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A INFLUÊNCIA DO COTIDIANO ESCOLAR E A IMPORTÂNCIA DA FORMAÇÃO CONTINUADA: APRENDER COM A EXPERIÊNCIA RELATADA

Amanda Nádia Vulpini

 

 

INTRODUÇÃO

 

A educação é um tema muito discutido na sociedade. Através da educação são transmitidos conhecimentos e valores sociais. A sociedade globalizada tem acesso a todo tipo de informação, e o professor, juntamente com a equipe escolar, passa a desempenhar a função de adaptação a esse novo modo de ensinar. Porém, é necessário investir na formação do professor, para prepará-lo aos novos tempos, portanto, há um questionamento: como a sociedade globalizada influência na formação do professor?

A Lei n. 9394, de 20 de setembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, garante que o ensino será realizado por um professor com formação adequada.

Além dessa formação, é necessário saber quais são as competências dos professores, seus saberes e sua utilização prática. Muitos dos professores aprende a docência depois de ministrar aulas. O dia-a-dia numa escola, suas normas e políticas influenciam e vão moldando os professores. (TESSARIM, 2016).

Vários autores relacionam o cotidiano escolar e a sua implicação na formação dos professores, portanto, este artigo busca sintetizar vários trabalhos e artigos que abordam esse tema e, assim, tentar evidenciar algumas características que são fundamentais para a formação de novos professores, trazendo experiências e experimentos de sala de aula.

 

Contextualização teórica

 

Dassoler e Lima (2012) apresenta uma contextualização histórica do ensino em seu trabalho intitulado A formação e a profissionalização docente: Característica, ousadia e saberes. Para Dassoler e Lima (2012), o ensino no Brasil começou enciclopédico e vigorou por mais de 300 anos, sendo o professor um transmissor de conhecimentos. A partir dos anos 30, surge a Escola nova onde o professor apenas facilita o processo de ensino e aprendizagem. Nos anos 60 é inserido um modelo baseado nas diretrizes norte americana, uma escola tecnicista que visava o ensino através de materiais disponíveis como manuais, livros didáticos e outros recursos, onde o professor passa o conteúdo e o aluno aprende sem questionamentos, sem diálogo. Esse ensino visava atender as expectativas do mercado de trabalho, através de informações rápidas e objetivas.

Nos anos 90 surge a Escola Crítica, onde o professor passa a ter mais interação e participação na aprendizagem do aluno. No século XXI, com a introdução de novas tecnologias, o professor precisa se adaptar e torna-se uma peça fundamental do ensino, e sua formação é analisada e voltada para atender as novas demandas da sociedade. (DASSOLER; LIMA, 2012)

Dassoler e Lima (2012) abre um debate e verifica que a formação do professor é um processo crescente e contínuo, que começa nos conhecimentos adquiridos pelo professor e que vai se profissionalizando através da prática cotidiana. O professor passa a fazer parte da comunidade e necessita ter essa visão da importância da instituição na qual trabalha, e assim construir novos conhecimentos visando a continuidade da educação e do meio escolar. Nesse sentido:

 

Na formação de professores e professoras, faz-se necessário apreender os “velhos” sentidos e, em especial, a sua movimentação no dia a dia do processo de formação, para podermos derivar num “novo” sentido. É a partir das características dos sujeitos concretos que se pode repensar os conteúdos e as práticas que possam atender às necessidades, interesses e valores de todos. (MARQUES, 2010, P.11).

 

O papel do professor mudou ao longo da história e teve influências da sociedade, nesse aspecto, complementando o trabalho de Dassoler e Lima (2012), menciona-se o trabalho de Padilha Et al (2012) intitulado Cotidiano, ética e formação de professores: algumas aproximações.

A sociedade interfere na educação por ela ser centrada no homem, que é, por natureza, social. A formação do professor é essencial para a definição de uma prática pedagógica voltada para a educação contemporânea (Padilha Et al, 2012). Atualmente Padilha define o trabalho pedagógico como:

 

Assim sendo, poder-se-á avaliar que o trabalho pedagógico da escola pode ser entendido como um reflexo da sociedade capitalista contemporânea, produzindo a mesma alienação que as relações de trabalho imprimem no ser humano: fragmentação do saber, ausência de reflexão, linguagem não crítica, entre outras. O cotidiano escolar privilegia muitas vezes, práticas que contradizem a formação do homem integral, privilegiando o sentido do ter em detrimento dos sentidos do ser, querer, pensar, refletir, amar. p. 4.

 

O professor é parte importante na reformulação da prática pedagógica, que se dá através do compartilhamento das suas experiências, da criação de novas rotinas e novas formas de ensino.

 

Contextualizações empíricas

 

Gomes (2012) em seu trabalho intitulado A formação de professores e intervenção pedagógica nas práticas de avaliação discute experiências de formação que foram vivenciadas pelos professores no dia a dia. A pesquisa se deu em duas escolas com professores da segunda fase do ensino fundamental brasileiro, onde os professores sinalizaram que gostariam de melhorar os resultados "da prática de ensino", e implicitamente, apontaram querer novas alternativas para o ensino. Foi observado também que os professores trabalhavam muito em grupos, assim compartilhavam ideias e possibilidades para a melhoria do ensino. Esse trabalho coletivo também trouxe confiança interna, facilitando os processos e melhorando a capacitação dos professores,

 

Coerentes com essa proposta, a formação no cotidiano do trabalho aparece como um procedimento de transformação, se for assumido como desejo dos professores. E, assim, contribui para o professor refletir sua prática de avaliação e acompanhar a busca coletiva de soluções para inúmeros desafios. (GOMES, 2012p. 8).

 

Outro ponto analisado era as estratégias utilizadas pelos professores a fim de evitar o "fracasso escolar", destacando a troca de experiências, enfatizando a solução encontrada por professores em situações problema. Desta forma era avaliados os casos para tentar avançar no processo de ensino como um todo.(GOMES, 2012)

 

Como atestam esses depoimentos, os saberes profissionais dos professores revelam-se, portanto, múltiplos e heterogêneos, pois trazem à tona, no próprio exercício do trabalho, conhecimentos e manifestações do saber-fazer e do saber-ser bastante diversificados, provenientes de fontes variadas. Vários autores tentaram ordenar essa diversidade, propondo classificações ou tipologias relativas ao saberes dos professores: Gauthier (1998) e Tardif (2002). (GOMES, 2012, p.10).

 

Para Gomes (2012) existe a necessidade de formação continuada na prática, e que esse processo deve partir dos próprios professores, fazendo uma avaliação sobre os seus conhecimentos, suas ações e através da troca de informações e experiências, já que as necessidades de cada um e o sistema de ensino é um conjunto complexo que requer a cooperação de todos.

Assim como Gomes (2012), Stano (2017) considera que a formação continuada é uma necessidade para preparar e orientar os professores durante o seu cotidiano de atividades práticas escolares. Stano (2017) realizou uma pesquisa com 30 professores licenciados, evidenciando alguns pontos sobre o cotidiano escolar na formação de um docente, cujo trabalho é intitulado A pesquisa do cotidiano escolar pelas trilhas da formação docente: uma articulação universidade-escola. Para ele é na escola que devem ser questionadas as práticas de ensino pois,

 

É no espaço escolar, no exercício da docência, que ocorre o enfrentamento da teoria, por meio de uma prática que é maior que toda teorização acerca do processo educativo e de seus elementos constituintes. A escola, operando duas racionalidades, a teórica e a prática, apresenta-se, então, como lugar que articula, bem ou mal, adequada ou inadequadamente, os modos de pensar e os modos de fazer, entre o que se prescreve e se define e o que se faz e concretiza (porque movimento encarnado, contextualizado e materializado em ações). É neste lugar que a formação na docência define sua continuidade e seu aperfeiçoamento, tanto para os que dentro dela estão quanto para os que de fora a olham e a indagam (pesquisadores e avaliadores). (STANO, 2017, p. 532-533).

 

O espaço escolar envolve escolas e universidades que tendem a estabelecer rotinas no seu dia a dia, e a descontinuidade através da interlocução escola-universidade promove a formação e o modo de exercer a profissão, que é pessoal. É importante buscar novas informações que auxiliem a compreensão do que se estuda e ensina; a utilização de fatores emocionais, sentimentos e ou vocações que auxiliem de forma prática a compreensão das teorias; compartilhamento de práticas educativas entre professores do ensino superior e do ensino básico e projetos que possuem um tema em comum unindo alunos da educação básica e da educação superior. (STANO, 2017)

A relação universidade-escola permite que se obtenha um olhar mais investigativo sobre as práticas docentes; consciência dos erros com possibilidade real de readequação das ações e atividades; construção de um pensamento coletivo que vai além do seu próprio grupo; sistematização através de anotações diárias sobre as aulas; melhor posicionamento na resolução de conflitos através de mais argumentos e obtenção de uma postura ética através de criação de um processo de decisão (STANO, 2017).

Para Stano (2017), considerar o cotidiano escolar como formação continuada, permite as descontinuidades, ou seja, promove comunicação entre mais profissionais da educação permitindo o compartilhamento de experiências, construindo novas parcerias e provocando reflexões sobre o ensino básico e superior.

A dinâmica escolar envolve relações interpessoais entre funcionários, corpo docente e alunos que interfere na vida de todos os envolvidos. Buscando analisar a relação professor e aluno e como ocorre a aprendizagem, Lopes (2008) realizou uma pesquisa com professores de uma escola do ensino básico através de um questionário, levantando alguns aspectos dessa relação.

Foi questionado sobre o desinteresse dos alunos, o respeito com colegas e professores, falta de material, falta de autoestima dos alunos, baixo desempenho. Para tentar resolver essas situações as soluções apontadas foram: conversas com os alunos, solicitação da presença dos pais, encaminhamento para a coordenação da escola e leituras para reflexão dos alunos. (LOPES, 2008)

Sobre as tentativas de aumentar o interesse dos alunos, foi obtido como resposta que há variação nos métodos, mantendo os alunos ocupados, impondo limites e aplicação de conteúdos de interesse comum. Os professores tentam resolver os conflitos em classe, esperando que os alunos se acalmem, ouvindo-os, impondo limites, dialogando. Quando questionados sobre a forma com a qual incentivam seus alunos para que participem das aulas, responderam que utilizam recursos como a TV, trabalhos em grupo, partir do conteúdo que o aluno já conhece, encontrar formas diferentes de avaliação.

Diante das respostas obtidas em seu trabalho, Lopes (2008) observa que são inúmeros os fatores a ser analisados nessa relação, mas que o corpo docente assume a tarefa de tornar a escola um ambiente acolhedor, com o professor tendo a necessidade de fazer reflexão sobre seu cotidiano e aprender com isso de forma contínua, buscando aperfeiçoar a sua formação.

 

Considerações finais

 

Diante do exposto, nota-se que a realidade escolar é individual e diferente entre instituições, sendo importante a adaptação do ensino a um ambiente específico. A formação do professor vai muito além daquele teórico, haja visto que seu ambiente de trabalho pode não possuir todos os instrumentos físicos necessários para a realização da sua função. Os alunos são diferentes entre si, com realidades diferenciadas, onde cada qual possui uma necessidade ou uma dificuldade própria.

Desse modo, o cotidiano do professor tem uma importante função na sua formação, permitindo que ele aplique seus conhecimentos, aprendendo como adaptá-los à realidade em que está inserido. Como visto, a troca de experiências, o conhecimento sobre a realidade social dos alunos, a confiança entre os colegas de trabalhos e o desejo de mudança são características que se adquire com a prática. Como observado em alguns trabalhos, a união desses saberes permitiu que fosse criado estratégias pedagógicas que contribuem na melhora do convívio escolar.

Portanto, nota-se que a sociedade e a realidade externa, exerce influência significativa nas escolas e interfere na formação do professor, e que o processo de formação seja contínuo e necessário para a adaptação às novas realidades sociais e tecnológicas.

 

Referências Bibliográficas:

 

PADILHA, A.; BARROS, S. F. B; PANCOTTE, R. P.. Cotidiano, ética e formação de professores: algumas aproximações. II Simpósio Nacional de Educação. Infância, Sociedade. 13-15 out. Cascavel - PR. 2010.

 

DASSOLER, O. B.; LIMA, D. M. S.; A formação e a profissionalização docente: características, ousadia e saberes. SEMINÁRIO DE PESQUISA EM EDUCAÇÃO DA REGIÃO SUL, v. 9, p. 1-12, 2012.

 

LOPES, R. C. S. A relação professor aluno e o processo ensino aprendizagem. 2008.Disponível: em <http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/pde/arquivos/1534-8.pdf>. Acesso em

set/2018.

 

GONÇALVES, M. A. S.; PIOVESAN, O. M.; LINK, A.; PRESTES, L. F.; LISBOA, J. G.. Violência na escola, práticas educativas e formação do professor. Cadernos de Pesquisa, v. 35, n. 126, p. 635-658, 2005.

 

TESSARIM, M. M. O.. A formação de professores no cotidiano escolar e o papel do diretor de escola. Universidade Brasil. 2016. Disponível em: <http://universidadebrasil.edu.br/portal/a-formacao-de-professores-no-cotidiano-escolar-e-o-papel-do-diretor-de-escola/>. Acesso em set/2018.

 

MARQUES, L. P.. Cotidiano escolar e diferenças. XV ENDIPE. 2010. Disponível em:<http://www.ufjf.br/revistaedufoco/files/2012/10/Cotidiano-escolar-e-diferen%C3%A7as.pdf>. Acesso em set/2018.

 

STANO, R. C. M. T. A pesquisa do cotidiano escolar pelas trilhas da formação docente: uma articulação Universidade-escola. Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, v.12, n1, p. 529-540. 2017.

 

GOMES, S. S. Formação de professores e intervenção pedagógica nas práticas de avaliação. 2012. Disponível em: <http://www.anpae.org.br/iberoamericano2012/Trabalhos/SuzanodosSantosGomes_int_GT2.pdf>. Acesso em set/2018.

 

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