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ASPECTOS DA FORMAÇÃO DO PROFESSOR DE LÍNGUAS (PORTUGUESA) NO BRASIL

Asnan de Araujo Souza
Júnior Oliveira Rodrigues
Francielli Ribeiro de Oliveira
Nelton Rodrigues Neves
Cristiane Bergmann

 

RESUMO

Este trabalho apresenta uma discussão sobre os aspectos da formação de professores de Línguas (Portuguesa) no Brasil e busca traçar um panorama sobre os docentes em exercício e as questões pendentes, examinar a legislação e suas oscilações e complementações conjunturais, as condições dos cursos de formação e seu alunado, os modelos especiais de formação para atender à exigência de sua elevação para o nível superior, a formação continuada de professores, pautado em aspectos relacionados com a formação dos docentes que ministram disciplinas das ciências da linguagem. Serão usadas como base através de pesquisa bibliográfica, as principais teorias da aprendizagem vigentes e a análise feita pelos seus postulantes, como os estudos de Jean Piaget e Vygotsky, que tiveram grande repercussão, a partir dos anos 1960, referente aos estudos sobre cognição e linguagem; este último foco principal do presente trabalho, que se justifica principalmente pela crítica que faz à formação de meros reprodutores de técnicas de ensino. Prioriza-se a formação reflexiva de professores de línguas.

 

 

Palavras-chave: Aspectos. Línguas. Aprendizagem.

 

  1. INTRODUÇÃO

            A discussão sobre a identidade cientifica dos estudos relacionados com a educação poderia ser simples se bastasse definir os termos. A educação seria concebida como uma prática social caracterizada como ação de influências entre os indivíduos e grupos, destinadas à configuração da existência humana; pedagogia a ciência que estuda esse fenômeno em suas peculiaridades e a didática um ramo da ciência pedagógica.

            A argumentação seria, também, mais simples se a educação fosse vista apenas como educação escolar, e a pedagogia também vista como pedagogia escolar, entendimento, aliás, bastante comum no Brasil. Será aqui exposto um esboço pedagógico focando principalmente a área linguística.

A capacidade de articulação linguística em termos léxicos e sintáticos é peculiar, apenas, do ser humano; nenhum outro ser possui a capacidade de pensar e refletir sobre a sua condição em todos os sentidos, de geração em geração o ser humano compreende e reflete a sua evolução ao longo do tempo. Das características exclusivas do ser humano, duas se destacam quando o tema da formação de professores de línguas é levantado. Uma é a capacidade da fala; o homem além de animal político é um animal falante.

A outra capacidade é a evolutiva, pois, a espécie humana não permanece a mesma de uma geração para outra; ela se transforma, transforma o mundo, a percepção do mundo, e a sociedade que o norteia.

Os procedimentos metodologicos utilizados para o desenvolvimento do presente artigo baseou-se na pesquisa bibliográfica, leitura de obras de estudiosos sobre os aspectos que norteiam a formação do professor. Considerando, pois, os objetivos deste estudo, busca-se sustentação teórica nas discussões sobre formação de professores e apresenta as influências dos aspectos da formação de futuros professores de línguas (Portuguesa) no Brasil, com embasamento na utilização do livro didático do grupo educacional UNINTER da professora Ana Maria Lakomy, que expõe teorias no processo formador do docente e discente.

A seguir, serão abordados ainda os estudos realizados pelo grupo de pesquisas da FAEL (Faculdade de Ensino da Linguagem) em Marabá no estado da Pará, apresentando as dinâmicas territoriais amazônicas e seus impactos no que concerne a formação docente e a qualidade de ensino na região.

 

  1. PROFESSORES DE LÍNGUAS: ASPECTOS, IMPACTOS, DESAFIOS.

           

             O professor em sua prática docente se depara com um campo de atuação muito vasto, o qual lhe exige muito mais do que o conhecimento teórico: é necessário transpor esse conhecimento, levando em consideração a realidade social do aluno. Tendo isso em vista, o desenvolvimento profissional do professor deve ser tratado com mais respeito e responsabilidade, pois o seu aprendizado não pode acontecer de maneira fragmentada, mas deve ser vista como algo amplo e ilimitado. A partir daí será percebido a necessidade deste profissional ser pesquisador em sua própria práxis e que não seja baseado somente em um currículo de formação, mas que possa buscar conhecimentos, ou seja, saberes diferenciados que contribua para o seu fazer docente. Paulo Freire sobre este aspecto afirma:

 

Não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino. Esses quefazeres se encontram um no corpo do outro. Enquanto ensino contínuo buscando, reprocurando. Ensino porque busco, porque indaguei, porque me indago e me indago. Pesquiso para constatar, constatando intervenho, intervindo educo e me educo. Pesquiso para conhecer o que ainda não conheço e comunicar e anunciar a novidade. (FREIRE, 1996, p.29).

 

           

            O professor é um agente que trabalha com diferentes possibilidades de ensinar e mediante isso produz saberes, é importante perceber quais os saberes otimizados por eles em sala de aula e de que maneira suas experiências de vida e formação contribuíram para a formação de sua práxis. Como ressalta Tardif:

 

Saber deles e está relacionado com a pessoa e a identidade deles com a sua. O saber não é uma coisa que flutua no espaço: o saber dos professores é experiência de vida e com a sua história, profissional, com os outros atores escolares na escola, etc. Por isso, é necessário estudá-lo relacionando-o com esses elementos constitutivos do trabalho docente. (TARDIF, 2007, p.11).

 

 

            É importante para a formação e construção do indivíduo que atuará na sociedade como educador, um projeto pedagógico que seja capaz de fornecer subsídios necessários para uma boa formação docente, onde esses professores possam ter um compromisso com a educação que faça a diferença, que seja transformadora de forma que eles estejam sempre primando por um ensino de qualidade para seus alunos.

             O professor de línguas, quando ensina, vai ao encontro do ser humano em sua essência – tanto pela ação do verbo ensinar, que significa provocar uma mudança, estabelecendo, portanto uma relação evolutiva, como pelo objeto do verbo, que é a própria língua, estabelecendo então uma relação de fala. No entanto, se trabalhar com a essência do ser humano é o aspecto que fascina nesta profissão há, entretanto, um preço a se pagar por essa prerrogativa, que é o longo e pesado investimento que precisa ser feito para formar um professor de línguas para que, futuramente, este profissional possa estar inserido em um perfil que promova a reflexão, a criticidade e o comprometimento com a educação e forme alunos ao invés de simplesmente e mecanicamente treiná-los; há ai uma diferença substancial na semântica dos dois termos.             

O                                             

 

A diferença dos termos: treinar e formar discentes têm sido muito enfatizados na preparação e formação de professores, é necessário explicar de forma clara e concisa a diferença entre os vocábulos, a busca de resultados imediatos e a preparação para o desenvolvimento da competência no uso do material de ensino produzido pela própria escola, é o que Leffa (2001, p. 335) classifica como uma modalidade treinamento “geralmente não há condições de dar ao professor um embasamento teórico; buscam-se resultados imediatos que devem ser obtidos da maneira mais rápida e econômica possível”.

              Ao ingressar na escola o educando possui uma carga de informação muito extensa que não deve ser desperdiçada, porém muitas escolas ignoram estas informações por acreditarem que tais alunos chegam a estes estabelecimentos sem nenhum conhecimento.

            Nesse sentido o educando passa toda a sua vida estudantil sendo considerado como um ser vazio, como um ser que nada sabe que só aprende o que é passado na/pela escola. Assim de acordo com Freire (1987, p. 58):

 

A narração, de que o educador é o sujeito, conduz os educandos à memorização mecânica do conteúdo narrado. Mas ainda, a narração os transforma em “vasilhas”, em recipientes a serem “enchidos” pelo educador.

Quanto mais vá “enchendo” os recipientes com seus “depósitos”, tanto melhor o educador será. Quanto mais se deixam docilmente “encher”, tanto melhores educandos serão.

Desta maneira, a educação se torna um ato de depositar, em que os educandos são os depositários e o educador o depositante.

 

 

Formação busca o processo de reflexão e o motivo por que uma ação é feita e da maneira que é feita. Leffa (2001, p.338) postula que “na formação há uma preocupação com o embasamento teórico que subjaz à atividade do professor. Enquanto que o treinamento limita-se ao aqui e agora, a formação olha além”.

A desconsideração do significado e o emprego desses verbos determinarão se os alunos estão sendo formados de maneira satisfatória, de acordo com suas necessidades cognitivas, ou, apenas sendo treinados de maneira mecânica no ensino da linguagem, pelo docente. O aspecto do treinamento é percebido, mais frequentemente, em escolas particulares e nas escolas de idiomas que visam um treinamento de ensino mais imediatos, e não observa formação do discente a médio e longo prazo; é necessário, sempre, colocar e estudar a pauta dos aspectos cognitivos e peculiares de cada discente, essas observações facilitam o processo formador, desconsiderando tal, há apenas o treinamento mecânico. A linguagem oral é importante para as relações que os indivíduos tecem na sociedade, da mesma forma é a língua escrita, pois através de ambas é possível comunicar e interagir com o mundo.

Ao enfatizarmos a fala e a escrita, é preciso lembrar que estamos tratando de duas modalidades pertencentes ao mesmo sistema linguístico, mas que apresentam distinções, porque diferem nos seus modos de aquisição, nas suas condições de produção, transmissão e recepção nos meios através dos quais os elementos de estrutura são organizados.

Segundo Fávero (2002) até meados de 1980, a língua falada era considerada o lugar de “caos” por conter um volume considerável de elementos pragmáticos (pausas, hesitações, repetição, ênfase, truncamento, etc.). Entretanto, com o surgimento dos estudos do texto, o enfoque vai deixando de fixar-se apenas no produto e se desloca para o processo.

A linguagem deixa de ser vista como mera verbalização e passa a ser incorporada nas análises textuais, à observação das condições de produção de cada atividade interacional. Portanto para o estabelecimento das relações entre fala e escrita, sem que haja distorção do que de fato ocorre, é preciso considerar as condições de produção, pois estas possibilitam a efetivação de um evento comunicativo e são distintas em cada modalidade; todos esses elementos epistemológicos não devem ser desprezados no âmbito formador tanto docente como discente no que concerne às ciências das linguísticas, tanto professor quanto aluno devem constantemente buscar o conhecimento atualizado dos elementos formadores.

Apesar do foco sintetizado nas presentes considerações ser a língua não materna, as mesmas dificuldades e discrepâncias é encontrado, também, no processo de ensino e aprendizagem da língua materna, é necessário compreender o processo formador da língua nativa do discente, a aquisição da linguagem e seus vieses. O fator preponderante, muitas vezes desprezada, por professores e alunos, de que para a aquisição de uma segunda ou mais línguas é necessário, antes, o domínio do idioma materno e o processo formador e aquisitivo desta; para isso é necessário explicar a relação existente entre o funcionamento da mente e o domínio da linguagem.

O interesse por essa questão é tão complexa e abrangente que não é exclusividade da linguística, mas de campos de estudos variados que vão da filosofia às ciências cognitivas.

 

2.1 CORRENTES TEÓRICAS DA APROPRIAÇÃO DO CONHECIMENTO HUMANO

 

            Dentre as principais correntes teóricas que têm desenvolvidos estudos para a compreensão da apreensão do conhecimento humano, estão, a saber, o behaviorismo, o mentalismo e o conexionismo.

            Filosoficamente vinculado ao empirismo o behaviorismo, tendo por princípio que todo o conhecimento humano se dá pelo aprendizado, via experiência, em consequência disto todo aprendizado e conhecimento consistem nas propriedades físicas, materiais, observáveis pelos comportamentos apresentados pelos corpos. Da mesma forma, no âmbito do aprendizado da língua, a criança estaria sujeita aos estímulos e pela frequência de reforços, quanto aos acertos e erros, chegaria ao conhecimento da língua falada ao redor. As teorias mentalistas vieram em reação ao behaviorismo. Ao contrário do materialismo preconizado por aquele movimento, nessa teoria a mente ocupa um lugar privilegiado para a aquisição do conhecimento.

            Pelo mentalismo, defende-se que existem ideias universais cognoscíveis pela Razão, sendo a linguagem uma faculdade biologicamente determinada. Nessa perspectiva, o modo de funcionamento das línguas revela as regras de uma Gramática Universal comum aos seres humanos, das quais as línguas seriam manifestações particulares.

            Noam Chomsky iniciou a defesa dessas ideias em linguística, na década de 1950, nos Estados Unidos, dando origem à teoria gerativista. Em consonância com o legado racionalista, admite-se que a aquisição da língua é uma faculdade inata ao ser humano.

            O conexionismo postula a inseparabilidade entre mente e cérebro. Partindo das descobertas dos estudos do cérebro desenvolvido pelas neurociências, defende-se que o conhecimento, inclusive o linguístico, resulta de reações eletroquímicas ativadas pelos neurônios que se acham conectadas em redes neurais.

            Uma tendência teórica particular do cognitivismo é a perspectiva interacionista que se desenhou a partir da década de 1960, tendo como postulado central que toda ação humana procede de interação. É neste contexto que se faz sentir a influência do construtivismo de Jean Piaget e do socio interacionismo de Vygotsky. A importância desses autores sobre a aquisição e o desenvolvimento da linguagem humana, é perceptível do ponto de vista teórico e os aspectos particulares da teoria de cada autor, cujas ideias sobre a aquisição e o desenvolvimento da linguagem humana são de relevante importância.

            As relações das principais teorias da aprendizagem com a aquisição e o ensino da linguagem sempre terão um papel fundamental nas duas formações, tanto do aluno quanto do professor. Existem diversos fatores e duas áreas do conhecimento fundamentais na formação docente: Língua e metodologia; a formação de um profissional nessas duas áreas do conhecimento na medida em que envolve a definição do perfil desejado pela sociedade é mais uma questão política do que acadêmica.

            As escolhas são referenciadas de acordo com as necessidades externas a uma sala de aula, o universo ao redor sofre com interferências alheias a um determinado ambiente, de acordo com Leffa:

 

 A sala de aula não é uma redoma de vidro, isolada do mundo, e o que acontece dentro da sala de aula está condicionado pelo que acontece lá fora. Os fatores que determinam o perfil do profissional de línguas dependem de ações, menos ou mais explícitas, conduzidas fora do ambiente estritamente acadêmico e que afetam o trabalho do professor. Entre as ações mais explícitas temos as leis e diretrizes governamentais, o trabalho das associações de professores, os projetos das secretarias de educação dos estados, os convênios entre diferentes instituições, etc. Entre as menos explícitas temos aquelas que resultam das relações de poder que permeiam os diferentes setores da sociedade, hoje globalizada. (LEFFA, 2001, p. 336).

 

 

            No caso das línguas estrangeiras, observam-se os fatores políticos e econômicos que influenciam a decisão por uma ou outra língua, incluindo, por exemplo, a questão da multinacionalidade da língua inglesa na atualidade. Essas questões afetam a formação do professor tanto em situação de pré-serviço como em situações de serviço.

            Quando se levanta uma questão que exige um conteúdo amplo nas dimensões dos estudos e pesquisas, voltados a descobrir os aspectos da formação dos docentes em linguagem, em muitas situações são desconsiderados aspectos simples da epistemologia que envolve o processo formador do docente e, consequentemente, do discente. Professores e alunos precisam estar em sintonia com a leitura, por exemplo, com textos, utilizando estes como objetos de ensino e aprendizagem.

            Como se tem percebido é através do desenvolvimento da produção de textos, com o uso da leitura, que se adquire uma constante gama de conhecimento; em valores e em ideologias. A leitura é no presente trabalho, tratada como um daqueles aspectos simples muitas vezes menosprezados por docentes e discentes, ler é um exercício no qual o leitor/produtor pode promover o gosto pela leitura, mas o que se tem praticado em muitas salas de aula e de formação continuada é o contrário do que deveria ser.

            Segundo Geraldi (2004), fazendo uso dos conhecimentos sobre a circulação do texto na sala de aula, este passa a ser constituído como uma herança cultural. Por isso segundo o autor:

 

O texto (oral ou escrito) é precisamente o lugar das correlações: construídos com palavras (que portam significados), organiza estas palavras em unidades maiores para construir informações cujo sentido/orientação somente é compreensível na unidade global do texto. Este por seu turno dialoga com outros textos sem os quais não existiria. (GERALDI in CHIAPPINI, 2004 p. 22)

 

            O texto é então concebido como unidade do ensino-aprendizagem, tanto para alunos como para educadores, com o passar dos tempos essa prática intelectual é deixada de lado pelos atores sociais do processo. A questão fundamental é a necessidade da construção teórica fertilizadoras da práxis dos docentes no sentido de transformar as condições de ensino e aprendizagem, da gestação de práticas pedagógicas capazes de criar, no ambiente escolar, condições de emancipação e desenvolvimento social, cultural e humano dos alunos; essas condições prescritas, só serão implementadas pelo professor caso sua formação inicial e continuada, também tenham sido inseridas nesse mesmo contexto, assim o mesmo saberá lidar e contribuir mais especificamente no ambiente pedagógico, e saberá como articular e desenvolver as habilidades descritas.

 

2.2 ASPECTOS PARTICULARES DO ENSINO DE LÍNGUAS NO BRASIL

 

            Quando peculiarmente se fala do professor de línguas, que como já foi explicitado, vai de encontro com a essência do ser, o desafio é maior e mais abrangente, quando se parte do pressuposto que a língua é a capacidade inata e biologicamente humana é preciso conhecer mais profundamente os aspectos formadores e de aquisição. No Brasil esse tipo de ensino é mais complexo, um país com dimensões continentais, que apresenta variações no povo e, consequentemente, com a língua, a formação do professor de línguas no Brasil deve focar esse aspecto e de modo algum, desprezá-lo.

            Talvez em nenhum outro país possam ser encontradas tantas variações na língua de um povo, e este aspecto formador levanta polêmicas em torno do “falar correto”, do “português correto”. Formar professores de línguas no Brasil é saber compreender, analisar e, principalmente, combater o fenômeno do preconceito linguístico tão presente na sociedade contemporânea; não poderia acontecer, mas ainda existem pessoas que pensam que um país tão imenso, que teve em tempos distantes e atuais um fluxo migratório intenso, deveria haver uma inexistente homogeneidade linguística, onde todos, utopicamente, deveriam “falar igual”, ou “falar como se escreve”.

            O meio acadêmico brasileiro pode comemorar os trabalhos louváveis do professor Marcos Bagno, que sempre pautou suas obras na língua levando em consideração os atores sociais, o início da sua obra “Preconceito linguístico, o que é e como se faz” ele faz uma forte consideração e crítica aos gramáticos tradicionalistas:

Temos de fazer um grande esforço para não incorrer no erro milenar dos gramáticos tradicionalistas de estudar a língua como uma coisa morta, sem levar em consideração as pessoas vivas que a falam. (BAGNO, 2007, p.9)

 

 

            Assim a linha das obras do professor Bagno pontua e sempre exalta o fator social da língua, as variações e todos os aspectos envolvidos nesses estudos, na presente obra o linguista elenca uma série do que o mesmo chama de mitologias do preconceito linguístico, e no escopo vai atacando uma por uma e mostrando os erros comuns no campo linguístico brasileiro; todos os aspectos do dito preconceito são fundamentados em raízes históricas e sociais de uma sociedade escravagista e colonialista. Através deste trabalho o professor Marcos Bagno expõe com clareza, e firmeza, os mitos e as maneiras formadoras e corretas, segundo o seu ponto de vista de pesquisador e estudioso de combatê-las.

            Desprezar esse conhecimento em uma formação inicial ou continuada do professor de línguas é deixar uma lacuna nesta formação, isso terá consequências irreversíveis no processo de ensinar; quando se deixa de lado os aspectos sociais e as variações linguísticas dos alunos começa o preconceito linguístico, que leva à marginalização social. A língua é a principal manifestação cultural de um povo, entretanto, nesta mesma nação pode haver variedades, e isso deve ser considerado uma riqueza cultural que pode permitir os estudos e as pesquisas da gênese da diversidade linguística e discursiva, aqui especificamente da população brasileira, segundo Bagno (2009):

 

É preciso, portanto, que a escola e todas as demais instituições voltadas para a educação e a cultura abandonem esse mito da “unidade” do português no Brasil e passem a reconhecer a verdadeira diversidade linguística de nosso país para melhor planejarem suas políticas de ação junto à população amplamente marginalizada dos falantes das variedades não padrão. (BAGNO, 2007, p. 21)

 

 

            O discurso é essa conjugação de língua com a história, produzindo a impressão da realidade. Até hoje a separação da língua enquanto sistema e da língua enquanto uso traz consequências para os estudos da linguagem e, mais especificamente, para o ensino da linguagem. A crença na língua objetiva e abstrata reflete práticas pedagógicas que afastam e evitam as variantes não-padrão da língua como não sendo língua, numa clara política excludente com graves efeitos indenitários e sociais.

 

2.3 METODOLOGIA

 

Os procedimentos utilizados para o desenvolvimento do presente artigo optou-se pela pesquisa bibliográfica, a leitura de obras de estudiosos sobre os aspectos norteadores da formação do professor, com ênfase nos educadores que atuam nas disciplinas das ciências da linguagem. Certamente a obra que instigou a realização do estudo foi “Professores do Brasil: Impasses e desafios”, um verdadeiro “raio-x” da situação da formação dos professores no Brasil e, as estruturas que esses profissionais encontram no âmbito da sua própria formação e no ambiente de trabalho, o espaço físico escolar e tudo o que norteia o processo formador docente e discente. O estudo foi financiado e incentivado pela representação da UNESCO no Brasil e contou com os estudos e a descrição das pesquisadoras Bernadete Angelina Gatti e Elba Siqueira de Sá Barreto; a proposta da leitura da pesquisa em questão suscita os questionamentos históricos da Educação brasileira e seu principal objetivo é buscar as soluções plausíveis para tais desafios.

Importante ressaltar os estudos realizados pelos grupos de pesquisas da FAEL (Faculdade do Ensino da Linguagem) em Marabá no estado do Pará, esse grupo estuda as dinâmicas territoriais amazônicas e os impactos da imensidão amazônica no que concerne a formação docente e a qualidade do ensino na região; algumas dessas pesquisas foram organizadas e publicadas em anais, e também foram criadas revistas de divulgação científica que expõe a realidade social da educação na região norte. Tais trabalhos foram de importância incomensurável para o desenvolvimento do presente artigo.

O livro didático do grupo educacional UNINTER foi essencial para o desenvolvimento das relações das Teorias Cognitivas da Aprendizagem, da professora Ana Maria Lakomy, que expõe com maestria correlação das teorias com o processo formador docente e discente.

Finalmente, os trabalhos majestosos e sucintos do professor Vilson Leffa, da Universidade Católica de Pelotas, seus trabalhos sempre focam o ensino da língua no âmbito materno e na aquisição da segunda língua, assim como trabalhos que dissertam a temática dos aspectos que envolvem a formação do professor, a referência utilizada foi o escrito em que o mesmo realiza uma seletividade de fundamentos políticos e outros elementos norteadores da profissão de educador.


  1. CONSIDERAÇÕES FINAIS

                As práticas pedagógicas e os estudos sobre os aspectos da formação do professor, dogmaticamente, influenciam a maneira da atuação do docente na prática. Estudar e pesquisar aspectos da formação do professor de línguas, aqui especificamente, amplia as fronteiras da discussão, como dito, não focaliza apenas a formação docente, mas as implicações desta formação, inicial ou continuada, nos discentes.

            Constatou-se que os aspectos apresentados como elementos que deveriam servir de propulsão à formação ainda travam em velhos problemas de ordem estrutural e de investimento, sendo necessária a elaboração, por parte da UNESCO, de um estudo conciso da realidade dos professores do Brasil, desvendando através deste, os impactos e desafios enfrentados pelos professores das mais diversas disciplinas pelo Brasil.

            A discussão evidentemente irá continuar em busca do desenvolvimento e aperfeiçoamento dos aspectos formadores dos professores, em especial dos educadores da área linguística, que como aqui foi exposto trabalham a essência particular de um povo, a forma mais autêntica da demonstração cultural de uma nação: A língua; todavia, é mister que essas discussões saiam dos círculos teóricos, os atores sociais envolvidos no processo ajam para que ocorra uma melhora nos aspectos formadores docentes e, consequentemente, dos discentes.

            Segundo o que foi discutido sobre investimentos e aspectos na gênese educativa formadora, todo o processo começa com o professor e a formação recebida, a proposta é que haja mais investimentos, peremptoriamente, em toda a estrutura física do ambiente de ensino e aprendizagem, que segundo Gatti e Barreto (2009) são impasses a serem vencidos, porém, o desafio maior em um primeiro plano é a formação do professor. Durante todo o percurso foi demonstrado às peculiaridades comuns aos docentes de línguas e as implicações positivas ou negativas no que concerne ao aprendizado, apresentado as principais teorias da aprendizagem e os seus formuladores, e a luta do professor e pesquisador Marcos Bagno em combater o preconceito linguístico no Brasil, é preciso criar uma consciência educativa que procure extirpar qualquer tipo de erro em julgamentos precipitados com a linguagem do povo brasileiro.

            Esse estudo precisa ser introduzido nos cursos de formação inicial dos professores e mantido na formação continuada; a língua é um fator complexo e possui diversos ângulos de estudos e pesquisas, qualquer detalhe, por menor que seja pode comprometer a médio e longo prazo a qualidade do processo do ensino e aprendizagem, em suma tudo começa por aquele que será o agente do processo de ensinar, de transformar: o professor.

 

  1. REFERÊNCIAS


LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Fundamentos de metodologia científica. 5 ed. São Paulo: atlas, 2003.

LEFFA, V.J. Aspectos da formação do professor de línguas. In: LEFFA, Vilson J. (Org.) O professor de línguas; Construindo a profissão. Pelotas, 2001, V. 1, p. 333-355.

GERALDI, J. Wanderley. Da redação à produção de textos. In: CHIAPPINI, Ligia. Aprender e ensinar com textos de alunos. 6. Ed. São Paulo: Cortez, 2004.

TARDIF, Maurice. Saberes docentes e formação profissional. Rio de Janeiro: Vozes, 2007.

FREIRE, Paulo. Ação cultural para libertação e outros escritos. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.

KRAMER, S. e SOUZA, S.J (org.). História de professores: leitura, escrita e pesquisa em Educação. São Paulo: Ática, 1996.

PIAGET, J. A linguagem e o pensamento da criança. São Paulo: Martins Fontes, 1993.

VYGOTSKY, L.S. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1984.

LAKOMY, Ana Maria. Teorias Cognitivas da Aprendizagem. 2 ed. rev. e atual.- Curitiba: Ibpex, 2008.

BAGNO, Marcos. Preconceito linguístico o que é, como se faz. São Paulo: Loyola, 2007.

LATERNA: Revista de Estudos da Linguagem Araguaia – Tocantins. Universidade Federal do Pará, Faculdade de Estudos da Linguagem – v.3, n. 3 (2006)- Marabá: FAEL/UFPA, 2009.

MUIRAQUITÃ: Caderno de Graduação em Letras. Universidade Federal do Pará, Faculdade de Estudos da Linguagem – v.1, n.1 (2010)- Marabá: FAEL/UFPA, 2010.