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EDUCAÇÃO INFANTIL: DESVELANDO AS CONCEPÇÕES E PRÁTICAS DE PROFESSORES SEM ANTAGONIZAR OS FAZERES DA CRIANÇA

Queila Francelina Puger
Thays Regina Lemes Alves
Rosivania Bergamin Durante
Thayla Cristina da Silva Perez
Elizangela Pinheiro de Almeida

 

RESUMO:

Este presente estudo tem como tema as atividades lúdicas na prática dos professores de Educação Infantil, baseia-se na importância desses fazeres para construção do conhecimento das crianças. O estudo teve como objetivo central, refletir sobre as práticas pedagógicas, pautadas nos jogos e brincadeiras, enfatizando a história da Educação Infantil e a formação do educador da infância, com pretensões em reforçar a necessidade de que os professores da educação infantil necessitam refletir suas práticas com crianças de quatro a cinco anos. Constatamos por meio dos resultados obtidos, através da pesquisa bibliográfica, conceitos e concepções acerca da importância do trabalho do educador da infância e da criança no processo da construção do conhecimento, trabalhando por meio do lúdico, metodologias motivadoras e atraentes nesse sentido. É um trabalho escrito e dedicado para educadores, acreditamos que desde seu título às reflexões aqui apontadas despertará o interesse àqueles que se pré-dispõe a modificar suas concepções, trazendo um novo significado para o seu dia-a-dia e que tem a determinação de enfrentar o cotidiano, marcando presença e sendo ousado para refletir a própria prática. Findamos com a reflexão de que as práticas que se efetivam na Educação Infantil são passíveis de transformação. Para tanto, é preciso que o professor seja motivador, assumir o mundo da criança para que nossos caminhos não se transformem em desencontros. Destaca-se ainda que o estudo não teve como objetivo esgotar a temática, tal perspectiva necessita de maiores aprofundamentos.

 

Palavras Chave: Educação Infantil. Práticas Pedagógicas. Ludicidade.

 

1. INTRODUÇÃO

 

No tocante à Educação Infantil a prática da ludicidade pode ser considerada como um processo responsável, e de transformação de todo o trabalho pedagógico na instituição de Educação Infantil. Práticas estas, que possibilitam às crianças desenvolver a linguagem oral e exercitar tantas outras. Possibilitando assim o desenvolvimento integral da criança nesta etapa, a brincadeira existe no universo infantil desde a antiguidade, pois é através dela que a criança apropria-se da sua própria imagem, do seu espaço, do seu meio sociocultural, criando deste modo sua identidade nas relações de construção de seus conhecimentos.

Neste trabalho partimos do pressuposto de que as atividades lúdicas como estratégia educativa na Educação Infantil devem ser consideradas como uma das formas mais naturais de chamar a atenção das crianças, para que as mesmas venham integrar-se livremente. Segundo o Referencial Curricular para a Educação Infantil, o brincar é um precioso momento de construção pessoal e social, interpondo-se pelo eixo do trabalho do movimento, compreende-se que a criança através de seu movimento vai construindo sua moralidade e afetividade diante das várias situações desafiadoras e significativas que estão presentes no brincar, e é essencial à produção social do conhecimento.

Na Educação Infantil os jogos e brincadeiras assumem um papel de suma importância, pois eles são capazes de fornecer à criança os componentes culturais para conhecer-se e é, através dessa vivencia com o brincar que se é possível observar como tais situações influenciam nos comportamentos das crianças em uma perspectiva histórico-cultural. O educador valorizando o trabalho com jogos e brinquedos, terá uma ferramenta essencial para com seu trabalho de todos os dias. O Lúdico pode servir de estímulo para o desenvolvimento da criança nas atividades em que elas necessitam de atenção e concentração para participarem, auxiliando também no amadurecimento cognitivo.

O objetivo deste trabalho foi o de construir um estudo bibliográfico visando às práticas pedagógicas pautadas nos jogos e brincadeiras, bem como apontar sua importância para o desenvolvimento integral da criança. Para isso percorremos um caminho respaldando em um suporte teórico no intuito de proporcionar aos educadores da infância algumas reflexões pertinentes às práticas pedagógicas.

 

2. A CAMINHADA HISTÓRICA E POLÍTICA EM FAVOR DA EDUCAÇÃO INFANTIL

 

O atendimento às crianças de 0 a 5 anos em instituições especializadas começou com as transformações ocorridas na estrutura social e econômicas, da Revolução Industrial no início do século XIX que atingiu o mundo todo. Nesta ocasião as mulheres começaram a deixar seus lares por um período, onde eram executoras de suas obrigações domesticas e cuidados com seus filhos e marido, para entrarem no mercado de trabalho. Relacionado a este fato, sob pressão dos trabalhadores urbanos, que reconheciam nas creches um direito, seus e de seus filhos, e almejavam por melhores condições de vida, surgiu o atendimento da Educação Infantil (termo atual referente ao atendimento de crianças de 0 a 5 anos no Brasil).

A Educação Infantil constitui-se na 1ª etapa da Educação Básica, período que compreende as crianças com idade entre 0 a 5 anos. Somente na Constituição de 1988, que pela primeira vez que tivemos o termo “Educação Infantil”, anunciado num documento oficial, esta incorporou vários dispositivos que garantem a defesa dos direitos do cidadão, dentre estes estão os direitos das crianças brasileiras à educação, esta vem trazendo a responsabilidade política e social para com a criança no país. Entretanto, essa caminhada foi longa e sinuosa, pois os artefatos legais apontam avanços e retrocessos na caminhada em favor da educação das crianças no Brasil.

Até 1920, as instituições eram de caráter restritamente filantrópico e caracterizado por seu árduo ingresso proveniente do período colonial e imperialista da história do Brasil. A partir da década de 20 que se deu o começo a uma nova forma no ensino, produzindo uma defesa em torno da democratização do ensino, passando então educação a expressar possibilidades de integração social a qual era defendida como direito de todas as crianças, consideradas como iguais.

O Estado na década de 30 tomou para si a responsabilidade de buscar incentivo (financeiro) de instituições privadas, que viriam a auxiliar com o amparo à infância. Vários órgãos foram criados voltados à assistência infantil, (Ministério da Saúde; Ministério da Justiça e Negócios Interiores, Previdência Social e Assistência Social, Ministério da Educação e também a iniciativa privada). Década em que as atenções foram fixadas na área da educação física e higiene das crianças, como fator de desenvolvimento das mesmas, sendo que a luta contra a mortalidade infantil era o seu principal objetivo.

Iniciando nesse período a organização de creches, jardins de infância e pré-escolas de forma confusa e sempre numa expectativa emergencial, ou seja, para resolver problemas ditos urgentes, como se os problemas vividos pelas crianças, pudessem ser resolvidos por essas instituições. No ano de 1940 o departamento Nacional da criança, foi criado com a finalidade de regulamentar as atividades dirigidas à infância, maternidade e adolescência, sendo de responsabilidade administrativa do Ministério da Saúde. Na década de 50 ocorreu uma forte tendência médica-higiênica do Departamento Nacional da Criança, realizando vários programas e campanhas com a intenção de lutar contra a desnutrição, campanhas de vacinação conduzidas por diversos estudos e pesquisas de cunho médico. Proporcionavam também auxílio técnico para a criação e reformas de hospitais e maternidades pelo país.

A primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional 4024 / 1961, pela primeira vez uma lei faz menção à educação das crianças menores de 07 anos, No Título VI, Da Educação de Grau Primário, Capítulo I, Da Educação Pré-Primária, está assim se referia à educação das crianças:

 

Art. 23. A educação pré-primária destina-se aos menores até sete anos, e será ministrada em escolas maternais ou jardins-de-infância.

Art. 24. As empresas que tenham a seu serviço mães de menores de sete anos serão estimuladas a organizar e manter, por iniciativa própria ou em cooperação com os poderes públicos, instituições de educação pré-primária.

 

Também por volta de 1960, ocorreu no Departamento da Criança alguns problemas, que motivou passar para outros setores as suas responsabilidades, predominando o caráter médico-assistencialista, objetivando suas ações em reduzir a mortalidade infantil.

Após dez anos e muitos interesses políticos, com a promulgação da Lei Nº 5.692 / 1971, a qual faz referência à educação das crianças no Art. 19, § 2º “Os sistemas de ensino velarão para que as crianças de idade inferior a sete anos recebam conveniente educação em escolas maternais, jardins de infância e instituições equivalentes.”, estando dirigindo-se à educação das crianças como ser conveniente às instituições descritas acima. Tal lei recebeu inúmeros comentários referentes à sua superficialidade, com também apresentava dificuldade para sua execução, pois faltava um programa exclusivo de motivação para as empresas criarem creches e pré-escolas.

Tomando o processo de discussão e evolução das políticas públicas no Brasil, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - LDBEN 9394/96, trata da educação das crianças pequenas, em três artigos, garantindo o espaço da criança de zero a 5 anos1 à educação, tratando a Educação Infantil como a primeira etapa da educação básica. A Educação Infantil que se desenvolve em creches e pré-escolas brasileiras, institui-se em um novo cenário no sistema escolar brasileiro, passando a integrar a Educação Nacional, a partir da aprovação da referida Lei, o Título V – Dos níveis e das Modalidades de Educação e Ensino, no Capítulo I, da Composição dos Níveis Escolares, em seu Art. 21, afirma a composição dos níveis:

I educação básica e II educação superior.

A educação básica, por sua vez, subdivide-se em Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio. Seção II,

 

Art. 29 - A Educação Infantil, primeira etapa da educação básica, tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança até seis anos de idade, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e comunidade”.

Art. 30 - A Educação Infantil será oferecida em:

  1. creches, ou entidades equivalentes, para crianças de até três anos de idade;

  2. pré-escolas, para crianças de quatro a seis anos de idade.

Art. 31. Na educação infantil a avaliação far-se-á mediante acompanhamento e registro do seu desenvolvimento, sem o objetivo de promoção, mesmo para o acesso ao ensino fundamental.

 

Sendo este o primeiro documento legal a conceber a Educação Infantil como a primeira etapa da educação básica, concebendo esta etapa de suma importância para o desenvolvimento da criança nas mais diferentes dimensões.

Desta forma, as creches e pré-escolas que compõem a Educação Infantil, com a LDBEN 9394 /96 passam a ser tidas como locais legítimos de favorecimento do desenvolvimento infantil, uma vez que têm a função de educar as crianças nas suas múltiplas necessidades.

A LDBEN / 96, ao contemplar a importância do brincar nas creches e pré escolas, deixa subtendida na sua concepção de que neste lugar deve haver espaço para as atividades lúdicas e que estas são de fundamental importância para efetivá-lo das múltiplas linguagens pela criança. Quanto ao profissional da educação a nova Lei de Diretrizes e Bases da

Educação Nacional,

 

Art. 61 comenta: A formação de profissionais da educação, de modo a atender aos objetivos dos diferentes níveis e modalidades de ensino e as características de cada fase do desenvolvimento do educando, terá como fundamentos:

  1. a associação entre teorias e práticas, inclusive mediante a capacitação em serviço:

  2. aproveitamento da formação e experiências das formações anteriores em instituições e outras atividades.

 

Todavia, além da conscientização da realidade atual da escola, é necessário ao professor ter formação adequada, ser um profissional criativa, crítico e com práticas voltadas para a pesquisa, além de que se dêem condições necessárias para que este profissional possa executar um bom trabalho, utilizando recursos didáticos específicos, lugar apropriado e renumeração digna.

Ainda sobre a distribuição das responsabilidades entre os estados e municípios, fica determinada a incumbência dos municípios, pois estes conforme as deliberações da Lei incumbir-se-ão de:

 

V - oferecer educação infantil em creches e pré-escolas e, com prioridade, o ensino fundamental, permitida a atuação em outros níveis de ensino quando estiverem atendidas plenamente as necessidades de sua área de competência e com recursos acima dos percentuais mínimos vinculados pela Constituição Federal à manutenção e desenvolvimento do ensino.

 

Em meio às discussões que permitem a evolução no cenário das políticas públicas educacionais surge o documento normativo como diretriz para os encaminhamentos a educacionais a essa etapa. A Resolução CNE / CEB - 05/2009 que preconiza as Diretrizes Curriculares da Educação Infantil, esta nomeia enquanto objetivo dessa etapa,

 

(...) garantir à criança acesso a processos de apropriação, renovação e articulação de conhecimentos e aprendizagens de diferentes linguagens, assim como o direito à proteção, à saúde, à liberdade, à confiança, ao respeito, à dignidade, à brincadeira, à convivência e à interação com outras crianças.

 

Com esse objetivo o currículo da Educação Infantil tende a primar por situações de estímulos às crianças, por meio de atividades lúdicas, jogos e as mais diferentes linguagens, com o propósito de exercitar suas capacidades motoras, fazer descobertas, dando assim continuidade ao processo de letramento vivido pela criança. Sei que a caminhada em favor da educação das crianças pequenas apenas inicia-se, pois a concepção de cunho social ainda permeia os espaços de Educação Infantil.

Com isso me reporto à história da escola da infância desde o seu surgimento até os dias atuais, não se pode negar que houve uma evolução do trabalho pedagógico nas instituições de Educação Infantil, pois se no início os adultos tomavam conta das crianças, distraindo-as com atividades e materiais, enquanto aguardavam a retomada dos pais, exerciam assim a simples função de guardar. Hoje o modo de pensar é outra, percebe-se uma maior inquietação por parte dos educadores com o desenvolvimento da criança nesta faixa etária (0 a 5 anos), onde o cuidar e o educar são binômios indissociáveis.

Dentre os encaminhamentos para implantação de políticas educacionais em favor das crianças, os estados e municípios, em consonância com as Leis maiores, começam a se organizarem em seus campos de competência. Nesse sentido a Educação Infantil no município de Rondonópolis é regulamentado pela Resolução

002 / 2009 – Conselho Estadual de Educação / MT, que estabelece normas para a

Educação Básica do sistema estadual de ensino, revogando a Resolução 276 / 2000 – CEE / MT, que até então era o documento normatizador da Educação Infantil no estado. Acerca deste documento, Art. 17, a criança deverá ser concebida nas instituições enquanto,

 

Art. 17 - As Unidades Escolares de Educação Infantil deverão observar na organização de suas propostas pedagógicas as Diretrizes Curriculares Nacionais vigentes para essa Etapa e estar fundamentada numa concepção de criança como cidadã, pessoa em processo de desenvolvimento, sujeito ativo da construção do conhecimento e como sujeito social e histórico marcado pelo meio em que se desenvolve e que também o marca.

 

Dentre alguns documentos oficiais de caráter orientador e que muito tem contribuído para a organização das propostas pedagógicas nas instituições de Educação Infantil, podemos citar o Referencial Curricular Nacional – RCNEI / 98, apesar das inúmeras críticas a esse documento, este ainda é um elemento norteador das práticas nas escolas da infância.

O Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil (Brasil,1998, p.13)2, especifica os vários aspectos a serem contemplados, dentre eles o brincar.


A qualidade das experiências oferecidas que podem contribuir para o exercício da cidadania, respeitando-se as especificidades afetivas, emocionais, sociais e cognitivas das crianças de zero a seis anos, devem estar embasadas nos seguintes princípios:

O respeito à dignidade e aos direitos das crianças, consideradas nas suas diferenças individuais, sociais, econômicas, culturais, étnicas, religiosas, etc.;

O direito das crianças a brincar, como forma particular de expressão, pensamento, interação e comunicação infantil; O acesso das crianças aos bens sócios culturais disponíveis, ampliando o desenvolvimento das capacidades relativas à expressão, à comunicação, à interação, ao pensamento, à ética e à ciência.

 

A socialização das crianças por meio de sua participação e inserção nas mais diversificadas práticas sociais, sem discriminação de espécie alguma; O atendimento aos cuidados essenciais associados à sobrevivência e ao desenvolvimento de sua identidade.

 

Este documento assim se pronuncia acerca da educação das crianças, Brasil (1998, p.23),

 

Educar significa, portanto, propiciar situações de cuidados, brincadeiras e aprendizagens orientadas de forma integrada e que possam contribuir para o desenvolvimento das capacidades infantis de relação interpessoal, de ser e estar com os outros em uma atitude básica de aceitação, respeito e confiança, e o acesso, pelas crianças aos conhecimentos mais amplos da realidade social e cultural. Neste processo, a educação poderá auxiliar o desenvolvimento das capacidades de apropriação e conhecimento das potencialidades corporais, afetivas, emocionais, estéticas e éticas, na perspectiva de contribuir para a formação de crianças felizes e saudáveis.

 

Deste modo, fica vantajoso o ambiente coletivo de crianças e adultos, pois traz vantagens em relação a situação familiar devido à possibilidade de contar com recursos humanos e materiais, que proporcionam maior diversidade de oportunidades de situações vividas pela criança, o que favorece sua sociabilidade e aprendizado sobre o mundo que a cerca.

Sobre o contexto histórico da Educação Infantil posso dizer que é um tema de muitas discussões, estudos e registros relevantes que levaram à dimensão bem maior do que ser historicamente considerada como um processo de interação social e desenvolvimento pessoal. A história da Educação Infantil não está isolada no interior do campo educacional, mas forma em si mesmo um elemento integrante da história da sociedade. Nesta perspectiva, Kuhlmann Jr. (2004, p. 15) aponta um novo olhar,

 

(...) A educação não seria apenas uma peça do cenário, subordinada a uma determinada contextualização política ou sócio-econômica, mas elemento constitutivo da história da produção e reprodução da visa social. A história da infância assume uma dimensão significativa nessa perspectiva de alargamento de horizontes, o que se torna mais nítido com o aprofundamento das pesquisas sobre a história da educação infantil.

 

Deste modo antes de fazer uma breve retrospectiva na historicidade da Educação Infantil se faz necessário pontuar a compreensão de infância e suas singularidades.

A infância pode ser compreendida como uma concepção ou representação, ao período inicial de vida do ser humano, isto é, seu próprio período vivido. Nos dicionários de língua portuguesa, infância é considerada como o período de crescimento do ser humano que vai do nascimento à puberdade, uma condição própria do ser criança, deste modo, cabe ao conceito de infância a compreensão deste período em suas singularidades no decorrer de sua história. Sobre a história de infância Kuhlmann Jr. e Fernandes (2004, p.15) afirmam que:


A história da infância seria então a história da relação da sociedade, da cultura, dos adultos, com essa classe de idade, e a história da criança seria a história da relação das crianças entre si e com os adultos, com a cultura e a sociedade. Ao considerar a infância como condição das crianças, caberia perguntar como elas vivem ou viveram esse período, em diferentes tempos e lugares [...] .

 

Durante muito tempo as crianças eram vistas como um ser que já nasce pronto ou nasce vazio e necessita de noções que vão lhe ajudar para a vida adulta ou até mesmo como um sujeito conhecedor, tais concepções foram aceitas destras da Educação Infantil, até o surgimento das bases epistemológicas que a fundamentam. Consequentemente a criança deixa de ser passiva vazia e passa a ser vista com um ser competente que interage e produz construindo uma história. Posso dizer que hoje há um consenso entre alguns estudiosos em ressaltar que a criança não é um adulto em miniatura é um indivíduo único, completo, que está em crescimento e desenvolvimento.

A criança é um sujeito social e histórico que está inserida em uma sociedade na qual partilha de uma determinada cultura. É excessivamente marcada pelo meio social em que se integra e desenvolve, mas também contribui com ele, deste modo a criança é vista como um sujeito que produz e é produto da sociedade, confirmando sua particularidade de sujeito histórico e social.

A criança age, pensa e sente, sendo impossível a separação do cognitivo e afetivo no seguimento de desenvolvimento. A criança é capaz de interagir num meio natural, social e cultural desde o seu nascimento, sua relação com o clima, por exemplo, com os pais, os valores, irão contribuir na conduta das crianças, sendo que quanto maior o contato com diversos parceiros e experiências, maior será seu desenvolvimento.

Mas nem sempre foi assim, a forma de lidar com as crianças na idade média, por exemplo, era baseado em algumas características adquiridas da antiguidade. O papel das crianças era determinado pelo pai. O correto no mundo grego era de que o pai além de ter total controle sobre o filho compreendia também poder tirar-lhe a vida, caso o rejeitasse. No mundo germânico, além do pai poder controlar sua família, havia o poder patriarcal, dirigido pela autoridade política e social. Com a ascensão do cristianismo, o modo de lidar com as crianças mudou, apesar desta ter sucedido de forma lenta e progressiva, o que é perfeitamente compreensível se considerarmos as mudanças enquanto fenômenos sociais que fazem de determinadas concepções.

Levando em consideração os estudos de Philippe Áries (1981), onde ele nos relata em suas pesquisas que a infância é uma construção social, pois sempre existiu este grupo de pessoas pequenas que foram denominadas crianças, e que cada um tem sua forma de viver a vida, e isso varia de acordo com seu tempo espaço, cultura, enfim uma imagem construída pelos adultos dizendo que a infância estava protegida, tendo esta como um período de inocência, onde a criança não tinha voz, porém a realidade não tinha necessariamente essa nuance.

 

3. A IMPORTÂNCIA DO BRINCAR E AS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS

 

Pensando no brincar como base fundamental para o desenvolvimento da criança, Froebel (1896) nos traz que o:

 

Brincar é a atividade mais pura, mais espiritual do homem neste estágio da vida humana como em toda a vida natural interna escondida no homem e em todas as coisas. Ele dá assim, alegria, liberdade, contentamento interno e descanso externo, paz com o mundo. Ele assegura as fontes de tudo o que é bom. Uma criança que brinca por toda a parte, com determinação auto-ativa, perseverando até esquecer a fadiga física, poderá seguramente ser um homem determinado capaz de auto sacrifício para a promoção deste bem-estar de si e dos outros. (FROEBEL, 1896, p. 54, 55).

 

Considerando os jogos e a brincadeira como pressuposto importante no desenvolvimento da criança, tendo como um facilitador as práticas pedagógicas supõe- se que tais práticas podem influenciar consideravelmente no processo de ensino e aprendizagem.

Para Winnicot (1975), é no ato de brincar que a criança se expressa de maneira criativa, onde se é possível construir no eu (self), adquirindo experiências externas e internas, facilitando o crescimento promovendo dessa forma a saúde.

Ainda nesse pensamento sobre o brincar, Piaget (1975), afirma que os jogos possuem duas formas fundamentais no desempenho sensório-motor e de simbolismo... “os métodos ativos de educação das crianças exigem todos que se forneça às crianças um material conveniente, a fim de que, jogando, elas cheguem a assimilar as realidades intelectuais (Piaget 1975, p.160)”.

Tendo em vista tais referencias é possível se dizer que a atividade essencial dos pequenos é o brincar, é através do brincar que a mesma se dialoga com o mundo lá fora.

Desta maneira Vygotsky (1998), ressalta que os brinquedos são aliados da aprendizagem infantil, pois ela proporciona a vivenciar acontecimentos sócios culturais, num mundo imaginário, das quais seus sonhos impossíveis são realizados.

Nesse sentido a relação professor e aluno, criança e o brinquedo é visto como a zona de desenvolvimento social, pois ao brincar a criança narra um fato a partir da ligação com o meio (VYGOSTSKY, 1998).

Nota-se que o brinquedo é o mediador no processo de aprendizagem, favorecendo o desenvolvimento da criança, no qual a relação criança e o brincar possibilitam ancorar em um contexto sócio histórico, em que a cultura desempenha um pape fundamental.

Visto todos esses argumentos, e pensando nas práticas pedagógicas na infância o objetivo do professor é de mediação na zona de desenvolvimento proximal das crianças, contribuindo para suas capacidades infantis, proporcionando o conhecimento entre o mundo imaginário e o real no qual a criança está inserida (VYGOSTSKY, 1998).

O Ministério da Educação e Cultura do Brasil juntamente com Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil defende que o papel do professor é proporcionar momentos de brincadeira para que possa de maneira diversificada permitir que as crianças construam seus próprios papéis, regras, desenvolvendo suas emoções, sentimentos (BRASIL/MEC, 2001).

Compreendendo a necessidade de construir o sujeito de maneira completa, a ludicidade se insere como objeto essencial, pois é a partir do lúdico que se é possível fortalecer os fatores cognitivos, afetivos desenvolver aspectos motores e psicológicos.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

Procuramos evidenciar neste trabalho, que as atividades lúdicas, na Educação Infantil possibilitam alcançar os objetivos educacionais que norteiam o trabalho pedagógico do professor. Refletir sobre os estudos e concepções propostas por muitos pesquisadores no tocante às experiências adquiridas pelas crianças nos seus primeiros anos de vida, são fundamentais para o seu desenvolvimento em todos os aspectos, tais conceitos nos permitiram repensar acerca de possibilidades diversas para a Educação Infantil e principalmente nas práticas pedagógicas dos educadores da infância.

Com esse pensamento ante os princípios postos a esse nível, no tocante às etapas iniciais da vivência da criança e das possibilidades de desenvolvimento de suas potencialidades, por meio das diferentes linguagens, contribuindo para que sejam mais autônomas, críticas, criativas e independentes.

A educação formal reveste-se de uma grande importância sociocultural no mundo contemporâneo e o desempenho escolar é indicativo de posterior sucesso social.

Há um grande vazio de aprendizagem nas primeiras séries do ensino infantil e fundamental em decorrência de um grande número de alunos com dificuldade em aprendizagem o que interfere diretamente no seu futuro desenvolvimento cognitivo e social.

As dificuldades de leitura implicam, normalmente, em uma a falha no reconhecimento, ou a compreensão do material escrito, sua vocalização e conexão com a identidade de significado da palavra.

A linguagem escrita tem características próprias e com isso sua metamorfose é associada diretamente a meio onde ela esta inserida, assumindo diversos papeis sociais e econômicos. Sendo um processo mais complexo, pois envolve diferentes habilidades e implica em uma estruturação daquilo que se considera representar.

Entretanto a escrita passou a ser uma preocupação social recentemente, pois é vinculada à sociedade de forma intrínseca e por vezes utilizada como forma de subjugar e controlar através de ideologias.

 

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