O processo de aquisição e desenvolvimento da leitura e da escrita
Rebeca Aparecida dos Santos Lima
RESUMO
O presente artigo retrata o processo de aquisição e desenvolvimento da leitura e da escrita desde os primeiros anos de vida, perpassando pela educação infantil até as séries iniciais do ensino fundamental, considerando os diversos aspectos inerentes a essas etapas, bem como analisar as influências da literatura infantil. Entretanto visa compreender os aspectos cognitivos, as expectativas e dificuldades de aprendizagem, bem como fazer uma análise das hipóteses de escrita.
Palavras-chave: Leitura. Escrita. Educação Infantil. Ensino Fundamental. Literatura Infantil.
INTRODUÇÃO
O processo de aquisição da leitura e da escrita pela criança começa desde os primeiros anos de vida com a associação das palavras ao item que esta representa, podendo ser um objeto, pessoa, lugar, animal, dentre tantas outras possibilidades. Assim neste processo a criança faz uso direto da linguagem não verbal para associar imagens ou mesmo letras a lugares específicos sem o conhecimento prévio da leitura e da escrita.
As vivências que as crianças têm refletem diretamente no seu processo de aquisição da leitura e da escrita, sendo que elas demonstram características distintas de uma criança para outra. Assim as relações estabelecidas com o meio interferem significativamente em seu processo de aprendizagem.
Todavia a criança adentra ao ambiente escolar, iniciando a vida escolar na educação infantil, onde permeia os primeiros contatos com a aprendizagem da língua materna, possibilitando a formação do ser em diversos aspectos.
Entretanto é no ensino fundamental que vemos de forma mais pontuada e destacada o processo de leitura e escrita, onde a criança está mais amadurecida e com uma bagagem de conhecimento maior, podendo estabelecer relações e conexões entre linguagem oral e a escrita.
Outrora a abordagem da literatura infantil no processo de alfabetização e letramento é de extrema importância ressignificando e ampliando o conhecimento através das mais diferentes abordagens no processo de ensino e aprendizagem.
Vemos que há uma certa dificuldade por parte dos alunos em compreender o processo de alfabetização e letramento, no que diz respeito à escrita propriamente dita, segundo Saussure, a “Língua e escrita são dois sistemas distintos de signos; a única razão de ser do segundo é representar o primeiro;” (SAUSSURE, 2006, p.34)
Nesta perspectiva, o artigo pretende analisar o processo envolvido na aquisição e desenvolvimento da leitura e da escrita. De modo específico, este artigo pretende compreender os processos envolvidos e analisar os aspectos necessários para sua aprendizagem bem como estabelecer uma relação intrínseca da importância da literatura infantil no processo de leitura e escrita.
Tomando como base os objetivos estabelecidos, o artigo será fundamentado em pesquisa bibliográfica, de caráter qualitativo.
O PROCESSO COGNITIVO DA CRIANÇA NOS PRIMEIROS ANOS DE VIDA ATÉ ENSINO FUNDAMENTAL
Nos primeiros anos de vida a criança desenvolve as percepções acerca do mundo a seu redor estabelecendo relações, segundo Piaget:
Conhecimento se produz a partir da ação do sujeito sobre o meio em que vive, só se constitui com a estruturação da experiência que lhe permite atribuir significação. A significação é o resultado da possibilidade de assimilação. Conhecer significa, pois, inserir o objeto num sistema de relações, a partir de ações executadas sobre esse objeto. (CAVICCHIA, 2010, p. 1)
Entretanto em prosseguimento da relação da criança com o meio, vemos que há o processo de comunicação, onde a princípio usa a linguagem não verbal, ou seja, “A intenção de comunicar-se pode ser demonstrada de forma não-verbal através da expressão facial, sinais, e também quando a criança começa a responder, esperar pela vez, questionar e argumentar” (Schirme, Fontoura e Nunes, 2004, p. 97.
Ao analisarmos sob a ótica da perspectiva infantil vemos que a criança apropria- se da escrita em diversificados contextos presentes em seu cotidiano, segundo Ferreiro:
...iniciam seu aprendizado do sistema da escrita nos mais variados contextos, porque a escrita faz parte da paisagem urbana, e a vida urbana requer continuamente o uso da leitura. As crianças urbanas de 5 anos geralmente já sabem distinguir entre escrever e desenhar; expostas ao complexo conjunto de representações gráficas presentes no seu meio, são capazes de distinguir o que é desenho e o qie é “outra coisa”. Que chamem de “letras” ou “números” a esse conjunto de formas gráficas que possuem em comum o fato de não serem desenho, não é crucial nessa idade. (FERREIRO, 2011, p.95)
Nesta perspectiva vemos que a criança se apropria deste conhecimento que é inato ao ser em seu desenvolvimento da leitura e da escrita segundo Saussure “a imagem gráfica das palavras nos impressiona como um objeto permanente e sólido, mais adequado do que o som para constituir a unidade da língua através dos tempos.” (SAUSSURE, 2006, p.35).
Desta forma a complementar a abordagem de Saussure vemos que Ferreiro observa o processo da escrita como:
As primeiras escritas infantis aparecem, do ponto de vista gráfico, como linhas onduladas ou quebradas (zigue-zague), contínuas ou fragmentadas, ou então como uma série de elementos discretos repetidos (séries de linhas verticais, ou de bolinhas). A aparência gráfica não é garantia de escrita, a menos que se conheçam as condições de produção. (FERREIRO, 2011, p. 21)
A criança perpassa por diversos estágios de desenvolvimento cognitivo segundo Piaget, o primeiro estádio: Estádio da inteligência sensório-motora (0 – 2 anos), onde “estabelecem-se as bases para a construção das principais categorias do conhecimento que possibilitam ao ser humano organizar a sua experiência na construção do mundo: objeto, espaço, causalidade e tempo”. (CAVICCHIA, 2010, p. 4).
No estágio pré-operatório ou simbólico (2 a 6-7) vemos que para a criança “a palavra não tem ainda, para ela, o valor de um conceito; ela evoca uma realidade particular ou seu correspondente imagístico.” (CAVICCHIA, 2010, p. 11)
Todavia a criança chega a etapa da vida escolar, segundo a Lei nº 12.796, de 4 de abril de 2013 em seu “Art. 6º É dever dos pais ou responsáveis efetuar a matrícula das crianças na educação básica a partir dos 4 (quatro) anos de idade.” (BRASIL, 2013). A criança adentra ao ambiente escolar obrigatoriamente aos quatros anos de idade sendo facultativo seu ingresso em idade anterior.
Nessa etapa da educação infantil há uma expectativa para alcançar de acordo com LDB 9.394, de 20 de dezembro de 1996, na Seção II – Da Educação Infantil, art. 29:
A educação infantil, primeira etapa da educação básica, tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança até seis anos de idade, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade. (BRASIL, 1996)
Perpassando esta etapa da educação infantil a criança prossegue ao ensino fundamental onde pela faixa etária de acordo com Piaget adentra ao estádio operatório concreto (7 a 11-12) onde “a atividade cognitiva da criança torna-se operatória, com a aquisição da reversibilidade lógica. A reversibilidade aparece como uma propriedade das ações da criança, suscetíveis de se exercerem em pensamento ou interiormente.” (CAVICCHIA, 2010, p. 12).
Assim vemos que a dimensão cognitiva abrange mais do que simplesmente a aprendizagem, mas também a concepção de Piaget:
A dimensão cognitiva ao superar a concepção da aprendizagem como processo linear e fragmentado de acumulação de saberes (as letras, as sílabas, as palavras, a ortografia), que separa o momento de aprender do momento de fazer uso do conhecimento, somos obrigados a lidar com o sujeito cognitivo que Piaget nos ensinou a reconhecer.” (FERREIRO, 2001 citado por COLELLO, 2010, p. 64)
Na sala de aula o professor tem um papel fundamental de agente questionador, a fim de estabelecer os conhecimentos do educando, segundo Sanches:
Há algumas perguntas que formulo para saber e existem aqueles conhecimentos que já detenho. Nós nunca saímos da estaca zero, sempre partimos de algumas referências. Nesse caminho metodológico, o professor exerce um papel fundamental. Como investigar com mais profundidade aquilo que já se sabe? Como enveredar por caminhos nunca antes percorridos?” (SANCHES, 2019, p. 64)
O ENSINO FUNDAMENTAL E A AQUISIÇÂO DA LEITURA E DA ESCRITA
No Ensino Fundamental vemos mais pontuado o desenvolvimento da leitura e da escrita, de acordo com a LDB 9.394, de 20 de dezembro de 1996, na Seção III – Da Ensino Fundamental, art. 32, “I – o desenvolvimento da capacidade de aprender, tendo como meios básicos o pleno domínio da leitura, da escrita e do cálculo;’ (BRASIL, 1996).
Nesta etapa a criança começa a compreender e a associar o processo de leitura e escrita, as hipóteses de escrita, no nível pré-silábico, o aluno escreve através de diversificados símbolos, rabiscos, desenhos, letras, sinais gráficos, acreditando que a palavra que escreveu condiz com o que se refere. Entretanto ainda segundo as autoras no nível silábico o aluno percebe que a palavra que escreve condiz com a palavra falada, imaginando que deve apenas grafar uma das letras para representar a palavra dita de forma oral. Já no nível alfabético, o aluno observa a palavra com suas vogais e consoantes, e percebem que devem representar a palavra dita de forma oral com o que está escrito, com correspondência eximia de sons e letras. (MENDONÇA e MENDONÇA, 2011)
Mendonça e Mendonça (2011) explicam que a criança integra o processo de alfabetização antes mesmo de iniciar na vida escolar, e prossegue seus efeitos até o âmbito escolar, onde no aprendizado da escrita, faz necessário o uso de atividades de produção e interpretação escrita, tendo o docente o objetivo de inserir o aluno a esse objeto social, sendo o intermediador do processo entre a criança e a escrita, para que consiga pensar e interferir sobre ele.
Nota-se que o entrelaçamento entre alfabetização e letramento é um dos pontos mais importante no aprendizado da língua materna. De acordo com Rios e Libânio, engloba três eixos de conhecimento:
Conceituais – capacidades para operar com símbolos, imagens, ideias ou representações;
Procedimentais – desempenhos que indicam nível de saber fazer, ou seja, apropriação de técnicas relacionadas à aquisição de leitura e escrita; Atitudinais – comportamentos que expressam apreciações e incorporações de valores, normas hábitos ou atitudes relacionadas ao trabalho escolar e a socialização. (RIOS; LIBÂNIO, 2009, p. 65)
Neste processo de aquisição e desenvolvimento da leitura e da escrita é primordial compreender que a criança passa por diferentes níveis até constituir a escrita propriamente dita. Assim é muito importante que o professor compreenda o processo de alfabetização e letramento:
Mundo da escrita se dá simultaneamente por esses dois processos: pela aquisição do sistema convencional de escrita – a alfabetização –, e pelo desenvolvimento de habilidades de uso desse sistema em atividades de leitura e escrita, nas práticas sociais que envolvem a linguagem escrita – o letramento. (SOARES, 2004, p. 14)
Soares (2004) aponta que devemos primeiro reconhecer as particularidades da alfabetização, como um processo de aquisição e apropriação da escrita, no âmbito alfabético e ortográfico, em seguindo ter como foco o desenvolvimento do letramento, onde não meramente aprenda a ler e escrever, mas a usar essas habilidades nas práticas sociais, e em terceiro é compreender as diferenças e as especificidades de ambos os processos, alfabetização e letramento.
Ainda na perspectiva da alfabetização vemos que na escrita a criança se apropria de contextos fora do ambiente escolar, segundo Ferreiro, “ A escrita não é um produto escolar, mas sim um objeto cultural, resultado do esforço coletivo da humanidade.” (FERREIRO, 2011, p. 44).
Neste sentido devemos considerar que a criança esta inserida em um mundo letrado, com estímulos em todos os lugares, como por exemplo outdoors:
Fonte:https://ifan.com.br/2021/06/02/acao-olhares-eco-protetores-lanca-campanhas-pelos-direitos- das-criancas-em-fortaleza-ce/
Deste modo vemos que a criança está segundo Ferreiro:
Imersa em um mundo onde há a presença de sistemas simbólicos socialmente elaborados, a criança procura compreender a natureza destas marcas especiais. Para tanto, não exercita uma técnica específica de aprendizagem. Como já fez antes, com outros tipos de objeto, vai descobrindo as propriedades dos sistemas simbólicos por meio de um prolongado processo construtivo. (FERREIRO, 2011, p. 44).
A IMPORTÂNCIA DA LITERATURA INFANTIL NA ALFABETIZAÇÃO E NO LETRAMENTO.
A literatura infantil é um campo literário riquíssimo, que contempla extrema significância no desenvolvimento infantil, seja psicológico, afetivo, social, cognitivo e intelectual, é através da literatura infantil, que a criança é apresentada a uma vasta gama de histórias e contos que trazem abordagens significativas e amplamente reflexivas para seu “mundo”.
No livro “Alice no país das maravilhas”, vemos um trecho da história que reflete a percepção que as crianças pequenas têm sobre livros:
Alice estava começando a sentir cansada de ficar sentada ao lado de sua irmã e não ter nada para fazer: vez ou outra ela dava uma olhadinha no livro que a irmã lia, mas não havia figuras ou diálogos nele e para que serve um livro, pensou Alice, sem figuras nem diálogos?. (CARROLL,2014, p. 7)
Fonte: https://www.tumblr.com/hajapipoca/85621261221/alice-in-wonderland-1951-alice-no-pa%C3%ADs-das
Em reflexão ao trecho descrito acima percebe-se que as histórias devem ser atrativas para a criança, sendo abordada de uma forma que traga significado para seu repertório. Segundo Bettelheim:
Para que uma história realmente prenda a atenção da criança, deve entretê-la e despertar a sua curiosidade. Contudo, para enriquecer a sua vida, deve estimular-lhe a imaginação: ajudá-la a desenvolver seu intelecto e a tornar claras suas emoções; estar em harmonia com suas ansiedades e aspirações, reconhecer plenamente suas dificuldades e, ao mesmo tempo, sugerir soluções para problemas que o perturbam. Resumindo, deve relacionar-se simultaneamente com todos os aspectos de sua personalidade – e isso sem nunca menosprezara seriedade de suas dificuldades, mas, ao contrário, dando-lhe crédito e, a um só tempo, promovendo confiança da criança em si mesma e em seu futuro.” (BETTELHEIM, 2021, p.11)
O processo de alfabetização e letramento através da literatura infantil, inicia-se através da perspectiva dos objetivos educacionais a serem alcançados com a obra proposta, Libâneo, define objetivos educacionais como “... propósitos definidos explícitos quanto ao desenvolvimento das qualidades humanas que todos os indivíduos precisam adquirir para capacitarem para as lutas sociais de transformação da sociedade” (LIBÂNEO, 2013, p. 132). Assim na perspectiva da sala de aula segundo Cardoso e Moraes:
Cabe ao professor, enfim, prezar por promover em sala de aula suas práticas de alfabetização e letramento a partir dos mais diversos gêneros do discurso, favorecendo assim o aluno a leitura do mundo, a leitura de si, a leitura da vida, a leitura da sociedade, a leitura literária. (SANTOS e MORAES, 2013, p.29)
Nesta perspectiva uma obra que aborda o processo construtivo das palavras é Marcelo, Marmelo, Martelo e outras histórias, onde o menino inventava o nome das coisas:
E Marcelo continuou pensando: "Pois é, está tudo errado! Bola é bola, porque é redonda. Mas bolo nem sempre é redondo. E por que será que a bola não é a mulher do bolo? E bule? E belo? E bala? Eu acho que as coisas deviam ter nome mais apropriado. Cadeira, por exemplo. Devia chamar sentador, não cadeira, que não quer dizer nada. E travesseiro? Devia chamar cabeceiro, lógico! Também, agora, eu só vou falar assim. (ROCHA,1976, p. 13)
Em outro ponto do livro vemos um diálogo de Marcelo e seu pai, onde o pai conversa com ele a respeito da importância das coisas terem o mesmo nome:
“O pai de Marcelo resolveu conversar com ele:
Marcelo, todas as coisas têm um nome. E todo mundo tem que chamar pelo mesmo nome porque, senão, ninguém se entende...
Não acho, papai. Por que é que eu não posso inventar o nome das coisas?” (ROCHA,1976, p. 15)
Fonte:https://revistaquem.globo.com/Series-e-filmes/noticia/2022/07/marcelo-marmelo-martelo-livro- de-ruth-rocha-vai-virar-serie-infantil-no-paramount.html
Em relação a literatura infantil, observa-se uma gama diversificada de abordagens que aproximam os conteúdos ao repertório infantil, trazendo significado a temas complexos, e deste modo auxiliando na compreensão e entendimento a eles, assim segundo Cardoso e Moraes:
Consideramos a literatura infantil, em sua potencialidade, sua inventividade e sua recriação, unindo o universo onírico ao lúdico por meio de abordagem ética, política, coletiva e estética, seja um instrumento fundamental nesse processo no sentido de favorecer o trabalho de saberes científicos para o senso comum, para que a população em geral e as crianças que herdarão o legado da civilização tenham acesso não apenas a questões que provocam nossa perplexidade, mas as discussões e possibilidades de alternativas lançadas por grandes pesquisadores e pensadores que têm se empenhado na abertura de espaço para o diálogo entre saberes. (SANTOS e MORAES, 2013, p. 95)
Outro ponto que devemos atentar-se é em relação as práticas educativas, que devem pautar-se em aproximar a realidade em que o aluno esteja inserido, trazendo sentido e possibilitando a transformação de sua realidade, Libâneo ressalta que:
... através de transmissão e assimilação ativa de conhecimentos e habilidades, deve ter em vista a preparação de crianças e jovens para a compreensão mais ampla da realidade social, para que as crianças se tornem agentes ativos de transformação dessa realidade (LIBÂNEO, 2013, p. 167)
Neste sentido ao analisarmos um gênero literário que faz parte do imaginário infantil, os contos de fadas, vemos que eles agregam a criança o desenvolvimento de diversos aspectos relacionados a compreender sobre si mesma “Enquanto diverte a criança, o conto de fadas a esclarece sobre si própria e favorece o desenvolvimento de sua personalidade.” (BETTELHEIM, 2021, p.23)
Um conto de fada extremamente conhecido que faz parte do imaginário infantil é “Chapeuzinho Vermelho”, que em sua moral traz a importância da obediência e de não se falar com estranhos, como vemos no trecho abaixo:
Chapeuzinho, leve esta cesta com bolo e doces à casa da vovó, que está doente. Mas tenha cuidado! Não vá pela floresta nem converse com desconhecidos! — Chapeuzinho, leve esta cesta com bolo e doces à casa da vovó, que está doente. Mas tenha cuidado! Não vá pela floresta nem converse com desconhecidos! (BRASIL, 2020, p.3)
Fonte:https://alfabetizacao.mec.gov.br/images/conta-pra- mim/livros/versao_digital/chapeuzinho_vermelho_versao_digital.pdf
Entretanto em outro momento da história Chapeuzinho encontra-se com o lobo e acaba desobedecendo sua mãe:
Foi então que apareceu o lobo:
Está perdida, menina?
Não, não... Estou indo para a casa da vovó, que está doente. Vou levar bolo e doces para ela.
Ora, vá pelo caminho das flores, menina! É mais curto! — disse o lobo. Chapeuzinho concordou:
Isso mesmo! Assim também poderei colher flores para ela!” (BRASIL, 2020, p.5)
Fonte: https://alfabetizacao.mec.gov.br/images/conta-pra- mim/livros/versao_digital/chapeuzinho_vermelho_versao_digital.pdf
Sob a ótica do livro “Chapeuzinho vermelho”, podemos trabalhar o gênero bilhete:
Fonte:https://sme.goiania.go.gov.br/conexaoescola/ensino_fundamental/lingua-portuguesa-um- bilhete-pode-mudar-tudo/
Deste modo, no âmbito escolar, o processo de ensino e aprendizagem deve considerar os mais diversificados gêneros do discurso, e sua significativa influência nas obras literárias, uma vez que este “favorece o desenvolvimento das capacidades interpretativas inerentes ao letramento literário, considerando-se tais gêneros presentes nas obras literárias (conversações, bilhetes, cartazes, diários, cartas, etc.)” (SANTOS e MORAES, 2013, p.27).
Um projeto desenvolvido pelo Ministério da Educação (MEC), o Conta para mim, promove a literacia familiar, segundo o MEC:
Por meio de simples interações com as crianças em forma de conversa, muitas vezes de maneira lúdica, os pais podem construir relacionamentos positivos com seus filhos, ajudá-los a desenvolver o vocabulário e as habilidades necessárias para a leitura e o aprendizado posteriores na escola. Essas conversações podem ocorrer por meio de atividades diárias, como vestir, comer e brincar. Nessas conversações diárias, os pais podem também expressar a sua consideração positiva por seus filhos. Esses diálogos diários são como blocos que se integram na construção para ajudar as crianças a obter habilidades importantes para leitura e escrita. (BRASIL, 2019, p.9)
Fonte: https://alfabetizacao.mec.gov.br/contapramim
Todavia o professor deve pautar-se de diferentes formas de abordagem que amplie e ressignifique o processo de ensino e aprendizagem da literatura infantil, um método a ser utilizado é a tarefa para casa, que além de possibilitar a observação de alguns aspectos importantes também aproxima os pais da escola, segundo Libâneo:
A tarefa para casa é um importante complemento didático para a consolidação, estreitamente ligada ao desenvolvimento das aulas. A tarefa para casa consiste de tarefas de aprendizagem realizadas fora do período escolar. Tanto quanto os exercícios de classe e as verificações parciais de aproveitamento, elas indicam ao professor as dificuldades dos alunos e as deficiências da estruturação didática do seu trabalho. Exercem também a uma função social, pois por meio delas os pais tomam contato com o trabalho realizado na escola, na classe dos seus filhos, sendo um importante meio de interação dos pais com os professores e destes com aqueles. (LIBÂNEO, 2013, p. 212)
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste artigo foi possível compreender os processos inerentes a aquisição e desenvolvimento da leitura e da escrita nas diferentes etapas desde os primeiros anos de vida até as séries iniciais do ensino fundamental, perpassando também pela literatura infantil. Neste sentido diverso são os aspectos pertinentes a cada etapa que colaboram significativamente para a aprendizagem da criança e seu desenvolvimento incidindo consequentemente na compreensão de si mesma e de seu papel em sociedade.
Contudo vemos que cada etapa tem sua particularidade e suas expectativas de aprendizagem em relação a esse processo, que os aspectos cognitivos sob a ótica de Piaget são um ponto significativo a ser analisado para se estabelecer um paralelo entre criança e o meio em que vive.
No processo de aquisição da leitura e da escrita vemos diversificados níveis de hipótese de escrita. Todavia, a disparidade entre a criança alfabetizada e letrada propõe um processo de ensino-aprendizagem que seja significativo e incentive o aluno ao aprendizado, para que ele não apenas domine a leitura e a escrita, mas desfrute de um conhecimento que possibilite estabelecer vivências sociais.
Entretanto vemos que o universo literário é uma fonte riquíssima de aprendizado, que além de proporcionar o desenvolvimento da leitura e da escrita também desenvolve outros aspectos importante para a criança como a imaginação, o raciocínio e resolução de problemas.
Além de que vemos que é uma excelente abordagem para aproximação com o âmbito familiar, uma vez que em uma abordagem diferente através da literacia familiar e das tarefas para casa.
Neste contexto diferentes abordagens podem ser utilizadas de forma que a criança desenvolva cognitivamente sua capacidade de leitura e escrita ampliando seu repertório e agregando ao universo cultural.
As crianças absorvem aquilo que lhe é ensinado, não apenas por palavras, mas também pelo que ela vivência em todos os seus dias. Não lhe basta apenas lhe dar asas, precisamos ensiná-las a voarem sozinhas. A leitura e escrita são apenas uma pequena parte dessa grande jornada.
REFERÊNCIAS
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