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HOMOSEXUALIDADE E HOMOFOBIA DISCUTIDOS EM SALA DE AULA

 

AMANCIO, Vania Soares da Silva - UFMT

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                                                                       SCHENEIDER, Adelaide Lúcia

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Resumo

 

Este artigo é resultado do projeto de intervenção sobre a homossexualidade e a homofobia. O projeto de intervenção objetivou refletir sobre as informações que os (as) alunos (as) possuem sobre homossexualidade e homofobia. Na sociedade em que vivemos abriu-se uma brecha para discussão dos gêneros e diversidades na escola, onde o conhecimento tem e precisa ser propagado sobre as diversidades que temos presente em nossa sociedade. Como profissionais da educação têm planos a seguir, mas em determinados assuntos acabamos fugindo da temática principalmente quando se fala em diversidade de gêneros. Neste sentido, discutir com nossos (as) alunos (as) sobre homossexualidade é papel do (a) professor (a) para tentar esclarecer possíveis questionamentos acerca do assunto, desconstruindo mitos e preconceitos possíveis. 

 

Palavras Chaves: Homossexualidade, Homofobia, Escola.



Introdução

 

O projeto de intervenção sobre a discussão da homossexualidade e homofobia teve o objetivo de trazer o tema em sala de aula para dialogar sobre Várias dúvidas de nossos (as) alunos (as) do curso técnico de Inglês Básico do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI).

Todos nós sabemos que cada vez mais a diversidade está inserida em nosso cotidiano e cada vez mais está lidando com situações sobre esse tema em sala de aula e muitas vezes não sabemos o quanto sobre esse assunto nossos (as) alunos (as) têm conhecimento. A sociedade busca cada vez mais isolar fatos ou até mesmo agir com violência com tudo àquilo que considera diferente e acaba trazendo o preconceito nesse contexto enquanto educação. 

O projeto de intervenção foi feito realizado por meio da aplicação de questionário e realização de um debate em sala de aula sobre o tema homossexualidade e homofobia e seu entendimento.

 Segundo o que Sales aponta: 

Nas sociedades contemporâneas, cada vez mais a escola tem sido convocada para abordar os temas relacionados às sexualidades que proferimos anteriormente, acrescidos de outras questões como: gravidez na adolescência, os riscos das doenças sexualmente transmissíveis, as diferenças de gênero, violência sexual, as diferentes formas de orientação afetiva e sexual do desejo (heterossexualidade, homossexualidade e bissexualidade), o preconceito contra mulheres e homossexuais, por estarem na “ordem do dia” ( SALES, 2014 p. 04).

 

Quando falamos em sexualidade no cotidiano escolar logo nos remetemos as mais diversas discussões sobre esse assunto. Em vários municípios do estado de Mato Grosso a inclusão das discussões de Gênero foi retirada dos Planos Municipais de Educação, o que para muitos educadores é um tabu nas escolas e causa certa resistência no que se refere às diversidades na escola.

O desafio é indagar sobre os silêncios, os preconceitos, as práticas discriminatórias e violentas que acompanham as vidas de pessoas que rompem com padrões fixos de masculinidades e feminilidades ou de outras cujos prazeres, desejos e afetos não se enquadram em uma normatividade. O desafio é intervir de forma ética na educação, no sentido de construirmos relações mais humanas e justas, nas quais as diferenças não sejam vistas nem tratadas como inferioridades. (MARIANO et alii 2015, sem paginação)

 

No decorrer dos estudos que realizamos Curso de Especialização em Gênero e Diversidade na Escola (GDE), Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Campus Rondonópolis, Universidade Aberta do Brasil (UAB) e Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão (SECADI), Ministério da Educação (MEC), podemos abrir várias linhas de discussões no que diz respeito às diversidades presentes na escola.

A discussão sobre gênero e diversidade em sala de aula há muito vem sendo discutida por estudiosos para poder se criar uma política pública de ensino onde possa possibilitar ao aluno o acesso às informações sobre os gêneros sexuais e de que forma poder lidar futuramente com as diversidades.

 

Ao longo dos anos nas escolas, relacionada a esse assunto, muito longe se passou ao que diz respeito á sexualidade e as demais diversidades. Atualmente o assunto sobre sexualidade vem tomando grandes proporções. 

Na educação o assunto vem com grandes desafios que são muitas vezes encontrados dentro da própria escola. Segundo o que Souza pontua “A escola é uma das instituições mais antigas da humanidade. Resumidamente, podemos definir seu papel clássico como o de manutenção, divulgação e aprendizagem de valores e conhecimentos destacados na cultura como relevantes para a humanidade” (SOUZA, 2014, p.68)

O que se deve pensar é como trabalhar com alternativas que venham de encontro ao aluno (a) independente de sua idade, temos que enfrentar a questão de frente, no momento e na atualidade em que vivemos as crianças estão expostas as suas realidades e precisam de um direcionamento para o desenvolvimento e entendimento de sua posição perante a sociedade.

Ainda sobre o estudo de gêneros na escola Souza afirma que:

Para a organização destes conhecimentos, o currículo escolar é o eixo central dos quais se desdobram outras ações pedagógicas. Em seu propósito de trabalhar os conhecimentos científicos e legitimados por uma cultura, no currículo também encontramos outas mensagens e valores sobre o humano. (SOUZA, 2014 p. 68).

 

O presente projeto de intervenção foi realizado em uma turma de Curso Técnico do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) os alunos tem idade entre 16 e 35 anos. O artigo trata sobre o assunto da homossexualidade e homofobia na escola verificando assim até onde eles sabem ou entendem sobre esse assunto, levando em consideração que o objetivo do projeto foi o de poder informar, levantar questionamentos e produzir um diagnóstico sobre o quanto nossa sociedade esta disposta a discutir sobre gênero e diversidade na escola.

O que motivou a pesquisa é o fato da violência que os gays vêm sofrendo e levar a discussão o porquê dessa violência, fazendo com que o ódio e a revolta aconteçam muitas vezes por falta de informação sobre o assunto. O projeto em si foi realizado de forma esclarecedora e trouxe o entendimento a todos que participaram do debate e dos questionamentos em sala de aula.







Referencial Teórico

 

Num momento em que cada vez mais estamos nos deparando com as diversidades, o estudo sobre as mesmas é de total importância para o desenvolvimento intelectual e moral dos nossos alunos.

O estudo sobre a diversidade de gênero e consequentemente sobre a homossexualidade vem de encontro com questões relacionadas a diversidades presentes tanto nas escolas como num todo na sociedade, uma vez que atualmente o assunto tem tido uma atenção especial principalmente por parte das escolas que estão dispostas a discutir sobre políticas pedagógicas para discussão do assunto em sala de aula. Voltando ao começo de como surgiu à homossexualidade o autor Ceccarelli nos afirma que:

Evidentemente, do ponto de vista fenomenológico, a atração sexual entre as pessoas do mesmo sexo existe desde a aurora da humanidade em todas as culturas. A época e o local determinaram o tratamento que se deu a esses sujeitos: prática comum e bem tolerada na Grécia, Pérsia, Roma, e China, mas condenada entre os assírios, os hebreus e os egípcios. Entre os índios brasileiros, assim como em algumas sociedades africanas – a antropologia é rica em relatos - , as reações frente ao relacionamento entre pessoas do mesmo sexo variam desde a aceitação, como uma expressão legítima da sexualidade, até a rejeição absoluta. Com o advento do cristianismo, a homossexualidade torna-se, em certos períodos, um crime passível de morte. (CECCARELLI, 2008, p. 73).

O que acontece em muitos casos é o fato de muitas pessoas acharem que o homossexual esta vivendo em pecado e acaba propagando uma imagem negativa do ser humano pelo simples fato de ele gostar de se relacionar com pessoas do mesmo sexo.

 Nossa sociedade esta baseada na família tradicional, onde não é permitida a discussão de certos assuntos, anulando a possibilidade de um diálogo mais aberto sobre a orientação sexual. É muito importante na formação indivíduo as discussões sobre sexualidade e muitas vezes acabamos “matando” esse indivíduo antes mesmo do mesmo se reconhecer e principalmente conhecer seu corpo e se adaptar ao seu modo de vida. Segundo o que Willms afirma:

A sexualidade não é dada “naturalmente”, mas construída culturalmente, no jogo tenho do corpo em situação de educação, de disciplinamento, coerção, subordinação, saúde, gozo e prazer. Há muitas expressões diferentes de masculinidade e feminilidade. Sexo e gênero são oficialmente constituídos. Logo, uma pessoa pode mudar suas orientações de gênero. E nesse campo, mais do que consenso, busca-se uma atitude de diálogo e respeito ao outro e sua identidade. (WILLMS, 2013, p. 02).

A partir desse pensamento podemos pensar o indivíduo diante da explicação sobre o sexo biológico até de fato a orientação sexual, o que é de extrema importância o entendimento dessas diferenças para melhor entendimento do seu próprio corpo.

Segundo o livro Gênero e diversidade na escola (2009, p. 119), 

Orientação sexual: Refere-se ao sexo das pessoas que elegemos como objetos de desejo e afeto. Hoje são reconhecidos três tipos de orientação sexual: a heterossexualidade (atração física e emocional pelo “sexo oposto”); a homossexualidade (atração física e emocional pelo “mesmo sexo”); e a bissexualidade (atração física e emocional tanto pelo “mesmo sexo” quanto pelo “sexo oposto”).

 

No cotidiano dos (as) alunos (as) a realidade é bem diferente, o que acontece é que muitas vezes procura-se “poupar” determinados assuntos que supostamente são impróprios para idade haja vista que a criança é um ser puro livre de qualquer pensamento relacionado ao sexo. Não somente levado ao lado sexual e também as diversidades que existem na sociedade, o ensino nas escolas ainda é levado ao lado da exclusão de diversos gêneros, o que acarreta no atraso de vários questionamentos dos mesmos e como não se tem o preparo necessário o tema acaba passando “batido” e nada mais se comenta sobre esses assuntos.

Muitos assuntos e debates relacionados ao tema homossexualidade vêm sendo amplamente discutido em várias esferas pelo Brasil. Muitos são contra, mas muitos são a favor dessas discussões em sala de aula. Os preconceitos e tabus tem sido um dos maiores embates no que diz respeito a essas discussões em sala de aula. Muita coisa não se sabe sobre a homossexualidade o que muitas vezes acaba por deturpar algumas informações acerca desse assunto. Segundo Louro:

Os padrões respeitáveis de vida familiar desenvolvidos no século XIX (os "valores vitorianos") — com a demarcação crescente entre papéis masculinos e femininos, uma ênfase nova na necessidade de elevar o comportamento público aos melhores padrões da vida privada e um agudo interesse no policiamento público da sexualidade não-conjugal, não-heterossexual — tornaram-se, crescentemente, a norma pela qual todo comportamento era julgado. (LOURO 2000, p. 38-39).

O que muito pode explicar o porquê das famílias tradicionais não permitirem tais assuntos, a necessidade de criar discussões sobre a homossexualidade e as diversidades sexuais vem tomando grandes proporções no que diz respeito ao entendimento e muitas vezes há muitos questionamento e dúvida sobre o que falar ou até mesmo discutir sobre esse assunto. A muita curiosidade sobre o ser homossexual, uma curiosidade que traz discussões mesmo que de forma sutil e ao poucos esta cada vez mais ganhando novas linhas de raciocínio. Segundo o que Louro afirma: 

Redobra-se ou renova-se a vigilância sobre a sexualidade, mas essa vigilância não sufoca a curiosidade e o interesse, conseguindo, apenas, limitar sua manifestação desembaraçada e sua expressão franca. As perguntas, as fantasias, as dúvidas e a experimentação do prazer são remetidas ao segredo e ao privado. Através de múltiplas estratégias de disciplinamento, aprendemos a vergonha e a culpa; experimentamos a censura e o controle. Acreditando que as questões da sexualidade são assuntos privados, deixamos de perceber sua dimensão social e política.  que pode dificultar por muitas vezes o relacionamento do jovem que esta descobrindo sua sexualidade. (LOURO, 2000 p. 18).

O sujeito instigado pela busca de novas informações cada vez mais vai tendo um leque de informações acerca de sua sexualidade o que de certa forma lhe traz um alívio ao se descobrir no mundo e se sentir apto a enfrentar as dificuldades perante a sua sexualidade assumida. Segundo Ceccareli, 

No que diz respeito ao “tornar-se homossexual”, foi o psicanalista norte-americano Robert Stoller (1985) quem melhor chamou a atenção para a inexistência de uma formulação psicanalítica consiste sobre a homossexualidade. Após denunciar que os analistas não chegaram a um acordo que faça consenso sobre o tema, e mostra a falta de observações clínicas e de pesquisas convincentes sobre a questão. (CECCARELI , 2008, p. 11).

Segundo Ceccareli a questão da homossexualidade muitas vezes é vista como doença e que precisa ser tratada, pois muitos acreditam que ser homossexual tem uma cura, o que é uma hipocrisia onde as pessoas estão cada vez mais intolerantes e agindo de forma violenta em alguns casos. 

O preconceito gera violência. Segundo Bortolini:

Esse preconceito se reflete também em atos, que vão do cotidiano constrangimento e desrespeito até a violência mais extrema. Anualmente, aumenta o número de gays assassinados no Brasil. Não estamos falando de crimes comuns, mas de crimes cuja maior motivação é o ódio contra homossexuais. Segundos levantamentos do Grupo Gay da Bahia, nos últimos 25 anos aconteceram de 2.600 assassinados de gays, lésbicas e travestis no Brasil, contabilizando mais de cem mortes por ano. É esses números vem crescendo ano a ano. ( BORTOLINI, 2008 p.29).

A homofobia é uma violência praticada contra pessoas que são gays e não são aceitas por determinadas pessoas e que usam de violência para demonstrar sua indignação perante a orientação sexual de quem sofre a agressão.

A Homossexualidade ainda é muito questionada e não aceita por grande parte das pessoas, em tese tudo aquilo que não se conhece causa estranhamento e o que acontece quando o assunto é homossexualidade é justamente isso. Muitas pessoas não conseguem se atentar ao fato de antes de ser Homo afetivo existe um ser humano e merece respeito. 

O preconceito chegou ao seu limite, a intolerância esta gerando atos de violência em grandes proporções 

 

Referencial Metodológico

 

A intervenção foi realizada com alunos do curso técnico básico de Inglês do Serviço de Aprendizagem Nacional Industrial (SENAI), que participaram da leitura de um texto onde falava sobre a homossexualidade e homofobia.

O texto apresentado foi de extrema importância para identificar o quanto eles sabem sobre o que é homossexualidade e homofobia e baseado nas informações repassadas formular um debate e posteriormente um questionário  foi criado relacionado ao tema discutido em sala de aula. O debate gerou as seguintes perguntas:

  1. Para você o que é homofobia?
  2. O que você entende por homossexualidade?
  3. Qual o seu posicionamento sobre os direitos civis para os homossexuais?
  4. Qual a sua opinião sobre a união homossexual?
  5. Faça um breve relato sobre a homossexualidade e os atos homofóbicos.
  6. Qual sua opinião sobre discutir a identidade de gênero na escola?

O objetivo é trazer o assunto da diversidade cada vez mais para a sala de aula, mas de maneira a esclarecer as dúvidas e explicar partindo das teorias reconhecidas no meio científico o que é a homossexualidade. As atividades foram registradas através de fotos do momento do debate, logo depois foi formado um relatório sobre os resultados obtidos.

Os resultados obtidos mostram que os (as) estudantes entenderam o que é a homossexualidade através do texto trabalhado em sala de aula onde puderam aprender e discutir mais sobre o tema criando assim mais respeito e entendimento que cada um tem sua opção de escolha, que as pessoas tenham sua orientação respeitada e que não sofram com a violência cada vez mais presente em nossa sociedade.

  O debate sobre a homossexualidade foi muito produtivo pois depois de ler o texto A Invenção da Sexualidade do autor Paulo Roberto Cicarelli  Os (as) alunos(as) tiveram outra concepção do ser homossexual e logo depois eles responderam um questionário onde cada um poderá expor seu ponto de vista sobre o assunto.



Relato da Intervenção

 

O Projeto de Intervenção Conversando sobre a homossexualidade foi realizado numa turma de Curso Técnico de Inglês Básico do Serviço Nacional de Aprendizagem Nacional (Senai), realizado na cidade de Sorriso-MT, com alunos de 16 a 35 anos. O projeto teve início no dia 20 de Julho com apresentação do texto: A invenção da Homossexualidade do autor Paulo Roberto Ceccareli. O texto falava sobre a homossexualidade e homofobia, onde os alunos tiveram o embasamento teórico para o futuro debate em sala de aula. Logo depois do texto lido houve um debate sobre o que era a homossexualidade no qual tiveram várias respostas distintas.

O texto a Invenção da Homossexualidade do autor Paulo Ceccareli foi escolhido por possuir um bom embasamento e teoria sobre o assunto que me propus a trabalhar com eles (as). O assunto de início causou certo constrangimento por parte da turma, pois não imaginavam esse tipo de assunto em sala de aula.

A maioria deles (as) questionava o porquê de existir os homossexuais e porque algumas pessoas gostavam de se relacionar com pessoas do mesmo sexo. Abriu-se então o debate sobre o assunto, por ter pessoas de diversas idades o debate foi muito interessante e eu fiz o possível para explicar através do embasamento teórico o começo dos estudos de gêneros. Muitos não concordaram e falaram das questões religiosas que envolvem o pecado para as pessoas do mesmo sexo que se relacionam. Em uma turma de 20 alunos 2 não quiseram responder o questionário alegando que não gostavam de discutir esse assunto. Eles tinham a alternativa de poder sair da sala se assim desejassem no momento do debate, mas mesmo assim preferiram ficar em sala e ouvir o debate.

Depois das discussões sobre a homossexualidade, passamos a discutir sobre a homofobia, muitos deles concordaram que os gays sofrem muito preconceito e violência. Segundo eles os gays sofrem essa violência por ficarem “se agarrando em público” o que não é convencional para as famílias. Então eu questionei se o convencional era o casal hétero “se agarrando em público” o que muitos caíram em contradição e acabaram concordando que independente de ser heterossexual ou não tinha que haver o respeito com todos.

Alguns ainda falaram que muitos eram gays por “modinha”, ou seja, às vezes eles não têm a intenção de ser gay, mas como está na moda acabam se tornando.

Ainda segundo eles a violência acontece porque as pessoas se sentem incomodadas ao ver duas pessoas do mesmo sexo tendo relações sexuais o que segundo eles seria imoral. E assim foi seguindo as discussões passando pelo casamento civil dos gays e até mesmo a adoção por eles, o que houve muita discussão por parte dos alunos.

A grande parte deles acredita e concorda que perante a justiça todos tem direitos iguais independente de sua orientação sexual ou da forma/ com quem se relacionam.

Sobre o que diz respeito a homofobia o assunto foi-se revelando um pouco mais pois eles concordaram que a violência está cada vez mais velada por diversos motivos dentre eles a medo de serem assediados por colegas ou até mesmo na rua. O discurso sobre os direitos dos homossexuais é consciente. Segundo esse trecho do debate achamos a seguinte afirmação de Bortolini:

Assim, a “tolerância”, quando se dá, se expressa de uma forma interessante. Os/as alunos/as homossexuais são bem aceitos desde que “se comportem”, ou seja, desde que não expressam ou aparentem, em nenhum momento, a sua sexualidade. São aceitos/as como alunos/as assexuados/as, tolerados/as como estudantes, mas tendo a sua sexualidade e afetividade totalmente reprimidas e rejeitadas. (BORTOLINI, 2014 p. 31).

A afirmação de Bertolini não é diferente das respostas dadas pelos alunos e vai além da sala de aula essa “tolerância” que eles afirmam ter. Para eles não importa a orientação sexual de cada um desde que não tenham gestos de afetividade em publico.                   Depois do debate realizado e todos terem feito seus apontamentos surgiram 6 questões sobre o assunto, as quais eram essas:

1-Para você o que é homofobia?

2-O que você entende por homossexualidade?

3-Qual o seu posicionamento sobre os direitos civis para os homossexuais?

4-Qual a sua opinião sobre a união homossexual?

5-Faça um breve relato sobre a homossexualidade e os atos homofóbicos.

6-Qual sua opinião sobre discutir a identidade de gênero na escola?

   

 

Segundo o resultado obtido, para os alunos a homofobia é um ato criminoso e que vai contra o pensamento daqueles que não concordam com quem é gay, mas respeita sua escolha de vida. 

O que chama a atenção é o questionamento sobre o casamento civil dos homossexuais o qual os alunos ficaram divididos no debate realizado em sala de aula onde prevaleceu o entendimento de que eles têm o mesmo direito que uma união heterossexual.

O casamento entre pessoas do mesmo sexo foi aprovado no Brasil no ano de 2014 e trouxe muitas discussões sobre esse assunto, muitas pessoas foram a favor e muitas outras foram contra. A união estável entre pessoas do mesmo sexo garante a igualdade de direitos entre eles assim como numa união entre pessoas heterossexuais. Segundo Barbero: 

Na década de noventa, o reconhecimento da conjugabilidade é um fato novo na constituição social das identidades LGBTT, marcadas nas décadas de setenta e oitenta, pela liberalização sexual, que implicava na existência desejável de múltiplos parceiros sexuais. Mais adiante tanto no Brasil quanto no mundo ocidental por inteiro, os casai gays e lésbicos levantaram uma luta pela legalização de seus vínculos  conjugais e familiares, o que, depois de muitas vicissitudes, e por não ter obtido consenso no Senado, acabou sendo facilitado pelo sistema judicial brasileiro, que aceitou a possibilidade de registrar os casais homossexuais que assim o desejassem, como “união estável”, o que inclui uma série de direitos que antes só eram possíveis aos casais e famílias heterossexuais tradicionais . Mais adiante, o mesmo sistema jurídico abriu a possibilidade de transformar estas uniões estáveis em casamento. (BARBERO, 2014 p. 62-63).

 

O que chamou a atenção em um dos relatos dos alunos em relação à união civil foi à posição de uma aluna em especial: “Que pessoas do mesmo sexo se casem eu não me importo, mas que adotem crianças não”. (Relato da aluna A). A explicação que ela deu foi de que as crianças precisam da presença de pai e mãe na sua criação. A união civil para ela não tem problema, desde que não tenha criança envolvida na questão. 

Já em contra partida com outra opinião de uma aluna acerca do assunto sobre a união civil entre pessoas do mesmo sexo: “Creio que todos têm o direito de amar e ser feliz com quem lhe faz bem, na minha opinião tem todo o direito de formar uma família e viver bem.”( Relato do aluno B).

Sobre a discussão sobre a identidade de gêneros a escola a maioria acredita, mas não aceita em partes o estudo de gêneros na escola, na verdade a maioria ficou bastante confusa com esse assunto em sala de aula. O assunto sexualidade é um tabu muito grande em sala de aula e trazendo ele para a discussão juntamente com o tema Homossexualidade teve muito impacto quando começou a ser debatido.

A identidade de gêneros tem sido cada vez mais debatido nas salas de aula no seu cotidiano. Muitas vezes nós não temos como lidar com determinados assuntos e falar abertamente com eles sobre a diversidade de gêneros. Segundo Souza:

Tratando de problematizar a presença dos sexismos, na forma de androcentrismo e da heteronormatividade no espaço escolar, pode-se mencionar as estratégias produzidas pelos discursos sobre os sexos, os gêneros, as sexualidades diante da família, do trabalho, da educação, das relações sociais, das sociabilidades na escola. (SOUZA, 2014 p. 70).

O fechamento do questionário foi sobre o ensino da diversidade de gênero na escola, sobre o que eles achavam desse ensino na escola. Uma das repostas foi a seguinte:

“Não concordo, os ativistas gays estão querendo impor as suas ideias e opiniões, a identidade de gênero em minha opinião é tirar a autoridade dos pais em casa ou na escola, isto é uma questão de família. A família é preciosa aos olhos de Deus”. (Relato da aluna C).

Como relatado pela aluna ainda há muita confusão no que tange entre opção sexual/religião e que sempre quando se aborda o assunto sobre a sexualidade entre casais do mesmo sexo muitas vezes será levado pelo lado da religiosidade. Ainda há muito a ser discutido e trabalhado para que as pessoas entendam que a opção sexual de cada um nada tem haver com sua religião, fé ou crença, mas apenas viver de maneira a se sentir feliz e satisfeito em sua escolha. 

Outra resposta foi a seguinte: “Sou contra, pois isso pode influenciar as crianças a serem homossexuais pelo simples fato de se discutir na escola, pois teriam a curiosidade em saber e poderiam se tornar mesmo não querendo” (Relato da aluna D).

Outra resposta: “Seria muito bom para que as crianças possam se abrir e demonstrar o que sentem, mas também pode ser problemático, devido ao fato do preconceito entre os colegas uns com os outros, afetando a vida social da criança e até mesmo o estado psicológico e emocional”. (Relato da aluna F).

Essa resposta foi mais evasiva direcionada o favorecimento do ensinamento das diversidades na escola, cada um tem sua opinião formada, mas mesmo assim ainda é um tabu discutir esses assuntos em sala de aula. É preciso que esse assunto seja abordado e explicado de  maneira simples para o entendimento dos alunos.

As respostas foram divididas entre aceitar ou não o estudo da diversidade de gêneros na escola, o que gerou muito debate na sala de aula. São opiniões de cada um, movido por uma sociedade tradicionalista e que não entendem as diferenças do outro.

O que levanta o questionamento sobre a discussão ou não do assunto na escola é sobre as consequências que a não discussão traria para a escola ou até mesmo na sociedade como um todo. Muitos atos de preconceito são cometidos justamente por não ter o devido conhecimento do assunto seja ele teórico ou na prática do dia a dia com os (as) alunos (as). 

Cada vez mais recebemos alunos que tem várias questões a serem esclarecidas e a maneira de como a homossexualidade vem sendo apresentada não favorece o entendimento necessário para a sociedade que esta se formando. O ensinamento na escola sobre a diversidade de gênero é muito importante para sanar qualquer dúvida que o (a) aluno (a) venha a ter e entender melhor seu corpo, suas vontades e desejos sem se sentir reprimido naquilo que lhe faz bem.   





















Considerações finais 

 

O trabalho realizado no projeto de intervenção foi satisfatório  porque houve o entendimento sobre a diversidade de gênero e o debate  realizado mostrou a importância e enriquecimento das discussões sobre gênero.

O objetivo foi alcançado e alguns alunos entenderam o verdadeiro sentido e o entendimento de que cada um tem direito a escolher o modo de como vai levar a sua vida e que ninguém tem o direito de julgar o próximo. Que nós devemos respeitar as decisões uns dos outros e que atos de violência não levam a lugar nenhum. Muitos não concordaram sobre o ponto onde fala sobre a união civil e a discussão da diversidade de gênero nas escolas o que demonstra que temos um longo caminho a percorrer e avançar quando o assunto é discutir as mesmas.

É preciso criar políticas públicas para o aprofundamento teórico e promover discussões que possam dar o esclarecimento necessário para nossos (as) alunos (as), estamos no caminho e vamos enfrentar muitos desafios, mas não podemos desanimar, temos que seguir em frente a fim de conseguir que os futuros cidadãos se respeitem independente de sua sexualidade, cor, raça ou religião.

O que me deixa um pouco mais confiante quando se fala em discussão das diversidades em sala de aula, é que cada vez mais nós estamos nos atentando aos alunos que chegam às escolas para procurar aprendizado e ter uma atenção as suas indagações enquanto um ser em desenvolvimento em todos os sentidos da sua vida.














Referências Bibliográficas 

 

BORTOLINI, Alexandre-Trabalhando Diversidade Sexual e de Gênero na Escola: Currículo e Prática Pedagógica Ed. Rio de Janeiro, 2008.

BARBERO, Graciela Haidée. Movimentos sociais e desigualdades de gêneros. In: Curso Gênero e Diversidade na Escola. Universidade Federal de Mato Grosso, Campus Rondonópolis, Universidade Aberta do Brasil, Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão, Ministério da Educação. 2014. Texto (didático e instrucional)

CECCARELLI, Paulo Roberto- A Invenção da Homossexualidade, 2008.

Gênero e diversidade na escola: formação de professoras/es em Gênero, Orientação Sexual e Relações Étnico-Raciais. Livro de conteúdo. Versão 2009. – Rio de Janeiro: CEPESC; Brasília : SPM, 2009.

LOURO, Guacira Lopes. O corpo educado: pedagogias da sexualidade. Belo Horizonte, Autentica 2000.

MARIANO, Carmem Sussel et alii. Por que é importante falar de gênero? Jornal A Tribuna. Rondonópolis, MT. Disponível em http://www.atribunamt.com.br/2015/06/por-que-e-importante-falar-de-genero/. Acesso em 24 de setembro de 2015. 

SALES, Adriana. Sexualidade: História, Diversidade e Discriminação. In: Curso Gênero e Diversidade na Escola. Universidade Federal de Mato Grosso, Campus Rondonópolis, Universidade Aberta do Brasil, Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão, Ministério da Educação. 2014. Texto (didático e instrucional)

SOUZA, Leonardo Lemos. Gênero e Cotidiano na Escola. In: Curso Gênero e Diversidade na Escola. Universidade Federal de Mato Grosso, Campus Rondonópolis, Universidade Aberta do Brasil, Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão, Ministério da Educação. 2014. Texto (didático e instrucional)

WILLMS , Elni Elisa. Eis que é tempo da gente (se) compreender. In: Curso Gênero e Diversidade na Escola. Universidade Federal de Mato Grosso, Campus Rondonópolis, Universidade Aberta do Brasil, Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão, Ministério da Educação. 2014. Texto (didático e instrucional).

Acesso em 27/08/2015.