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O processo de aquisição e desenvolvimento da leitura e da escrita

Rebeca Aparecida dos Santos Lima

 

DOI: 10.5281/zenodo.17167088

 

 

 

 

RESUMO

O presente artigo retrata o processo de aquisição e desenvolvimento da leitura e da escrita desde os primeiros anos de vida, perpassando pela educação infantil até as séries iniciais do ensino fundamental, considerando os diversos aspectos inerentes a essas etapas, bem como analisar as influências da literatura infantil. Entretanto visa compreender os aspectos cognitivos, as expectativas e dificuldades de aprendizagem, bem como fazer uma análise das hipóteses de escrita.

 

Palavras-chave: Leitura. Escrita. Educação Infantil. Ensino Fundamental. Literatura Infantil.

 

 

INTRODUÇÃO

 

O processo de aquisição da leitura e da escrita pela criança começa desde os primeiros anos de vida com a associação das palavras ao item que esta representa, podendo ser um objeto, pessoa, lugar, animal, dentre tantas outras possibilidades. Assim neste processo a criança faz uso direto da linguagem não verbal para associar imagens ou mesmo letras a lugares específicos sem o conhecimento prévio da leitura e da escrita.

As vivências que as crianças têm refletem diretamente no seu processo de aquisição da leitura e da escrita, sendo que elas demonstram características distintas de uma criança para outra. Assim as relações estabelecidas com o meio interferem significativamente em seu processo de aprendizagem.

Todavia a criança adentra ao ambiente escolar, iniciando a vida escolar na educação infantil, onde permeia os primeiros contatos com a aprendizagem da língua materna, possibilitando a formação do ser em diversos aspectos.

Entretanto é no ensino fundamental que vemos de forma mais pontuada e destacada o processo de leitura e escrita, onde a criança está mais amadurecida e com uma bagagem de conhecimento maior, podendo estabelecer relações e conexões entre linguagem oral e a escrita.

Outrora a abordagem da literatura infantil no processo de alfabetização e letramento é de extrema importância ressignificando e ampliando o conhecimento através das mais diferentes abordagens no processo de ensino e aprendizagem.

Vemos que há uma certa dificuldade por parte dos alunos em compreender o processo de alfabetização e letramento, no que diz respeito à escrita propriamente dita, segundo Saussure, a “Língua e escrita são dois sistemas distintos de signos; a única razão de ser do segundo é representar o primeiro;” (SAUSSURE, 2006, p.34)

Nesta perspectiva, o artigo pretende analisar o processo envolvido na aquisição e desenvolvimento da leitura e da escrita. De modo específico, este artigo pretende compreender os processos envolvidos e analisar os aspectos necessários para sua aprendizagem bem como estabelecer uma relação intrínseca da importância da literatura infantil no processo de leitura e escrita.

Tomando como base os objetivos estabelecidos, o artigo será fundamentado em pesquisa bibliográfica, de caráter qualitativo.

 

 

O PROCESSO COGNITIVO DA CRIANÇA NOS PRIMEIROS ANOS DE VIDA ATÉ ENSINO FUNDAMENTAL

 

Nos primeiros anos de vida a criança desenvolve as percepções acerca do mundo a seu redor estabelecendo relações, segundo Piaget:

 

Conhecimento se produz a partir da ação do sujeito sobre o meio em que vive, só se constitui com a estruturação da experiência que lhe permite atribuir significação. A significação é o resultado da possibilidade de assimilação. Conhecer significa, pois, inserir o objeto num sistema de relações, a partir de ações executadas sobre esse objeto. (CAVICCHIA, 2010, p. 1)

 

Entretanto em prosseguimento da relação da criança com o meio, vemos que há o processo de comunicação, onde a princípio usa a linguagem não verbal, ou seja, “A intenção de comunicar-se pode ser demonstrada de forma não-verbal através da expressão facial, sinais, e também quando a criança começa a responder, esperar pela vez, questionar e argumentar” (Schirme, Fontoura e Nunes, 2004, p. 97.

Ao analisarmos sob a ótica da perspectiva infantil vemos que a criança apropria- se da escrita em diversificados contextos presentes em seu cotidiano, segundo Ferreiro:

 

...iniciam seu aprendizado do sistema da escrita nos mais variados contextos, porque a escrita faz parte da paisagem urbana, e a vida urbana requer continuamente o uso da leitura. As crianças urbanas de 5 anos geralmente já sabem distinguir entre escrever e desenhar; expostas ao complexo conjunto de representações gráficas presentes no seu meio, são capazes de distinguir o que é desenho e o qie é “outra coisa”. Que chamem de “letras” ou “números” a esse conjunto de formas gráficas que possuem em comum o fato de não serem desenho, não é crucial nessa idade. (FERREIRO, 2011, p.95)

 

Nesta perspectiva vemos que a criança se apropria deste conhecimento que é inato ao ser em seu desenvolvimento da leitura e da escrita segundo Saussure “a imagem gráfica das palavras nos impressiona como um objeto permanente e sólido, mais adequado do que o som para constituir a unidade da língua através dos tempos.” (SAUSSURE, 2006, p.35).

Desta forma a complementar a abordagem de Saussure vemos que Ferreiro observa o processo da escrita como:

 

As primeiras escritas infantis aparecem, do ponto de vista gráfico, como linhas onduladas ou quebradas (zigue-zague), contínuas ou fragmentadas, ou então como uma série de elementos discretos repetidos (séries de linhas verticais, ou de bolinhas). A aparência gráfica não é garantia de escrita, a menos que se conheçam as condições de produção. (FERREIRO, 2011, p. 21)

 

A criança perpassa por diversos estágios de desenvolvimento cognitivo segundo Piaget, o primeiro estádio: Estádio da inteligência sensório-motora (0 – 2 anos), onde “estabelecem-se as bases para a construção das principais categorias do conhecimento que possibilitam ao ser humano organizar a sua experiência na construção do mundo: objeto, espaço, causalidade e tempo”. (CAVICCHIA, 2010, p. 4).

No estágio pré-operatório ou simbólico (2 a 6-7) vemos que para a criança “a palavra não tem ainda, para ela, o valor de um conceito; ela evoca uma realidade particular ou seu correspondente imagístico.” (CAVICCHIA, 2010, p. 11)

Todavia a criança chega a etapa da vida escolar, segundo a Lei nº 12.796, de 4 de abril de 2013 em seu “Art. 6º É dever dos pais ou responsáveis efetuar a matrícula das crianças na educação básica a partir dos 4 (quatro) anos de idade.” (BRASIL, 2013). A criança adentra ao ambiente escolar obrigatoriamente aos quatros anos de idade sendo facultativo seu ingresso em idade anterior.

Nessa etapa da educação infantil há uma expectativa para alcançar de acordo com LDB 9.394, de 20 de dezembro de 1996, na Seção II – Da Educação Infantil, art. 29:

 

A educação infantil, primeira etapa da educação básica, tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança até seis anos de idade, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade. (BRASIL, 1996)

 

Perpassando esta etapa da educação infantil a criança prossegue ao ensino fundamental onde pela faixa etária de acordo com Piaget adentra ao estádio operatório concreto (7 a 11-12) onde “a atividade cognitiva da criança torna-se operatória, com a aquisição da reversibilidade lógica. A reversibilidade aparece como uma propriedade das ações da criança, suscetíveis de se exercerem em pensamento ou interiormente.” (CAVICCHIA, 2010, p. 12).

Assim vemos que a dimensão cognitiva abrange mais do que simplesmente a aprendizagem, mas também a concepção de Piaget:

 

A dimensão cognitiva ao superar a concepção da aprendizagem como processo linear e fragmentado de acumulação de saberes (as letras, as sílabas, as palavras, a ortografia), que separa o momento de aprender do momento de fazer uso do conhecimento, somos obrigados a lidar com o sujeito cognitivo que Piaget nos ensinou a reconhecer.” (FERREIRO, 2001 citado por COLELLO, 2010, p. 64)

 

Na sala de aula o professor tem um papel fundamental de agente questionador, a fim de estabelecer os conhecimentos do educando, segundo Sanches:

 

Há algumas perguntas que formulo para saber e existem aqueles conhecimentos que já detenho. Nós nunca saímos da estaca zero, sempre partimos de algumas referências. Nesse caminho metodológico, o professor exerce um papel fundamental. Como investigar com mais profundidade aquilo que já se sabe? Como enveredar por caminhos nunca antes percorridos?” (SANCHES, 2019, p. 64)

 

 

O ENSINO FUNDAMENTAL E A AQUISIÇÂO DA LEITURA E DA ESCRITA

 

No Ensino Fundamental vemos mais pontuado o desenvolvimento da leitura e da escrita, de acordo com a LDB 9.394, de 20 de dezembro de 1996, na Seção III – Da Ensino Fundamental, art. 32, “I – o desenvolvimento da capacidade de aprender, tendo como meios básicos o pleno domínio da leitura, da escrita e do cálculo;’ (BRASIL, 1996).

Nesta etapa a criança começa a compreender e a associar o processo de leitura e escrita, as hipóteses de escrita, no nível pré-silábico, o aluno escreve através de diversificados símbolos, rabiscos, desenhos, letras, sinais gráficos, acreditando que a palavra que escreveu condiz com o que se refere. Entretanto ainda segundo as autoras no nível silábico o aluno percebe que a palavra que escreve condiz com a palavra falada, imaginando que deve apenas grafar uma das letras para representar a palavra dita de forma oral. Já no nível alfabético, o aluno observa a palavra com suas vogais e consoantes, e percebem que devem representar a palavra dita de forma oral com o que está escrito, com correspondência eximia de sons e letras. (MENDONÇA e MENDONÇA, 2011)

Mendonça e Mendonça (2011) explicam que a criança integra o processo de alfabetização antes mesmo de iniciar na vida escolar, e prossegue seus efeitos até o âmbito escolar, onde no aprendizado da escrita, faz necessário o uso de atividades de produção e interpretação escrita, tendo o docente o objetivo de inserir o aluno a esse objeto social, sendo o intermediador do processo entre a criança e a escrita, para que consiga pensar e interferir sobre ele.

Nota-se que o entrelaçamento entre alfabetização e letramento é um dos pontos mais importante no aprendizado da língua materna. De acordo com Rios e Libânio, engloba três eixos de conhecimento:

 

Conceituais – capacidades para operar com símbolos, imagens, ideias ou representações;

Procedimentais – desempenhos que indicam nível de saber fazer, ou seja, apropriação de técnicas relacionadas à aquisição de leitura e escrita; Atitudinais – comportamentos que expressam apreciações e incorporações de valores, normas hábitos ou atitudes relacionadas ao trabalho escolar e a socialização. (RIOS; LIBÂNIO, 2009, p. 65)

 

Neste processo de aquisição e desenvolvimento da leitura e da escrita é primordial compreender que a criança passa por diferentes níveis até constituir a escrita propriamente dita. Assim é muito importante que o professor compreenda o processo de alfabetização e letramento:

 

Mundo da escrita se dá simultaneamente por esses dois processos: pela aquisição do sistema convencional de escrita – a alfabetização –, e pelo desenvolvimento de habilidades de uso desse sistema em atividades de leitura e escrita, nas práticas sociais que envolvem a linguagem escrita – o letramento. (SOARES, 2004, p. 14)

 

Soares (2004) aponta que devemos primeiro reconhecer as particularidades da alfabetização, como um processo de aquisição e apropriação da escrita, no âmbito alfabético e ortográfico, em seguindo ter como foco o desenvolvimento do letramento, onde não meramente aprenda a ler e escrever, mas a usar essas habilidades nas práticas sociais, e em terceiro é compreender as diferenças e as especificidades de ambos os processos, alfabetização e letramento.

Ainda na perspectiva da alfabetização vemos que na escrita a criança se apropria de contextos fora do ambiente escolar, segundo Ferreiro, “ A escrita não é um produto escolar, mas sim um objeto cultural, resultado do esforço coletivo da humanidade.” (FERREIRO, 2011, p. 44).

Neste sentido devemos considerar que a criança esta inserida em um mundo letrado, com estímulos em todos os lugares, como por exemplo outdoors:

 

Fonte:https://ifan.com.br/2021/06/02/acao-olhares-eco-protetores-lanca-campanhas-pelos-direitos- das-criancas-em-fortaleza-ce/

 

Deste modo vemos que a criança está segundo Ferreiro:

 

Imersa em um mundo onde há a presença de sistemas simbólicos socialmente elaborados, a criança procura compreender a natureza destas marcas especiais. Para tanto, não exercita uma técnica específica de aprendizagem. Como já fez antes, com outros tipos de objeto, vai descobrindo as propriedades dos sistemas simbólicos por meio de um prolongado processo construtivo. (FERREIRO, 2011, p. 44).

 

 

A IMPORTÂNCIA DA LITERATURA INFANTIL NA ALFABETIZAÇÃO E NO LETRAMENTO.

 

A literatura infantil é um campo literário riquíssimo, que contempla extrema significância no desenvolvimento infantil, seja psicológico, afetivo, social, cognitivo e intelectual, é através da literatura infantil, que a criança é apresentada a uma vasta gama de histórias e contos que trazem abordagens significativas e amplamente reflexivas para seu “mundo”.

No livro “Alice no país das maravilhas”, vemos um trecho da história que reflete a percepção que as crianças pequenas têm sobre livros:

 

Alice estava começando a sentir cansada de ficar sentada ao lado de sua irmã e não ter nada para fazer: vez ou outra ela dava uma olhadinha no livro que a irmã lia, mas não havia figuras ou diálogos nele e para que serve um livro, pensou Alice, sem figuras nem diálogos?. (CARROLL,2014, p. 7)

 

Fonte: https://www.tumblr.com/hajapipoca/85621261221/alice-in-wonderland-1951-alice-no-pa%C3%ADs-das

 

Em reflexão ao trecho descrito acima percebe-se que as histórias devem ser atrativas para a criança, sendo abordada de uma forma que traga significado para seu repertório. Segundo Bettelheim:

 

Para que uma história realmente prenda a atenção da criança, deve entretê-la e despertar a sua curiosidade. Contudo, para enriquecer a sua vida, deve estimular-lhe a imaginação: ajudá-la a desenvolver seu intelecto e a tornar claras suas emoções; estar em harmonia com suas ansiedades e aspirações, reconhecer plenamente suas dificuldades e, ao mesmo tempo, sugerir soluções para problemas que o perturbam. Resumindo, deve relacionar-se simultaneamente com todos os aspectos de sua personalidade – e isso sem nunca menosprezara seriedade de suas dificuldades, mas, ao contrário, dando-lhe crédito e, a um só tempo, promovendo confiança da criança em si mesma e em seu futuro.” (BETTELHEIM, 2021, p.11)

 

O processo de alfabetização e letramento através da literatura infantil, inicia-se através da perspectiva dos objetivos educacionais a serem alcançados com a obra proposta, Libâneo, define objetivos educacionais como “... propósitos definidos explícitos quanto ao desenvolvimento das qualidades humanas que todos os indivíduos precisam adquirir para capacitarem para as lutas sociais de transformação da sociedade” (LIBÂNEO, 2013, p. 132). Assim na perspectiva da sala de aula segundo Cardoso e Moraes:

 

Cabe ao professor, enfim, prezar por promover em sala de aula suas práticas de alfabetização e letramento a partir dos mais diversos gêneros do discurso, favorecendo assim o aluno a leitura do mundo, a leitura de si, a leitura da vida, a leitura da sociedade, a leitura literária. (SANTOS e MORAES, 2013, p.29)

 

Nesta perspectiva uma obra que aborda o processo construtivo das palavras é Marcelo, Marmelo, Martelo e outras histórias, onde o menino inventava o nome das coisas:

 

E Marcelo continuou pensando: "Pois é, está tudo errado! Bola é bola, porque é redonda. Mas bolo nem sempre é redondo. E por que será que a bola não é a mulher do bolo? E bule? E belo? E bala? Eu acho que as coisas deviam ter nome mais apropriado. Cadeira, por exemplo. Devia chamar sentador, não cadeira, que não quer dizer nada. E travesseiro? Devia chamar cabeceiro, lógico! Também, agora, eu só vou falar assim. (ROCHA,1976, p. 13)

 

Em outro ponto do livro vemos um diálogo de Marcelo e seu pai, onde o pai conversa com ele a respeito da importância das coisas terem o mesmo nome:

 

“O pai de Marcelo resolveu conversar com ele:

Marcelo, todas as coisas têm um nome. E todo mundo tem que chamar pelo mesmo nome porque, senão, ninguém se entende...

Não acho, papai. Por que é que eu não posso inventar o nome das coisas?” (ROCHA,1976, p. 15)

 

 

Fonte:https://revistaquem.globo.com/Series-e-filmes/noticia/2022/07/marcelo-marmelo-martelo-livro- de-ruth-rocha-vai-virar-serie-infantil-no-paramount.html

 

Em relação a literatura infantil, observa-se uma gama diversificada de abordagens que aproximam os conteúdos ao repertório infantil, trazendo significado a temas complexos, e deste modo auxiliando na compreensão e entendimento a eles, assim segundo Cardoso e Moraes:

 

Consideramos a literatura infantil, em sua potencialidade, sua inventividade e sua recriação, unindo o universo onírico ao lúdico por meio de abordagem ética, política, coletiva e estética, seja um instrumento fundamental nesse processo no sentido de favorecer o trabalho de saberes científicos para o senso comum, para que a população em geral e as crianças que herdarão o legado da civilização tenham acesso não apenas a questões que provocam nossa perplexidade, mas as discussões e possibilidades de alternativas lançadas por grandes pesquisadores e pensadores que têm se empenhado na abertura de espaço para o diálogo entre saberes. (SANTOS e MORAES, 2013, p. 95)

 

Outro ponto que devemos atentar-se é em relação as práticas educativas, que devem pautar-se em aproximar a realidade em que o aluno esteja inserido, trazendo sentido e possibilitando a transformação de sua realidade, Libâneo ressalta que:

 

... através de transmissão e assimilação ativa de conhecimentos e habilidades, deve ter em vista a preparação de crianças e jovens para a compreensão mais ampla da realidade social, para que as crianças se tornem agentes ativos de transformação dessa realidade  (LIBÂNEO, 2013, p. 167)

 

Neste sentido ao analisarmos um gênero literário que faz parte do imaginário infantil, os contos de fadas, vemos que eles agregam a criança o desenvolvimento de diversos aspectos relacionados a compreender sobre si mesma “Enquanto diverte a criança, o conto de fadas a esclarece sobre si própria e favorece o desenvolvimento de sua personalidade.” (BETTELHEIM, 2021, p.23)

Um conto de fada extremamente conhecido que faz parte do imaginário infantil é “Chapeuzinho Vermelho”, que em sua moral traz a importância da obediência e de não se falar com estranhos, como vemos no trecho abaixo:

 

Chapeuzinho, leve esta cesta com bolo e doces à casa da vovó, que está doente. Mas tenha cuidado! Não vá pela floresta nem converse com desconhecidos! — Chapeuzinho, leve esta cesta com bolo e doces à casa da vovó, que está doente. Mas tenha cuidado! Não vá pela floresta nem converse com desconhecidos! (BRASIL, 2020, p.3)

 

Fonte:https://alfabetizacao.mec.gov.br/images/conta-pra- mim/livros/versao_digital/chapeuzinho_vermelho_versao_digital.pdf

 

Entretanto em outro momento da história Chapeuzinho encontra-se com o lobo e acaba desobedecendo sua mãe:

 

Foi então que apareceu o lobo:

Está perdida, menina?

Não, não... Estou indo para a casa da vovó, que está doente. Vou levar bolo e doces para ela.

Ora, vá pelo caminho das flores, menina! É mais curto! — disse o lobo. Chapeuzinho concordou:

Isso mesmo! Assim também poderei colher flores para ela!” (BRASIL, 2020, p.5)

 

Fonte: https://alfabetizacao.mec.gov.br/images/conta-pra- mim/livros/versao_digital/chapeuzinho_vermelho_versao_digital.pdf

 

Sob a ótica do livro “Chapeuzinho vermelho”, podemos trabalhar o gênero bilhete:

 

 

Fonte:https://sme.goiania.go.gov.br/conexaoescola/ensino_fundamental/lingua-portuguesa-um- bilhete-pode-mudar-tudo/

 

Deste modo, no âmbito escolar, o processo de ensino e aprendizagem deve considerar os mais diversificados gêneros do discurso, e sua significativa influência nas obras literárias, uma vez que este “favorece o desenvolvimento das capacidades interpretativas inerentes ao letramento literário, considerando-se tais gêneros presentes nas obras literárias (conversações, bilhetes, cartazes, diários, cartas, etc.)” (SANTOS e MORAES, 2013, p.27).

Um projeto desenvolvido pelo Ministério da Educação (MEC), o Conta para mim, promove a literacia familiar, segundo o MEC:

 

Por meio de simples interações com as crianças em forma de conversa, muitas vezes de maneira lúdica, os pais podem construir relacionamentos positivos com seus filhos, ajudá-los a desenvolver o vocabulário e as habilidades necessárias para a leitura e o aprendizado posteriores na escola. Essas conversações podem ocorrer por meio de atividades diárias, como vestir, comer e brincar. Nessas conversações diárias, os pais podem também expressar a sua consideração positiva por seus filhos. Esses diálogos diários são como blocos que se integram na construção para ajudar as crianças a obter habilidades importantes para leitura e escrita. (BRASIL, 2019, p.9)

 

Fonte: https://alfabetizacao.mec.gov.br/contapramim

 

Todavia o professor deve pautar-se de diferentes formas de abordagem que amplie e ressignifique o processo de ensino e aprendizagem da literatura infantil, um método a ser utilizado é a tarefa para casa, que além de possibilitar a observação de alguns aspectos importantes também aproxima os pais da escola, segundo Libâneo:

 

A tarefa para casa é um importante complemento didático para a consolidação, estreitamente ligada ao desenvolvimento das aulas. A tarefa para casa consiste de tarefas de aprendizagem realizadas fora do período escolar. Tanto quanto os exercícios de classe e as verificações parciais de aproveitamento, elas indicam ao professor as dificuldades dos alunos e as deficiências da estruturação didática do seu trabalho. Exercem também a uma função social, pois por meio delas os pais tomam contato com o trabalho realizado na escola, na classe dos seus filhos, sendo um importante meio de interação dos pais com os professores e destes com aqueles. (LIBÂNEO, 2013, p. 212)

 

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

Neste artigo foi possível compreender os processos inerentes a aquisição e desenvolvimento da leitura e da escrita nas diferentes etapas desde os primeiros anos de vida até as séries iniciais do ensino fundamental, perpassando também pela literatura infantil. Neste sentido diverso são os aspectos pertinentes a cada etapa que colaboram significativamente para a aprendizagem da criança e seu desenvolvimento incidindo consequentemente na compreensão de si mesma e de seu papel em sociedade.

Contudo vemos que cada etapa tem sua particularidade e suas expectativas de aprendizagem em relação a esse processo, que os aspectos cognitivos sob a ótica de Piaget são um ponto significativo a ser analisado para se estabelecer um paralelo entre criança e o meio em que vive.

No processo de aquisição da leitura e da escrita vemos diversificados níveis de hipótese de escrita. Todavia, a disparidade entre a criança alfabetizada e letrada propõe um processo de ensino-aprendizagem que seja significativo e incentive o aluno ao aprendizado, para que ele não apenas domine a leitura e a escrita, mas desfrute de um conhecimento que possibilite estabelecer vivências sociais.

Entretanto vemos que o universo literário é uma fonte riquíssima de aprendizado, que além de proporcionar o desenvolvimento da leitura e da escrita também desenvolve outros aspectos importante para a criança como a imaginação, o raciocínio e resolução de problemas.

Além de que vemos que é uma excelente abordagem para aproximação com o âmbito familiar, uma vez que em uma abordagem diferente através da literacia familiar e das tarefas para casa.

Neste contexto diferentes abordagens podem ser utilizadas de forma que a criança desenvolva cognitivamente sua capacidade de leitura e escrita ampliando seu repertório e agregando ao universo cultural.

As crianças absorvem aquilo que lhe é ensinado, não apenas por palavras, mas também pelo que ela vivência em todos os seus dias. Não lhe basta apenas lhe dar asas, precisamos ensiná-las a voarem sozinhas. A leitura e escrita são apenas uma pequena parte dessa grande jornada.

 

 

REFERÊNCIAS

 

BETTELHEIM, Bruno. Psicanálise dos contos de fadas. Tradução: Arlene Caetano. 1ª ed. – Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2021.

 

BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, 1996. Disponível em:

<http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/lei9394_ldbn1.pdf>. Acesso em: 17.ago.2019

 

BRASIL. Lei n° 12.796, de 4 de abril de 2013. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2013/lei/l12796.htm. Acesso em: 17.ago.2019.

 

BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Alfabetização. Conta pra Mim: Guia de Literacia Familiar. - Brasília: MEC, SEALF, 2019.

 

BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Alfabetização. Chapeuzinho Vermelho [recurso eletrônico]. Brasília, DF : MEC/Sealf, 2020. 16 p. : il. ; PDF ; 15,2 MB. – (Coleção Conta pra Mim) Disponível em: https://alfabetizacao.mec.gov.br/images/conta-pra-mim/livros/versao_digital/chapeuzinho_vermelho_versao_digital.pdf. Acesso em: 14.set.2025.

 

CAVICCHIA, Durlei de Carvalho. O Desenvolvimento da Criança nos Primeiros Anos de Vida. UNESP, 2010. Disponível em: https://acervodigital.unesp.br/bitstream/123456789/224/1/01d11t01.pdf. Acesso em: 17.ago.2019

 

COLELLO, Silvia M. Gasparian. Dimensões do Ler e Escrever na Revisão dos Paradigmas Escolares. CEMOrOC-Feusp / IJI-Universidade do Porto, Notandum: 2010. Disponível em: https://drive.google.com/file/d/0B1brTUvg_HH- VVVkOV8zNE84c2M/preview. Acesso em: 17.ago.2019.

 

FERREIRO, Emília. Reflexões sobre alfabetização. 26.ed. São Paulo: Cortez, 2011.

 

LIBÂNEO, José Carlos. Didática. 2. Ed. – São Paulo: Cortez, 2013.

 

MENDONÇA, Onaide Schwartz; MENDONÇA, Olympio Correa de. Psicogênese da Língua Escrita: contribuições, equívocos e consequências para a alfabetização. In: UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA. Pró-Reitoria de Graduação. Caderno de formação: formação de professores: Bloco 02: Didática dos conteúdos. São Paulo: Cultura Acadêmica, 2011. v. 2. p. 36-57. (D16 - Conteúdo e Didática de Alfabetização). Disponível em:

<http://acervodigital.unesp.br/handle/123456789/40138>. Acesso em: 17.ago.2019

 

RIOS, Zóe; LIBÂNIO, Márcia. Da escola para casa: alfabetização. Belo Horizonte: RHJ, 2009.

 

ROCHA, Ruth. Marcelo, marmelo, martelo e outras histórias. Rio de Janeiro: Editora Salamandra, 1976.

 

SANCHES, Emília Cipriano. Saberes e afetos do ser professor. São Paulo: Cortez, 2019.

 

SANTOS, Fábio C. dos; MORAES, Fabiano. Alfabetizar letrando com a literatura infantil. 1. ed. São Paulo: Cortez, 2013.

 

SAUSSARE, Ferdinand. Curso de linguística geral / Ferdinand de Saussure; organizado por Charles Baliy, Albert Sechehaye; com a colaboração de Albert Riedlinger; prefácio da edição brasileira Isaac Nicoiau Salum; tradução de Antônio Chelini, José Paulo Paes, Izidoro Blikstein. --27. Ed. São Paulo: Cultrix, 2006.

 

SCHIRMER, Carolina R.; FONTOURA, Denise R.; NUNES, Magda L. Distúrbios da aquisição da linguagem e da aprendizagem. J. Pediatr. (Rio J.), Porto Alegre, v. 80, n. 2, supl. p. 95-103, Apr. 2004. Available from

<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S002175572004000300012& lng=en&nrm=iso>. Access on 17 Aug. 2019. http://dx.doi.org/10.1590/S0021- 75572004000300012

 

SOARES, Magda. Letramento e alfabetização: as muitas facetas. Revista Brasileira de Educação. n. 25, p. 5-17, jan./abr. 2004.

 

 

 

 

A Psicologia da Educação e sua contribuição para o processo educativo

Renata de Almeida

 

 

DOI: 10.5281/zenodo.15851721

 

 

Resumo

A Psicologia da Educação é uma subárea da Psicologia que se dedica à produção de saberes sobre os fenômenos psicológicos envolvidos no processo educativo. Este artigo apresenta uma análise introdutória sobre o papel da Psicologia da Educação no contexto escolar, abordando desde os mecanismos de aprendizagem até a organização das instituições educacionais. Também são discutidas as contribuições de estudiosos como Jean Piaget, cuja obra influencia até hoje o entendimento das fases do desenvolvimento humano. Ao compreender as relações entre desenvolvimento, aprendizagem e ambiente escolar, este campo oferece suporte teórico e prático para a melhoria das práticas pedagógicas.

 

Palavras-chave: Psicologia da Educação; Aprendizagem; Desenvolvimento; Escola; Jean Piaget.

 

 

Introdução

 

A educação é um dos pilares da sociedade, responsável por transmitir conhecimentos, valores e habilidades essenciais para a formação dos indivíduos. A Psicologia da Educação surge como uma subárea da Psicologia que busca compreender e intervir nos processos de ensino e aprendizagem, considerando os aspectos cognitivos, emocionais e sociais que os compõem. Seu foco é analisar como os sujeitos aprendem e se desenvolvem, bem como avaliar a eficácia das estratégias educacionais utilizadas no ambiente escolar.

 

 

Desenvolvimento

 

A Psicologia da Educação dedica-se à produção de saberes sobre os fenômenos psicológicos envolvidos na prática educativa. Esse campo engloba desde os mecanismos de aprendizagem em crianças e adultos, com base na Psicologia do Desenvolvimento, até o estudo da eficácia de estratégias pedagógicas e o funcionamento institucional da escola como organização social. Dessa forma, ela oferece fundamentos para compreender as dificuldades de aprendizagem, propor metodologias adequadas e melhorar o desempenho educacional.

 

Histórico e Aplicações Práticas

Nos Estados Unidos, o primeiro e mais importante laboratório de Psicologia Educacional foi fundado em 1894, na Universidade de Chicago, representando um marco histórico na sistematização desse saber. Desde então, psicólogos e pedagogos passaram a atuar de maneira mais integrada nas escolas, observando o comportamento dos alunos e propondo medidas que respeitem seu desenvolvimento. A escola, nesse cenário, torna-se também um espaço de observação e intervenção psicológica.

 

Jean Piaget e as Contribuições ao Campo

Entre os principais teóricos da área, destaca-se o biólogo e psicólogo suíço Jean Piaget, cuja obra influenciou profundamente a compreensão do desenvolvimento humano. Em sua obra Desenvolvimento e Aprendizagem, publicada em 1972, Piaget estabelece uma diferenciação entre esses dois conceitos e define as fases do desenvolvimento infantil, destacando as características comuns a cada etapa. Sua teoria construtivista mostra como as crianças constroem o conhecimento por meio da interação com o meio, o que tem implicações diretas na forma de ensinar.

 

A Psicologia da Educação na Prática Escolar

Na prática, a Psicologia da Educação contribui para o aprimoramento das estratégias de ensino, ajudando os educadores a compreenderem as necessidades específicas de seus alunos. Ela também fundamenta políticas de inclusão, intervenções psicopedagógicas e ações voltadas à promoção do bem-estar no ambiente escolar. Assim, cada escola assume a responsabilidade de desenvolver regras disciplinares próprias, observando o desenvolvimento emocional e social dos estudantes.

 

 

Conclusão

 

A Psicologia da Educação desempenha um papel crucial na formação de práticas pedagógicas mais eficazes, humanas e coerentes com o desenvolvimento dos alunos. Ao articular teoria e prática, esse campo do saber contribui para o aperfeiçoamento das instituições escolares e para a formação integral dos indivíduos. Com base em estudos como os de Jean Piaget, é possível compreender as diferentes fases do desenvolvimento e adaptar o processo de ensino às necessidades de cada faixa etária. O diálogo entre Psicologia e Educação deve, portanto, ser contínuo e aprofundado.

 

 

Referências

 

PIAGET, Jean. Desenvolvimento e aprendizagem. 2. ed. São Paulo: Moraes, 1972.

 

COLL, César; MARCHESI, Álvaro; PALACIOS, Jesús. Desenvolvimento psicológico e educação: Psicologia da educação. Porto Alegre: Artmed, 2004.

 

AUSUBEL, David Paul; NOVAK, Joseph Donald; HANESIAN, Helen. Psicologia educacional. 2. ed. Rio de Janeiro: Interamericana, 1980.

 

LIBÂNEO, José Carlos. Didática. 26. ed. São Paulo: Cortez, 2006.

 

VYGOTSKY, Lev S. A formação social da mente: o desenvolvimento dos processos psicológicos superiores. São Paulo: Martins Fontes, 2007.

 

 

 

 

A ludicidade na Educação Infantil

Danieli Granzoto Cruz Equidone
Kerlis Barbiero
Jakeline Pereira Lima
Érica Regina Caetana Barbosa
Ivone Henrique Soares
Gislaine Lima Palhoto
Ana Rubia Karasiaki Cruz
Elza Bernardo
Andressa Mayara de Souza Gazin Barrionuevo

 

DOI: 10.5281/zenodo.15801656

 

 

RESUMO

Brincadeiras e jogos devem ser utilizados em sala de aula como ferramentas pedagógicas para auxiliar no processo de aprendizagem das crianças. Muitas vezes, elas aprendem mais por meio de atividades lúdicas do que apenas copiando conteúdos do quadro, uma vez que a ludicidade estimula os sentidos, a coordenação motora, a lateralidade, a autoestima, a socialização e, principalmente, potencializa o aprendizado. Cabe ao professor buscar constantemente formas e estratégias que contribuam para a formação integral dos alunos, refletindo sobre sua prática pedagógica e promovendo atividades lúdicas que permitam ao estudante aprender enquanto se diverte. Aprender brincando é uma forma eficaz de tornar o ensino mais significativo e prazeroso.

 

Palavras-chave: Ludicidade. Crianças. Brincar. Aprender.

 

 

INTRODUÇÃO

 

A ludicidade está presente em todas as atividades que despertam prazer e interesse nas crianças. De acordo com Santos (2002), trata-se de uma necessidade do ser humano em qualquer fase da vida. Quando inserida no contexto educacional, torna o aprendizado mais fácil, prazeroso e significativo, aumentando o interesse e o entusiasmo dos alunos pelo conhecimento.

Na área da pedagogia, a ludicidade manifesta-se por meio do desenvolvimento da criatividade e da construção do saber através de jogos, músicas, danças e outras expressões culturais. Vale destacar que o lúdico não é uma invenção da Pedagogia, tampouco se restringe a ela. Ao brincar, as crianças se abrem a um ambiente propício ao seu desenvolvimento físico, cognitivo e emocional.

Este trabalho tem como principal objetivo realizar uma pesquisa bibliográfica sobre a ludicidade na Educação Infantil, investigando como ela é trabalhada, se de fato está presente nas práticas pedagógicas, de que forma o professor a elabora, e quais são as dificuldades enfrentadas em sua aplicação no cotidiano escolar.

 

 

LUDICO: CONCEITO E HISTÓRIA

 

Atualmente a ludicidade está presente no cotidiano escolar de nossas crianças e isso vem favorecendo ainda mais nas concepções psicológicas e pedagógicas, pois a mesma ajuda a vivenciar fatos e experiências e a favorecer as cognições existentes na vida das crianças.

O lúdico não é só um brincar aleatório, mais sim um brincar consciente, e principalmente planejado, pois as nossas crianças merecem um planejamento adequada para o seu desenvolvimento.

O desenvolvimento deste trabalho será feito através de pesquisas bibliográficas, sempre buscando conhecimentos e métodos para se trabalhar com os alunos, tendo como foco principal a sua importância no desenvolvimento infantil tanto no aspecto físico, psíquico, cognitivo e social do aluno.

A Educação infantil corresponde à educação ministrada desde o nascimento até os 6 anos, aproximadamente. Considerada indispensável, ela oferece os fundamentos do desenvolvimento da criança num aspecto físico, psíquico, cognitivo e social e a melhor forma para se trabalhar tudo isso com o aluno é através da ludicidade. Segundo Freire (2006)

P Pois a ludicidade ajuda no desenvolvimento da criança com prazer, diversão e conhecimentos específicos.

“Ludicidade são atividades de caráter livre, para que uma brincadeira seja considerada lúdica ela deve ser de escolha da criança participar ou não dela (HUIZINGA, 1996; BROUGÈRE 2010)”. Alguns exemplos dessa atividades são, pula- pula, cantar, dançar, pega-pega, brincadeiras de rodas, etc. sendo estas livres ou dirigidas pelo pedagogo.

O dia-a-dia do professor em sala de aula deve, ou pelo menos deverá estar inserida a ludicidade, sendo esta a atividade principal na educação infantil pois é brincando que se aprende, é esse brincar consciente, chama se ludicidade. Porém brincar com respeito, igualdade, e com atividades que tenha conteúdo para nossas crianças, trabalhando assim o seu desenvolvimento cognitivo e psicomotor.

A ludicidade não se define apenas em jogos, brincadeiras e brinquedos, ela está relacionada a toda atividade livre e prazerosa, podendo ser realizada em grupo ou individual pelo aluno. Sendo parte fundamental e essencial em sua vida.

Brincar, segundo o dicionário Aurélio (2003), é "divertir-se, recrear-se, entreter-se, distrair-se, folgar", também pode ser "entreter-se com jogos infantis", ou seja, brincar é algo muito presente nas nossas vidas, sendo este em todas em etapas, desde o nosso nascimento.

Ser criança é considera-se uma fase para brincadeiras, descobertas do mundo e aprendizagem para o desenvolvimento, juntamente com à segurança, à alimentação de qualidade, à educação e à saúde, sendo que os seus direitos devem ser todos respeitados porém temos em nosso pais hoje a diversidade social e econômicas, que estão presentes em nossa realidade e que muitas das vezes impedem que nossas crianças tenham uma vida melhor, com respeito e dignidade.

As brincadeiras e o jogos, o lúdico em si não é apenas um passa tempo em sala de aula, mais sim uma ferramenta muito importante que serve para despertar na criança a imaginação, autoconfiança, afetividade, socialização, e principalmente o contexto de regras e deveres, este que serão inseridos dia a dia em sala de aula com as professoras e os colegas. O professor tem como dever proporcionar essa socialização aos alunos, incentivando- os na divisão, e cooperação que acontecem nos jogos e brincadeiras. Segundo MOYLES, 2002, p. 106. “Para brincar de modo efetivo, as crianças precisam de companheiros de brincadeiras, materiais, áreas, oportunidade, espaço, tempo, entre outros”. E no cotidiano escolar que o aluno terá essa capacidade ainda mais aflorada, devido aos colegas, ao espaço, e ao pedagogo que deve auxiliar neste processo.

Para confirma ainda mais esse estudo Fortuna (2003) afirma que, “é importante que o educador insira o brincar em um projeto educativo, com objetivos e metodologia definidos, o que supõe ter consciência da importância de sua ação em relação ao desenvolvimento e à aprendizagem das crianças”.

 

 

LÚDICO E BRINCADEIRA

 

Os jogos e brinquedos acompanham a humanidade desde seus primórdios. Embora, em épocas passadas, não tivessem a conotação que possuem hoje, eram frequentemente considerados fúteis, tendo como único propósito a distração e a recreação.

Com o passar do tempo, os jogos e brinquedos adquiriram novas dimensões, consolidando-se como instrumentos fundamentais para o desenvolvimento infantil. Dessa forma, abriram-se amplos campos para estudos e pesquisas, chegando-se ao consenso sobre a importância do lúdico na vida das crianças.

É por meio do lúdico e das brincadeiras que a criança constrói seu conhecimento, expressa suas emoções e cria seu próprio mundo de fantasia, interagindo com outras crianças. Nesse processo, elas desenvolvem suas capacidades corporais, a coordenação motora e cultivam um espírito de competição saudável. Os profissionais da educação devem intervir apenas em situações de conflito, auxiliando as crianças a combinar e cumprir regras, favorecendo o desenvolvimento de atitudes de respeito e cooperação durante os jogos e brincadeiras lúdicas.

Não há dúvidas de que os jogos didáticos e as brincadeiras promovem o desenvolvimento infantil, além de proporcionar recreação e aprendizagem espontânea. Cabe aos professores evitar enfatizar apenas o aspecto competitivo, lembrando que a competição deve sempre incentivar o respeito mútuo entre os colegas, sobretudo quando presente a ideia de competição.

Partindo da ideia de que o jogo é uma necessidade para a criança, constatamos que o tempo para ela brincar tem se tornado cada vez mais escasso tanto dentro, como fora da escola. Pois o que organizamos com as crianças entre o horário de chegada e o de ir embora se define por si mesmo. Para que esse tempo não continue escasso, se fazem necessárias as formas de organização dos tempos, dos espaços, dos materiais, dos procedimentos durante situações específicas, enfim, a programação do dia-a-dia é definida a partir das decisões dos adultos, as quais devem ser encaminhadas considerando os anseios, as manifestações e as necessidades das crianças, sendo que elas têm direito de escolha e de serem respeitadas em suas preferências individuais, garantindo que todas sejam ouvidas, escutando com atenção suas explicações, respeitando a estética nas produções, as expressões de seus sentimentos, pensamentos e emoções.

Sendo assim, reconhecemos que a criança desde que nasce é capaz de agir, interagir, de produzir cultura e de ser sujeito de direitos e deveres.

Para Piaget (1971). Tradução de Álvaro Cabral. Rio de Janeiro. 1971, “quando brinca, a criança assimila o mundo a sua maneira, sem compromisso com a realidade, pois sua interação com o objeto não depende da natureza do objeto, mas da função que a criança lhe atribui”.

Sua concepção teórica parte do princípio de que o desenvolvimento da inteligência de uma criança é determinado pelas ações mútuas entre o indivíduo e suas ações.

Muitas brincadeiras tradicionais estão saindo do cotidiano das crianças, como por exemplo, as brincadeiras de roda, isso vem acontecendo mais no meio urbano do que no meio rural. Algumas hipóteses são de que o espaço das cidades vem diminuindo cada vez mais, o isolamento da criança frente à televisão e a presença dos brinquedos eletrônicos, que estão presentes em todos os níveis sociais, fazendo com que esses costumes se percam com o passar dos tempos e até mesmo a falta de tempo dos pais, para com os filhos, fazem com que essas brincadeiras tradicionais se distanciem cada vez mais da vida das crianças. Como podemos perceber, os brinquedos perderam o significado lúdico, virando assim, mercadoria.

 

“Nenhuma criança brinca só para passar o tempo, sua escolha é motivada por processos íntimos, desejos, problemas, ansiedades. O que está acontecendo com a mente da criança determina suas atividades lúdicas; brincar é sua linguagem secreta, que devemos respeitar mesmo se não a entendemos.” (GARDNEI apud FERREIRA; MISSE; BONADIO, 2004)

 

Ao refletirmos sobre esse assunto, notamos que um dos principais objetivos da brincadeira é fazer com que as crianças sejam capazes de utilizar diferentes fontes de informações e recursos tecnológicos desde o mais simples ao mais sofisticado.

Vejamos o que nos traz Pacheco a respeito das brincadeiras ou jogos: É por meio dessa magia, desse fantástico que a criança elabora suas perdas, materializa seus desejos, compartilha sua vida, anima, muda de tamanho, liberta-se da gravidade fica invisível e assim comanda o universo por meio de sua onipotência. (PACHECO, 1998, p. 34).

Atualmente já se busca a presença de atividades lúdicas na vida das crianças, até mesmo dentro das escolas, mas sabemos que a introdução do lúdico no cotidiano da criança contribui para que ela tenha atitude, enfrente desafios e lance-se na busca de soluções, críticas, intuições, criação de estratégias e possibilidades de alteração se o resultado não é satisfatório para si mesmo ou para o grupo.

As brincadeiras se manifestam na vida da criança em todos os lugares, inclusive na escola que é onde a criança mais viaja na imaginação, assim colocando em prática, a escola auxilia o educando nas suas ações, buscando nessas brincadeiras que lhe proporciona prazer o desenvolvimento na aprendizagem da criança.

Sabemos que cada brincadeira ou brinquedo utilizado pela criança esconde-se uma relação educativa. Ao criar seu próprio brinquedo, um exemplo é o quebra-cabeça que é um brinquedo que a criança, ao construir, desenvolve habilidades e criatividades, além de proporcionar satisfação, como podemos também observar essa satisfação ao brincar com brinquedos como cabo de vassoura que passa a ser cavalo de pau, além do prazer, a criança ao brincar se expressa no mundo em que vive criando ou recriando novas experiências e, desta forma, adquirindo conhecimento.

Segundo Piaget (1971) a brincadeira ou atividade lúdica é o berço obrigatório das atividades intelectuais da criança. Não é apenas uma forma de desafogo ou entretenimento para gastar energia da criança, são meios que contribuem e enriquecem o desenvolvimento intelectual.

 

 

A IMPORTÂNCIA DO LÚDICO NA EDUCAÇÃO INFANTIL

 

O professor pode elaborar seu planejamento pedagógico incorporando o lúdico por meio de jogos, brincadeiras e brinquedos. Para que essa abordagem seja eficaz, é fundamental considerar a vivência, o sentido e a percepção, selecionando cuidadosamente as situações relevantes dentro da sala de aula que possam contribuir para o processo de aprendizagem e o desenvolvimento integral da criança.

O lúdico — representado por brincadeiras, jogos e brinquedos — é indispensável na Educação Infantil, pois são atividades essenciais que promovem benefícios nos aspectos físico, intelectual e social. Ao brincar, a criança desenvolve sua personalidade, autonomia e habilidades de socialização por meio da interação e da experiência com regras que regulam a convivência em sociedade.

Reconhecer o lúdico durante os processos de ensino-aprendizagem significa valorizá-lo nas interpretações e vivências das crianças, entendendo-o como algo natural e instintivo no ambiente escolar. Isso permite que elas sonhem, fantasiem, realizem desejos e vivam plenamente sua infância.

Vygotsky (1991) destaca que a brincadeira possui três características fundamentais: a imitação, a regra e a imaginação, presentes em todas as suas formas, sejam elas de faz-de-conta, tradicionais ou outras manifestações lúdicas.

 

A evolução semântica da palavra "lúdico", entretanto, não parou apenas nas suas origens e acompanhou as pesquisas de Psicomotricidade. O lúdico passou a ser reconhecido como traço essencial de psicofisiologia do comportamento humano. De modo que 102 Revista online De Magistério de Filosofia, Ano X, no. 21, 1º. Semestre de 2017 a definição deixou de ser o simples sinônimo de jogo. As implicações da necessidade lúdica extrapolaram as demarcações do brincar espontâneo (ALMEIDA, 2009, p.1).

 

Almeida (2009) destaca que a atividade lúdica envolve, principalmente, o entretenimento, em que o foco não está apenas no resultado, mas no divertimento, prazer, alegria e na interação entre os participantes. Nesses momentos em que o lúdico está presente, são estimulados a criatividade e diversos conhecimentos, abrangendo jogos, brinquedos, brincadeiras, músicas, danças e manifestações artísticas.

Quando utilizado de forma adequada, o lúdico proporciona um vasto campo de aprendizado, pois, por meio das brincadeiras, a criança manifesta grande interesse e, muitas vezes sem perceber, participa de um processo contínuo de troca e construção de conhecimento.

Kishimoto (2010) enfatiza as expressões das crianças e afirma:

 

Ao brincar, a criança experimenta o poder de explorar o mundo dos objetos, das pessoas, da natureza e da cultura, para compreendê-lo e expressá-lo por meio de variadas linguagens. Mas é no plano da imaginação que o brincar se destaca pela mobilização dos significados. Enfim, sua importância se relaciona com a cultura da infância, que coloca a brincadeira como ferramenta para a criança se expressar, aprender e se desenvolver (p.01).

 

Em uma perspectiva interdisciplinar vários autores enfatizaram a importância do ato de brincar no desenvolvimento do indivíduo, do ponto de vista cultural. Segundo eles é por meio da brincadeira, que a criança aprende a se conhecer e atuar no mundo que a rodeia. No campo da psicologia, destaca–se a obra de Vygotsky que afirma:

 

“No brinquedo, a criança sempre se comporta além do comportamento habitual de sua idade, além de seu comportamento diário; no brinquedo é como se ela fosse maior do que a realidade. Como foco de uma lente de aumento, o brinquedo contém todas as tendências do desenvolvimento sob forma condensada, sendo ele mesmo, uma grande fonte de desenvolvimento. (1984, p. 117)

 

No brinquedo a criança faz uso da imaginação, transportando-se para um mundo de fantasia, desvendando uma atitude própria do mundo infantil, e estimulando a sua criatividade interior.

 

 

CONCLUSÃO

 

A infância é uma fase marcante na vida dos seres humanos, e o brincar é fundamental, não devendo ser negligenciado em favor de aparelhos eletrônicos como televisão, tablets ou celulares. Esses dispositivos, embora presentes no cotidiano, não são responsáveis pelo desenvolvimento integral da criança. Ao contrário, o brincar estimula o organismo, a criatividade, a cooperação, a lateralidade, a coordenação motora e contribui para a evolução global da criança.

O lúdico — representado por brincadeiras, jogos e brinquedos — é indispensável na Educação Infantil, pois são atividades essenciais que promovem benefícios nos aspectos físico, intelectual e social. Ao brincar, a criança desenvolve sua personalidade, autonomia e habilidades de socialização por meio da interação e do contato com regras que regem a convivência em sociedade.

Estudos e relatos de professores indicam que a ludicidade na prática pedagógica contribui de forma mais eficaz para o aprendizado dos alunos do que o simples ato mecânico de copiar conteúdos no caderno. Quando o conteúdo é trabalhado juntamente com atividades lúdicas, o aprendizado é mais significativo, pois o estímulo ao brincar torna o processo educacional mais prazeroso e envolvente.

Conclua, especificando o que foi mais importante no desenvolvimento do seu trabalho.

 

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

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FORTUNA, T. R. Jogo em aula: recurso permite repensar as relações de ensino-aprendizagem. Revista do Professor, Porto Alegre, v. 19, n. 75, p. 15-19, jul./set. 2003.

 

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KISHIMOTO, Tizuco Morchida. Brinquedos e brincadeiras na educação infantil. V. 2, 2010. acessado https://home.unicruz.edu.br/mercosul/pagina/anais/2018/3%20-Mostra%20de%20Trabalhos%20da%20Gradua%C3%A7%C3%A3o%20e%20P%C3%B3s-Gradua%C3%A7%C3%A3o/Trabalhos%20Completos/DESENVOLVIMENTO%20DA%20LUDICIDADE%20NAS%20AULAS%20DE%20EDUCA%C3%87%C3%83O%20INFANTIL%20-%20UM%20ESTUDO%20BIBLIGR%C3%81FICO.pdf

 

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PIAGET, Jean. A Epistemologia Genética. Tradução de Nathanael C. Caixeira. Petrópolis: Vozes, 1971. 110p.

 

PIAGET, J. A formação do símbolo na criança: imitação, jogo e sonho, imagem e representação. Trad. Álvaro Cabral. Rio de Janeiro: Zahar, 1971.

 

PRADO, Laryssa Moreira. Primeiros Desenhos Animados nos Estados Unidos e no Brasil: Empoderamento Espectatorial e Feminino. 40º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação. Curitiba, 2017.

 

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VYGOTSKY, Lev. S. A Formação Social da Mente. 4ª ed. São Paulo: Martins Fontes Editora Ltda, 1991.  Acessado em https://www.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/educacao/importancia-do-ludico-na-educacao-infantil-contribuicao-para-a-pratica-docente/18913

 

55ª ed. | Volume 11 | Número 10 | dezembro/2024
Registro do artigo: 55102429
DOI: 10.5281/zenodo.14560285
Título do artigo: Pedagogia, Psicologia, Psicopedagogia e Neurociência: Caminhos que Possibilitam o Êxito na Educação
Número de laudas: 16
Autoria:
Ana Sarah de Souza Soares
Andresa Roberta Irano
Bruna Fernanda Norberto da Cruz Silva
Dóris Nascimento Almeida Martins
Francisca de Sousa Ferreira Pimentel
Rosânia de Oliveira Silva Sousa
Simone Lopes Damaceno
João Soares dos Santos

Sinop, 24 de dezembro de 2024