimento maturacional psicológico que organiza e estrutura as funções orgânicas ao longo da vida.
7. - Diagnostico Psicanalítico
Ao estudar a histeria, Mannoni (1989);
.... Descobre que uma paralisia histérica pode cobrir um território anatómico que contradiz aquilo que poderíamos chamar de cartografia neurológica. Não põe em dúvida absolutamente a verdade e a exatidão da neurologia, ao contrário. É sobre essa verdade anatômica que irá se fundar. Mas, levantara a hipótese de que há algo imaginário nessas paralisias.... É por meio da verdade neurológica que se tenta refutar as paralisias histéricas (o que não significa curá-las), mas, jamais a psicanalise
Tentará refutar a Neurologia.... Em presença de uma paralisia, um neurologista deve acabar por achar algo que não funciona em algum lugar na materialidade do sistema nervoso. Freud, pelo contrário, pensa que seria preciso antes olhar para o lado da “imaginação das histerias. ” Falando assim, não contradiz em nada, a ciência dos neurologistas, ao contrário, fundamenta-se justamente nessa ciência para emitir essa hipótese. (pp. 154-155)
Para psicanalise, os sintomas são elaborados no inconsciente. Assim são investigados em um processo de níveis inconscientes. Os pacientes buscam ajuda, através de seus sintomas, que podem ser de ordem física, familiar, sexual, profissional entre outras.
O objetivo da psicanalise não é eliminar diretamente o sintoma, aliviar rapidamente o mal-estar, corrigir possíveis deficiências, pois ele tem um sentido rigoroso e subjetivo e é portador de uma verdade que precisa ser relevada ou desvendada. A cura vira com o desdobramento do próprio processo analítico. Freud (1922- 1923) estabelece um objetivo para a análise, capacitar o paciente:
...a poupar a energia mental que esta despendendo em conflitos internos, obtendo do paciente o melhor que sus capacidades herdadas permitam, e tornando-o assim tão eficiente capaz de gozo quanto é possível. Não se visa especificamente a remoção dos sintomas da doença, contudo ela é conseguida, por assim dizer, como um subproduto, se a analise for corretamente efetuada. O analista respeita a individualidade do paciente e não procura remolda-lo de acordo com suas próprias idéias pessoais, isto é, as do médico; contenta-se em evitar dar conselhos e, em vez disso, em despertar o poder de iniciativa do paciente. (p. 304)
Quando os pais chegam a levar seus filhos a um consultório, é necessário que se investigue o motivo pelo qual deu essa necessidade, se foi por queixa da criança, da instituição de ensino que essa criança frequenta, do pediatra ou dos pais. É de muita importância as entrevistas preliminares, pelas quais desde já apresentam em alguns casos uma certa ação terapêutica.
O diagnóstico demanda um certo tempo e uma habilidade do terapeuta, pois é uma construção de saber.
Severino nos orienta, pela trajetória das ciências humanas, assumindo pressupostos ontológicos e epistemológicos do positivismo, quando diz:
O Estruturalismo é outra corrente epistemológica, também inserida na tradição positivista, que muito marcou as Ciências Humanas, tendo como referência fundamental a obra de Claude Lévi-Strauss. Na verdade, teve sua origem mais imediata nos trabalhos de linguística desenvolvidos por Saussure, ao mostrar que a língua é de fato um sistema de signos que funciona independentemente das intervenções eventuais dos sujeitos. Esta idéia de que a estrutura é um microssistema anterior à intervenção histórica dos sujeitos acabou se generalizando para todo o âmbito da cultura, vista como um grande sistema de comunicação, como um grande sistema de signos, portador de suas leis e regras gerais que definem aprioristicamente, as ações dos sujeitos. (p. 113)
A psicanalise propõe ir muito além do que se manifesta visualmente. A psicanalise é a clínica do indivíduo, de um indivíduo que não pode se perceber como tal. A hipótese do inconsciente, nos mostra um sujeito que não é autossuficiente, não é senhor de si próprio.
A psicopedagogia clínica, de orientação psicanalítica, nos dirá que o diagnóstico é um processo no qual procura-se encontrar um sentido histórico subjetivo das dificuldades de cada sujeito e de sua singularidade que manifesta no ambiente escolar.
Nesse trabalho vamos olhar de forma psicanalítica, ao trabalhar a hiperatividade, e nessa teoria buscar um eixo norteador que nos possibilite compreender a hiperatividade nos colocando no lugar do outro, da expressão desse outro que se expressa através de seu corpo.
O complexo de Édipo e explicitamente fundamental na clínica do sujeito. Devemos analisar muito bem as relações dos sujeitos com seus pais ou com aqueles que assumem tal papel.
Sobre o complexo de Édipo, Freud (1916-1917) diz:
A análise confirma tudo o que a lenda descreve. Mostra que cada um desses neuróticos também tem sido um Édipo, ou o que vem a dar no mesmo, como reação ao complexo, tornou-se um Hamlet. A explicação analítica do complexo de Édipo é, naturalmente, uma ampliação e uma versão mais crua do esboço infantil. O ódio ao pai, os desejos de morte contra ele, já não são mais insinuados timidamente, a afeição pela mãe admite que seu objetivo seja possuí-la como mulher. Devemos realmente atribuir esses impulsos emocionais turbulentos e externos aos tenros anos da infância, ou será que a análise nos engana com algum fator novo? Não é difícil achar um desses fatores. Sempre que alguém faz um relato de um acontecimento passado, ainda que seja um historiador, devemos ter em mente o que é que ele intencionalmente faz recuar do presente, ou de alguma época intermediaria, para o passado, falsificando com isso seu quadro referente ao fato. (p.392)
Nessa resolução do complexo de Édipo consiste que ao final da infância o filho se desliga de seus desejos libidinais de sua mãe e concentra-os em um objeto amoroso externo e real e reconcilia-se com seu pai.
(1932-1936) Freud descreve o surgimento a partir do complexo de Édipo de uma instancia superior ao ego:
...o superego surge como herdeiro dessa vinculação afetiva tão importante para infância. Abandonando o complexo de Édipo, uma criança deve, conforme podemos ver, renunciar as intensas acatexias objetais que depositou em seus pais, e é como compensação por essa perda de objetos que existe uma intensificação tão grande das identificações com seus pais, as quais provavelmente há muito estiveram presentes em seu ego.
(...) No decurso do desenvolvimento, o superego também assimila as influencias que tornaram o lugar dos pais – educadores, professores, pessoas escolhidas como modelos ideais.
As dificuldades que os pais enfrentam para separar-se de seus filhos, pode deixar pouco espaço para o sujeito, o que pode trazer consequências a sua constituição.
8. - Etapas da constituição da subjetividade
A psicanalise nos mostra que da mãe para o filho não passa apenas o leite materno que o satisfaz, passa também algo que não o satisfaz, como o vazio marcado pela separação do cordão umbilical, que marca no corpo a ausência.
A construção das Funções Executivas, nada mais é do que o estabelecimento de vínculos mãe-bebê que formam uma base reguladora para suas reações.
A possibilidade do diálogo entre as disciplinas pode e deve ser usada em prol a compreensão dos sintomas da hiperatividade. Temos que nos atualizar sempre, diante dos avanços da neuropsicologia, pois contribui muito para nos dar uma visão mais ampla e clara dos processos mentais.
A evolução do bebê não é uma evolução linear, a partir de um núcleo qualquer, mas fará um percurso que dará impotência para qualquer antecipação.
A criança faz apelo a alguém que que fale, ou seja alguém capaz de colocar os significantes, e que possa fazer a diferença, e é aí que está a antecipação. Missior (2003) diz:
Uma questão fundamental que se coloca na clínica com o sujeito bem jovem: quanto mais a criança é pequena, se ainda não fala, tanto mais ela irá utilizar seu corpo como palavra para exprimir o que não anda bem. Desde seus primeiros dias de vida os bebês sofrem de distúrbios digestivos os mais variados: vomitam, regurgitam, tem diarreias, prisão de ventre, cólicas. Rejeitam o seio, as sopinhas, a papa de frutas, fazem anorexia.... Ou fazem bulimia, exigindo sem parar. Choram, tem pouco sono ou muito sono, ou acordam com frequência. Têm distúrbios cutâneos, respiratórios, leves ou mais severos. São hipotônicos, apresentam alteração na curva de peso, gritam são agitados.... Isso só para citar o que aparece na clínica pediátrica no primeiro ano de vida!
Freud e outros analistas importantes se ocuparam do sujeito em constituição, fazendo grandes descobertas no campo da infância: Anna Freud, Melanie Klein, Winnicott, Françoise Dolto, Maud Mannonni, o casal Lefort entre outros. A psicanalise fez um grande avanço na medida em que esses analistas resgataram em Freud, a referência da implicação da criança em seu sintoma, como desejante e ativa. O sujeito embora dependa do outro, participa do sentido de sua vida desde muito cedo.
As manifestações da criança são estruturadas como uma linguagem e devem ser lidas como as escritas de um texto de sua relação com o outro. É na linguagem que a divisão do sujeito aparece.
9.- O corpo na Psicanalise
Na psicanalise o corpo não está restrito apenas ao organismo. O corpo necessita de uma construção imaginaria que nos remete à ideia de um corpo erógeno, delimitado pelo olhar e pela palavra.
Para Freud (1923), o corpo é identificado ao ego e sua superfície é o lugar por onde parte as percepções que vem do interior e do exterior. O ego é, no entanto, considerado o próprio corpo, ego-corporal, composto por sensações corporais e também por projeção da superfície corporal.
Pain (1985) diz:
...O corpo não é importante só porque entra em jogo na relação sensório motora, mas também porque é nele que se dá ao mesmo tempo uma ressonância emotiva do ato que se está realizando. Ao mesmo tempo em que se produz uma coordenação sensória motora se produz uma ressonância da emoção que esse ato desperta e que é chamado de vida afetiva ou emocional. Essa vida afetiva ou emocional acompanha todo tipo de pensamento, de imagem porque é contemporânea a sua efetuação.
O corpo da psicanalise se modula no dizer. No entanto o corpo nem sempre fala por via simbólica do sintoma, as vezes emudece e, no lugar de onde falta, vem a angustia, e assim um órgão pode ser lesionado.
A ciência vem realizando um ideal de visibilidade que exclui o saber do sujeito. A clínica médica da escuta vem sendo substituída por aparelhos, que são capazes de escutar as partes mais profundas e escondidas do corpo.
10. – A escola E a educação: um desafio para psicopedagogia
A escola é o segundo meio social que a criança frequenta depois da família, e tem sido muitas vezes na escola que as crianças apresentam alguns sintomas do TDAH que estão mais evidentes.
Pais expõem a preocupação com a atitude dos professores; Ribeiro (2008) cita alguns relatos dos pais:
“Menino assim tem que ter mais paciência com eles né? Explicar! Já chega gritano chamano de burro direto, igualzinho essa professora: chamava os menino de burro direto e num explicava nada! _ Ahh, num vou te explicar não porque ocê é muito bobo, muito burro e não aprende nada! É muito mole para copiar! Num tinha paciência apagava o quadro! ” (88p.)
Essa fala deixa claro o despreparo dos educadores, e isso pode der muitas consequências além das salas de aula. Levando orientações erradas para os pais, cujo não tem conhecimento da síndrome.
Os portadores de TDAH, quase sempre tem dificuldades de se adaptarem ao sistema educacional, porém não apresentam impossibilidade de aprendizagem.
Como psicopedagogos é nosso desafio ajudar os alunos a se ajustarem as suas dificuldades, e descobrir o melhor meio de desenvolver nessas crianças uma boa aprendizagem, pois cada uma aprende à sua maneira, e cabe a nós descobrir essa maneira.
É muito importante ouvir os pais e professores em conjunto e estabelecer com eles uma parceria, dando suporte, informando-os, capacitando-os e sensibilizando-os, para que possam melhor lidar com essas crianças, e mais para frente não precisarmos lidar com esses rótulos.
Collares e Moysés (1992), nos alerta:
A educação, assim como outras áreas sociais, vem sendo medicalizada em grande velocidade, destacando-se o fracasso escolar e seu reverso, a aprendizagem, como objetos essenciais desse processo. A aprendizagem e a não aprendizagem sempre são relatadas como algo individual, inerente ao aluno, um elemento meio magico, ao qual o professor não tem acesso – portanto, também não tem responsabilidade. Ante índices de 50, 70% de fracasso entre alunos matriculados na 1° série da Rede Pública de Ensino Brasileira, o diagnóstico é centrado no aluno, chegando ao máximo até a família; a instituição escolar, a política educacional raramente é questionada no cotidiano da escola. Aparentemente, o processo ensino-aprendizagem iria muito bem, se não fossem os problemas existentes nos que aprendem. (p.26)
Gostaria que ficasse claro que o TDAH se trata de um diagnóstico multidisciplinar e que somente o psicopedagogo ou qualquer outro profissional sozinho, não pode ser capaz de diagnosticar. É preciso uma equipe completa que atue em conjunto, para que com base em vários procedimentos diagnósticos, possam juntos discutir o caso, e estabelecer um diagnóstico preciso e correto. Essa tarefa exige tempo, e muita dedicação de todos.
, O diagnóstico certo é uma das peças chaves para uma intervenção eficiente. Não basta o psicopedagogo conhecer técnicas e provas, pois cada caso é singular e exige dos profissionais que além de competência teórica tenham também, um olhar sensível e muito particular.
11. – Conclusões
O que pretendi analisar com nesse trabalho, é que existem crianças com sérias dificuldades de atenção, que prejudicam muito em suas aprendizagens e nos rendimentos escolares.
A pesquisa que realizei para elaborar esse trabalho, na área da psicopedagogia, me trouxe grandes contribuições, pois mesmo sendo uma área que ainda é nova no Brasil, está crescendo muito e conquistando cada vez mais espaço, tanto na instituição como na clínica.
Uma questão que vale apena ressaltar a ressaltar que muitas vezes os pais transferem a reponsabilidade para a escola e os professores, e a escola e os professores transferem a responsabilidade aos pais, e ao final acabam querendo que o psicólogo faça tudo sozinho, e esquece que eles precisam fazer parte desse processo.
É correto afirmar que cada profissional precisa de ter seus papeis definidos, porem devem trabalhar em conjunto, para compreenderem os problemas de aprendizagem, devem trabalhar em um processo de interação, para melhor compreensão.
Essa pesquisa me ajudou muito, pois tive a oportunidade de ampliar meus conhecimentos sobre a psicopedagogia e sobre o TDAH e assim desenvolver um melhor trabalho de uma forma muito prazerosa, pois é um campo muito rico e significativo, pois trabalha a situação real que enfrentamos nos dias atuais.
Colocar o TDAH como uma disfunção do cérebro, retira a responsabilidade dos pais, dos educadores, e da escola, e coloca os medicamentos como a única saída possível para solucionar as questões, familiares, sociais e vinculares. Muitas vezes aumentando ou diminuindo as dozes conforme vão surgindo os problemas.
Nos dias de hoje o TDAH nos força a refletir na maneira como os afetos atingem o corpo infantil e como são tratados. Não devemos pensar apenas na medicação como maneira de aplacar a hiperatividade, tornando-os cada vez mais adaptados ao padrão que a medicina coloca como normal. Os medicamentos são importantes, porém não são o único recurso a ser colocado.
Nessa pesquisa consegui ver quão importante e necessário investir cada vez mais em capacitação para os profissionais que lidam com essas crianças portadoras de transtornos de déficit de atenção e hiperatividade, e também a importância de esclarecer para a sociedade essas dificuldades.
É necessário com grande urgência que tenhamos um diagnóstico interdisciplinar, e com um diálogo aberto entre todos, para melhores resultados e menos diagnósticos equivocados, para que nossas crianças tenham melhoras na aprendizagem, e uma relação mais harmônica com os colegas na escola, com a família e com a sociedade em geral.
A psicopedagogia nos faz pensar nessas crianças rotuladas como hiperativas, como sujeitos que são capazes de construir seu próprio conhecimento.
Esse trabalho sem sombra de dúvidas me ajudou e vai continuar me ajudando muito, a pesquisar mais a fundo esses problemas citados a cima, e a procurar ser uma boa profissional, e procurar sempre a melhor maneira para ajudar essas crianças que são portadoras desses rótulos que acabamos de ver.
REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS
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Disponível em; <http://www.tdah.net.br/> acesso em 29/01/2019.
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SKNNER, B.F. Ciências do Comportamento Humano. (J.C. Todorov & R.Azzi, Trads). São Paulo. Martin: font: original (publicado em 1954)
WALLON, H. As Etapas Da Socialização Da Criança. Lisboa, 1953.