Buscar artigo ou registro:

 UMA REFLEXÃO E PRÁTICA PARA O PROFESSOR DE EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS (EJA)

Juraci Neris[1]

Jorge José de Arruda[2]

Belmira Batista Chaves[3]

 

RESUMO

Neste artigo pretendo apresentar algumas reflexões em relação ao processo de escolarização de mulheres na Educação de Jovens e Adultos (EJA). Milhões de brasileiros que cursam as aulas de Educação de Jovens e Adultos (EJA) pretendem conquistar não só um diploma, mas uma vida mais digna. É claro que a melhora da escolaridade da população não depende apenas de programas de alfabetização. É preciso incentivar os egressos a continuar os estudos. Os alunos também vão em busca de instrumentos para viver no mundo da informação e elaborar pensamentos e ações de forma crítica.Disso depende a auto-estima,a identidade e até a possibilidade de conseguir um emprego. Porém este artigo traz reflexões para a ação pedagógica do professor que leciona para turmas de EJA.

Palavras- chave: Ensino, Alfabetização, Prática.

 

ABSTRACT

This article aims to present some reflections in relation to women's schooling process in the Youth and Adult Education (EJA). Millions of Brazilians who attend the classes of the Youth and Adult Education (EJA) aim to achieve not only a diploma, but a more dignified life. Of course, the improvement of education of the population depends not only on literacy programs. It needs to encourage graduates to continue their studies. Students also go in search of instruments to live in the world of information and elaborate thoughts and form of shares crítica.Disso depends on self-esteem, identity and even the possibility of getting a job. But this article brings reflections to the teacher's pedagogic action that teaches to adult education classes.

Keywords: Education, Literacy, Practice.

 

INTRODUÇÃO

            Esse artigo pode trazer contribuições para reflexão e para prática do professor de EJA. Tendo conhecimento de que as educandas da EJA cuidam da família e da casa durante os finais de semana, podemos, por exemplo, repensar as tarefas escolares. Embora não se pretenda aqui dar uma receita, podemos sugerir a importância de elaborar práticas compatíveis com as possibilidades e necessidades das mulheres, mães trabalhadoras e alunas.

           Quem tem uma turma de EJA sabe das dificuldades de manter o interesse dos alunos que chegam cansados do trabalho -, de planejar aulas que tenham relação com a vida deles e que não sejam uma versão empobrecida do que é dado a crianças e adolescentes.

           A volta à escola na idade adulta implica, para homens e mulheres conciliar diferentes responsabilidades. O trabalho faz com que muitos se ausentem das aulas,

embora a busca de ascensão social  e profissional seja a primeira razão mencionada para a permanência na escola.Além do trabalho e da escola, muitas mulheres ainda têm exclusiva responsabilidade nos cuidados da casa e da família.

         O trabalho doméstico tem, na maioria das vezes, natureza reprodutiva. Diferentemente do trabalho produtivo considerado sincrônico, demarcado por início e fim, o reprodutivo é diacrônico, interrupto e invisível. Freqüentemente, a mulher mãe concilia a tarefa de cuidar da prole e da casa com o trabalho remunerado e com os afazeres da escola. Quando está no trabalho ou na escola, a mãe costuma, sempre que possível, monitorar, à distância, a casa e os filhos.

        É importante destacar que muitas mulheres não acatam os impedimentos, recusando, assim, o papel de submissas, e fazem valer o seu direito à educação. Dessa forma, elas constroem seu espaço de economia e de atuação, ou seja, em seu protagonismo.

        Constatamos, por exemplo, com Resende (2008),

                 Que o trabalho de empregada doméstica em meios letrados aproxima essas mulheres, de alguma maneira, do mundo da escrita. Isso porque o trabalho doméstico em residências de classe média requer delas a inserção em práticas de escrita e leitura pouco comuns nos seus meios de origem (como fazer listas de compras, anotar recados, ler receitas, etc).

         A ideia recorrente de que pessoas mais velhas não aprendem freqüentemente, apresenta-se quando tratarmos de levar adultos e idosos para os banco da escola .

          O artigo foi pautado em uma abordagem reflexiva e prática para o professor de EJA.

 

DESENVOLVIMENTO

            A princípio, a procura pela escola está relacionada à realização de uma vontade antiga de aprender os conteúdos escolares. Saber ler e escrever e conteúdos de Língua Portuguesa e Matemática é uma condição frequentemente associada a ter uma vida melhor. A influência da escolaridade de filhos e netos é outro fator que impulsiona os mais velhos a estudar. É comum o desejo de auxiliar na lição de casa das crianças ou participar mais ativamente da Educação delas. A busca por independência é outra razão. Não precisa mais de vizinhos ou familiares para ler documentos ou identificar as informações em rótulos dos produtos, entre outras atividades em que a leitura é necessária, é comumente citado.

Com o tempo, as expectativas se ampliam. As justificativas para continuar são várias e estão ligadas, sobretudo, às conquistas relacionadas à escola. Sentir-se mais seguro para comentar os acontecimentos atuais, ver beleza na letra de uma música, fazer amigos e se sentir parte de um grupo social exemplos. Conforme o estudante vai aprendendo e descobrindo coisas novas, percebe que pode conhecer ainda mais.

Os ganhos que os mais velhos demonstram ter com os estudos reforçam que o papel da escola não é só conduzir o mercado de trabalho – essa concepção tem desconsiderado a velhice na formulação de políticas públicas e de leis relacionadas à Educação. Aprender traz benefícios muito maiores para todos. Por isso, garantir uma Educação de qualidade é fundamental.                                                                                                                                               Precisamos pensar em ações governamentais para essa parcela da população, que cresceu muito nos últimos anos e busca espaços de convivência e socialização, como a escola.

Um grande desafio para professores de jovens e adultos é acabar com a estranheza que a escola causa a muitos logo nos primeiros dias de aula. O modelo que a maioria guarda na memória é de salas com carteiras enfileiradas, quadro- negro, giz, livro, caderno e um professor – que fala o tempo todo e passa tarefas. Muitos alunos, ao participar de debates, estudos do meio, apresentações de vídeo ou dinâmica de grupo, ficam com a sensação de que estão sendo “enrolados”. É importante mostrar que recursos variados também fazem parte da aprendizagem. Para isso, relacionar esses recursos com o conteúdo da aula é um bom começo. “Se a idéia é passar um vídeo para a turma, o professor pode antes dar um texto sobre o tema e provocar uma breve discussão”. Terminado o filme, ele pergunta aos alunos qual foi o trecho mais emocionante e mais marcante. No entanto, é preciso combinar essas atividades com o momento do registro escrito que, para a turma, é uma característica específica da escola. “Ao escrever, eles têm o sentimento de aprendizagem, de apropriação do conhecimento.” Os professores de EJA devem ser orientados a preparar o terreno antes de cada atividade diferenciada. “Se o aluno for pego de surpresa acaba achando que aquilo não faz parte da aula”. Por isso, os professores mostram, aos poucos, que existe um mundo além do quadro e do giz: há filmes, músicas, entrevistas, documentários, livros e tantas outras coisas interessantes às quais a maioria não tem acesso. Mas e se, mesmo o adotando essas estratégias, o aluno insistir em questionar a qualidade da aula? “Essa é uma boa oportunidade de o professor mostrar que o simples fato de questionar já é um aprendizado.

A alfabetização só ganhará sentido na vida de jovens e adultos se eles puderem aprender algo mais que juntar as letras. Eles precisam desenvolver novas habilidades e criar novas motivações para transformar a si mesmos, interessar-se por questões que afetam a todos e intervir na realidade da qual fazem parte, simultaneamente ao aprendizado da escrita. Desse modo, alfabetizar – se é, sobretudo, um processo político, de conquista de cidadania, no qual pessoas excluídas de seus direitos sociais, civis e políticos podem ter acesso a bens culturais que as apóiam e que fortalecem a conquista e a garantia desses direitos.

No desenvolvimento de práticas pedagógicas coerentes com tal concepção, há que se dar atenção a pelo menos seis focos de atenção:

1)    É preciso assegurar oportunidades de continuidade de estudo em níveis mais elevados ou em programas educativos nos quais as pessoas possam continuar aprendendo ao longo de toda a vida. As ações de alfabetização devem estar conectadas à possibilidade de aplicar e aperfeiçoar conhecimentos e habilidades recém – adquiridas (Di Pierro, 2003).

 

2)    É preciso reconhecer que essa bagagem cultural é diversa e relacionada às suas biografias e ao contexto em que vivem, entre outros aspectos. Isso exige investigar as situações que vivenciam e a maneira como participam delas, o contexto em que estão inseridos e as atividades a que se dedicam. Exige, por fim, organizar os projetos educativos pautados tanto por essa bagagem cultural quanto pelas necessidades e expectativas desses grupos.

 

3)    É preciso superar a idéia de que educação se faz por meio de práticas uniformes, organizadas de modo independente das capacidades e expectativas dos sujeitos. No caso específico da alfabetização, implica aportar situações comunicativas, como aquelas nas quais as pessoas lêem, escrevem e falam no mundo social. Trata-se de práticas dependentes de situações de uso da escrita, que se conectam a projetos e necessidades dos grupos atendidos e atendem a exigências impostas pela sociedade.

 

4)    É preciso superar a noção de que o foco da alfabetização concentra-se em ler para aprender o sistema de funcionamento da escrita. As práticas de alfabetização deveriam promover a leitura, a interpretação e a produção de uma grande diversidade de textos, o enfrentamento de variadas situações comunicativas, o reconhecimento dos desafios e problemas que se colocam ao produzir uma mensagem escrita (grafar, organizar o texto, selecionar o vocabulário, usar pontuação, etc.), a reflexão sobre a linguagem, convertendo-a em objeto de análise e estudo, tendo em vista a comunicação e a interação entre as pessoas. Para um alfabetizando tornar-se de fato um usuário da escrita, é preciso experimentar um conjunto amplo de situações nas quais a leitura e a escrita são centrais e necessárias. Precisa também cultivar atitudes favoráveis ao uso da escrita, tais com o interesse por informações, pela aprendizagem, pela ampliação de seu universo comunicativo, por novas formas de planejar e controlar a própria atividade ou a coletiva.

 

5)    É preciso fortalecer e apoiar os educadores, no sentido de serem investigadores criativos e reflexivos em suas práticas e de estabelecerem interações com os educandos nas quais respeitem sua cultura, seus valores e seu processo de aprendizagem, de saberem escutar e interpretar suas expectativas. O grande desafio consiste em estabelecer um processo de formação permanente, promovendo aprendizagens relevantes para a atuação profissional e para o desenvolvimento de práticas pedagógicas que respondam a um conceito amplo de alfabetização e às demandas educativas desses grupos.

 

6)    É preciso atenção à constituição de ambientes propícios para que os projetos de alfabetização sejam empreendidos a fim de que as pessoas possam criar uma identidade coletiva e desenvolver atitudes de mobilização e participação. Espaços que permitam o desenvolvimento de atividades em grupo, como reuniões, assembléias e ações comunitárias. Ambientes que disponibilizem aos grupos atendidos e à comunidade recursos diversos para o desenvolvimento de projetos comuns (mobiliário, papelaria, equipamentos, etc.), acervos com variadas fontes de informação e materiais impressos.

 

Com um trabalho didático – pedagógico de qualidade, os alunos da EJA tornam-se não apenas conhecedores de seu potencial, mas cidadãos críticos e participantes ativos da sociedade.

Os tempos de aprendizagem e horários de aulas e atividades estão entre os principais fatores de atenção na educação de jovens e adultos.                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                       

A consideração dos horários e tempos de aprendizagem está relacionada ao perfil de estudantes de EJA: pessoas com baixa escolaridade ou sem nenhuma instrução, marcadas pelo fracasso escolar e evasão escolar.

Quem se matricula em uma sala de EJA tem auto-estima devastada. O estudante sente vergonha de nunca ter estudado ou de ter parado de estudar há muitos anos – e medo do ridículo e do desconhecido. Sem contar o cansaço e as preocupações que os adultos tem, como pagar as contas ou educar os filhos. Mas algumas ações podem ser tomadas para evitar que tudo isso afaste os alunos da escola:

·        Mostrar que a atitude de voltar a estudar não deve ser motivo de vergonha, mas de orgulho.

·        Ajudar o aluno a identificar o valor e a utilidade do estudo em sua vida por meio de atividades ligadas ao seu cotidiano.

·        Elaborar aulas dinâmicas e estimulantes (é tentador ir para casa dormir, assistir TV ou ficar com a família depois de um dia inteiro de trabalho).

·        Ser receptivo para conversar, pois muitos vão à escola preocupados com problemas pessoais ou profissionais.

·        Mostrar que a aula é um momento de troca entre todos e que o saber do professor não é mais importante que o dele.

·        Valorizar e utilizar os conhecimentos e as habilidades de cada um. Isso pode mudar o seu planejamento no meio do caminho, mas as aulas vão ficar mais interessantes.

·        Promover entre os colegas o sentimento de grupo. Quando criam vínculos, eles se sentem estimulados a participar das atividades.

Melhor do que fechar as turmas é entender as causas da evasão e procurar alternativas para minimizá-las. Parte do problema reflete a natureza da modalidade: muitos mudam de cidade por causa de trabalho, algumas engravidam e tem de sair etc. Mas outra é relativa a questões que demandam resposta. A maneira como a EJA está organizada, ainda atrelada a estruturas da escola regular, merece revisão. Nem todos os estudantes conseguem estudar quatro horas por dia, à noite. É preciso haver opções como aulas nos fins de semana e jornadas mais abertas. Rever a formação dos docentes que trabalham na área também se mostra fundamental, assim como avaliar os currículos de modo a aproximá-los das necessidades dos diferentes perfis do aluno que compõem a modalidade, desde adolescentes até idosos.    

Hoje, o currículo da EJA não passa de uma adaptação dos conteúdos do Ensino Fundamental. Ao ignorar as necessidades desse público, ele acaba impulsionando a evasão. Também é essencial garantir aos professores uma formação específica para trabalhar com essa modalidade de ensino e extinguir a prática de convocar voluntários – nem sempre bem preparados – para alfabetizar. Os materiais didáticos, também adaptados do Fundamental, devem ser revistos e “desinfantilizados”, assim como a estrutura física das salas de aula.

Reverter a situação em que se encontra a EJA exigirá ações articuladas por parte das três esferas de poder- municipal , estadual e federal. Antes, porém, é preciso que promessas de campanha deixem de ser apenas promessas. E que o Brasil decida, de uma vez por todas, se enfrenta o analfabetismo ou se prefere esperar que o tempo cuide de extirpá-lo lenta e naturalmente.

 

CONCLUSÃO

Parto do pressuposto que as reflexões devem ter como base o aluno.

 Porém sabe-se que muitas vezes os alunos da EJA, são pessoas de mais idade que não tiveram oportunidade de se escolarizar na idade adequada e que retornam á escola apresentando conhecimentos desenvolvidos através de sua prática no cotidiano, principalmente no ambiente de trabalho.

            Em relação a isso, Alvares (2006, p.92) assinala que

 “os conhecimentos advindos do trabalho são frutos da ação humana sobre instrumentos, que atuam como objetos sociais que medeiam a relação entre o indivíduo e o mundo”.

 

     Portanto, os alunos da EJA modificam sua relação com a escola e seu papel social. Suas reflexões também os levam a entender a escola como um espaço que pode servir para a construção da própria identidade. A EJA expõe os alunos aos mais diferentes contextos, nos quais podem praticar as situações que encontrarão no dia a dia e no mercado de trabalho.

 

REFERÊNCIAS

Abr.io/fundamentaleja,a proposta curricular do Ministério da Educação (MEC) para o 1 segmento do Ensino Fundamental da EJA.

 

ALVARES, S.C. Arte e educação: estética na educação de jovens e adultos. Col. Revolución, Prêmio CREFAL, 2006.

 

INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS. Mapa do analfabetismo. Brasília: INEP, 2003.

 

____. Letramento e escolarização. In: RIBEIRO, V.M. (Org.) Letramento no Brasil: reflexões a partir do INAF 2001. São Paulo: Global Ediora, 2003.

 

Nova escola.org.br/eja, tudo sobre EJA.

 

RESENDE, Patrícia Cappuccio de. Modos de participação de empregadas domésticas nas culturas do escrito. Dissertação (Mestrado em Educação). Faculdade de Educação da UFMG,2008.

                                                                                             

 



[1] Graduada em Pedagogia pela Universidade Estadual de Mato Grosso. Pós-graduada em Psicopedagogia. Atua na rede Pública de Ensino

[2] Formado em Ciências habilitação Biologia, Pós-graduado em Biologia Vegetal pela Universidade Cândido Mendes Atua na escola Selvino Damian Preve na cidade de Santa Carmem, Mato Grosso no ensino de ciências do 6 ao 9 anos.

[3] Formada em Pedagogia pela universidade Federal de Mato Grosso, Pós-graduada em Filosofia e Sociologia pela Universidade Cândido Mendes. Trabalha na escola municipal  Selvino Damian Preve na cidade de Santa Carmem, Mato Grosso nas séries inicias do Ensino Fundamental.