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DIMINUINDO OS EFEITOS DO IMPACTO QUE O RACISMO CAUSA NA INFÂNCIA DAS MENINAS NEGRAS 

Isolti Marli Cossetin Ebbres
Vera Lúcia Aparecida de Oliveira Xavier
Marcia Ferreira da Silva
Rosimar Ramos de Souza
Luana Costa de Carvalho

Resumo

 

Este artigo é resultado de uma investigação do tipo pesquisa qualitativa que objetiva discutir o tema a superação do impacto do racismo feminino ainda durante a segunda fase do ensino fundamental, atitudes, situações e experiências vivenciadas pelas mesmas. A motivação surgiu através dos fatos sobre racismo ocorrido em sala de aula, havendo um número elevado de alunas introvertidas e isoladas e que estão em período de descoberta conhecendo a realidade que estão inseridas. Sendo notório as ocorrências de preconceito racial, mas pouco se tem feito para diminuí-las, já que os relatos das meninas vítimas de indiferenças por causa do racismo não trouxe efeitos positivos. Reflete sobre como as estudantes se sentem diante dos colegas e o desejo de pertencer a um grupo que não é rejeitado pela aparência do cabelo ou cor da pele, analisando o comportamento isolado e excludente das meninas negras. Enfatiza a os resultados na vida das meninas de uma doutrina que apregoa a superioridade de determinadas raças. Debate a importância da prática efetiva da Lei 10.639/03, sendo aliada do professor para em sua prática diária diminuir esse impacto.

 

Palavras-chave: Impacto do racismo. Cor da pele. Superioridade de raças. Comportamento isolado.

 

1 Introdução

 

A sociedade deve assumir um compromisso para o enfrentamento e combate a discriminação racial no ambiente escolar, pois a mesma é só mais um caminho para se desvencilhar do problema que assola não só o âmbito escolar, porém a sociedade deve assumir um compromisso educacional para configurarmos um contexto social mais heterogêneo  sem práticas e discursos racistas.

Estereotipar o indivíduo em decorrência de sua etnia ou religião infelizmente faz parte da história da humanidade desde tempos remotos, aquele ou aquela que não atendesse aos patrões culturais europeu era marginalizado pela sociedade. Segundo Goffman (1993), a sociedade sempre atentou estipular uma identidade social comum entre as pessoas exigindo que todos (as) respeitassem esses atributos por ela estabelecidos, podendo o indivíduo sofrer sanções caso não fossem cumpridos.

Grupos considerados pertencentes somente a etnia caucasóide disseminam práticas e discursos racistas, inferiorizando afro descendentes, deixando-os em situação vexatória. Dessa forma estabelece-se um patrão a ser seguido e quem não atende a característica européia é automaticamente estereotipado pela sociedade.

 Fatos relacionados ao racismo na sociedade raramente debatido e considerado como questão que põe em pauta a resolução do problema. Acreditamos que todos os recursos já foram utilizados e o papel do Governo na criação de leis capazes de combater o preconceito e racismo foi cumprido. Todavia não paramos para refletir sobre o que certamente pode ser um norte, no que tange a valorização do negro na sociedade. Suscitemos um debate maduro persuasivo que transforme o diálogo e comportamento de uma sociedade pluricultural que ainda não aprendeu conviver coma as diferenças culturais. 

A prática do racismo vêm acontecendo de forma indiscriminada onde até mesmo pessoas negras renegam suas origens, desejando pertencer à cultura européia, logo, a negra procura mudar sua aparência na intenção de ser aceita pelos grupos que estigmatiza a etnia negra. É preciso entender que muitos indivíduos que procuram modificar sua característica física, em sua vida pregressa sofreram com preconceito racial e vê em sua aparência uma imagem odiosa, por ter tido tratamento discriminatório ao longo da vida e tem como objetivo se livrar da imagem do negro que lhe fez sofrer.

É enganoso pensar que existe uma superioridade de raça, e é mais equivocado sustentar tal superioridade em períodos históricos tão avançados que prega convivência em harmonia dos povos, respeitando crença e etnia cultural.

Existe uma apatia por parte do professor quando o assunto é falar sobre a cultura africana. Para muitos “o bacana” do assunto de escravidão e cultura negra vem sendo o feriado do dia 20 de Novembro que se dá no fim do ano letivo e contribui para um descanso do trabalho ou mesmo fixar alguns cartazes no mural seguido de algumas palestras sobre o tema em questão. 

Trabalhar a valorização do negro na sociedade brasileira é talvez um dos papeis mais difíceis para o professor, uma vez que o sentimento de racismo está internalizado, quando o ensinamento é teórico existe uma resistência do professor em desenvolver o senso critico nos alunos, fato que contribui para o aumento do preconceito racial, já que os mesmos se mostram despreparados e tímidos no que tange a luta contra o racismo. Dessa forma o combate da discriminação racial se torna cada vez mais distante.

A criança que recebe informações preconceituosas em casa, e na escola dificilmente será um agente de mudança da discriminação racial. Com a educação familiar mais o discurso da escola, a situação do racismo tende a ficar cada vez mais agravado e ainda mais difícil para se combater.

Segundo Heerdt (2003, p.70), “Evidenciam-se, uma série de desafios, alguns inéditos, que precisam ser assumidos e incorporados na prática docente. A mudança, o novo, o questionamento, o diferente, quase sempre são causa de insegurança e medo. Mas é necessário ousar e enfrentar”

Desenvolver um trabalho contra o racismo não implica somente em desenvolvimento de propagandas da aparência do negro ou em programas mal informados sobre a valorização do negro. Erradicar, no mínimo, amenizar a situação, demanda um trabalho que irá internalizar o sentimento do negro quando o mesmo sofre racismo. É preciso estar atento as reproduções de sentimentos de racismo em sala de aula, uma vez que as ações se dão muitas vezes de forma camuflada e abafada, pois muitas crianças que sofre com o preconceito sentem vergonha de denunciar.

 As situações que se dão no ambiente escolar, têm como protagonistas meninas negras que sofrem duplamente com a rejeição, já que o fato de serem mulheres é só um dos motivos pra serem tratadas com menosprezo. As alunas negras convivem com essa inferioridade durante todo o seu período escolar, sendo vítimas de xingamentos em sala de aula, apelidos relacionados à cor da pele e/ou cabelo.

Para as estudantes negras existe um abismo que as separam das meninas consideradas brancas, pois “jamais” vão poder se parecer com algumas delas e no mínimo serão vistas como sensuais e exóticas, isso quando se tornarem adolescente. É o estereótipo do negro que é visto com descaso e faz com que essas meninas simplesmente ignorem seus atributos naturais como os cabelos, modificando fenotipicamente na intenção de agradar aqueles que sentem desprezo na aparência do negro.

Urge redefinir o papel da escola como espaço de construção da cidadania fazendo valer a Lei 10.639/2003 acrescentando dois artigos a Lei e Bases da Educação Nacional Lei 9.394/96 cuja sua escrita é a seguinte:

Art.26-A - Nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio, oficiais e particulares, torna-se obrigatório o ensino sobre História e Cultura Afro-brasileira. 

Parágrafo Primeiro – O conteúdo programático a que se refere o caput deste artigo incluirá o estudo da África e dos Africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional, resgatando a contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e política, pertinentes à História do Brasil. 

Parágrafo segundo – Os conteúdos referentes à História e Cultura Afro-brasileira serão ministrados no âmbito de todo currículo escolar, em especial, nas áreas Educação Artística e de Literatura e Histórias Brasileiras.

Art. 79-B – O calendário escolar incluirá o dia 20 de novembro como “Dia Nacional da Consciência Negra.

 A alteração dessa lei foi datada em 2008 e inclui no currículo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade de trabalhos com a temática “História e Cultura Indígena”, caracterizada como Lei 11.645, de 10 de março de 2008, onde sua redação final é a seguinte:

  • 1º O conteúdo programático a que se refere este artigo incluirá diversos aspectos da história e da cultura que caracterizam a formação da população brasileira, a partir desses dois grupos étnicos, tais como o estudo da história da África e dos africanos, a luta dos negros e dos povos indígenas no Brasil, a cultura negra e indígena brasileira e o negro e o índio na formação da sociedade nacional, resgatando as suas contribuições nas áreas social, econômica e política, pertinentes à história do Brasil. 
  • 2º Os conteúdos referentes à história e cultura afro-brasileira e dos povos indígenas brasileiros serão ministrados no âmbito de todo o currículo escolar, em especial nas áreas de educação artística e de literatura e história brasileiras.

 Como é observado, procura-se desenvolver uma atitude que reconheça de modo positivo a diversidade étnico racial porque depende do “fortalecimento do autoconhecimento de alunos e alunas pertencentes a grupos discriminados” (CAVALLEIRO, 2001, p. 158). A falta de atitude implicará na impossibilidade de o Brasil atingir a justa e igualdade de condições entre negros, índios e brancos.

Conviver com diferentes grupos étnicos para a criança deve ser uma descoberta prazerosa, poder observar a sua volta que não somos todos iguais, mas somos todos seres humanos, e que não há motivo para ter vergonha e ser discriminado.

É preciso desenvolver ações sobre os impactos do racismo na formação de uma criança e reconquistar os valores que possibilitam o reconhecimento da grandeza da pluralidade cultural e étnica brasileira; e como essa pluralidade tem valor como bem imaterial para crianças gerando uma sociedade mais justa.

Há um grande um grande número de crianças que vão para o espaço escolar munidos de apelidos racistas, e disseminando o preconceito que fora aprendido na educação familiar. O fato de ouvirem as mazelas da raça negra só reforça o repúdio pela etnia, e na grande maioria a criança que discrimina tem fortes características de negro, porém para ela, não existe mérito para tal raça, dessa forma não é interessante sentir orgulho.

Percebendo o reforço aos estereótipos raciais exercido pela escola que os livros didáticos desempenham, entende-se a importância do papel de destaque do educador na responsabilidade de constituir uma das faces assumidas na atualidade, pela discriminação contra o negro no âmbito educacional; se o (a) professor (a) agente fundamental do processo educativo, em grande maioria, tem o livro didático como o principal recurso pedagógico e, de maneira geral, não está alerta para os vieses ideológicos do conteúdo de tais materiais, evidenciando conteúdos racistas, suscitamos projetos que demande qualificação profissional dos professores. Dessa forma a discussão sobre o livro didático, os valores por eles transmitidos e o uso que dele faz o (a) professor (a) passa a ser imprescindível para a luta por uma escola efetivamente democrática.

O ambiente escolar é um local que agrupa diversos seres humanos com as mais variadas divergências. Emergindo assim um grave problema: Já que somos considerados racionais, atribuímos a nossa personalidade um tom de verdade. E quando vislumbramos o outro como diferente ao nosso comportamento, criamos obstáculos e descriminamos este ser, achando que ele se torna uma ameaça a nossa integridade. Tal situação tem como suporte no etnocentrismo é: “Visão de mundo que considera o grupo a que o individuo pertence o centro de tudo. Elegendo como o mais correto e como padrão cultural a ser seguido por todos, consideram os outros, de algumas formas diferentes, como inferiores”. (ROCHA 2007, p.19)

A visão etnocêntrica penetra no emocional do ser humano e age como um veneno, contaminando a mente do individuo fazendo-o pensar que sua cultura é supervalorizada em relação ao outro. O etnocentrismo se propaga causando um constrangimento em quem é de alguma forma ofendido pelo mesmo e como as crianças e adolescentes não tem formação humana para enfrentar a problemática se torna uma propagadora inconsciente do preconceito racial.

 

2 Referencial teórico

 

 Diminuindo os efeitos do impacto que o racismo causa na infância das meninas esta embasado principalmente na Lei 10.639/03 estabelecendo a obrigatoriedade do ensino de História e Cultura Afro- Brasileira e Africana, bem como nas diretrizes curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnicos- Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro- Brasileira e Africana produzidas pelo Ministério da Fundação - MEC. 

O Brasil é um país que reforça a ideia de que vivemos efetivamente em uma sociedade sem preconceito racial e sem racismo em relação aos negros. Atualmente não há crença para  que haja tal harmonia diante das evidências de várias formas de discriminação sofrida pelos afro-descendentes em nosso país. 

O mito da democracia racial nunca logrou se dissociar do projeto de branqueamento do povo brasileito. A tão decantada mestiçagem vem a ser o elegante modo pelo qual a elite euro-descendente compreendeu o processo de transição etnico-demográfico do povo brasileiro, rumo a uma sociedade totalmente livre da mancha negra e indígena. (A cor da Cultura, saberes e fazeres- modos de viver. Copyright Fundação Roberto Marinho. Rio de Janeiro, 2006 p. 21)   

 

 Gadotti (1987) entende que a educação é um processo social no qual  os cidadãos (ãs) têm acesso aos conhecimentos produzidos e deles se apropriam de forma a se prepararem para o exercício de sua cidadania, representa um ato político que pode levar tanto a construção de um indivíduo participante, como à construção de indivíduos conformados a realidade apresentada. Portanto, pode-se afirmar que o ambiente escolar colabora no processo de construção da identidade do sujeito, por ser um dos primeiros espaços sociais que frequentamos longe da presença familiar. O contato com a diversidade cultural e social fará com que cada um descubra a si mesmo como ser humano único e perceba também o outro. A escola demonstra seu papel ao contemplar na prática o que ela prega na teoria, buscando produzir futuras cidadãs e não futuras excluídas em larga escala. Se a escola aceita atitudes discriminatórias ou excludentes, estará permitindo o desenvolvimento de cidadãs injustas, superficiais e más. O adulto que estigmatiza, discrimina e exclui seu semelhante, certamente aprendeu quando criança a agir assim.

Em relação ao estudo da diversidade cultural, observamos que os livros, em sua maioria, dão maior relevância aos episódios de humilhação e dor ocorridos com os negros no Brasil, quando deveriam proporcionar uma reflexão e conhecimento mais crítico e aprofundado sobre as conquistas, o modo de viver após a Abolição e suas contribuições para o crescimento político, social, econômico, cultural, etc, para o Brasil.

Sabemos que o livro didático é o principal instrumento ideológico da escola. A criança não vê nele seu cotidiano representado, mas muitas vezes percebe a ausência de pessoas negras representadas ou ocupando posições subalternas. Isso resulta em uma sensação de estranheza, podendo levar a criança negra a auto-depreciação, e a construção de uma auto-imagem negativa. (SOUZA, I. S, MOTTA, F. P. C, FONSECA, D; Estudos sociológicos e antropológicos. São Paulo; 2002, p.44).  

Goffman (1993) considera que há dois conjuntos de indivíduos onde o (a) estigmatizado (a) pode encontrar apoio: os (as) iguais; que são aqueles que compartilham do mesmo estigma, e os (as) informados (as); que são pessoas que sabendo da condição do estigmatizado (a) considera-o (a) como uma pessoa comum, e é nesse contexto que a escola se insere de forma essencial e o papel da professora ou do professor torna-se imprescindível. De tal modo, quer estejamos em interação com pessoas estigmatizadas ou sejamos vítima da estigmatização, acabaremos por descobrir que as marcas da sociedade ficam claramente impressas nos contatos, colocando e separando cada um em seu devido lugar.

Não há indícios científicos que justifiquem a discriminação, segundo SILVA (2008, P.65), pode dizer que “a idéia de raças humanas e as bases sociais do racismo foram historicamente criadas e difundidas, com objetivos políticos bem determinados, mas carecem de fundamentos científicos”. O mesmo autor comenta que as idéias e teorias que fundamentam o racismo foram trazidas para o Brasil no Século XIX, trazendo a idéia. Esse ideário sustenta a idéia de que o baixo desenvolvimento do país era resultado da miscigenação, fundamentando o principio eugênico. 

Ainda por Silva: A doutrina do “branqueamento” remete a tonalidade de cor da pele, quanto mais escuro o sujeito mais vitima do preconceito será, quanto mais claro menos preconceito, já que a característica fenotípica se relaciona cm o conceito de preconceito racial de marca” (SILVA, 2008, p. 68)

 Sant´Ana afirma que o racismo expressa um fenômeno ideológico que se materializa através das discriminações, encontrada nas diferentes organizações sociais, inclusive na instituição escolar, presente entre os estudantes, professores, diretor da instituição e livros didáticos. Deste modo a, a escola não pode isentar- se de trabalhar as questões sociais, visto que, cabe a ela formar cidadãos antiracistas (LOPES, 2005)

Segundo a perspectiva de Giroux (1997, p. 32), o docente enquanto “trabalhador cultural” poderá desenvolver um discurso para unir a ”[...] linguagem da crítica e da possibilidade capaz de promover mudanças na escola, assumindo a necessidade de dar voz ativa aos seus alunos e manifestando-se contra todas as formas de discriminação injustiça”.

Devemos ter a consciência, no cotidiano nossas aulas, valendo- se da realidade escolar espelhando nas questões sociais na qual ela está inserida, mas poderá ser local de reflexão e não de omissão dos problemas sociais. Deve-se refletir também sobre a ausência de representações dos grupos étnicos nas várias manifestações da sociedade, como, por exemplo, sobre a falta de questionamentos da ordenação social e dos estereótipos, e/ou desconstruir mitos que impedem a formação de uma sociedade mais pluralista e igualitária.

 

3 Referencial metodológico 

Inicia com a discussão do resultado do questionário respondido pelos alunos. Posteriormente é feita uma apresentação bem consistente do projeto á turma, o trabalho começa com a professora de História fazendo uma aula especifica sobre a temática em questão e sobre termos, tais como: preconceito racial, discriminação racial, preconceito racial, raça, racismo, negro, negritude, etc.

Após tomar a decisão juntamente com a coordenação e gestão, que as aulas de História serão divididas pelo fato de serem duas aulas semanais. Em uma semana será trabalhado o projeto e na outra o conteúdo conforme proposta curricular da Unidade Escolar. As aulas de arte estão todas voltadas para a temática do projeto. 

Tomadas essas medidas de organização, as atividades de fato começam com a roda de conversa para a realização da primeira atividade: pesquisar no laboratório e levar para a sala de aula assuntos relacionada sobre História da África e Cultura Afro- Brasileira e Africana com os temas: África, o berço da humanidade: Da Pré- História ao século XXI., O trafico de escravos africanos para o Brasil – escravidão lá e aqui., A campanha abolicionista e as Leis; A situação do negro na sociedade brasileira., A influencia cultural africana no Brasil e a história do Movimento da Consciência Negra.

Abordar o assunto sobre contos de fadas e a eugenia da raça caucasóide que tem como protagonista as meninas e mulheres brancas e não inserção das meninas negras protagonizando essas histórias. Elaborar um discurso que valorize também as princesas de aparência afro que também podem e devem ser valorizada em nossa cultura brasileira.

Assistir ao filme  Histórias Cruzadas que tem como principal objetivo a valorização da mulher negra no Brasil, para que as estudantes percebam o valor da mulher negra na sociedade. Mostrar imagens de comunidades quilombolas, enfatizando o papel da mulher nas comunidades, mencionando os pontos positivos em manter viva a tradição da cultura africana, ressaltando a perseverança das mulheres em preservar as comunidades remanescentes de quilombos, mencionando nomes de negras influentes na “luta” em questão.

Dar início as oficinas, contando com a ajuda de alguns pais, mães, funcionárias da unidade escolar para a confecção de bonecas negras. Todos se envolvem podem estar envolvidos na confecção, paralelamente promover concurso de desenhos/motivo afro. Para isso os alunos terão que contar com a colaboração da professora de artes para confeccionar os desenhos e realizar uma exposição em painéis.

As oficinas seguem com um concurso de tranças de origem africana, incentivando a caracterização afro, fazendo uso de vestimentas, acessórios similares aos da África entre outros. Incentivar as produções com premiações de melhor trança, vestimenta e acessórios.

Apresentar o projeto a equipe escolar e aprofundar estudo de temas como estigmas, estereótipos e racismo. Após esses estudos apresentar o projeto as mães e pais de alunos e sensibilizá-las (os) para a atuação docente nas atividades e a participação da família. Iniciar com uma conversa informal com as alunas e alunos pedir para relatarem tipos de preconceitos raciais que os mesmos já sofreram ou presenciaram no espaço escolar. Analisar dados a partir de um questionário contendo as seguintes questões:

Atividade 1

1) Você sabe o que é racismo?

2) Você já foi ou é vitima de racismo?

3) já sofreu agressão física por causa da sua cor de pele?

4) já sofreu com apelidos do tipo cabelo de pixaim, carvão, picolé de pinche, fumo de rolo, entre outros? 

5) Qual o nome ou apelido maldoso que já colocaram em você? Pode citar mais de um exemplo.

6) Como se sentiu ao ouvir esses apelidos?

7) Qual a sua reação ao ouvir tais ofensas?

8) Você já pensou em abandonar a escola por causa de tais ofensas?

Atividade 1

  • Objetivo: identificar os casos de racismo na turma dos alunos em questão
  • Materiais necessários: papel sulfite e caneta
  • Detalhamento do procedimento: encaminhar os alunos que irão fazer parte do projeto para um espaço onde possa desenvolver um diálogo posteriormente entregar as folhas com o questionário pra que os alunos possam responder livremente sem interferência.
  • Forma de registro das atividades: As atividades serão registradas através de fotos e texto (relatório).
  • Resultados esperados: os estudantes não omitiram fatos que aconteceram em suas experiências com o racismo para que tais contribuam para execução do projeto. 

Atividade 2

  • Objetivo: reconhecer a importância da participação da mulher negra na construção da sociedade brasileira
  • Materiais necessários: TV, DVD e filme
  • Detalhamento do procedimento: filme de conquistas de mulheres negras ( Histórias cruzadas
  • Forma de registro das atividades: a atividade será registrada através de fotos e relatório (texto)
  • Resultados esperados: conhecer e aprender legados de mulheres que tiveram influência na cultura brasileira.

Atividade 3

  • Objetivo: reconhecer a importância da fabricação de bonecas que represente a cultura africana
  • Materiais necessários: retalhos de tecidos
  • Detalhamento do procedimento: a oficina consistirá em confeccionar bonecas que tenha aparência negróide.
  • Forma de registro das atividades:  através de vídeo e fotos
  • Resultados esperados: os alunos (as) terão uma interação maior com a cultura afro e perceberam que o estigma pode ser transformado em respeito e tolerância.

Atividade 4

  • Objetivo: perceber que o cabelo afro tem muita beleza e charme  ser dando o devido valor, estando preso (trança) ou solto (Black Power)
  • Materiais necessários: Pente, fitas coloridas e gel
  • Detalhamento do procedimento: grupos de meninas/meninos se prepararam para produzir penteados (tranças e cabelo Black Power), sendo que outro grupo se encarregará de fazer estes penteados nos (as) colegas
  • Forma de registro das atividades: Através de vídeo e fotos

 

4 Relato da intervenção

 

Enquanto as escolas não efetivarem a Lei federal 10.639/2003 nas escolas ficará exaustivo uma  simples abordagem de assuntos referente ao racismo, desse modo talvez seja preciso bem mais que “boa vontade” para trabalhar as questões raciais nas escolas .

Há necessidade do engajamento de todos os profissionais da educação para de fato ocorrer uma mudança no comportamento dos alunos de forma que os mesmos percebam os colegas afro descendentes simplesmente como pessoa e não como seres humanos de raças inferiores, ainda que o processo seja lento e gradual, porém não deve deixar de acontecer.

O discurso sobre o racismo parece que não toca o sentimento dos alunos, sentem-se enfadonhos em ouvir algo que não funciona na prática, pois está muito arraigado na mentalidade da sociedade. O eurocentrismo é mais valorizado a ponto de grupos étnicos se julgarem mais importantes pela cor da pele e existir um tratamento diferenciado para pessoas negras.

Meninas negras muitas vezes não querem tocar no assunto por se sentir mal em relatar as ofensas sofridas.

Um trabalho iniciado desde a pré escola seria uma das medidas a ser tomadas para diminuir a questão racial nas escolas, o problema é que até mesmo os professores tem receio de se expor ou dialogar com os alunos sobre o assunto. Urge implementar leis e praticá-las não só nas salas de aulas mas em todo o espaço da escola, sendo a comunidade escolar influenciada pelas ações relacionadas ao racismo.

A sociedade deve ser contagiada através do espaço educacional, pois o mesmo é um dos únicos meios que poderá  diminuir a questão da injúria racial no território nacional. As pessoas na atualidade estão se comportando de forma tímida no que tange o racismo, com medo de represálias evita ofensas contra negro, pois a mídia expõe as consequências  que o crime pode levar. O racismo contemporâneo é velado não deixando a prática evidente, porém algumas pessoas guardam para si ou se sentem indiferentes, e quando não é externado o sentimento de ojeriza entra com o discurso de não ter afinidade.

Todos estes comportamentos iniciam na escola, uma vez que as crianças não são ensinadas que a cor dos olhos e pele, textura do cabelo não classifica o ser humano em categorias, mas nos mostra a riqueza de características que cada pessoa tem, independente dos seus atributos físicos.

É percebido nas meninas negras que frequentam o ensino Fundamental II da escola João Alves dos Santos  uma autoestima baixa, já que suas recordações do ensino Fundamental I não foram boas, lembram algumas, evitando sequer de falar sobre o assunto, no entanto pode sentir a carência de amizade dessas meninas só no observar em sala de aula.

Existe uma necessidade de agradar aos colegas para ser aceitas no “grupo das meninas não negras”, grupo esse sendo o das meninas mais populares da escola, sendo um circulo de amizade onde as meninas negras não se enquadram, uma vez que não são loiras, não tem cabelos lisos  e pele clara e se o olho é claro a garota vira “majestade”. 

Fica difícil para um professor mediar tais situações sem um suporte mais contundente   onde o ensino da cultura afro brasileira se torna extremamente necessário, dessa forma a não prática do ensino da cultura afro brasileira nas escolas inviabilizam sugestões que transmitem o quanto a contribuição negra nos favoreceu e ainda hoje continua nos beneficiando com legados de grande importância.

Quando ocorre um fato que envolve a temática racismo a maioria dos estudantes acredita ser desnecessário o professor parar com as explicações de conteúdo e intervir no assunto, pois acham desnecessário a intervenção e a maioria deles tem consciência da gravidade da situação porém ouviram muito a respeito do assunto e não vêem mudanças ocorrerem, são repetições com medidas paliativas que não surte efeito.

Fica impossibilitado transmitir uma educação renovada e libertadora para meninas negras que se sentem depreciadas por serem negras. Elas não sentem orgulho em pertencer a uma etnia de pessoas que são rejeitadas pela sociedade e ouvem críticas a respeito de seus cabelos e pele.

Para as meninas negras fica fácil se convencer que sua cultura é menos importante que a cultura não negra, já que elas crescem ouvido sobre práticas de racismo relacionado a sua cultura. Olhando por esse lado chega a ser compreensível quando vemos meninas negras se sentirem “feias” por não se enquadrarem no padrão de beleza da sociedade. Nenhum ser humano quer ser rejeitado e para essas meninas poder  se aproximar da aparência das meninas não negras é uma grande vantagem, essas transformações são de várias formas desde alisar os cabelos até fazer “banho de lua” para clarear a pele.

Talvez essas meninas nunca ouviram na história  algo que enaltecesse a imagem do negro. As contribuições e a herança cultural deixada pelos africanos são transmitidas de forma deturpada e digna de muita pena. A grande maioria dos alunos negros evita prestar atenção a esse assunto para não se constranger ou se sentir humilhado.

É comum meninas adolescentes afro descendentes não se sentirem á vontade para falar das questões raciais umas vez que através do ensino transmitido a imagem do negro é triste e sua cultura foi sub julgada a dos europeus, sendo até os dias atuais contada de forma triste e humilhante. Para as estudantes que estão iniciando a adolescência é vexatório se assumir negra ou afro descendente, vêem como demérito se ‘identificar com uma cultura depreciada que possui uma história de início meio e fim ruins .

Como elas estão em uma fase de triunfo, alegrias e curtições todos os acontecimentos tristes não fazem parte de suas vidas, dessa forma as mesmas procuram se identificar com pessoas que se  incluem na parte boa da sua história e querem estar do lado “bom” do grupo, o lado que quase nunca é criticado e sempre há um fato “positivo” para viver.

Há muita falta de informação por parte da comunidade escolar, os pais dizem não saber identificar o comportamento das filhas quando são vitimas do preconceito racial, a maioria julga desnecessário tratar do assunto, muitos se mostram pessimista com relação a diminuição do racismo no Brasil.

No dia em que o filme Histórias Cruzadas foi passado para os alunos do 9° ano foi notada a ausência dos meninos e algumas meninas, porém as meninas afrodecendentes se emocionaram ao fim do filme, todas as meninas que estavam na sala fez um depoimento sobre o aprendizado do enredo do filme. Para concluir o assunto, na semana seguinte  todas as alunas foram com os cabelos trançado e com uma imagem de penteado afro impressa em papel A4. Foi promovido um desfile de penteados de tranças, algumas meninas usaram batas com desenhos afros.

A experiência da intervenção com as meninas afrodescendentes foi bem significativa e positiva, pois as mesmas relataram que nunca tinham tido espaço para falar sobre o assunto, se sentiram “leves” contaram elas.

No ultimo dia de intervenção foram confeccionadas bonecas abayomi, uma atividade  prazerosa e de muito entretenimento, uma vez que, todos alunos da turma do 9° ano da escola João Alves dos Santos interagiu com a confecção das bonequinhas que tem uma história muito bonita além de ser  fácil sua criação, podendo ser esse o motivo de tamanha interação dos alunos.

2 Considerações

Há muito que se fazer para alcançar objetivos satisfatórios no que tange o combate ao racismo, porém todo prática com a intenção de diminuí-lo é válida. Para que crianças e jovens sinta orgulho de pertencer à etnia afrodescendente.

Um número ainda bem considerável de adolescentes com características negróides relatam em seus discursos não serem descendentes de africanos, dizendo ter traços de índios e não de negros, acreditando ser menos vexatório se identificar com  povos índios aos oriundos da África. O que chega a ser compreensivo pelo fato de ouvirem e verem situações humilhantes das quais os escravos negros protagonizavam.

Todavia foi feito um resgate de auto estima, enfatizando situações que enaltecem as mulheres de descendência  africana, valorizando todos os atributos físicos e capacidade de cognição da mulher negra que também é valorosa e possui capacidade para conquistar seus objetivos independente de sua condição social.

A roda de conversa, o questionário respondido, a oficina de bonecas, o filme a apresentação da pesquisa e por último o desfile que teve como intenção valorizar os penteados afros fez com que a imagem das meninas negras ficasse em destaque evidenciando a aparência das meninas.

O importante é nutrir o sentimento de igualdade humana e que todas são capazes de atingir sonhos, não se deixando contaminar por mentes carregadas de pensamentos etnocêntricos possibilitando novas descobertas e afinidades que o ”mundo” poderá proporcionar.




REFERÊNCIAS

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