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A TAXIONOMIA DE BLOOM: uma concepção da avaliação escolar

Cosmo Cunha de Brito1

Maria José Neri de Araújo2

 

RESUMO

Este artigo tem como objetivo geral realizar uma análise das avaliações desenvolvidas na escola Manoel Rodrigues de Farias (avaliação interna) e pela Secretária de Educação do Acre (avaliação externa), nos anos 3°,4°, 5° a partir do quadro de teórico proposto por Alves (2013); Coll at all (2000); Depresbiteris (2009); Suhr (2008); Zabala (1998), (ANDERSON et al., 2014) – Taxionomia revista de Bloom as comparando com a formatação do SAEB. Para tanto se faz necessário contextualizar o conceito de avaliação e avaliação educacional, a relevância do quadro teórico a ser aplicado, e finalmente a análise qualitativa/quantitativa dos documentos. Em face desta analise conclui que existe uma disparidade entre as avaliações tanto internas como externas e o SAEB no que concerne ao peso dos conteúdos e a necessidade de um treinamento especifico sobre a montagem de avaliações externas nas áreas de ciências humanas.

Palavras chaves: Educação Fundamental. Avaliação. Taxionomia de Bloom.

 

Introdução

Cunha Silva (2010) adverte que a interpretação da administração educacional do do art. 24 da Lei de Diretrizes e Bases (LDB), Lei nº. 9.394 (BRASIL, 1996), que estabelece que os aspectos qualitativos da aprendizagem devem prevalecer sobre os quantitativos e em sua análise conclui que

 

Os resultados obtidos demonstram que, em decorrência de tal interpretação e da consequente prática oficialmente institucionalizada nas escolas públicas, impõem-se procedimentos alheios ao alcance formal da qualidade da educação referente à aprendizagem dos conteúdos trabalhados. Oficialmente, a qualidade resulta de condutas que pouco ou nada respondem à apropriação de conhecimentos, inclusive porque não mudam ao longo do processo de ensino aprendizagem. (SILVA, 2010, resumo).

 

Apesar do foco da pesquisa de Cunha Silva ser as escolas de ensino fundamental de Barreiras BA esta afirmação, ao que parece, pode ser estendida a todo um sistema que a partir da qualidade abre mão da quantidade. No mundo administrativo estes dois conceitos são entendidos de forma intercambiável e altamente desejáveis, “mais qualidade e mais quantidade” chegar ao ponto máximo dos dois parece ser o santo graal de todo o sistema de produção.

No mundo administrativo qualidade pode ser entendida como segundo Maximiano que diz que

 

A qualidade é um problema de todos e abrange todos os aspectos da operação da empresa, ou seja, a qualidade é uma questão sistêmica. Garantindo-se a qualidade do sistema, garante-se a qualidade dos produtos e serviços. Esta mudança de filosofia significa a evolução para a era da qualidade total. (MAXIMIANO, 1995, p. 160)

 

Em decorrência natural esta qualidade total só pode ser observada quando quantificada a quantidade de produtos de qualidade produzidos por período, a quantidade de clientes satisfeitos por ciclo de atendimento, ora se a escola é uma instituição prestadora de serviços, embora esta afirmação possa causar arrepios para alguns educadores é esta sua condição inclusive jurídica já que possui CNPJ e é regida pela teoria da administração pública, e seu “serviço” é a transmissão de maneira mais eficiente e eficaz possível de conhecimentos acadêmicos e regras sociais ao futuro cidadão para que ele possa, como quer a constituição brasileira artigo 205 exercer o seu pleno direito à cidadania e sua qualificação para o trabalho.

No ambiente escolar, principalmente, no ensino fundamental primeira fase, o aspecto qualitativo se consubstancia na observância, ou não, dos aspectos procedimentais do indivíduo prerrogativa lhe dada pela lei Lei nº. 9.394 (BRASIL, 1996) estabelece, como um dos critérios para verificação do rendimento escolar, que os aspectos qualitativos prevaleçam sobre os quantitativos e deve-se agregar a avaliação final os seguintes critérios que compõe a avaliação qualitativa: assiduidade, pontualidade, respeito mútuo, socialização, produtividade, clareza de opinião, responsabilidade, participação, interesse, criatividade, cooperação e frequência. Ou seja, a legislação estabelece que se deve agregar uma determinada pontuação que irá prevalecer, segundo sua própria indicação à quantitativa, a procedimentos atitudinais que são a obrigação de um estudante. Vir todos os dias a escola (assiduidade); chegar na hora certa (pontualidade), tratar os outros como ele gostaria que o tratassem (respeito mútuo, regra básica da sociabilização), fazer os deveres e tarefas solicitadas (produtividade), interagir de forma positiva e clara com o professor e os colegas (clareza de opinião, responsabilidade, participação) prestar atenção à aula (interesse); se mostrar capaz de achar soluções pessoais para determinadas tarefas (criatividade); interagir com os seus colegas de modo respeito e produtivo (cooperação) são obrigações mínimas de um estudante que podem e devem ser valorizadas porem o que irá fazê-lo se tornar produtivo e conseguir um bom emprego é seu conhecimento acadêmico em áreas especificas, por mais educado, sociabilizado e prestativo que possa ser o estudante se ele não sabe os conteúdos específicos necessários não irá pontuar nos concursos oficiais de classificação educacional muito menos dos diversos testes da iniciativa privada.

A Secretária de Educação do estado do Acre faz a seguinte interpretação desta orientação - Diário Oficial do Estado do Acre (DOEAC), 2019.

 

...ao final de cada bimestre o aluno precisará ter alcançado uma nota resultante da aplicação de diversos instrumentos da avaliação formativa da aprendizagem tais como: provas e testes, trabalhos individuais ou em grupos, pesquisa, leituras complementares, diagnósticos, tarefas para a casa, exercícios desenvolvidos em sala de aula, tendo o alcance da média de qualidade que é 7,0 (sete) (UNICO do Diário Oficial do Estado do Acre (DOEAC), 2019 p. 65)

 

Dos sete procedimentos avaliativos apenas um (provas e testes) tem a possibilidade de serem individuais e versarem sobre um conteúdo especifico, nota-se que é apenas uma possibilidade já que na sala de aula são comuns as “provas com consulta” (onde o aluno apenas tem que procurar a resposta certa no livro); provas em dupla (onde um pensa e o outro copia a resposta), e qual o peso destes procedimentos (provas e testes)?

O artigo dois esclarece:

 

Os alunos que não atingirem a média bimestral de qualidade farão jus aos estudos de recuperação qualitativa paralela, de aprendizagem e conteúdo, o que também incluirá aqueles que atingiram a média de qualidade. Tais estudos acontecerão em sala de aula por meio da realização de atividades, devidamente planejadas pelos professores, a partir da análise dos resultados das avaliações. (UNICO do Diário Oficial do Estado do Acre (DOEAC), 2019 p. 66)

 

No ambiente escolar este procedimento deve ocorrer no contra turno ou depois da realização das provas bimestrais, o que muitos professores não possuem tal tempo nem motivação para tal e se mesmo assim não for obtida a medida de aprovação ao final de seis meses terá outra oportunidade, segundo o artigo I.

 

A recuperação quantitativa de notas acontecerá semestralmente, ao final do 2º e do 4º bimestres, destinando uma semana para estudos de recuperação da aprendizagem com aulas e uma semana para aplicação de provas, além dos estudos realizados no decorrer dos bimestres. (UNICO do Diário Oficial do Estado do Acre (DOEAC), 2019 p. 67)

 

E apenas se não conseguir nota de aprovação em mais que duas matérias o aluno ficara retido, segundo o § 3º

 

Após todas as oportunidades de avaliação e recuperação e se o aluno não atingir a média 5,0 (cinco) de aprovação, em no máximo dois componentes curriculares, ele será aprovado parcialmente e cursará o ano/série seguinte, porém terá que pagar tais disciplinas no ano/série em que ficou devendo. (UNICO do Diário Oficial do Estado do Acre (DOEAC), 2019 p. 68)

 

Isto se estiver matriculado no sexto ano já que antes a aprovação é automática. É neste cenário que se instaura o objetivo deste artigo: a partir do quadro teórico preconizado por Alves (2013); Coll at all (2000); Depresbiteris (2009); Suhr (2008); Zabala (1998), (ANDERSON et al., 2014), saber como são montadas as avaliações/testes individuais na escola Manoel Rodrigues de Farias - Acre.

 

O quadro teórico

Segundo os teóricos acima mencionados o conteúdo pode ser classificado em:

  • Conteúdos factuais: refere-se a fatos, acontecimentos, situações, dados, fenômenos concretos e singulares. Deles é exigido a reprodução e a lembrança o mais fiel possível;

  • Conteúdos conceituais: implicam na compreensão do significado. Envolvem conceitos e princípios;

  • Conteúdos procedimentais: refere-se à aprendizagem de um procedimento, regras, técnicas, métodos, destrezas ou habilidades, estratégias, isto é, um conjunto de ações ordenadas e com um fim. Os procedimentos são vistos através da realização da ação, da exercitação múltipla, reflexão sobre a atividade e a aplicação em diferentes situações; o que será denominado como conteúdos objetivos.

  • Conteúdos atitudinais: refere-se a valores (princípios ou ideias éticas), atitudes (a forma como cada pessoa realiza sua conduta de acordo com determinados valores) e normas (padrões ou regras de comportamento). Em sentido amplo, pode-se afirmar que uma pessoa aprende uma atitude quando pensa, sente e atua conforme uma crença ou visão, denominados a partir de agora conteúdos subjetivos.

Tendo quatro grupos de conteúdos tão distintos e com objetivos cognitivos próprios é possível naturalmente pensar em formas de avaliá-los. Como o material de trabalho deste artigo são as provas/testes desenvolvidos pelos professores descarta-se os conteúdos atitudinais já que não é possível percebê-los dos documentos trabalhados.

 

Estabelecendo parâmetros

 

Foram selecionados exemplos retirados das avaliações da escola foco, bem como das avaliações externas aplicadas pela Secretaria Estadual de Educação do estado do Acre, de modo tal que se estabeleça um exemplo concreto do que neste artigo é denominado conteúdo factual, conceitual e procedimental e suas analises se baseiam nos parâmetros preconizados por Fernandes (2015):

  

  • Área: matemática - avaliação para o quarto ano.

  • Conteúdo factual

 

 

Fonte: ESCOLA MANOEL RODRIGUES DE FARIAS

 

 

Os conteúdos factuais são acessados mediante a evocação de “fatos, acontecimentos, situações, dados, fenômenos concretos e singulares. Deles é exigido a reprodução e a lembrança o mais fiel possível”. Nota-se que as primeiras duas solicitações pedem a lembrança o mais fiel possível de um conceito pré-determinado as duas seguintes apenas sofisticam a resposta exigindo que para o seu acerto esta lembrança seja realmente muito fiel a tal ponto de ser capaz de permanecer clara mesmo com a mudança do ponto de observação, contudo mesmo assim são perguntas que exigem o acesso a um conceito pré-determinado e devidamente explicado.

  • Conteúdo conceitual

Fonte: ESCOLA MANOEL RODRIGUES DE FARIAS

 

Este exemplo não pode ser considerado factual por que não faz menção ao conceito de subtração subjacente ao texto, logo se faz necessário uma compreensão da questão para o entendimento da operação a ser efetuada, por outro lado não pode ser considerado procedimental, apesar de ser solicitada a demonstração do cálculo já que a demonstração do aprimoramento deste conteúdo implica em “reflexão sobre a atividade e a aplicação em diferentes situações” o que não foi solicitado.

  • Conteúdo procedimental

Fonte: Escola Manoel Rodrigues de Farias

 

Esta questão é a prova que os processos mentais solicitados para a avaliação dos conteúdos procedimentais porem ser aplicados em todos os níveis e não precisam ser necessariamente “complicados”. Observa-se que em para responder esta questão com exatidão é necessário uma estratégia, uma multiplicidade de conhecimentos e uma reflexão sobre a atividade, ser capaz de selecionar e analisar cada uma das figuras com os conceitos de base e face lateral, estabelecer a noção de grupo e de pertencimento e por último o julgamento de cada conceito em cada caso particular.

 

  • Área ciências – nível quarto ano

  • Conteúdo factual

Fonte: Secretária de Educação Cultura e esportes – Est. Acre

 

Esta estrutura de pergunta que inclusive vai ser usada nas áreas de história e geografia nas avaliações externas, não pode estritamente falando de ser considerada factual “Deles é exigido a reprodução e a lembrança o mais fiel possível”, como na leitura do texto já se estabelece o que é fotossíntese não há uma lembrança a ser evocada, dito de outro modo, o conceito de fotossíntese não precisou ser memorizado e o acerto não ser faz por conhecimento de ciências, mas pela simples leitura (que também não exige interpretação) do enunciado e a eliminação por bom senso (também não há necessidade de um raciocínio lógico); se o texto está falando de fotossíntese e, inclusive, explicando o que é, qual seria a resposta possível da pergunta 01? Fotossíntese.

Este tipo de pergunta como será demonstrado nas outras ilustrações permeia a área de ciências, história e geografia, em uma leitura apressada tem-se a impressão de que conteúdos bastante sofisticados (o conceito de fotossíntese, é um exemplo) está sendo desenvolvido e consequentemente solicitado, porém não é assim. A questão não exige a memorização, ou contextualização nem tão pouco uma análise do fenômeno da fotossíntese que é necessário para a compreensão de outros tantos conceitos como o de cadeia alimentar por exemplo.

Apenas como um exercício teórico, mas que pode ser estendido para outras áreas como é possível abordar o conceito de fotossíntese.

Questão com ênfase no conteúdo factual. Pergunta:

A ilustração abaixo ilustra qual dos processos que os vegetais executam

 

(A) fecundação.
(B) fotossíntese.
(C) respiração.
(D) transpiração.

  • Conteúdo conceitual

Fonte: Fonte: Secretária de Educação Cultura e esportes – Est. Acre

 

A partir deste conceito marque os procedimentos que voce deve ter para ter sua planta bem saudável.

  1. Mantê-la no sol, com areia bem fofinha, e regar pela manhã

  2. Mantê-la sempre na sombra, com terra adubada e não regar

  3. Mantê-la no sol, com terra adubada e regar sempre

  4. Mantê-la no sol, com terra adubada e regar pela manhã.

  • Conteúdo procedimental

Fonte: Fonte: Secretária de Educação Cultura e esportes – Est. Acre

 

A partir da compreensão do conceito de fotossíntese explique por que o Brasil é um grande produtor de alimentos. (Cite, pelo menos, duas razões que estão apontadas no texto).

  • Conceitual – procedimental 3° ano prova externa

Fonte: Secretária de Educação Cultura e esportes – Est. Acre

 

A questão A pode ser considerada conceitual, mesmo que aparentemente fácil, por que exige uma interpretação visual e uma justificativa. Já a questão B estabelece um conteúdo factual a ser evocado, uma situação onde o conceito fique clara é a escrita clara e precisa dos dois momentos.

 

  • Área geografia – 4° ano prova externa

  • Conteúdo factual

Fonte: Secretária de Educação Cultura e esportes – Est. Acre

 

Como visto quando foi analisado questão desta estrutura na área de ciências a questão em pauta não pode ser nem considerada factual, pelos motivos já expostos e neste caso a resposta está explicita no texto “este processo pode ocorrer em escala global, nacional, regional, municipal e até de domicílio” opção “B”.

  • Conteúdo conceitual – 4° ano prova externa

Fonte: Secretária de Educação Cultura e esportes – Est. Acre

 

A questão demanda uma leitura de gráficos apurada e o domínio e a operacionalização de conceitos básicos características da aplicação dos conteúdos conceituais.

  • Conteúdo procedimental

Fonte: Secretária de Educação Cultura e esportes – Est. Acre

 

As questões discursivas normalmente estabelecem conteúdos procedimentais, e colocam em pauta os aspectos qualitativos da aprendizagem do conceito o que é importante, porém quando não são bem formuladas no seu aspecto quantitativo podem comprometer toda a avaliação pretendida. Neste exemplo temos um controle entre a qualidade e quantidade da pergunta. Em primeiro lugar houve uma pista visual do que se queira perguntar e na pergunta anterior uma “pista” para a resolução desta, o que é extremamente recomendável perguntas encadeadas que não oferecendo a resposta para a seguinte desencadeiam no respondente uma serie de dados que se acessados corretamente propiciam uma melhor qualidade de resposta, uma tática perfeitamente válida e eficaz é digno de nota a “sugestão” de uma estrutura do texto que além de permitir melhor qualidade de organização textual permite quantificar sua qualidade, por exemplo um texto de 5 linhas que explique por que ocorreram estas mudanças e quem as fez tem mais qualidade do que um texto de quinze que não consegue apresentar estes dados com clareza.

 

  • História 4° ano prova externa

  • Conteúdo factual

Fonte: Secretária de Educação Cultura e esportes – Est. Acre

 

Embora este artigo não tenha como objetivo a análise da qualidade estrutural das perguntas este critério acaba por perpassar o critério de escolha das perguntas, quanto mais clara for a pergunta melhor o seu entendimento aumentando a chance de uma avaliação mais acurada, em outras palavras na medida que o texto da pergunta não deixa dúvidas sobre o que se deseja mais este instrumento é eficiente para diagnosticar a apropriação do conteúdo a que se refere, um bom exemplo são as perguntas na área de exatas porem as perguntas de geografia dos conteúdos conceitual e procedimental também são um exemplo de como na área de humanas se pode ser claro e preciso, o que parece não ocorrer quanto a questão em foco.

A partir desta premissa se faz necessário uma leitura mais atenta à questão apresentada em uma prova de avaliação externa. Tomando como referência o conceito de letramento, que a grosso modo, estabelece não só a decodificação do grafema, mas o entendimento da ideia temos que: na primeira frase nos é apresentado um conceito de história que relaciona todas as manifestações culturais com o que estamos vivendo hoje, a primeira frase do segundo parágrafo é uma decorrência da primeira premissa já fica que tudo muda e que devemos estudar o passado para entender o presente, a terceira conclui o silogismo já que reafirma que cada época tem sua própria cultura e ela e constantemente modificada, isto implica que toda a cultura é própria da sua época e também muda com o passar do tempo.

A pergunta é com o passar do tempo ocorrem mudanças (o que está explicitado no texto base). “Uma das mudanças foi o surgimento da”, a resposta pretendida seria internet. Porem todas as culturas para se modificarem tiveram que ter acesso a internet? Tomemos como exemplo a domesticação dos grãos. A transição da cultura caçadora para a cultura coletora não foi tão impactante como a internet ou mais já que a internet surge de uma cultura sedentária baseada na domesticação dos grãos. O mesmo raciocínio serve para moradia, para se ater ao mesmo momento histórico: a passagem das pequenas choupanas de caçadores para as grandes metrópoles da Mesopotâmia, Egito e vale do indo não impactaram o modo de viver destes indivíduos os transformando? É sempre possível contra argumentar que uma criança na quarta série não tem domínio histórico para estabelecer este letramento e estes questionamentos, porem cabe lembrar que os conteúdos da quarta série já preveem história geral e a história do desenvolvimento das culturas sendo então perfeitamente cabível este tipo de confusão e mesmo que não aconteça que a alternativa Internet seja tão clara que não necessite nenhum pensamento mais reflexivo é sempre bom lembrar que quem formulou a questão sabe destas características do desenvolvimento cultural ou deveria saber.

  • Conteúdo conceitual

Não foi encontrada nas provas analisadas nenhuma questão que atendesse aos critérios preconizados para o conteúdo conceitual, porem isto não quer dizer que não seja possível realizá-lo.

Tomando como base a questão anteriormente analisada e usando as mesmas alternativas é possível estabelecer ...

Fonte: Secretária de Educação Cultura e esportes – Est. Acre

 

Com o passar do tempo ocorreram várias mudanças. Relacione a primeira coluna com a coluna abaixo estabelecendo as mudanças mais características de cada época.

  1. Alimentação

  2. Sistema de governo

  3. Internet

  4. Moradia

( ) do nômade para sedentário

( ) das comunicações do século XIX para o século XX

( ) do caçador para o agricultor

( ) do império para a democracia

Marque a alternativa com a sequência correta

( ) a, b, c, d

( ) d, c, a, b

( ) b, d, a, c

( ) c, b, a, d

 

  • Conteúdo procedimental

Fonte: Secretária de Educação Cultura e esportes – Est. Acre

 

Um exemplo de questão que exemplifica o conteúdo procedimental, implica em uma leitura, analise e comparação visuais, estabelece critérios específicos para tal observação e os quantifica.

 

  • Português 5 série prova externa

  • Conteúdo factual

Depois de um longo e pormenorizado texto sobre um remédio infantil denominado REDOXITOS pergunta-se:

Fonte: Secretária de Educação Cultura e esportes – Est. Acre

 

Cabe esclarecer que todas as respostas estão explicitas ou implícitas nos textos acima, isto longe de diminuir a qualidade da pergunta, ao contrário, operacionalizando o conceito de letramento, traz informações do dia a dia da criança a atualizando em conceitos que lhe são de seu interesse imediato, este tipo de texto com a sequência de perguntas (factuais) levam a um entendimento procedimental do fenômeno apresentado.

  • Conteúdo conceitual

Na mesma avaliação seguindo um entendimento apresentado em provas do ENEN que é o uso de um mesmo texto base para várias abordagens avaliativas temos:

Fonte: Secretária de Educação Cultura e esportes – Est. Acre

 

Para marcar a opção correta se faz necessário a apropriação do conceito base e sua devida operacionalização.

 

  • Conteúdo procedimental 5° serie avaliação interna

Após uma avaliação com o tema formas de comunicação explicitamente tipos de carta é solicitado ao aluno:

 

Fonte: Escola Manoel Rodrigues de Farias

 

O “roteiro” a ser seguindo estabelece um plano de ação é uma forma de avaliar a possível resposta inclusive de forma quantitativa. O contraexemplo pode ser encontrado em uma avaliação interna 4° ano, depois de um texto sobre a lenda da Mandioca e uma série de perguntas de caráter factual a avaliação termina com: “8) Desenhe a parte da história que você mais gostou”.

O que exatamente quer se avaliar com esta solicitação, a capacidade do desenhar, a criatividade do aluno, sua percepção de momentos. Uma pergunta que não atende aos preceitos de qualidade e nem de quantidade necessários para avaliar o que quer que seja.

 

Apresentação dos dados

Tabela A

ÁREA

ANO

AVALIAÇÃO

FACTUAL

CONCEITUAL

PROCEDI

MENTAL

TOTAL

MATEMÁTICA

EXTERNA 1

05

00

00

05

MATEMÁTICA

EXTERNA 1

20

13

01

34

MATEMÁTICA

INTERNA 2

04

06

00

10

MATEMÁTICA

EXTERNA 3

02

01

02

05

CIÊNCIAS

EXTERNA 1

04

01

01

06

CIÊNCIAS

EXTERNA 1

05

00

00

05

GEOGRAFIA

EXTERNA 01

04

00

01

05

GEOGRAFIA

EXTERNA 01

03

01

01

05

HISTÓRIA

EXTERNA 01

04

00

01

05

HISTÓRIA

EXTERNA 01

04

00

01

05

PORTUGUÊS

EXTERNA 01

02

02

01

05

PORTUGUÊS

INTERNO 01

21

01

01

24

PORTUGUÊS

4°

EXTERNA 02

01

03

01

05

PORTUGUÊS

EXTERNO 01

07

01

00

08

PORTUGUÊS

INTERNA 02

04

02

02

08

PORTUGUÊS

5°

EXTERNA 03

08

01

01

10

PORTUGUÊS

5°

EXTERNO 04

11

00

00

11

TOTAIS

 

 

109

32

14

155

Tabela realizada pela autora, 2020.

 

 

Avaliações internas e externas

 

 

Este artigo declina de aprofundar as relações e importância entre as avaliações internas e externas por absoluta falta de espaço físico assim fica subentendido que existem diferenças substanciais entre as duas e que, na opinião desta pesquisadora, a soma e analise dos resultados de ambas possibilita aos tanto aos gestores como aos professores uma melhor percepção de como acontece o processo de aprendizagem daquela área especifica bem como da instituição em geral, esclarecido este ponto este tópico apresenta em termos porcentuais o uso das questões para respostas factuais, conceituais e procedimentais, sem levar em conta, inclusive, a possível qualidade de cada uma delas assunto já tangenciado anteriormente e que fugiria do escopo desta reflexão.

Quanto a quantidade de perguntas parece haver uma paridade a maior quantidade de perguntas observadas foi de uma avaliação externa matemática 4° externa 01 com 34 perguntas já a avaliação interna Português 4° 24 perguntas, deve-se levar em consideração que foram consideradas como pergunta cada um dos questionamentos mesmo que sejam derivativos de um mesmo tema exemplo a partir de um determinado gráfico foi solicitado:

 

Fonte: Escola Manoel Rodrigues de Farias

 

Foram consideradas cinco questões embora derivem de uma mesma fonte. Com relação a solicitação de conteúdos temos:

Tabela B

Total de questões

factuais

conceituais

procedimentais

155 – 100%

109 – 70,3%

32 – 20,6%

14 – 9,1%

Tabela realizada pela autora, 2020.

 

O que estes porcentuais significam em um contexto maior? A publicação realizada pelo Ministério da Educação/MEC “Sistema de avaliação da Educação básica Documentos de referência versão 1.0 2018” estabelece parâmetros bastante claros quanto a composição das perguntas de uma avaliação do SAEB, porem como estes critérios são expressos em verbos de ação antes de apreciá-los convêm recordar o que a taxionomia revisada de Bloom (ANDERSON et al., 2014), base teórica deste artigo, mostra:

  • Conteúdos factuais: é “exigido a reprodução e a lembrança o mais fiel possível” ações mentais: recordar, acessar, lembrar, reconhecer.

  • Conteúdos conceituais: implicam na compreensão do significado: relacionar, situar (no espaço ou no tempo) generalizar, analisar, aplicar, contextualizar.

  • Conteúdos procedimentais: refere-se à aprendizagem de um procedimento, estratégias: interpretar, criar, analisar, julgar, hierarquizar, inferir.

O quadro VIII do “Sistema de avaliação da Educação básica Documentos de referência versão 1.0” 2018, apresenta em sua página 63. O documento continua especificando as habilidades esperadas em cada eixo de conhecimento. Pagina 65/66.

Cruzando então as informações já expostas é possível estabelecer que a coluna reconhecer é representada pelo conteúdo factual, analisar pelo conceitual, e avaliar e produzir o conteúdo procedimental.

 

TABELA C – Português – Tabela B X SAEB

 

factuais

conceituais

procedimentais

AVALIAÇÕES ACRE

77%

14,5%

8,5%

SAEB

39%

52%

9%

Tabela realizada pela autora, 2020.

 

Quanto à área de ciência temos na pág. 107 (a tabela base especifica os conteúdos trabalhados o que foge aos interesses deste artigo)

 

TABELA D – Tabela B x SAEB

 

factuais

conceituais

procedimentais

AVALIAÇÕES ACRE

81%

8,5%

8,5%

SAEB (pág. 107)

40%

38%

22%

Tabela realizada pela autora, 2020.

 

Na área de ciências humanas temos:

 

TABELA E – Tabela B x SAEB

 

factuais

conceituais

procedimentais

AVALIAÇÕES ACRE

75%

5%

20%

SAEB (pág. 137)

29%

45%

26%

Tabela realizada pela autora, 2020.

 

Deve-se notar que o SAEB agrupa os conhecimentos de História e Geografia em Ciências humanas, então para efeito de comparação foram somados os dados de História e Geografia da tabela B.

Como pode ser observado a avaliação do SAEB privilegia de maneira bastante clara os conteúdos conceituais, isto parece estar de acordo com a BNCC que solicita que o aluno além de ter o conhecimento e ser capaz de evocá-lo (factual) seja capaz de operacionalizá-lo, seria contudo leviano falar de uma tendência ou distorção nas avaliações do ACRE pelo simples fato que a amostra trabalhada é muito pequena para se estabelecer um padrão operativo, fica aqui em aberto esta indagação para futuras pesquisas.

 

Considerações finais

 

O espaço dado no ambiente escolar para as avaliações quantitativas, pelas mais diversas razões, mas nunca pela razão de melhorar a qualidade de aprendizagem do estudante, é muito restrito, em outras palavras a progressão anual acontece com cada vez menos demanda de conteúdo especifico, e isto acontecendo confunde-se causas e consequências. Esta atitude da gestão educacional brasileira faz com que cada vez menos importância se dê ao estudo e ao trabalho acadêmico, gerando estudantes cada vez menos preparados, e com um público que tem cada vez mais dificuldades em apresentar conhecimento de qualidade as “avaliações” são cada vez mais atitudinais ou as que não apresentam formulações mais simples, mais “fáceis”.

O cruel desta engrenagem é que resulta em um estudante que não está preparado para as avaliações externas no mercado privado e tão pouco nas avaliações educacionais internacionais, retomar as rédeas de um processo que se mostra descontrolado e inócuo parece ser a única solução possível, quaisquer métodos de aprendizagem que possam ser aplicados, quaisquer metodologias que venham a ser importadas e implementadas esbarram nesta realidade, romper com a cultura do comodismo, da avaliação que não avalia, nas provas de “faz de conta”, trabalhar com a meritocracia e competência parece ser uma utopia mas é uma necessidade. A progressão automática ou sem méritos específicos desmotiva o bom aluno e vicia o relapso.

Este artigo é um convite para que este tipo de análise seja ampliado com mais dados de campo, suas conclusões embora limitadas apontam uma disparidade entre as avaliações tanto internas como externas e o SAEB e a necessidade de um treinamento especifico sobre a montagem de avaliações externas na área de ciências humanas.

 

 

Referências

 

ALVES, Júlia Falivene. Avaliação educacional: da teoria à prática. Organização Andrea Ramal. Rio de (2013) Janeiro: LTC, 2013. (série educação).

ANDERSON, Lorin W. et al. A taxonomy for learning, teaching, and assessing: a revision of Bloom’s Taxonomy of Educational Objectives. Harlow: Pearson New International Edition, 2014.

BARBOSA, Lauren Angela Maria Nogueria. Descrição e medida da competência leitura no ensino fundamental. (manuscrito) – mestrado acadêmico U.F. Ouro Preto área de concentração: Educação. 2020.

BOSI, Alfredo; MACHADO, Nílson José; AZANHA, José Mário Pires; et al. Educação hoje: questões em debate. Estudos Avançados, São Paulo, v. 15, n. 42, p. 9-101, 2001. Disponível em: < http://www.scielo.br/pdf/ea/v15n42/v15n42a02.pdf >.

BRASIL. Ministério da Educação. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira. Diretoria de Avaliação da Educação Básica. SAEB/Prova Brasil 2011 - primeiros resultados. 2012. Disponível em: <http://download.inep.gov.br/educacao_basica/prova_brasil_saeb/resultados/2012/Saeb_2011_primeiros_resultados_site_Inep.pdf>. Acesso em: 30 Ago. 2020.

BRASIL. Sistema de avaliação da educação básica: documentos de referência - versão 1.0. Ministério da educação | mec. Instituto nacional de estudos e pesquisas educacionais anísio teixeira | inep. Diretoria de avaliação da educação básica | daeb. Brasília-df. 2018.

COLL, César; POZO, Juan Ignácio; SARABIA, Bernabé; VALLS, Enric. Os conteúdos na reforma: ensino e aprendizagem de conceitos, procedimentos e atitudes. Tradução de Beatriz Affonso Neves. Porto Alegre: Artes Médicas, 2000.

COLL, César; POZO, Juan Ignácio; SARABIA, Bernabé; VALLS, Enric. Os conteúdos na reforma: ensino e aprendizagem de conceitos, procedimentos e atitudes. Tradução de Beatriz Affonso Neves. Porto Alegre: Artes Médicas, 2000.

DEPRESBITERIS, Léa; TAVARES, Marialva Rossi. Diversificar é preciso: instrumentos e técnicas de avaliação da aprendizagem. São Paulo: Senac São Paulo, 2009.

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FERNANDES, Imaculada Santos (Org). Manual de orientações para a elaboração de itens (questões de múltipla escolha): orientações técnicopedagógicas para o elaborador. – Belo Horizonte: Faculdades Promove; Faculdades Kennedy; Faculdade Infórium, 2015.

MAXIMIANO, Antônio Cesar Amaru, Introdução à administração. 4ª Ed. São Paulo: Atlas, 1995

SILVA, Soraia Oliveira da Cunha. Concepção docente sobre avaliação qualitativa da aprendizagem no ensino fundamental: uma interpretação da LDB 9394/96 Meta: Avaliação | Rio de Janeiro, v. 2, n. 6, p. 334-357, set./dez. 2010

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1 Graduado em Filosofia pela FADISI/AC; Licenciado em Letras – Português/Inglês pela FACESE/PR; Especialista em Psicopedagogia pela FIVE/AC; MBA em Governança Pública e Gestão Administrativa pela FAEL/PR; Pós-graduando em Design Instrucional pela FACULESTE/MG; Mestrando em Ciências da Educação pela Universidade Chilena Saint Alcuin Of York – Anglican College. Atua como Professor e Consultor em Plataforma EaD.

2 Licenciada em Pedagogia pela UFAC; Pós-graduada em Coordenação Pedagógica pela UFAC; Pós-graduada em Psicopedagogia UNOPAR; Pós-graduada em Planejamento e Gestão pedagógica pela UNOPAR. Mestrando em Ciências da Educação pela Universidade Chilena Saint Alcuin Of York – Anglican College. Professora da Rede Estadual de Educação do Acre e da Rede Municipal de Educação do Município de Jordão/Acre.