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REISADO: ORIGEM, TRAJETÓRIA E RESGATE DA RAIZ CULTURAL DO POVO BELACRUZENSE

 

Marcos Antônio Pires1

Maria Rosimeire Freitas2

 

RESUMO

As pesquisas evidenciaram a maior expressão cultural dos belacruzenses. Cultura popular bastante antiga e que ainda vem resistindo ao tempo, apesar de todas os desafios. Eleita como raiz cultural do povo belacruzense, o reisado ganhou notoriedade especial nesse trabalho. Ressaltar o reisado como maior expressão cultural é valorizar e resgatar a identidade do seu povo, já que existe uma grande desvalorização, principalmente pelos jovens, além de muitos alegarem que o reisado faz parte da cultura dos menos favorecidos. Por esse e outros motivos é que outras culturas vêm ganhando espaço em nossa sociedade. Hegemonia cultural é inadimissível, a cultura erudita e popular se complementam, não se pode negar uma em detrimento da outra. São Gonçalo a 18 km da sede de Bela Cruz - CE se configura como berço do reisado em nosso município. Rafael Ferreira Ramos (in memorian) disseminou a semente, esta germinou e produziu frutos. Mestre Rafael impossibilitado de seguir adiante por ser idoso, passou a missão do comando da Companhia de Reisado de São Gonçalo aos seus familiares que com muita dificuldade vem conduzindo até hoje. No entanto, o desafio começa aqui para os belacruzenses em manter viva sua identidade cultural (reisado). Toda a sociedade é responsável em garantir que as gerações futuras tenham acesso não só como meros expectadores, mas sim, como protagonistas. Os núcleos de ensino de reisado vão cumprir esse papel se forem implantados e mantidos pelo poder público com a participação das comunidades.

 

Palavras-Chave: Reisado. Cultura Polular. Belacruzenses.

 

 

ABSTRACT

The researches showed the greatest cultural expression of the people of Bela Cruz. Popular culture that is very old and that has been resisting time, despite all the challenges. Chosen as the cultural root of the people of Bela Cruz, the reisado gained special notoriety in this work. To emphasize the kingship as the greatest cultural expression is to value and rescue the identity of its people, since there is a great devaluation, mainly by young people, in addition to many claiming that kingship is part of the culture of the least favored. For this and other reasons, other cultures are gaining ground in our society. Cultural hegemony is inadmissible, the erudite and popular culture complement each other, one cannot deny one at the expense of the other. São Gonçalo 18 km from the headquarters of Bela Cruz - CE is configured as the cradle of the king in our municipality. Rafael Ferreira Ramos (in memorian) disseminated the seed, it germinated and produced fruit. Mestre Rafael, unable to move forward because he was old, passed on the mission of the command of the Companhia de Reisado de São Gonçalo to his family members who have been leading with great difficulty until today. However, the challenge begins here for the people of Bela Cruz to keep their cultural identity alive (reisado). The whole of society is responsible for ensuring that future generations have access not only as mere spectators, but as protagonists. The kingship teaching nuclei will fulfill this role if they are implemented and maintained by the government with the participation of the communities.

 

 

Keywords: Reisado. Polular Culture. Belacruzenses.

 

  1. INTRODUÇÃO

 

 

Este artigo foi elaborado a partir de uma inquietação que pairava no ar há bastante tempo: Qual era a maior expressão cultural do povo belacruzense? O desafio era imenso e precisávamos envolver a sociedade na busca de respostas. Daí a importância dos atores locais (crianças, adolescentes, adultos e idosos), não só na identificação, mas também no reconhecimento, na valorização, na participação e na preservação da Cultura Popular no município de Bela Cruz - CE.

A priori, o reisado é uma expressão cultural bastante antiga e que ainda vem resistindo ao tempo, apesar de todas as dificuldades pelas quais passavam as companhias de reisado ainda existentes em âmbito municipal. Daí a importância dessa pesquisa ora proposta.

Apesar de sabermos que a sua origem veio de além mar (Portugal), aqui ele foi naturalizado, adotado, praticado e eternizado pelos povos residentes. No entanto é inédito, importante e necessário destacar como parte da cultura indígena em nossa região, uma vez que a mistura das culturas portuguesa e indígena contribuiram para o aprimoramento e difusão desse folguedo em nosso meio.

Fruto amadurecido, após prazeroso trabalho que consistiu na identificação e seleção da manifestação cultural mais marcante dos belacruzenses, que será apresentada no decorrer do passar das páginas.

De início o trabalho foi dificultado pela precariedade de fontes bibliográficas, o que nos motivou a buscar outros meios: pesquisas de campo e entrevistas. Visitamos a Biblioteca Municipal Professor Nicácio, o Museu Municipal Emílio Fonteles, além de entrevistar pessoas conhecedoras do assunto e integrantes de Companhias de Reisado existentes, além do envolvimento de várias escolas da rede municipal de ensino.

Justificando o exposto, salientamos que nossa principal fonte bibliogtáfica foram os registros históricos de um belacruzense, citamos o poeta e escritor Nicodemos Araújo que durante sua longa e fértil trajetória de vida, procurou evidenciar em seus livros, o modo de vida, cultura, economia, política, religião, etc. de vários municípios que outrora pertenciam ao município de Acaraú.

Vale ressaltar também que as conversas informais que tivemos com pessoas de vida simples, mas ricas de sabedoria e que não mediram esforços para nos dar as informações que tanto procurávamos.

Dentre essas pessoas queremos dar destaque de maneira individual e especial ao Mestre Rafael Ferreira Ramos (in memorian), achado importante para a conclusão do nosso trabalho, embora debilitado fisicamente pelos seus 81 anos de vida, mas de uma lucidez precisa e espetacular. Seu depoimento e testemunho foi fundamental para  os esclarecimentos de pontos obscuros até então existentes, sobre as origens do REISADO em Bela Cruz.

Nossa maior satisfação, alegria e orgulho... foi saber que estávamos diante do precursor da maior manifestação cultural de todos os tempos. Hoje, temos a certeza de que podemos dar uma resposta mais precisa a sociedade belacruzense acerca de nosso maior folclore: REISADO, como também, caracterizá-la como raiz cultural e patrimônio imaterial de todos os belacruzenses.

 

  1. DESENVOLVIMENTO.

 

2.1. Origem e Trajetória.

 

 

No Brasil atualmente muito se tem discutido sobre as tradições culturais populares... Costumes, crenças, rituais, valores, danças, músicas, festas, literatura, folclore, relacionamentos, etc. que envolvem toda uma sociedade. Em outras palavras, cultura popular é tudo aquilo que o povo produz e participa de forma ativa. No Ceará, por exemplo, as mais conhecidas são maracatu, pastoril, cordel, bumba meu boi, cabaçais do cariri, torem, pau da bandeira, vaquejada e maneiro pau.

Tendo em vista o advento de outras culturas e a adesão às mesmas pela sociedade, faz-se necessário o resgate da cultura local como forma de preservar a identidade cultural de um povo. Dentre todos os municípios que compõem o baixo vale Acaraú, Bela Cruz tem sua particularidade no fomento à cultura em especial a Cultura Popular – REISADO – objeto de pesquisa e investigação desse trabalho.

Bela Cruz, município que fica a aproximadamente 240 km de Fortaleza, capital do Estado do Ceará, é um município ainda muito jovem e segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, existiam 32.591 habitantes (2019).

No que contam os escritos de Nicodemos Araújo (Cronologia de Bela Cruz, 1990, pág. 17). “(...) o Pe. Luís Figueira, (...) foi o primeiro homem civilizado de origem européia a palmilhar a terra belacruzense. Quase um século depois, chegariam os primeiros colonizadores brancos para fixar na região (...)”. Isso se deu no início do século XVII.

As raízes culturais de Bela Cruz estão entranhadas na história de Almofala (Itarema) e Acaraú da qual se emancipou há 62 anos.

Assim como relata a história, estabeleceram-se diversos colonos portugueses, mais ou menos em meados do século XVIII por esta região, a qual já havia os índios Tremembés.

Almofala era a Freguesia (até 1832, depois 1838 a 1842) na época onde estavam aldeiados os Tremembés (1608), próximo às margens do rio Aracati-mirim, posteriormente, com o desenrolar da história a Freguesia passa a ser Acaraú (1832 a 1838 e após 1842) o que demonstra o crescimento do leste para o oeste em direção ao rio Acaraú, onde em sua margem esquerda está localizado o município de Bela Cruz. Temos certeza de que a mistura dessas culturas - portuguesa-indígena - são as bases para o reisado em nossa região, pois entre os folguedos praticados pelos índios Tremembés está presente a manifestação mencionada. Isso se confirma durante as entrevistas que realizamos com as Companhias de reisado: “O reisado está vinculado à cultura indígena de nossa região.”

No que pudemos constatar o primeiro grupo folclórico de reisado, organizou-se no mês de janeiro de 1900 que atuou vários anos. No decorrer do tempo, outros grupos tiveram atividades: Reisado do Camilo Furtunato, reisado dos Marques, reisado do João Diogo, reisado do Manoel Lúcio e reisado do Moacir Elizeu.

“(...) O grupo de apresentadores compunha-se de: Velho, Velha e 4 ou 5 Mascarados. Em regra geral as máscaras eram feitas de pele de mambira, com barbas de embira de carnaúba.

O dono da casa, que era chamado de Capitão, fechava a porta da frente, para receber o grupo, que ao chegar, cantava versos como estes:

 

Ô de casa. Ô de fora

Mangerona, quem ta aí?

Foi o cravo que chegou,

E a rosa não quer sair.

Esta casa está bem feita

Por dentro, por fora não.

Por fora, cravos e rosas;

Por dentro, manjericão”.

 

 

Em seguida a porta era aberta, e a função tinha início com um sapateado, mesmo na sala, executado pelos melhores elementos do grupo, nesta modalidade coreográfica. A seguir o folguedo continuava no terreiro onde era feita a exibição dos bichos. Estes eram apresentados dentro do programa traçado. Pela ordem, vinha o Boi, depois a Burrinha, depois o Bode e em sequência, o Cabeçudo, a Ema e o Bicho-caçador. Todos esses personagens tinham seus versos próprios, e eram muito aplaudidos em suas exibições.

“Os Mascarados usavam atirar lenços nas pessoas presentes. Era “a sorte”, que sempre rendia alguns trocados. Os namorados eram sempre os mais atingidos pelos lenços da sorte. (...)” (adaptação nossa do Livro Município de Bela Cruz – Nicodemos Araújo, 1985, pág. 102.)

Por volta de 1941 o jovem Rafael Ferreira Ramos, nascido em Crôa Grande, Acaraú – Ceará em 18 de janeiro de 1927 fundou seu Grupo de Reisado em São Gonçalo - Bela Cruz - Ceará.

Sua história de vida revela uma grade trajetória dedicada ao Reisado nesse município. O Mestre Rafael começou com 10 anos de idade quando uma Senhora por nome Agda Brás recrutou 05 crianças da mesma faixa etária, sendo elas: Manoel, Miguel, Fernando, Manoel Cirilo e Rafael Ramos. Isso se deu no ano de 1937 em Crôa Grande, município de Acaraú – Ceará.

A Senhora Agda Brás mesmo com limitações devido à idade comprou tecido e cobriu os bichos (boi e burra), com embira de carnaubeira revestiu o bode e usando penas de galinha, fez a jaçanã. Sendo assim, o grupo era formado por 06 personagens, pois os garotos também faziam o velho e a velha do Rêso.

Segundo o Mestre Rafael Ferreira Ramos, a inspiração veio de uma história Bíblica que narra à viagem dos 03 Reis Magos a Belém. Felizes da vida por terem visto o “Salvador do Mundo” – JESUS CRISTO, Belchior, Baltazar e Gaspar ao retornarem a sua terra, promoveram uma grande festa a qual ficou conhecida como – REISADO.

Os bichos representam os animais que estavam no estábulo onde Jesus nasceu: Boi (substituindo a vaca), burra (substituindo o jumento), jaçanã (substituindo o galo), bode (substituindo o carneiro), o velho e a velha representando os Reis.

E assim, dentro desta estrutura, a Companhia de Reisado de São Gonçalo, a partir de 1941, sob o comando do Mestre Rafael ganha fama e prestígio, sendo requisitada em todo o Vale do Acaraú.

Com a velhice, o Mestre Rafael repassou o grupo a seus familiares que com muito esforço diante das dificuldades (ausência de apoio financeiro) mantém viva a COMPANHIA até hoje.

No decorrer dos anos o grupo acrescentou alguns personagens: Caburé, Ema, Caçador, Cavalo-marinho e Mascarados. No entanto, com o tempo e diante da dificuldade em encontrar pessoas que protagonizassem alguns dos bichos, muitos vão saindo de cena. Atualmente, o grupo apresenta os mascarados, velho, velha, caçador, boi, burra, jumento, caburé e bode.

A manifestação, muito apreciada pelo povo que vinha de todos os lugares da região (Vale do Acaraú) contratar e assistir o trabalho artístico do Mestre Benedito (sobrinho do mestre Rafael) e companhia, cujo início se dava às 21 horas e se estendia pela madrugada inteira, finalizando com a matança e distribuição das partes do boi através de versos improvisados.

Sem perder as origens, o Reisado em Bela Cruz sempre foi e é apresentado em um espaço aberto, geralmente na zona rural ou áreas periféricas da sede, no período de 06 de janeiro até o sábado de aleluia. O evento mobilizava toda a vizinhança, na ocasião, alguns montavam barraquinhas de venda com quitutes da terra e bebidas.

As Companhias de reisado atuais têm 08 componentes (todos homens), dentre eles músicos (pandeireiro e violeiro), cantadores (mascarados, também chamados de papangus) e dançarinos que se revesam na apresentação das personagens. O início se dá como nas origens... com um sapateado executado pelos elementos do grupo. A seguir o folguedo continua no terreiro onde é feita exibição dos bichos por meio de versos improvisados durante toda a apresentação, motivando o público presente. Aos poucos os bichos vão entrando pela ordem abaixo, fazem sua apresentação e saem.

 

  1. Bode:

 

“Pisa, pisa Bode velho.

Chiquero Bode!

O senhô pode pisá

Chiquero Bode!

E que vim lá de São Gonçalo

Pra mode me apresentá

Chiquero Bode!

E na Terra de Bela Cruz

Chiquero Bode!”

 

 

  1. Jumento:

“Meu jumento, meu jumento

Que eu comprei lá no Pará

Quem tem um jumento desse

Não precisa trabalhá.

Pisa, pisa meu gobira

Que eu trouxe do meu lugá”

 

  1. Burra:

 

“Dança, dança Burra velha

Que eu comprei no meu lugar

Faz um trabalho bunito

Pru povão apreciá

Hoje aqui em Bela Cruz

Nóis tira o primeiro lugar

Quando você fala

que o Benedito morreu

Pode escrevê num papel

Que a semente se perdeu

Muita gente nesse mundo

Quer manda com verso meu”

  1. Cachorro-caçador (canta o mesmo repente do bode, só muda a entoada)

 

  1. Caburé:

 

“Caburé da mata farol

Estamo no inverno

Pra que se quer sol? (bis)

Caburé bunito da mata farol

Caburé lá do tico-tico

Se tu for simbora

Mais quem é que eu fico?

Vai tu brincá descente mais o Bendito”

 

(...) O Boi – último a entrar no terreiro, também o mais aguardado pelo público presente.

 

“Rebana meu Boi

Tu podes brincar.

Rebana a coberta

Pru cima do ar

Tu faiz bunitinho

Pru povo olhar

Olé Boi bunito

Manim-surubim

Abaixa a cabeça

Levanta o cupim

Repente bem feito

Se solta é assim”

 

 

O velho ajuda os Mascarados a cantar os versos, e a velha só dança e faz a alegria da molecada, ficando no círculo durante toda a exibição.

Com uma temática escolhida pelo contratante do espetáculo, os componentes vão improvisando os versos na entoada de cantoria, acompanhadas por um violão e um pandeiro confeccionado manualmente pelo grupo usando o couro de boi ou cachorro e madeira nativa, sem deixar de lado é claro, o sapateado que lembra as danças indígenas.

Sobre os bichos (personagens), esses são também confeccionados pelos próprios componentes do grupo. Para o boi, costuma-se usar tecido com estampas de flores bem grandes e coloridas. O cachorro-caçador é recoberto com tucum (retirado da palha da carnaubeira). Para as cabeças dos animais, usa-se a madeira esculpida, chifres dos próprios animais e a ossada da face do boi ou vaca recobertos com tecido nas cores preto ou marrom. O corpo dos animais é feito de cipó e madeira nativa, já as máscaras são confeccionadas de papelão ou plástico e bem enfeitadas. O Caburé é uma cabaça grande com desenhos feitos com furos, aparentando caras de gatos ao seu redor. No momento é acesa uma vela dentro da cabaça, destacando a figura sinistra sob a cabeça do dançarino.

Hoje, diante da “modernidade”, os valores são modificados pela sociedade e como consequência a Companhia de Reisado de São Gonçalo a cada ano que passa é menos solicitada, embora venha resistindo ao tempo.

Manifestação nascida nas primeiras décadas do século XX, conforme o próprio testemunho do maior artista popular que esse município já conheceu - MESTRE RAFAEL FERREIRA RAMOS (in memorian). Mas, a sociedade belacruzense vem esquecendo suas tradições, costumes... o que ocasiona perda de identidade cultual - in locum - pelo fato da apropriação de “outras culturas”.

Por outro lado, resgatar a tradição e costumes do povo belacruzense, mantendo de forma fiel suas características, tais como: a habilidade da arte de improvisar (repentes), a capacidade de superar obstáculos (recursos financeiros) e a criatividade quando fazem adaptações dentro de suas necessidades, como por exemplo, o uso do violão na manifestação cultural – REISADO dando uma característica bem regional, é possível.

Para o resgate da expressão cultural – REISADO, fez-se necessário percorrer vários caminhos. Caminhos estes que comprovaram a origem, estrutura e dificuldades pelas quais passavam o objeto da pesquisa. Dessa forma, recorreu-se às pesquisas bibliográficas – a principal fonte foram os registros históricos de um belacruzense, poeta e escritor Nicodemos Araújo que procurou evidenciar em seus livros, o modo de vida, cultura, economia, política, religião, etc. de vários municípios do baixo vale Acaraú, dentre eles o município de Bela Cruz - CE.

Também se fez uso da pesquisa de campo e entrevistas a sujeitos diversos na sede e zona rural (localidades). Dentre essas entrevistas, destacamos o testemunho ainda em vida do Mestre Rafael, suas palavras foram de extrema importância para a conclusão de nossa pesquisa e a partir de então, pudemos comprovar que de fato o REISADO é a raiz cultural de nossa gente. E por  que não dizer: patrimônio imaterial dos belacruzenses.

 

 

2.2. Política Pública: Núcleo Municipal de Ensino de Reisado – NUMENREIS.

 

 

É preciso que não só a sociedade belacruzense mantenha viva uma expressão que retrata sua identidade cultural, como também o poder público assuma a responsabilidade mediante políticas públicas que garantam a permanência e disseminação do REISADO em todo território municipal.

Diante do exposto, percebeu-se a necessidade de criar Núcleos de Ensino de Reisado, inspirado na história de vida do Mestre Rafael Ferreira Ramos que entrou no reisado com apenas 10 anos de idade onde fez parte de um grupo formado por uma senhora idosa de nome – Agda Brás que resolveu criar uma companhia com 05 crianças e a partir de então, ensiná-las a arte do rêso. Os NUMENREIS têm o objetivo de revitalizar, valorizar, estruturar, difundir e dinamizar o reisado que ora resiste muito precariamente no meio da cultura popular local.

Esses núcleos de ensino, inicialmente, funcionarão em três (03) locais estratégicos: Sede, comunidades de São Gonçalo e Correguinhos; visto que, nesses locais residem integrantes de companhias de reisado que atuarão como mestres no ensino da manifestação cultural. E, a médio prazo, abrir-se-ão mais três (03) núcleos nas seguintes localidades: Cajueirinho, Prata e Araticuns.

Os núcleos de ensino de reisado serão estruturados para ofertarem oficinas de confecção de instrumentos, máscaras, chapéus, adereços; Aulas de corte e costura, bordado manual, dança, canto, música, literatura de cordel, escultura,  teatro e confecção das personagens (bichos).

Os núcleos estarão vinculados a Secretaria de Educação, Cultura e Desporto e Secretaria de Assistência Social.

 

 

  1. CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

No trabalho evidenciou a valorização e as contribuições dos indígenas através do artesanato manual (confecção de vestimentas, adereços), na harmonia com a natureza (fauna e flora) e entre os membros da companhia e familiares. Outro fator importante a respeito da identidade indígena presente no REISADO está vinculado através da dança (sapateado), o formato do ritual ser em círculo, as indumentárias serem confeccionadas artesanalmente com madeira nativa, tucum, imbira de carnaubeira, cipó e a forma peculiar de apresentar (gritos, risos, saltos demonstrando muita alegria) de forma muito natural.

Os NUMENREIS terão o objetivo de revitalizar, valorizar, estruturar, difundir e dinamizar o REISADO que ora resiste muito precariamente no meio da cultura popular local. Essa política pública evitará que a manifestação seja esquecida e que tenha qualquer relação com o álcool e a pobreza.

Conseguiu-se também, articular encontros junto aos Poderes Executivo e Lesgislativo para a apresentação da proposta de política pública, a qual foi aceita por unanimidade pelas autoridades e a viram como política pública de fomento a cultura popular em âmbito municipal.

 

 

  1. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

 

  • ARAÚJO, Nicodemos. Município de Acaraú – Fortaleza: Imprensa Oficial do Ceará, 1971.

 

  • ARAÚJO, Nicodemos. Almofala e os Tremembés – Fortaleza: Secretaria de Cultura e Desporto – Imprensa Oficial do Ceará, 1981.

 

 

  • ARAÚJO, Nicodemos. Município de Bela Cruz – Acaraú: Prefeitura Municipal de Bela Cruz, 1985.

 

  • ARAÚJO, Nicodemos. Jericoacoara – Acaraú: Prefeitura Municipal de Acaraú, 1987.

 

  • ARAÚJO, Nicodemos. Cronologia de Bela Cruz – Acaraú: Prefeitura Municipal de Bela Cruz, 1990.

 

 

  • BRÍGIDO, João. Ceará (Homens e fatos) – Fortaleza: Edições Demócrito Rocha, 2001. 560p. (Clássicos cearenses; 4)

 

 

  • UNICEF, Fundo das Nações Unidas para a Infância. Selo Unicef – Município Aprovado – Edição 2008 – Cultura e Identidade Afro-brasileira e Indígena (GUIA DE ORIENTAÇÃO PARA OS MUNICÍPIOS), 2008.

 

 

 

[1] http://lattes.cnpq.br/5028014182882409

2 Especialista em Direitos Humanos pela Universidade Federal do Ceará - UFC