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LIBRAS- LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS COMO RECURSO DIDÁTICO NO PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM


Fernanda Santana de Jesus

RESUMO

 

Este trabalho tem como finalidade apresentar a importância e necessidade da Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) como recurso didático, reunindo todas as informações e métodos que os surdos e mudos precisam para obter uma aprendizagem significativa no processo educacional. Trazendo em seu bojo, aspectos relevantes para a utilização da mesma, garantindo o respeito pela cultura surda e a ampliação do atendimento desses alunos, garantindo-lhes o seu acesso a uma educação de qualidade. Sabemos que é através da LIBRAS que podemos nos conectar ao mundo dos surdos e mudos, rompendo a barreira das diferenças e indiferenças e transformando nosso dia a dia em um ambiente de inclusão.  O principal ponto da pedagogia da inclusão é que todos os indivíduos podem e devem aprender LIBRAS uma vez que se é dado à oportunidade necessária nisso aprendemos e conhecemos o estilo de aprender e respeitar as necessidades individuais de cada um. Fortalecendo os vínculos familiares e comunitários das crianças e adolescentes. Para isso necessitamos nos especializar e aprimorar para que possamos estar preparados e capacitados a ajuda-los mediantes as suas dificuldades para que a educação esteja ao alcance de todos.

 

PALAVRAS-CHAVE: Aprendizagem. Comunicação. Inclusão. Libras.

 

 

  • INTRODUÇÃO

 

O Decreto nº 5.626, de 22 de dezembro de 2005, regulamentou a Lei nº 10.436 (abril de 2002), que dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS. Entre outras coisas, a lei prevê a garantia do direito à educação das pessoas surdas ou com deficiência auditiva e insere a LIBRAS como disciplina curricular obrigatória nos cursos de formação de professores de instituições de ensino públicas e privadas dos sistemas federal, estadual e municipal de ensino. Sendo assim, o presente trabalho texto aborda o tema “LIBRAS- Língua Brasileira de Sinais Como Recurso Didático no Processo de Ensino Aprendizagem”. 

Ao ponderar a necessidade de comunicação e interação na sala de aula, a oportunidade de ter acesso a um idioma tão importante é benéfica tanto para os surdos quanto para os ouvintes, pois permite que a comunicação seja praticada sem barreiras, trazendo crescimento para ambos. E ter profissionais capacitados no ensino da LIBRAS dentro das escolas do país é um passo fundamental em busca de um processo educacional e de desenvolvimento pessoal muito mais significativo e inclusivo.

Diante desta problemática, considerando que a LIBRAS proporciona à criança surda ou não, momentos de aprendizagem mútua e prazerosa, facilitando interação em sala de aula, questiona-se: Quais as contribuições mais significativas proporcionadas pela inclusão de LIBRAS durante o processo educacional?

O presente trabalho visa contribuir com toda a comunidade escolar, professores, alunos e demais profissionais da educação, a interação entre alunos surdos e ouvintes na sala de aula pode auxiliar na melhoria do processo de ensino-aprendizagem, por meios das interações diárias que ocorrem dentro da escola, tendo como mediador a figura do professor.

 

  • PROCESSO HISTÓRICO DA LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS

 

Fazer um retrospecto histórico da Educação de Surdos se faz necessário para compreendermos o percurso dessa caminhada e até a configuração do processo da Língua de Sinais e educação dos surdos no Brasil. A LIBRAS foi criada a partir da necessidade de buscar meios de trazer a educação aos surdos. 

Nas sociedades gregas e romanas clássicas, muitas pessoas que possuíam alguma deficiência, em grande parte eram exiladas, castigadas, humilhadas, tratadas como seres irracionais que não obtinham nenhum tipo de capacidade para viver perante a sociedade. Não reconheciam o direito do surdo de pertencer à sociedade, eram vistos como incompetentes e marginalizados, sendo considerados imperfeitos. 

Ao tratar da história, no Egito antigo os povos egípcios não apenas aceitavam portadores de surdez na sociedade com também os veneravam. Os surdos eram adorados, pois eram considerados como interlocutores entre os deuses e os faraós.

Conforme relatam Veloso e Maia (2009, p. 28), Aristóteles acreditava que, quando uma pessoa não verbalizasse, consequentemente não possuía linguagem e tampouco pensamento. Dizia que: “[...] de todas as sensações, é a audição que contribuiu mais para a inteligência e o conhecimento [...], portanto os nascidos surdos se tornam insensatos e naturalmente incapazes da razão”. Ele achava absurda a intenção de ensinar o surdo a falar.

Compreende-se então que Aristóteles um grande filósofo, foi um dos estudiosos que considerava que o fato de uma pessoa não ouvir e por consequência não falar, a mesma também não tinha capacidade de pensar. Portanto, o surdo para tal não raciocinava, não aprendia, não obtinha nenhum tipo de conhecimento e razão, era um ser considerado inexistente. 

Santo Agostinho, na sociedade medieval, emitiu opiniões sobre os surdos acreditando que homens e mulheres tinham filhos surdos para pagarem os pecados cometidos em vida. Sob o prisma religioso, as crianças surdas eram consideradas diferentes das crianças ouvintes, segundo a igreja, elas possuíam alma mortal, pois não podiam pronunciar os sagrados sacramentos. Os surdos não recebiam tratamento digno, eram considerados sujeitos estranhos e motivo de curiosidade da sociedade, não tinham todos os direitos como cidadãos.

Na Idade Média havia opiniões divergentes entre vários países a respeito do indivíduo surdo. No fim da Idade Média começa a surgir mais trabalhos relacionados à educação de crianças surdas e de integrá-la a sociedade, porém ainda não era inclusão. Em 1453 Bartollo Della Marca d’Ancora foi o primeiro homem que acreditou e cogitou a possibilidade de o indivíduo surdo aprender através da língua de sinais.

Historicamente a relação do surdo com a sociedade é vista sob diferentes aspectos do ponto de vista cultural e educacional em diferentes épocas no mundo. Desta forma, entram em conflito possibilitando alteração na maneira de ver e tratar a surdez. Ao longo da história, de alguma forma e em determinados momentos históricos, com maior ou menor intensidade, várias pessoas contribuíram para a construção da história do surdo e da Língua de Sinais. 

Apesar dos avanços significativos, ainda há dificuldades, barreiras e muitas limitações devido à falta de acessibilidade. Quando falamos de inclusão é um assunto que merece total atenção, infelizmente “alguns” familiares são os primeiros a os excluírem. Muitas vezes a família quando se depara com um ente surdo passa a negar que a pessoa seja surda ou não sabe o que fazer para ajudá-la, em algumas situações por excesso de proteção acaba excluindo o surdo da sociedade, acreditando que ele não saberá comunicar-se sozinho. 

Grande parte da população é conhecedora da LIBRAS, porém não sabe utilizá-la. E como oferecer uma oportunidade de trabalho a um surdo, na tentativa te inseri-lo no mercado de trabalho, mais não oferecer um interprete? Essa realidade tem melhorado muito, mas também há muito ainda a ser feito.

Inicialmente a educação do surdo era realizada mediante a leitura labial, já que até a Idade Moderna o método oficial linguístico era o oralismo. Não existem relatos específicos sobre a origem da Língua de Sinais, porém destaca-se o início de seu uso, após um processo de muitas conquistas, no ano de 1760 na cidade de Paris na França, onde Charles Michel de L’Épée de aproximadamente sessenta anos fundou a primeira escola pública para surdos. 

No Brasil, a primeira preocupação se deu em trabalhar com os aspectos da fala, ou seja, os esforços surgiam no sentido de curar e salvar, possibilitando aos surdos falarem. Não existia a preocupação com a aquisição do saber desses indivíduos. 

A caminhada para a efetivação da educação dos surdos no Brasil percorreu um período de longos anos, com vários impasses educacionais, passando por fases distintas até os dias atuais.

A história da língua brasileira de sinais se mistura com a história dos surdos no Brasil durante o Segundo Império. A partir do século XIX com a chegada do educador Hernest Huet, ex-aluno do Instituto de Paris, que trouxe o alfabeto manual francês e a Língua Francesa de Sinais. Deu-se origem a Língua Brasileira de Sinais, com grande influência da língua francesa. 

Hernest Huet apresentou documentos importantes para educar os surdos, mas ainda não havia escolas especiais. Solicitou, então, ao Imperador Dom Pedro II, um prédio para fundar, em 26 de setembro de 1857. O Instituto dos Surdos do Rio de Janeiro, atual Instituto Nacional de Educação dos Surdos – INES.

LIBRAS é a sigla usada de Língua Brasileira de Sinais, são usadas nas comunidades surdas, manualmente feitas com gestos e expressões faciais. Sua diferença das demais línguas é a modalidade visual-espacial, sendo que o surdo aprende outras línguas a partir da LIBRAS. Ela não é universal, pois cada país tem seus próprios sinais, gestos que desempenham diferentes funções, com diferentes expressões faciais deferindo de região para região, o que faz assim legitimar ainda mais a língua.

A Língua Brasileira de Sinais, atualmente, tem apresentado repercussão no cenário nacional, haja vista as conquistas do seu reconhecimento e, por conseguinte, as políticas de inclusão dos surdos. Entretanto, durante anos, a Língua de Sinais foi considerada como um amontoado de gestos, incapaz de expressar o pensamento. 

Vários foram os decretos e leis importantes, em determinadas épocas históricas, para a garantia e regulamentação dos direitos a uma educação de qualidade que garanta o desenvolvimento pleno do educando surdo, garantido seu papel social como cidadão. Dentre elas destaca-se a Lei nº 10.436, de 24 de abril de 2002, que oficializa a LIBRAS como língua e o Decreto nº 5.626, de 22 de dezembro de 2005, que a regulamentou.

As leis sancionadas para atenderem e melhorarem a qualidade de vida dos surdos são recentes na história, estas, garantem um profissional intérprete de sinais nas salas de ensino regular, salas de atendimento educacional especializado, e após, a maior das conquistas, uma língua oficial para os surdos do Brasil, a LIBRAS, garantida em 2002, em que é considerada como a língua materna dos surdos, diferente da língua materna dos ouvintes, a língua portuguesa.

Segundo Menezes (2006), a lei 10.436 reconhece a legitimidade da LIBRAS, trazendo com isso seu uso pelas comunidades surdas na busca da participação em políticas públicas, ou seja, serviços públicos prestados.

Para tanto, a busca é por uma educação inclusiva para os surdos, com uma modalidade especificadamente bilíngue na escolarização básica dando garantias aos alunos de uma boa qualidade de ensino, com educadores capacitados e a presença do intérprete nessas classes. Desta forma, se afirma a necessidade de inclusão da LIBRAS, como parte integrante de Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s) de acordo com a legislação vigente, como dita os dispositivos legais em questão (MENEZES, 2006).

De acordo com o decreto 5626 de 22 de dezembro de 2005, em seu capítulo IV, Art. 14. As instituições Federais de ensino devem assegurar, obrigatoriamente, às pessoas surdas, acesso à comunicação, à informação e à educação nos processos seletivos, nas atividades e nos conteúdos curriculares desenvolvidos em todos os níveis, etapas e modalidades de educação, desde a educação infantil até a superior. (BRASIL, 2005)

Na busca da garantia dos direitos dos surdos e na luta pelo reconhecimento dos diferentes aspectos culturais e sociais da comunidade surda, a legislação foi uma aliada na repercussão e legitimação destes direitos. Atualmente, após muitos anos de discussão, estudos e reformulações, a mesma tem se organizado no sentido de garantir legalmente estes direitos como espaço de construção e solidificação de sua identidade.

A comunidade surda vem, ao longo dos anos, conseguindo várias conquistas, e o papel das organizações governamentais e não governamentais nesse contexto tornou-se fundamental, pois dão apoio, estrutura e organizam as comunidades surdas. 

O Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES), que oferece assessoria técnica quanto à prevenção à surdez, audiologia, fonoaudiologia, orientação familiar, etc. E a Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos (FENEIS), que está direcionada à defesa e a luta pelos direitos sociais, linguísticos e culturais da comunidade surda. Ambas, são as principais instituições reconhecidas nacionalmente.

O reconhecimento da LIBRAS permitiu a formação de um elemento identificador e aglutinador entre os surdos, o que foi essencial no processo de desenvolvimento das suas identidades, bem como rompeu com a ideia que em outrora predominava a exclusão desse grupo do convívio com pessoas ouvintes fora do núcleo familiar. Desta forma, é inegável a importância das LIBRAS para a inclusão social, visto que proporcionou aos surdos interagir, em sua língua materna, com outros surdos e ouvintes.

Atualmente o Brasil depara-se com um novo paradigma o da inclusão social dos portadores de necessidades especiais na busca de uma escola para todos, sem separações de sexo, raça, classe social para uma abordagem de educação inclusiva que está aberta para acolher as diferenças. Isso significa atentar para as mudanças e diferenças dessa forma a inclusão social torna-se um direito adquirido no cenário brasileiro (MENEZES, 2006).

Através do reconhecimento de suas particularidades, o surdo passou a compreender o meio em que vive e se tornou sujeito detentor dos mesmos direitos que os ouvintes, podendo através da educação contribuir significativamente com o meio social em que vive. Diante do exposto, analisamos que a aquisição da língua brasileira de sinais, teve uma grande contribuição no sentido de possibilitar a comunicação e interação do surdo com os ouvintes, garantido sua participação ativa na sociedade.

 

2.1 LIBRAS COMO RECURSO DIDÁTICO NO PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM

 

Tendo essa temática como eixo central da discussão, essa pesquisa aborda o conceito de bilinguismo, expressando sua proposta como recurso didático no processo de ensino aprendizagem para alunos surdos e ouvintes.

Ao ensinar a Língua de Sinais para crianças pretendemos oferecer a elas não somente as vantagens e os benefícios comprovados em pesquisas internacionais, mas de promover a LIBRAS, de aprender sobre a cultura surda e, sobretudo, a possibilidade de poder se comunicar com seus pares diferentes valorizando a diversidade desde a educação infantil.

Aprender uma segunda língua é quase sempre uma experiência intensa. O bilinguismo vai além do uso de duas línguas, ele envolve, principalmente, os aspectos culturais e sociais de cada língua. Por mais prazeroso e estimulante que seja o aprendizado, é certo que aprender uma segunda língua não é uma tarefa fácil, exige tempo, dedicação, esforço e, principalmente, abertura para conhecer novas formas de pensar o mundo e de se comunicar.

Com os processos de inclusão e igualdade nas escolas (Lei da Inclusão, nº 13.146/15), as salas de aula passaram também a ser inclusivas para as diversidades de necessidades e deficiências físico-motoras e cognitivas, destinadas “a assegurar e a promover, em condições de igualdade, o exercício dos direitos e das liberdades fundamentais por pessoa com deficiência, visando à sua inclusão social e cidadania” (BRASIL, 2015, p. 1), proporcionando o amplo direito de desenvolvimento para todo cidadão, incluindo os educandos com deficiências visuais e auditivas.

A possibilidade de crianças ouvintes conhecerem sobre a educação inclusiva, de surdos e a língua de sinais possibilitam reflexões sobre educação. Ao inserirmos o surdo em uma escola regular o professor também possui a missão de auxilia-lo na socialização com outras crianças, é somente assim que realmente ele será incluído, diferente disso, ele será segregado e/ou excluso.

A LIBRAS, língua de modalidade visual e espacial, constitui-se como uma língua natural. A criança surda, em contato com pares surdos, poderá desenvolver sua linguagem e adquirir uma língua de sinais naturalmente. No contexto inclusivo possibilita as crianças ouvintes o aprendizado de uma segunda língua e garante que a criança surda possa utilizar sua língua materna no espaço escolar.  Desta forma, se faz necessário, promover nas crianças ouvintes a aprendizagem da LIBRAS a fim de qualificar a inclusão da criança surda.

Sendo assim, acreditamos que a escola inclusiva também possa se tornar um local fecundo para desenvolvimento linguístico para os surdos. Para tanto, é preciso que, no nosso entendimento, que a língua de sinais seja compartilhada entre toda a comunidade escolar. Conforme defende Lacerda (2006), sem a língua, as relações não serão profundas o suficiente e não permitirão o pleno desenvolvimento das crianças com surdez.

  Considerando o momento histórico e social vivenciado pelos surdos, sobretudo após a legitimação da LIBRAS em 2002, surgiram novos interesses pelo ensino e aprendizagem da língua de sinais para ouvintes. No Brasil, esse ensino, apesar de recente, está em profunda expansão, com destaque para as ações de universidades públicas e privadas no oferecimento da disciplina e de cursos de extensão de LIBRAS, bem como na análise de suas práticas. 

Diante do exposto, é preciso buscar diferentes metodologias para transformar a escola de todos para todos numa instituição igualitária, renovando constantemente nossas práticas educativas para atender aos desafios contemporâneos.

 

2.2 O PROCESSO DE ENSINO E APRENDI-ZAGEM DA LIBRAS NAS SALAS REGULARES

 

A língua de sinais apresenta algumas particularidades pertinentes a sua modalidade visual-espacial que precisam ser consideradas no seu processo de ensino e aprendizagem.

 Inicialmente, é importante compreender que essa modalidade requer de seus aprendizes uma imersão em um mundo pautado em experiências visuais cuja recepção da linguagem ocorre de maneira visual e sua expressão se desenvolve a partir produções manuais e performances corporais. 

Para aprendizes ouvintes, se faz necessário o aprimoramento de um canal de comunicação que é espaço visual. As línguas de sinais não se utilizam de uma modalidade escrita, logo, os insumos linguísticos ficam limitados à produção e compreensão da fala. 

Desta forma, entendemos que o processo de ensino e aprendizagem envolve dinâmicas específicas que são próprias da sua modalidade, como, por exemplo, o desenvolvimento de habilidades de coordenação visual-motora. 

Segundo Gesser (2012), nos cursos iniciais de LIBRAS por ela observados, a metodologia utilizada priorizava o ensino do vocabulário por meio da apresentação dos sinais organizados em categorias semânticas, geralmente de maneira descontextualizada das situações de uso cotidiano. 

Lacerda, Caporali e Lodi (2004) constataram que o ensino da LIBRAS abordava os aspectos linguísticos e gramaticais de maneira fragmentada e descontextualizada, apresentando caráter metalinguístico destinado à memorização por repetição, sem nenhuma pretensão quanto ao desempenho da linguagem. 

De acordo com as autoras, essa abordagem inicial ocasionava dificuldades de apreensão da língua pelos alunos ouvintes, que deixavam de compreender a relação entre os sinais da língua e os seus significados. 

Após o ano 2000, os contextos mudam, uma nova realidade social e educacional - amparada na Lei que reconheceu a LIBRAS em 2002 e nas determinações do Decreto de 2005 - passa a ser vivenciada pelos surdos brasileiros. Essa nova concepção de ensino da LIBRAS passou a se interessar pelas relações comunicativas entre os sujeitos, mediadas pela língua de sinais, bem como pelos fatores inerentes aos processos de ensino e aprendizagem.

No que tange aos aprendizes crianças, quase não encontramos trabalhos que discutissem sobre o caráter formativo desse ensino. A escassez dessa discussão despertou nossos interesses no sentido de compreender alguns processos envolvidos na apreensão da língua por crianças ouvintes e de analisar as implicações que a aprendizagem da LIBRAS pode trazer para a formação de uma sociedade comprometida com as diferenças.

Pinter (2006) defende que a aprendizagem de línguas, traz uma discussão sobre diversos benefícios às crianças. Uma vez que a aprendizagem envolve o desenvolvimento de habilidades básicas de comunicação. O processo de ensino e aprendizagem de outra língua incentiva e motiva de forma prazerosa e divertida, promove o contato com outras culturas e amplia as habilidades cognitivas das crianças.

Para tanto, é de suma importância o uso de recursos didáticos que priorizem aspectos lúdicos. O ato de brincar proporciona uma série de experiências, habilidades, comportamentos e aprendizagens. No contexto do ensino da língua, as brincadeiras podem ser usadas como instrumento para a construção da aprendizagem de forma dinâmica e lúdica.

Por se tratar da LIBRAS, acreditamos que as atividades devem contemplar as características inerentes à língua e que, para isso, recursos concretos e visuais devem ser usados em atividades e brincadeiras que estimulem a comunicação. Além disso, habilidades de expressão corporal e facial precisavam ser abarcadas a fim de, também, considerar as propriedades linguísticas da língua. Além das brincadeiras, a exploração de jogos é de grande importância, pois através dos desafios, que é sua principal característica, os jogos permitem o desenvolvimento de diferentes aspectos cognitivos, psicomotores, linguísticos e sócio afetivos.

  No processo de ensino e aprendizagem da LIBRAS, recursos como jogos, brincadeiras, dramatizações, construção de trabalhos com gêneros textuais e imagens, despertam a criatividade e a imaginação e podem ser utilizados para se alcançar o objetivo da comunicação (Carvalho et al. 2013). Também o uso de imagens é destacado por Linguevis (2007 apud TONELLI; LIMA, 2013), ao defender que o desenho fornece informações que vão além dos textos escritos e, desse modo, a criança tem oportunidades de expor suas ideias explorando a língua ensinada. Podemos considerar que as metodologias e estratégias são facilitadoras do processo de ensino-aprendizagem não apenas da LIBRAS, mas também de todo o processo educativo, por se apropriarem, em grande parte, da abordagem comunicativa. Mediante a reflexão sobre a atuação docente que considera o ensino da língua como um processo educativo, contribuindo, assim, para a formação do ser humano.

 

  • ALGUMAS CONSIDERAÇÕES

 

Após muitas pesquisas, é observado que o maior obstáculo a ser superado no momento da mudança está dentro de nós, onde a nossa tendência é subestimar as pessoas e superestimar as dificuldades, esse pensamento deve ser abandonado ao se querer construir uma escola ou uma sociedade inclusiva, pois a inclusão se dá no ato de cada indivíduo ser capaz de ter oportunidades de escolher e de ter autodeterminação na educação. É preciso que os educadores aprendam a ouvir o surdo e compreender que as mãos também falam.

O processo de ensino-aprendizagem compreende aceitar o outro na sua singularidade. Implica mudança de perspectiva educacional e abre horizontes para o desenvolvimento de sociedades inclusivas. Sabe-se que não possuímos os recursos necessários exigidos para a efetivação de uma educação inclusiva e com qualidade, mas se houver desejo, assessoria e disponibilidade, podemos testar muitas habilidades em salas de aulas, que virão ajudar no desenvolvimento intelectual dos nossos alunos. O ensino inclusivo toma por base a visão sociológica de deficiência e diferença, reconhece assim que todas as crianças são diferentes, e que as escolas e sistemas de educação precisam ser transformados para atender às necessidades individuais de todos os educandos – com ou sem necessidade especial. A inclusão não significa tornar todos iguais, mas respeitar as diferenças. Isto exige a utilização de diferentes métodos para se responder às diferentes necessidades, capacidades e níveis de desenvolvimento individuais, não apenas do aluno surdo.

Todos nós sentimos a necessidade de sermos entendidos. Infelizmente, há pessoas que, ao verem um surdo, só veem um "incapacitado". Em contraste, muitos surdos consideram-se "capacitados", pois se comunicam fluentemente com usuários de línguas de sinais, desenvolvem autoestima e têm bom desempenho acadêmico, social e espiritual.

 Tendo em vista a dificuldade do surdo para adquirir a língua falada torna-se fundamental que ele tenha acesso a língua de sinais, para que tenha condições de interação, isto é, de expansão das relações interpessoais e, consequentemente, de favorecimento para a construção da subjetividade. 

 Diante do exposto, é preciso agregarmos, cotidianamente, atividades que promovam uma discussão ética acerca da inclusão natural de todos os sujeitos. Fazer atividades em que todos comprovem que nos constituímos nas diferenças. Fazendo com que haja uma solidariedade múltipla. 

Com o avanço tecnológico, o educador tem ao seu alcance diversas ferramentas para efetivar a inclusão, a Língua Brasileira de Sinais que se faz primordial na aquisição do currículo educacional, através de seu domínio será possível avançar muito no processo de ensino-aprendizagem. 

Que o professor não seja apenas mero transmissor de conhecimentos, mas produtor do saber, crítico e reflexivo, consciente da realidade de seus alunos, sendo eles adultos, jovens, idosos ou crianças, com ou sem nenhuma singularidade, transformando a sala de aula, em um ambiente capaz de efetivar a aprendizagem significativa em todas as suas diferenças.

 

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