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O ENSINO DE CRIANÇAS AUTISTAS: DESAFIOS E POSSIBILIDADES

Gisele Constantino Bueno
Maria Aparecida da Rocha Dias


RESUMO

Esta pesquisa visa refletir sobre o processo de ensino-aprendizagem das crianças Autistas, tendo como objetivo analisar as metodologias mais adequadas a serem utilizadas no ensino das mesmas, ressaltando características, comportamento, limitações, bem como a importância do educador como mediador nesse processo. Realizou-se a pesquisa bibliográfica como principal fonte de conhecimento sobre o tema pesquisado, considerando as contribuições de autores como SILVA (2012), WILLIAMS (2008), COLL (2004), ORRÚ (2012), visando enfatizar as metodologias mais adequadas no processo de ensino-aprendizagem da criança Autista, os níveis de Autismo, comunicação, comportamento, relacionamento com família, educadores e sociedade. Concluiu-se a importância do acompanhamento familiar e especializado no processo de ensino-aprendizagem do Autista, e que se faz necessário o uso de recursos diferenciados para o ensino dos mesmos, respeitando suas dificuldades e favorecendo suas habilidades e interesses, a partir dos quais, o conhecimento passará a ser construído.


Palavras- chave: Autismo. Educadores. Metodologia. Ensino.

 

Introdução

 

O Autismo (TEA- Transtorno do Espectro do Autista) é um transtorno do desenvolvimento de causas neurobiológicas que se caracteriza por anormalidades qualitativas e quantitativas, que afetam de forma mais evidente as áreas da interação social, da comunicação e do comportamento. Os portadores do Transtorno do Espectro Autista apresentam dificuldades cognitivas, e restrição ao domínio da linguagem. Em contrapartida, apresentam uma percepção visual muito apurada, fazendo-se necessário que o educador selecione atividades e métodos visuais concretos e concisos que estimulem o seu interesse, a citar o uso de jogos.

O aluno com Autismo aprende, deseja e pensa diferentemente, sendo assim, é necessário o uso de recursos diferenciados para que haja assimilação do ensino, respeitando suas especificidades, visando desenvolver suas habilidades, despertando o interesse do mesmo, para assim construir o saber de forma prazerosa.

Na busca de ressignificar e facilitar o processo relativo à aprendizagem dessas crianças, esta pesquisa visa refletir quanto ao processo de ensino-aprendizagem do aluno Autista, e a importância do uso de recursos diferenciado, que tornam o ensino eficaz e ao mesmo tempo prazeroso.

O artigo visa responder questões referentes ao ensino de crianças Autista, com relação a características, comportamento, convívio na escola, família, comunidade, metodologias a serem aplicadas, além de apresentar alguns procedimentos que auxiliam no processo de aprendizagem das mesmas.

Ressaltando que cabe aos educadores, proporcionar a possibilidade de ensino de forma a abranger a todas as crianças, utilizando-se para tal fim, de todos os métodos disponíveis acessíveis que possam contribuir com a aprendizagem.


Desenvolvimento

O Autismo é um transtorno global do desenvolvimento que surge antes dos três anos de idade, apresentando desenvolvimento atípico, com perturbações nos domínios de interação social, imaginação, comunicação e comportamento, não é algo que se pode contrair e não é causado pelos pais, é uma condição que prossegue até a adolescência e vida adulta, conforme afirmam Williams, Wright (2008, p.3). Quanto à distribuição por sexo, o Autismo é muito mais comum em homens do que em mulheres, porém, quando as mulheres são afetadas, isto ocorre com maior gravidade.

O Transtorno do Espectro Autista (TEA) está ligado a fatores genéticos, sendo este um distúrbio do desenvolvimento (disfunção neurológica), o qual, não se sabe a causa específica. O termo Transtorno do Espectro está relacionado a várias condições distintas e singulares, ao qual, autores defendem uma etiologia multifatorial, sendo que cada uma dessas múltiplas causas, pode se manifestar em diferentes formas ou subtipos de Autismo. Desta forma, ocorre a interrupção dos processos normais de desenvolvimento social, cognitivo e da comunicação.

A definição da CID-10 (2000) caracteriza o Autismo por um desenvolvimento atípico que se revela antes dos três anos de idade, apresentando uma perturbação no funcionamento nos domínios das interações sociais, comunicação, comportamento focalizado e repetitivo. Vale ressaltar que o Transtorno é seguido comumente de outras manifestações inespecíficas, como: fobias, perturbações de sono ou da alimentação, “crises de manha ou agressividade.

As crianças Autistas apresentam, desde seus primeiros anos de vida, uma incapacidade acentuada em desenvolver relações pessoais, sendo esta, já observada com a figura materna. Na primeira infância, observa-se a ausência de uma atitude antecipatória, (como responder a estímulos feitos pela mãe), permanecendo com uma conduta rígida.

Essas crianças têm dificuldade de interação social, que não se resolvem simplesmente estando em companhia de outras crianças. É necessária a intervenção de um adulto para conduzi-las ao contato e a interação. Cada criança possui possibilidades singulares de desenvolvimento e cabe ao professor, buscar recursos que visem sua evolução, apurando suas capacidades até as limitações do aluno, buscando, utilizar todos os recursos disponíveis de modo a elevar ao máximo o desenvolvimento de cada criança.

A linguagem e seu desenvolvimento acompanham todo o desenvolvimento do Autista, e aquela se manifesta quer por ações, gestos ou olhares. Do ponto de vista do funcionamento psicológico, a aparição da linguagem é concebida como subsequente a progressos psicomotores e gestuais (LAUNAY, 1989).

Pode-se compreender a linguagem, não só como meio de comunicação, mas também, como um dos principais instrumentos de desenvolvimento dos processos cognitivos do ser humano (FERNANDES, 1998).

Cada criança diagnosticada com Autismo tem um nível de desenvolvimento singular, algumas são desprovidas de linguagem verbal, já outras, desenvolvem uma comunicação básica, e cabe ao professor estimular e utilizar de instrumentos que favoreçam o desenvolvimento dessas crianças, de modo, que todas que possuam condições, adquiram uma linguagem verbal expressiva. Vale ressaltar que a comunicação deve ser clara, utilizando-se de poucas palavras durante a comunicação, tendo em vista que o excesso de palavras pode confundi-los. Palavras novas devem ser introduzidas de modo gradual, sustentando-se em ações e objetos concretos e familiares à criança, utilizando figuras, e associando às palavras objetos ou pessoas conhecidas, de forma concreta.

Comumente as crianças Autistas, apresentam alterações no comportamento que prejudicam a aprendizagem e sua socialização, fazendo-se necessário, aprender a lidar com tais alterações comportamentais de modo apropriado. Essas alterações comportamentais podem ser gritos constantes; choros e risos repentinos e sem causa aparente; agressões dirigidas ao professor, a outro aluno ou a si mesmo; falta de apetite ou compulsão alimentar; recusa em ir à escola ou entrar à sala de aula; recusa em andar; recusa em realizar as tarefas e impulsos destrutivos, de arremessar ou quebrar objetos. A melhor maneira de atuar em tal situação é buscar reforçar sempre os hábitos adequados, ignorando os inadequados e quando o aluno se mostrar muito alterado, cabe ao professor tentar acalmá-lo, mostrando-se tranquilo e atencioso ao aluno.

É extremamente importante para a criança Autista, ter uma rotina diária, e o mais indicado para evitar tais alterações de comportamento é oferecer ao aluno, atividades curtas e de fácil compreensão, de modo que se ocupe, com atividades de seu interesse; incentivando sempre a comunicação.

Com base na literatura de Silva, Gaiato e Reveles (2012, p.64), é possível subdividir o Autismo em categorias, que são elas: a) traços do Autismo, com características muito leves; b) Síndrome de Asperger; c) Autismo com alto funcionamento; d) Autismo clássico/grave, com retardo mental associado.

Para dar consistência a esta explicação Silva, Gaiato, Reveles, (2012, p.64), utiliza a variação por meio das cores, que vão do branco ao preto, passando por todos os tons de cinza.

1) Para o Autismo com características muito leves, utiliza-se para representar a Síndrome a cor branca ou o tom de cinza mais claro, indicando pessoas que não teriam todos os comprometimentos, mas apenas algumas dificuldades, por apresentarem algumas características Autistas.

2) Síndrome de Asperger, representada por um tom de cinza mais escuro que o anterior, apresenta um conjunto de sintomas de prejuízos na socialização, onde seus portadores se mantém solitários, apresentam dificuldades em compartilhar ideias, em entender o que o outro está sentindo ou pensando, possuem interesses restritos, desenvolvem rotinas e rituais. Às vezes, as crianças surpreendem os adultos com palavras incomuns para sua idade, porém não entendem frases de duplo sentido, ironias ou entrelinhas em conversas. Pessoas com essa Síndrome não apresentam atraso na linguagem, nem retardo mental, o que as difere dos portadores do Autismo. Os indivíduos afetados pela Síndrome de Asperger também apresentam dificuldade de ordem social, porém sua capacidade intelectual na maioria das vezes é acima da média. Gaiato, Reveles (2012, p.66).

3) Autismo com auto funcionamento, representado por um tom de cinza mais escuro que o anterior, onde seus portadores não apresentam déficits cognitivos, mas tiveram atraso na linguagem, dificuldades de interação social, dificuldades comportamentais, como estereotipias: balançar os braços, balançar o corpo, andar na ponta dos pés. Costuma ser confundida com a Síndrome de Asperger, na vida adulta. Há uma proposta da “Associação de Psiquiatria Americana” (APA) “para que a Síndrome de Asperger deixe de ser classificada como um transtorno distinto e passe a ser um Autismo de alto funcionamento, devido às suas semelhanças”. (Silva, Gaiato, Reveles, 2012, p.68).

4) Autismo grave, no tom que mais se aproxima do preto, está associado ao retardo mental e a dificuldade de independência, sendo o modo como frequentemente, muitas pessoas imaginam alguém com Autismo. Geralmente apresentam grandes dificuldades de interação social, não fazem contato visual, não tem interesse pelo meio que as envolve, não compartilham interesses ou brincadeiras com outras pessoas, não desenvolvem a linguagem adequadamente, apresentam movimentos repetitivos e estereotipados e podem necessitar de cuidados por toda a vida, o Autismo clássico é um problema de saúde grave, que requer intervenção desde muito cedo, e provavelmente por toda a vida. São pessoas que precisam de muito treino para realização de tarefas, como comer, se trocar e outras atividades do dia - a- dia. (Silva, Gaiato, Reveles, 2012, p.70).

Visto então que a divisão do Autismo tem a importância de identificar as várias apresentações desse grupo de sintomas, e que todos, desde os traços mais leves, precisam de acompanhamento médico e multidisciplinar individualizado, incluindo acompanhamento psicológico, pedagógico e terapêutico desde cedo, de forma que a criança possua maiores chances de reabilitação. Ressaltando ainda, a importância da individualização do tratamento, já que um Autista não apresenta exatamente o mesmo quadro de sintomas que outro.

Portanto, o quanto antes for identificado tais características, maiores são as chances das disfunções serem amenizadas. Sendo a área mais prejudicada e consequentemente a mais perceptível, a do convívio social, além dos prejuízos na comunicação verbal e não verbal e na percepção de diferentes situações no ambiente em que vive.

 

Pessoas com Autismo, no entanto apresentam muitas dificuldades na socialização, com variados níveis de gravidade. Existem crianças com problemas mais severos, que praticamente se isolam em um mundo impenetrável; outras que não conseguem se socializar com ninguém;e aquelas que apresentam dificuldades muito sutis, quase imperceptíveis para a maioria das pessoas, inclusive para alguns profissionais. Estas últimas apresentam apenas traços do Autismo, não fecham diagnostico, mas suas pequenas dificuldades também devem ser tratadas. Transitar entre os diversos níveis de interação social dessas pessoas é um desafio para familiares e até terapeutas (SILVA; GAIATO; REVELES; 2012, p.22).

 

O primeiro passo, para ajudar pessoas com este funcionamento mental diferenciado, é buscar informações e conhecimentos que auxiliem na forma de trabalhar com as mesmas, tendo em vista que são capazes de aprender, quando o ensino é direcionado e adaptado as suas capacidades. Sabe-se que o Autista, tem dificuldades com a interação social, sendo necessário que lhe seja ensinado e estimulado a manter tal relação, uma vez que estas, não ficam isoladas por vontade própria, mas sim, por causa da inabilidade na socialização, derivada da dificuldade em interagir, que os mantêm distantes das demais pessoas, “presos em seu mundo interior”, uma vez que não sentem interesse por todas as brincadeiras ou atividades, preferindo apenas algumas específicas, ou permanecendo em isolamento, evitando a socialização, o que prejudica sua interação na escola com os demais alunos.

Considerando-se ainda que também possuam dificuldades de comunicação, na maioria das vezes, apresentando restrições quanto à linguagem verbal e não verbal, havendo casos em que a linguagem verbal é neutra, necessitando de estímulos e tratamentos específicos, com profissionais da área, para conquistar uma aprendizagem eficaz e consequentemente o desenvolvimento do aluno. O Autista utiliza a linguagem de forma não usual: nem sempre quando falam algo, se referem a alguém; repetem sozinhos diálogos dos pais e sons do dia a dia, aleatoriamente, sem ter relação com o que ocorre a sua volta.

 

Muitas crianças têm um discurso monotônico, como se fossem um robozinho programado. Não há alteração de tons ou volume no seu jeito de falar. Nao enfatizam questionamentos ou ressaltam um trecho mais importante da frase. Elas têm dificuldade de colocar emoções no seu discurso. Também costumam falar apenas de coisas do seu interesse, tornando assim a fala monotemática. (SILVA; GAIATO; REVELES; 2012, p. 35).

 

A necessidade de uniformidade e rotina são traços característicos do Autismo, bem como os interesses restritos e limitados, e comportamentos repetitivos, demostrando também, grande dificuldade em interagir e em interpretar o outro.

 

E assim, vivem num ‘’mundinho” de comportamentos só delas. Alguns acreditam que pessoas com Autismo são atraídas para seus mundos singulares, mas, na realidade, elas não têm escolha. Temos clareza, por nossa experiência, de que elas não são atraídas, são” trancadas” em seus ’’universos” repletos de restrições, mas compreensíveis e seguros para suas vivências solitárias.(SILVA; GAIATO; REVELES; 2012, p. 46).

 

O Autismo pode manifestar-se de diferentes formas e em diferentes graus, de acordo com a estrutura dos neurônios. Há crianças que apresentam uma desorganização mais acentuada na formação e arquitetura desses neurônios em áreas de linguagens; outros nas áreas de interação; dependendo do local onde esse desarranjo está mais presente e severo, apresenta-se um quadro autístico diferenciado.

Nota-se então, a grande necessidade de um diagnóstico antecipado, quanto mais cedo forem o diagnóstico e o início dos tratamentos, mais avanços haverá na área de socialização, permitindo assim, um melhor desenvolvimento das habilidades de comunicação e interação que lhes parecem tão difíceis.

 

A avaliação de um Médico ou Psicólogo Infantil consiste na observação criteriosa de um conjunto de comportamentos, vivências e da maneira de ser dessa criança, uma vez que o diagnóstico é realizado por Neurologista ou Neuropediatra, e esse especialista, deve ter um grande conhecimento sobre funcionamento e desenvolvimento de crianças em geral. Sendo assim, possível fazer uma análise detalhada daquilo que foge à regra, observar sinais relatados pelos pais, investigar comportamentos nos diferentes contextos e estabelecer vínculos com a criança. (SILVA; GAIATO; REVELES; 2012).

 

Portanto para Williams e Wright (2008, p.29), é importantíssimo os pais e familiares, aceitarem o diagnóstico, visto que a criança precisa de um ambiente saudável com rotinas, amor e atenção, e que também busquem desenvolver relacionamentos construtivos com a escola e serviços voluntários, buscando informações sobre o Autismo, afim de ajudá-las da melhor forma.

 

Definitivamente, o lar jamais será o mesmo com chegada de uma criança com Autismo. Restruturações radicais deverão ser feitas para o seu bom desenvolvimento, e para que a harmonia familiar se preserve. É preciso entender que ela olha, sente e percebe o mundo de forma muito diferente da nossa. Ela o vê fragmentado, aos pedacinhos, como se fosse um enorme quebra – cabeça, cujas peças precisam ser aos poucos encaixadas para que o mundo dela se mostre minimamente parecido com o nosso. (SILVA; GAIATO; REVELES;2012, p.102.)

 

O papel da família no desenvolvimento da criança Autista é de extrema importância para o seu desenvolvimento, sendo necessário o estabelecimento de uma rotina estruturada e a presença de estímulos.

A escola também é importantíssima para o desenvolvimento das crianças, não só na aprendizagem, mas também no desenvolvimento social e na formação do ser humano, e todos tem o direito de vivenciar essa experiência. E é neste ambiente escolar que a criança interage, trabalha em equipe, aprende regras e convive com as diferenças, sendo estes, os primeiros passos para a vida adulta.

 

O desempenho Escolar das crianças com Autismo depende muito do nível de acometimento do Transtorno. As crianças com um nível mais grave, podem apresentar atraso mental e permanecer dependentes de ajuda. As crianças com Autismo leve, ou somente com traços autísticos, na maioria das vezes, acompanham muito bem as aulas e os conteúdos didático – pedagógicos.

Para crianças com Autismo clássico, isto é, aquelas crianças que têm maiores dificuldades de socialização, comprometimento na linguagem e comportamentos repetitivos, fica clara a necessidade de atenção individualizada. Essas crianças já começam sua vida Escolar com o diagnóstico, e as estratégias individualizadas vão surgindo naturalmente. Muitas vezes, elas apresentam atraso mental e, com isso, não conseguem acompanhar a demanda pedagógica como as outras crianças. Para essas crianças, serão necessário, acompanhamentos educacionais especializados e individualizados. ( SILVA; GAIATO; REVELES; 2012, p. 109 e 110).

 

Portanto, é na escola que essas dificuldades se tornam mais evidente, e os professores percebendo-as, precisam comunicar aos pais, para que assim, possam buscar as medidas mais adequadas, contando com o auxílio de profissionais de múltiplas especialidades, para o acompanhamento. Percebidas as dificuldades de interação e socialização; o professor precisa intermediar o contato dessa criança com as outras, por meio de brincadeiras, jogos e atividades, dessa forma, facilitando a interação social dessa criança. Sendo este contato importantíssimo para todos os alunos, que aprendem a conviver com as diversidades.

O educador deve se informar e buscar conhecer as necessidades de seu aluno, e assim, buscar metodologias diferenciadas, que visem seu desenvolvimento de modo individualizado, por meio de recursos criativos, criando oportunidades de interação entre o aluno Autista e os demais alunos da classe de forma espontânea e natural.

 

A interação social com outros alunos, sem a Síndrome, permite ao aluno com Autismo a possibilidade de aprender e se transformar, diminuindo, ou até mesmo eliminando, certos comportamentos por meio da ação mediadora do Professor e dos colegas com os quais convive, e pela construção de um novo repertório de ações mais significativas. Atentamos para um ensino personalizado que potencialize habilidades individuais do aluno Autista não é equivalente a isolá-lo do convívio com outras pessoas. (ORRÚ, 2012, p.130).

 

Sendo assim é de fundamental importância para o desenvolvimento da criança Autista, sua inclusão em salas regulares, de modo que tenham contato com as demais crianças, Portador ou não do Transtorno ou de outras Síndromes, bem como sua participação nas atividades coletivas.

Ao dirigir-se ao aluno Autista, o educador deve se posicionar na altura do aluno para estabelecer contato visual, utilizando-se de uma gramática simples e de fácil entendimento e preparando atividades de interesse do aluno; de modo a estimular seu desejo em aprender, utilizando-se, de variados materiais concretos e visuais, possibilitando ao aluno, fazer associações com sua vida cotidiana, o que proporcionará uma melhor aplicação prática desse conhecimento.

 

É importante dividir as tarefas em passos pequenos. Demonstre como se realiza cada um desses passos. Proporcione ajuda, na medida da necessidade do aluno. Não deixe que abandone a tarefa quando fracassar: faça junto com ele. Em certas situações de dificuldades, peça para o aluno imitar você, passo a passo. Crianças com Autismo, muitas vezes, aprendem pela imitação. (SILVA; GAIATO; REVELES;2012, p.118).

 

O professor precisa estimular a autoestima da criança, demonstrar que tem confiança nela, que ela vai conseguir, e ter paciência para falar, repetir gestos e atividades, quantas vezes forem necessárias; pois, a criança Autista, geralmente, aprenderá por meio da repetição e imitação. O sucesso da aprendizagem é mais facilmente alcançável, quando o interesse da criança é despertado com assuntos atrativos para ela, já que seu interesse é muito restrito, partindo de um interesse inicial para outros assuntos e conteúdos.

 

O Professor sempre deve promover a independência, assim como os pais em casa, é importante incentivar a criança a fazer suas coisas sozinhas, tais como se cuidar, lavar as mãos, fechar os potes de tinta, guardar o material. Cabe ao Professor fazer uma aliança com os pais para elaborar novos desafios para a criança, que possam ser praticados em casa e na Escola: comer sozinha, por exemplo. Isso possibilita que ela pratique o que aprendeu em ambientes diferentes. ( SILVA; GAIATO; REVELES; 2012, p.124).

 

No entanto, é de suma importância incentivar a independência das crianças, para que haja um melhor desenvolvimento e isso, pode ser trabalhado e incentivado, tanto em casa como na escola, sendo importantíssimo o trabalho em conjunto entre a Escola e a família.

 

A alfabetização precisa ter uma função, um objetivo para a criança com o funcionamento autístico e, para isso, é preciso que tenhamos muita criatividade para adaptar materiais e inserir letras na vida delas, de forma atraente e estimulante. A utilização de computadores e tablets como plataforma de motivação e ensino tem apresentando bons resultados, pois os recursos de cores, sons e jogos auxiliam o foco dessas crianças. Devido a facilidade de abstração, a escolha de materiais concretos e visuais torna a alfabetização mais efetiva. ( SILVA; GAIATO; REVELES; 2012, p.125) .

 

Observa-se, conforme a citação, que o professor precisa ser criativo, utilizar de uma variedade de materiais para ajudar a criança, inclusive a tecnologia, que é bem aceita por eles, por oferecer uma gama de recursos visuais, sonoros, além de maneiras diferentes de interação. No caso de jogos, o professor precisa estar atento aos comportamentos e atitudes do aluno: notando desprazer ou falta de interesse, deve repensar a situação, simplificando as atividades, quando verificar que há dificuldades em sua realização e conforme os progressos alcançados, aumentar aos poucos a dificuldade das atividades, com o intuito de manter o desafio. Realizando sempre as adaptações necessárias para que haja um maior interesse do aluno e consequentemente um melhor desenvolvimento.

 

No caso das crianças pequenas Autistas, a Professora ou Professor em particular pode ter um papel muito mais decisivo que a Escola. Ocorre muitas vezes que uma Professora comprometida com o caso, que cria fortes laços afetivos com a criança, exerce uma influência enorme em seu desenvolvimento, e é quem “começa a abrir a porta” do mundo fechado do Autista, por meio de uma relação intersubjetiva, da qual resultam intuições educativas de grande valor para o desenvolvimento da criança. (COLL; MARCHESI; PALACIOS; 2004 p. 250).

 

Um dos grandes desfios da atualidade no campo da educação é o que vem a ser inclusão e qual a melhor maneira de fazê-la.

Há uma diversidade de opiniões quando o assunto é inclusão. Certos autores, afirmam que toda a criança, independentemente do nível de dificuldades, precisa ser incluída na rede regular de ensino, mesmo que em salas especiais. Outros alegam a necessidade das mesmas serem incluídas na sala regular, da escola regular. E para que essa inclusão seja bem-sucedida, é extremamente importante ter profissionais capacitados e atendimento educacional especializado (AEE), para atender tais crianças, proporcionando todo o suporte necessário.

No início do processo de inclusão de uma criança Autista, as dificuldades encontradas pelo educador são grandes, cabe ao educador, buscar metodologias, visando o desenvolvimento global de seu aluno Autista, assim como, das demais crianças, respeitando suas peculiaridades, tendo como prioridade o desenvolvimento de sua independência.

O professor deve ser realista, quanto às dificuldades de seu aluno. Sabe-se que a educação é a forma mais eficaz para ajudar essa criança a se desenvolver, seja em uma sala regular, com algumas adaptações necessárias, ou em uma sala de recurso multifuncional; no início, durante o período de adaptação do aluno, pode ser necessária a presença de um professor auxiliar. Tais crianças têm uma grande capacidade de aprender quando a forma de ensino se dá de maneira adequada às suas peculiaridades.

O educador deve ter uma rotina organizada e bem estruturada, ao trabalhar com o aluno especial. Se o programa educacional for elaborado adequadamente, a probabilidade de aparecerem problemas de comportamento diminui drasticamente, pois o ensino estruturado é o meio facilitador para ajudá-lo no processo de adaptação e aprendizado.

 

Conclusão

 

No desenvolvimento desta pesquisa, foi possível constatar a importância dos educadores possuírem conhecimentos acerca do Autismo, para que dessa forma, venham a contribuir com o desenvolvimento dos alunos, mediando conhecimentos de forma atraente e criativa, partindo do interesse dessas crianças; que é muito restrito.

Ainda conforme o estudo realizado verifica-se que, o professor como facilitador/mediador da aprendizagem precisa buscar alternativas, caminhos e criar recursos criativos, demonstrando confiança nessa criança, para que possam crescer e se desenvolver de forma satisfatória no ambiente escolar.

Diante do exposto conclui-se que o processo de aprendizagem de uma criança autista leva tempo e requer calma, empenho e metodologias adequadas à singularidade de cada criança Autista, que respeite suas dificuldades e favoreça suas habilidades e interesses, a partir dos quais, o conhecimento passará a ser construído, tendo cada qual seu tempo específico que deve ser respeitado, sendo de fundamental importância nesse processo o acompanhamento dos pais e especialistas.

Diante dessa realidade faz-se necessário ampliar o conhecimento de novas técnicas que facilitem o aprendizado do aluno Autista de modo que alcancem uma vida mais independente e com qualidade.

 

REFERÊNCIAS

 

COLL,César. MARCHESI, Álvaro. PALACIOS, Jesús. Desenvolvimento psicológico e educação. Transtornos de desenvolvimento e necessidades educativas especiais. 2.ed. Porto Alegre: Artmed, 2004. v. 3.

 

SILVA, Ana Beatriz Barbosa. GAIATO, Mayra Bonifácio. REVELES, Leandro Thadeu. Mundo singular. Entenda o Autismo. Rio de Janeiro: Fontanar, 2012.

 

ORRÚ, Sílvia Ester. Autismo, linguagem e educação. Interação social no cotidiano Escolar.3.ed.Rio de Janeiro:Wak, 2012.

 

WILLIAMS, Chris. WRIGHT, Barry. Convivendo com Autismo e Síndrome de Asperger.Estratégias práticas para pais e profissionais. São Paulo: Books, 2008.