Buscar artigo ou registro:

 

FREUD E A ELABORAÇÃO DA TEORIA PSICANALÍTICA

 

Lúcio Mussi Júnior1

 

RESUMO

Existem atualmente algumas vertentes da psicanálise, modificadas pelos estudos de autores que não concordavam plenamente com as teorias de Freud, embora a Psicanálise Freudiana seja bastante difundida e praticada hoje em dia. Deste modo, a presente pesquisa elege como foco principal o estudo da origem da Psicanálise a partir dos estudos de Freud. Destaca-se no decorrer do trabalho, o comprometimento do criador da Psicanálise com a verdade do funcionamento da mente humana, abandonando ideologias e derrubando preconceitos. Outro ponto de destaque no presente trabalho é o fato de Freud apresentar-se contrário aos métodos de tratamento psicológicos de sua época e buscar na formulação da Psicanálise a alternativa mais adequada. Na busca pelo cumprimento dos objetivos propostos, a presente pesquisa valeu-se da metodologia de revisão bibliográfica à luz de importantes trabalhos de Freud.

 

PALAVRAS-CHAVE: Freud. Criação da Psicanálise. Psicanalista.

 

1INTRODUÇÃO

 

Observam-se hoje, algumas vertentes da Psicanálise modificada por autores que não concordaram de forma completa com as teorias formuladas por Freud.

No entanto, a Psicanálise Freudiana continua sendo amplamente utilizada com sucesso na maioria dos casos.

Assim, o presente trabalho ocupa-se em buscar um entendimento mais completo sobre a origem dos métodos psicanalíticos, bem como sobre as pesquisas de Freud em busca da formulação da Psicanálise enquanto ciência e método de tratamento clínico.

Destacam-se também as duas fases da Psicanálise, sendo a fase pré-psicanalítica, na qual Freud valia-se da hipnose para buscar informações no subconsciente de seus pacientes e a fase psicanalítica, na qual o pesquisador já valia-se do método de livre associação, desenvolvido por ele para substituição da hipnose.

Contudo, verifica-se ainda a grande importância que Freud atribuía à formação do Psicanalista, haja vista que, para o autor, o inconsciente do analista poderia ligar-se eventualmente com o inconsciente do paciente e, caso o analista não estivesse devidamente preparado, prejudicar o tratamento.

Para o cumprimento dos objetivos aqui propostos, valeu-se da metodologia de revisão bibliográfica à luz de importantes obras de Freud.

 

 

2DESENVOLVIMENTO

 

Partindo-se dos princípios da psicanálise freudiana, percebe-se, em muitos dos textos por ele publicados, sua preocupação em delimitar os pontos fundamentais à psicanálise. Dentre esse material, também encontram-se trechos que parecem apontar que, para Freud, a Psicanálise teria sua fundamentação mais pautada em incertezas que em certezas. O trecho abaixo demonstra de forma clara essa questão:

 

Ouvimos com frequência a afirmação de que as ciências devem ser estruturadas em conceitos básicos claros e bem definidos. De fato, nenhuma ciência, nem mesmo a mais exata, começa com tais definições. O verdadeiro início da atividade científica consiste antes na descrição dos fenômenos, passando então a seu agrupamento, sua classificação e sua correlação. Mesmo na fase de descrição não é possível evitar que se apliquem certas ideias abstratas ... (FREUD, 1915/1996, p. 123)

 

Percebe-se a determinação de Freud em explicitar as primeiras hipóteses e abstrações, além de deixar evidente suas dúvidas. Sempre mantendo a delicadeza no trato com seus leitores e a tranquilidade na formulação de conceitos ao dedicar-se a um tema. Abaixo, observam-se essas características em seu texto:

 

depois de uma investigação mais completa no campo da observação, somos capazes de formular seus conceitos científicos básicos com exatidão progressivamente maior, modificando-os de forma a se tornarem úteis e coerentes numa vasta área. Então, na realidade, talvez tenha chegado o momento de confiná-los em definições. O avanço do conhecimento, contudo, não tolera qualquer rigidez, inclusive em se tratando de definições. (FREUD, 1915/1996, p. 123)

 

Outro ponto que deve ser enfatizado ocorreu em 1895, quando Freud entende que só chegaria á origem das neuroses abdicando do reconhecimento e da aceitação. Deste modo, o autor, no desenvolvimento da Psicanálise, afasta-se do pressuposto de que nada pode ser feito com relação à neurose. Neste sentido, no ano de 1917, Freud publica um artigo no qual mostra sua “luta pela verdade” e afirma ser a Psicanálise, fundamentada no que ele define como sendo “descobertas fundamentais”, afirmando ainda que os movimentos de mudanças nesta área continuariam.

No trecho abaixo, Freud reitera a importância do avanço de sua ciência em detrimento da manutenção de conceitos que se mostrem obsoletos:

 

não me impedirei de modificar ou retirar qualquer uma das minhas teorias sempre que a progressão da experiência possa exigi-lo. Com referência a descobertas fundamentais, até o momento atual, nada tenho a modificar, e espero que isto venha a manter-se verdadeiro no futuro. (FREUD, 1917b [1916]/1996, p. 292)

 

Observa-se, nesse artigo de 1917, que o autor procura mostrar a Psicanálise como uma ciência que ocupa um posicionamento de maior poder frente ao sofrimento imposto pela neurose. Assim, o caminho trilhado pela Psicanálise acontecia de forma distinta do que se praticava nos laboratórios das universidades da época.

Outra questão que chama a atenção nesse processo de estruturação da Psicanálise é o fato de Freud encarar os insucessos dos casos que não apresentavam o resultado esperado, como pontos de partida para novas pesquisas e questionamentos, ao invés de classificar como casos não tratáveis por sua ciência.

Freud destaca em sua obra Cinco Lições de Psicanálise (1910/1996), a distanciação da Psicanálise, em momento oportuno, dos saberes médicos que na época, estavam tratando distúrbios emocionais da forma que classificou como “rota absolutamente original”. A partir de então, o autor interessa-se também por estes distúrbios emocionais, mesmo tratando-se de um campo desconhecido. Contudo, percebe que os médicos também não sabiam o que fazer frente aquela situação. (FREUD, 1910/1996)

Ainda em uma fase classificada de pré-psicanálise, Freud acompanha o também pesquisador Breuer no tratamento a uma paciente chamada de “Anna O”. Dr. Breuer acompanhava a paciente todos os dias, sempre em busca das origens dos sintomas apresentados. Valendo-se do uso da hipnose, abandonada posteriormente, os pesquisadores chegaram à conclusão de que a origem dos sintomas apresentados por um paciente estão em espécies de restos de experiência muito ricas de carga afetiva.

A partir do momento em que a paciente Anna O passou a chamar o método adotado para o tratamento de “limpeza de chaminé”, Freud percebeu que os pacientes tinham consciência desses resquícios de experiências que causavam seus sintomas. Deste modo, percebeu que a hipnose não era necessária e que o próprio paciente poderia falar sobre o assunto, como observa-se no trecho abaixo:

 

as recordações esquecidas não se haviam perdido. Jaziam em poder do doente e prontas a ressurgir em associação com os fatos ainda sabidos, mas alguma força as detinha, obrigando-as a permanecer inconscientes” (FREUD, 1910/1996, p. 25).

 

Freud (1910/1996) chamou de recalque a força que trazia os “desejos violentos” dos pacientes. Tais desejos seriam então substituídos pelos sintomas apresentados pelo paciente. Neste cenário, tanto o recalque, quanto os sintomas, mostram-se como causas de sofrimento quando vêm à consciência. Neste momento, Freud passa a acreditar que a Psicanálise seria capas de reduzir o sintoma novamente à ideia recalcada.

Em sua obra “Recomendações aos Médicas que Exercem Psicanálise”, Freud afirma que existem conteúdos dos quais o indivíduo não toma consciência, eles estão escondidos em sua “vida mental”. Para o autor, tais conteúdos podem mostrar-se à consciência por meio de livre associação, método que desenvolveu para substituir a hipnose e que caracterizou a mudança da chamada pré-psicanálise para a Psicanálise. Assim, o autor apresenta a livre associação como o preceito único. Desse preceito partiria a técnica psicanalítica. Freud ainda afirma que, o trabalho com está memória escondida não é um trabalho apenas do paciente. O analista deve, ao se propor a está prática, estar junto com o paciente em busca das associações que trarão as memórias, haja vista a comunicação que pode ocorrer entre o inconsciente do paciente e do analista no momento da terapia. (Freud, 1912)

Freud demostra grande preocupação com a formação do profissional analista. Para ele, tal formação deve partir da análise pessoal. Sendo esta um preparativo para superar-se as próprias resistências, para que elas não venham a interferir, no futuro, em sua atuação como analista. Deste modo, o autor, caracteriza a experiência como o início da formação do analista.

 

Entre os fatores que influenciam as perspectivas do tratamento analítico e se somam às suas dificuldades da mesma maneira que as resistências, deve-se levar em conta não apenas a natureza do ego do paciente, mas também a individualidade do analista (FREUD, 1937/1996, p. 264).

 

Freud ainda afirma que o amor à verdade é a base do relacionamento analítico, deste modo, percebe a análise, assim como governar e educar, como alto que jamais será feito em sua totalidade, nunca está de fato concluído. Deste modo, o analista deve encarar a análise em sua característica interminável, sempre havendo um restante de verdade incutido no inconsciente. (Freud, 1937/1996)

Nesta questão, o determinismo da vida mental, mostra-se para Freud como uma das estruturas da psicanalise. E na busca por torná-la um método clínico, o autor aprofundou-se na pesquisa sobre o inconsciente, como mostra o trecho abaixo:

 

A pressuposição de existirem processos mentais inconscientes, o reconhecimento da teoria da resistência e repressão, a apreciação da importância da sexualidade e do complexo de Édipo constituem o principal tema da psicanálise e os fundamentos de sua teoria (FREUD, 1923[1922]/1996, p. 264).

 

Destacam-se no trecho acima as características que posteriormente formaram os “pontos fundamentais à clínica psicanalítica”. Tais pontos estão presentes em outros textos do autor, destacando sua importância.

Mais a frente em sua teoria, Freud já aborda uma força psíquica exercida pelo “eu” no sentido de remover algumas representações das associações. Deste modo, percebe que o “não saber” de um paciente em histeria pode caracterizar-se na verdade como o “não querer saber”, podendo em maior ou menor grau ser um fato consciente.

Esses fundamentos acabam ganhando cada vez mais significado e importância no contexto da psicanálise à medida em que os estudos avançam.

Destaca-se ainda a forma como Freud sempre evidenciava seu desejo em estimular o pensamento e quebrar preconceitos, em detrimento a sustentar convicções. (FREUD, 1917/1996)

 

3CONCLUSÃO

 

A partir da presente pesquisa, percebe-se o comprometimento de Freud, desde o início de sua pesquisa, com a verdade e não com suas crenças. O próprio autor menciona tal fato em vários de seus textos.

Deste modo, Freud distancia-se dos procedimentos adotados pela medicina da época e praticados também nos laboratórios das faculdades, para dedicar-se à intensa pesquisa no sentido de desenvolver um método clínico de psicanálise.

Outro ponto de destaque foi sua contraposição à crença de que não havia tratamento para a histeria, ao acreditar que através da psicanálise tal problemas poderia ser tratado.

No início, ao perceber que os sintomas psicológicos originavam-se em resquícios de experiências carregadas de garga emocional, Freud valeu-se da hipnose para buscar por tais resquícios. No entanto, com o tempo percebeu que os paciente tinham certa consciência dessas experiências e desse modo, entendeu que o próprio paciente poderia falar sobre tais questões. A partir daí, criou o método de livre associação para substituir a hipnose.

A criação do método de livre associação foi o ponto chave que definiu a passagem da faze hoje conhecida como pré-psicanalítica para a psicanalítica.

Outro ponto de destaque durante esta pesquisa foi o fato de Freud, ao deparar-se com casos cujas respostas não eram satisfatórias com o tratamento, buscar novas linhas de pesquisa ao invés de apontar como caso não tratável pela psicanálise.

Por fim, entende-se a firmeza de propósito do autor enquanto pesquisador na busca por sistematizar a psicanálise de forma que pudesse ser aplicada clinicamente com sucesso.

 

4REFERÊNCIAS

 

FREUD, S. 1910. Cinco lições de psicanálise in Edição Standard Brasileira das

Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud vol.XI. Rio de Janeiro: Imago,

1996.

 

_________ 1912. Recomendações aos Médicos que exercem a Psicanálise in

Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund

Freud vol.XII. Rio de Janeiro: Imago, 1996.

 

_________ 1915. O inconsciente in Edição Standard Brasileira das Obras

Psicológicas Completas de Sigmund Freud vol.XIV. Rio de Janeiro: Imago, 1996.

 

_________ 1917a. Conferência XXVII in Edição Standard Brasileira das

Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud vol.XVI. Rio de Janeiro:

Imago, 1996.

 

_________ 1917b. Conferência XVI in Edição Standard Brasileira das

Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud vol.XVI. Rio de Janeiro:

Imago, 1996.

 

_________ 1923. Dois verbetes de enciclopédia in Edição Standard

Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud vol.XVIII. Rio

de Janeiro: Imago, 1996.

 

_________ 1937. Análise terminável, interminável in Edição Standard Brasileira

das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud vol.XXIII. Rio de Janeiro:

Imago, 1996.

1 O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.