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O BRINCAR NA ESCOLA

Flávia Liranço da Silva

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Se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda. (Paulo Freire)

 

RESUMO

O artigo possibilita fazer uma reflexão sobre o fato da mediação do brincar na escola e de como as diferentes ações e atitudes do professor influencia na questão do aprendizado das crianças. Diante dessa cultura da imobilização em que se vive na atualidade é possível observar o quanto é essencial e importante o brincar na infância e como isso é tão especial e prazeroso principalmente na etapa da educação infantil.

 

Palavras-chave: Mediação. Infância. Professor. Escola. Brincar.

 

INTRODUÇÃO

 

A palavra lúdico vem de origem latina: “ludus”, que significa “jogo”. Poderia significar somente jogar, mas sua evolução tornou-se o que hoje podemos definir como uma forma de desenvolver a criatividade e o conhecimento através de jogos, brincadeiras, músicas (ALMEIDA, 2009, p. 1).

Aos poucos nos esquecemos de que, quando crianças, um sistema de comunicação era construído com meio social e que o mesmo era integrado ao movimento de expressão. O brincar faz parte da criança, por isso é de grande importância que essa diversão seja usada de uma forma muito inteligente, prazerosa e construtiva para que haja o estímulo ao aprendizado tanto no espaço escolar, quanto em seu convívio familiar.

Discorrendo sobre o tema a história do brincar Craidy e Kaercher (2001) afirmam que a criança observa o mundo através do brinquedo e que sempre existiram formas, jeitos e instrumentos para brincar. As brincadeiras se perpetuam e se renovam a cada geração carregando os traços característicos. Elas continuam ressaltando: [...] A criança expressa-se pelo ato lúdico e é através disso, a infância carrega consigo as brincadeiras. Elas perpetuam e renovam a cultura infantil, desenvolvendo formas de convivência social, modificando-se e recebendo novos conteúdos, a fim de se renovar a cada geração. É pelo brincar e repetir a brincadeira que é saboreada a vitória de adquirir um novo saber fazer, incorporando-o a cada novo brincar. (2001,p.103) [.....].

O lúdico auxilia na socialização das crianças umas com as outras, e o professor deve estar atento a todos os tipos de mudanças no mundo dos alunos para que possa acompanhá-los de forma ativa, adaptando suas aulas ao mundo atual. Também é de suma importância salientar que os jogos, brincadeiras e estratégias que apresentam base na ludicidade, são simplesmente ferramentas, pois quem apresenta um papel importantíssimo nesse processo de guia dos alunos por uma aprendizagem lúdica é o professor.

Quando se destaca a atividade lúdica, o importante não é simplesmente o produto da atividade trabalhada, e sim a ação, aquele momento em que está oportunizando ao encontro com o próximo, momento esse da realidade, da fantasia e da percepção, pois o lúdico não exige apenas trabalho com conhecimentos e conceitos, mesmo que são importantíssimos, mas a própria ação do momento em que se é vivenciado. Sendo assim, esse desenvolvimento do aspecto lúdico também é um facilitador do desenvolvimento cultural, pessoal, e da aprendizagem, além de contribuir também com a saúde mental da criança, o mesmo auxilia nos processos de comunicação, construção de habilidades e conhecimentos, atitudes e valores. Para a criança uma atividade que é considerável natural é o brincar, pois é trabalhado de forma lúdica e o mesmo proporciona socialização, curiosidade, desenvolvimento da linguagem e concentração, além de favorecer a imaginação e criatividade. Pois brincando, a criança adquire conhecimento de uma forma prazerosa e divertida.

 

BRINCAR E MEDIAR

[....] Brincar é a fase mais importante da infância do desenvolvimento humano, neste período por ser auto - ativa representação do interno a representação de necessidades e impulsos internos. (FROEBEL, 1912, p.54- 55) [...].

Tudo o que a criança realizar só, que é a zona de desenvolvimento proximal se encontra ao nível de desenvolvimento real, já o que a criança apresenta capacidade para realizar, mas não faz sozinha esse é o nível de desenvolvimento potencial.

Tudo isso são resultados de interações mediadas, pois a criança realiza em contato com auxílio de um mediador. É observável que o brinquedo também tem papel importante na mudança da relação entre o campo da percepção visual e o campo do significado. Segundo Vygotsky (2007), "A criança vê um objeto, mas age de maneira diferente em relação àquilo que vê. Assim, é alcançada uma condição em que a criança começa a agir independente daquilo que vê"; pois também é ressaltado que: “toda atividade lúdica da criança possui regra”, e essas atividades lúdicas são muito significativas para as crianças.

Quando se trata do assunto ludicidade, significa que estamos pensando em uma possibilidade de que criança brinque de uma maneira descompromissada, sem que haja em todas as situações o intuito de alcançar objetivos secundários, como desenvolver conhecimentos matemáticos, de leitura etc. Essa atitude da brincadeira é importante para a criança desenvolver sua criatividade e expressar-se no futuro. Pois como destaca P7 “[...] lúdico pra mim é a brincadeira [...] a brincadeira desenvolve assim a criatividade, mas principalmente a criança aprende a obedecer regras [...]”. Além disso, a ludicidade também pode contribuir para que a criança desenvolva saberes, a aprender brincando, interagindo com seu meio social de maneira mais prazerosa. Ao ouvir o termo ludicidade “[...] eu penso na palavra lúdico, e lúdico, que envolve a criança algo prazeroso [...]”.

Segundo o autor abaixo que: A brincadeira e o jogo, são formas de a criança criar situações para dominar a realidade e experimentá-la. Brincando ela explora o mundo, constrói seu 14 saber, aprende a respeitar o próximo, desenvolve o sentimento de grupo, ativa a imaginação e se auto realiza. (MORAES; PULUCENA; SANTOS, s.d., p. 5).

A Criança que brinca, aprende a socializar-se com os outros, além de aprender a compartilhar, cumprir regras e tomar decisões. Dessa maneira, as brincadeiras devem ser valorizadas no ambiente escolar. Trata-se de uma experiência vivenciada pela criança na aprendizagem, experiência essa que é o interagir, com ela e com o próximo. Pois quando se recebe o conhecimento de uma forma prazerosa, isso cria possibilidades de construção de uma imaginação que não fica restrita somente ao espaço escolar, mas que de um modo muito especial influencia o ser na trajetória da vida adulta. Portanto, quando se busca formas inovadoras do ensino através do lúdico, é que se consegue adquirir uma educação de qualidade atendendo plenamente suas necessidades, pois é preciso estar interagindo no meio da criança para estimularmos sua autonomia e autoconfiança.

O lúdico é considerado um recurso metodológico de grande importância no processo do ensino aprendizagem, que vem auxiliando a aprendizagem das crianças desde a etapa da educação infantil até a fase adulta, pois favorece a autonomia possibilitando o exercício da concentração e produção do conhecimento.

 

 

ATITUDE DA BRINCADEIRA

Segundo o dicionário Aurélio (2003), o brincar é o mesmo que “divertir, recrear-se, entreter-se, distrair-se, folgar", também pode ser "entreter-se com jogos infantis", ou seja, é algo presencial nas nossas vidas, ou pelo menos deveria ser.

Nesta perspectiva, o brincar assume uma posição privilegiada para que se faça a análise do processo de construção do ser, rompendo com a visão tradicional de que ela é uma ação natural de satisfação de instintos infantis. Ainda, o autor se refere a brincadeira como uma maneira de expressão e apropriação do mundo das relações, das atividades e dos papéis dos adultos. A capacidade de imaginação, pensamento de novos planos, apropriar-se de novos conhecimentos surge nas crianças, através do ato de brincar. A criança por intermédio do brincar, de atividades lúdicas, atua mesmo que simbolicamente, nas diferentes situações vividas pelo ser humano, reelabora sentimentos, conhecimentos, significados e atitudes.

Segundo o Referencial Curricular Nacional da Educação Infantil (BRASIL, 1998, p. 27, v.01):

 

O principal indicador da brincadeira, no meio das crianças, é o papel que assumem enquanto brincam. Ao adotar outros papéis no momento do brincar, as crianças agem frente à realidade de maneira não-literal, transferindo e substituindo suas ações cotidianas pelas ações e características do papel assumido, utilizando-se de objetos substitutos.

 

Quando a criança brinca, ela também aprende a respeitar regras, a ampliar o seu relacionamento social e a respeitar ela mesma e ao outro. Através da ludicidade o ser se expressa com maior facilidade, ouvir, respeitar e discordar de opiniões, exercendo sua liderança, e sendo liderados e compartilhando sua alegria de brincar. Em contrapartida, em um ambiente sério e sem motivações, os educandos acabam evitando expressar seus pensamentos e sentimentos e realizar qualquer outra atitude com medo de serem constrangidos. Referencial Curricular Nacional da Educação Infantil (BRASIL, 1998, p. 27, v.01): diz que: “A criança brinca daquilo que vive; extrai sua imaginação lúdica diariamente.”, portanto, as crianças, tendo a oportunidade de brincar, estarão mais preparadas emocionalmente para controlar suas atitudes e emoções dentro do contexto social, obtendo assim melhores resultados gerais no desenrolar da sua vida.

Quando se desenvolve o aspecto lúdico facilita a aprendizagem, o desenvolvimento pessoal, social e cultural, colabora para que se tenha uma boa saúde mental, prepara para um estado interior fértil, facilita os processos de socialização, comunicação, expressão e construção do conhecimento. (SANTOS, 2001 p.108).

 

Diante disso, a criança torna-se menos dependente da sua percepção e da situação que a afeta de imediato, passando a dirigir seu comportamento também por meio do significado dessa situação, Vygotsky (1998, p.127) relata que “No brinquedo, no entanto, os objetos perdem sua força determinadora. No brincar, ela consegue separar pensamento, ou seja, significado de uma palavra de objetos, e a ação surge das ideias, não das coisas.

Nesse caso, a brincadeira favorece o desenvolvimento individual da criança, ajuda a internalizar as normas sociais e a assumir comportamentos mais avançados que aqueles vivenciados no cotidiano, aprofundando o seu conhecimento sobre as dimensões da vida social.

Segundo Vygotsky (1998), um representante desse olhar, o brincar é considerado uma atitude humana criadora, na qual imaginação, fantasia e realidade interagem na produção de formações novas de construir relações sociais com outros sujeitos, crianças e/ou adultos.

Segundo a lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 (dispõe sobre o Estatuto da Criança do Adolescente e dá outras providencias) no seu capitulo II trata-se do Direito à liberdade, ao Respeito e à Dignidade, em seu artigo: Art. 15. Criança e adolescente têm direito à liberdade, ao respeito e à dignidade como pessoas humanas em processo de desenvolvimento e como sujeitos de direitos civis, humanos e sociais garantidos na Constituição e nas leis IV - brincar, praticar esportes e divertir-se; Sendo assim tudo o que for garantido por lei deve ser cumprido e respeitado,

 

Ser lúdico, portanto significa usar mais o hemisfério direito do cérebro e, com isto dar uma nova dimensão a existência humana, baseado em novos valores e novas crenças que se fundamentam em pressupostos que valorizam a criatividade, o cultivo da sensibilidade, a busca da afetividade, o autoconhecimento, a arte do relacionamento, a cooperação, a imaginação e a nutrição da alma. Diante disso, é que as descobertas científicas sobre a dinâmica cerebral foram importantes para o estudo da ludicidade e como ciência” (SANTOS, 2001, p.13).

 

O lúdico quando está em processo de aprendizagem traz leveza aos conteúdos estudados proporcionando ao aluno um ambiente mais prazeroso e motivador. Segundo Vygotsky (1997) a motivação é um dos fatores principais para o sucesso da aprendizagem. Essa ludicidade nas atividades que são trabalhadas, trazem excelentes oportunidades de mediação entre o prazer e o conhecimento historicamente constituído já que o lúdico é eminentemente cultural e estes contribuem e enriquecem o desenvolvimento intelectual. Pois essas atividades lúdicas são um instrumento facilitador do processo de ensino da ciência, a qual está presente na vida de todas as pessoas que vem ajudando a obter uma melhor compreensão de como as coisas ocorrem e tornando se sujeitos conscientes sobre o meio em que vive.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

Há inúmeras formas diferenciadas de tratar a brincadeira na escola, e a professora pode fazer essa mediação dependendo de alguns fatores que refletem a importância dada à brincadeira que se é trabalhada nesse espaço escolar. Contudo, o lúdico desperta no aluno cada vez mais o desejo de saber e do aprender, pois além de desenvolver a sua personalidade, também gera a criação de conceitos e relações lógicas de socialização.

Quando se fala em prender, imediatamente causa um grande prazer nas crianças, pois em nenhum momento o aprendizado lhes sugere ser entediante. Aprender é parte de sua vida ou melhor dizendo, é parte principal de sua vida. Brincar para elas é aprender, e aprender é brincar.

Kishimoto (2001, p. 53-54): afirma que: Quando é capaz de simbolizar e de jogar com a realidade através da fantasia e dos símbolos coletivamente estruturados- a linguagem verbal (oral e escrita), os mitos e a religião, a ciência – é que permite ao homem viver numa nova dimensão da realidade: o universo simbólico. É a representação simbolização traz a possibilidade da interiorização do mundo.

Conclui-se que a ludicidade é uma possibilidade prática de vivência e aprendizagem, que trabalhar a construção e o respeito às regras, ensinar a pensar, a criar, a conquistar sua própria autonomia e ser feliz, pois é constituída de uma força propulsora diante do desenvolvimento da personalidade infantil, que influencia diretamente nos aspectos sociais, intelectuais e emocionais.

Sendo assim o imaginário juntamente com o lúdico, podem oferecer para o desenvolvimento escolar da criança uma educação que seja comprometida com o exercício da cidadania, e que necessite criar condições para o desenvolvimento da capacidade de uso eficaz da linguagem e que satisfaça suas necessidades pessoais.

 

REFERÊNCIAS

 

ALMEIDA, 2009, p. 1.

 

Craidy e Kaercher, 2001, p.103.

 

FROEBEL, 1912, p.54- 55.

 

Vygotsky, 2007.

 

Dicionário Aurélio, 2003.

 

MORAES; PULUCENA; SANTOS, s.d., p. 5.

 

SANTOS, 2001, p.13.

 

Kishimoto, 2001, p. 53-54.

 

Vygotsky, 1998, p.127.

 

Referencial Curricular Nacional da Educação Infantil, BRASIL, 1998, p. 27, v.01.