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REVISÃO BIBLIOGRÁFICA SOBRE A IMPORTÂNCIA DA LUDICIDADE NA EDUCAÇÃO INFANTIL

 

Aline Iasmin de Jesus Gerhardt

Eronilda Teresinha Johann  

Eluiza da Silva

Bruno Cezar Figueredo

Gilberto Simisen



RESUMO

A ludicidade, comportamento característico da infância, habilita a criança a manipular uma situação, atividade e/ou ação que contribua para o divertimento e também para o aprendizado. A criança tende a descobrir o mundo por meio da curiosidade, e o uso do lúdico no processo de ensino e aprendizagem deve estimulá-la, pois através do jogo, ela é levada a pensar e agir de forma mais elaborada e natural. Desse modo, este artigo tem como objetivo realizar uma revisão bibliográfica sobre a importância da ludicidade na educação infantil, revisitando brevemente o processo histórico de construção de um sentimento de infância. Para isso, foram utilizados artigos científicos, monografias e livros sobre a temática. Com a realização desse trabalho percebe-se a importância do lúdico no processo de ensino e aprendizagem da criança, uma vez que o mesmo facilita a aprendizagem e desenvolvimento da criança, nos mais diversos aspectos, tais como: físico, social, cultural, afetivo e cognitivo, sendo assim uma ferramenta de suma importância na educação infantil.

 

Palavras-chave: Educação Infantil, Ludicidade, Ação Pedagógica.

 

 

  • Introdução

 

 

A ludicidade é um campo da Educação Infantil que compreende o estudo sobre jogos, brinquedos e brincadeiras, além de também abarcar o período da infância que dá base aos desenvolvimentos cognitivo, psicológico e atitudinal. É caracterizada por ser algo espontâneo, satisfatório e funcional, onde o mais importante não é o resultado, mas sim a vivência do momento. 

Na infância, a brincadeira proporciona prazer, apreensão de regras, resolução de conflitos, e na atividade educacional institucionalizada, pode ampliar as  possibilidades linguísticas, psicomotoras, afetivas, sociais e cognitivas das crianças. Ao usar o lúdico como recurso pedagógico, pode-se observar ainda o quanto à experiência escolar tem influência na imagem que a criança faz de si mesma, atravessando diversos estágios no aprendizado de brincar, aproveitando as brincadeiras em grupos que lhe são propostas.  

A utilização do lúdico como recurso pedagógico em sala de aula pode aparecer como um caminho possível para a formação integral das crianças, e do atendimento de suas necessidades de desenvolvimento, pois o jogo apresenta benefícios que dão base ao desenvolvimento do corpo e da mente. Portanto, na atividade lúdica o que importa não é apenas o seu produto, mas a própria ação, momentos de fantasia que são transformados em momentos de percepção de conhecimentos.

Adotar os recursos para a ludicidade na educação infantil é de suma importância, uma vez que permite o desenvolvimento cognitivo da criança, já que é a partir da participação de jogos e brincadeiras que a criança começa a construir noções de regras sociais e da realidade que a cerca. Desse modo, busca-se verificar a importância da ludicidade na educação infantil, assim sendo foi realizado um levantamento bibliográfico com relação ao tema.

 

 

  • Infância e Educação 

 

 

Discorrer sobre a importância da ludicidade na Educação Infantil é também remeter-se ao processo histórico de construção do sentimento de infância no ocidente, seja na perspectiva do pesquisador francês Philippe Ariès (1986), que tomava para seu estudo a criança num contexto aristocrático na Europa - retratada por artesãos, escultores, pintores e/ou desenhistas; ou sob perspectiva de Moysés Kulmann (1998), intelectual contemporâneo que estuda a criança e a situa num contexto de suas classes sociais e suas condições materiais de vida, assegurando que havia diversos tipos de infância.

Kuhlmann Jr. (1998) parte da perspectiva de que a infância não era uma modalidade de produção cultural humana negligenciada desde a era antiga ou da Idade Média. Enfatiza que, apesar do caráter público da família na idade antiga, a criança possuía certa autonomia, e que a preocupação - através dos pais, cuidadores ou da comunidade, com sua educação, sua formação religiosa, alimentação e higienização, saúde, vestimentas, com os jogos e seus brinquedos, e também sua formação educacional, resultavam em ações desde antes da Idade Moderna (ARANHA, 2006), já que:

 

[...] as aprendizagens da infância e da adolescência deviam, pois, ao mesmo tempo fortalecer o corpo, aguçar os sentidos, habilitar o indivíduo a superar os revezes da sorte e, principalmente, a transmitir também a vida, a fim de assegurar a continuidade da família. (GÉLIS apud ROCHA,v.3, 2002, p. 59).

E pode se inferir, que apesar das diferentes concepções infâncias, as crianças indígenas experienciam desde sempre a educação difusa, para vida e por meio dela, pela tradição oral e de forma integral (ARANHA, 2006), e se dá nos grupos étnicos indígenas nômades e sedentarizados, nas suas atividades diárias de caça, pesca, pastoreio e agricultura. Segundo Aranha (2006, p.35), numa cultura indígena os “[...] adultos demonstram muita paciência com os enganos infantis e respeitam seu ritmo próprio. [...] a criança toma conhecimento dos mitos [...], desenvolve aguda percepção [...] e aperfeiçoa suas habilidades.

No entanto, mesmo diante das contradições e elucidações que as pesquisas sobre a infância ou “as infâncias” possam apontar, “[...] ainda temos dificuldades de entender o feito particular da criança, pois sabemos que a sua história é construída pelo adulto: seus valores, suas aprendizagens e experiências estabelecem-se a partir dessas relações. (ROCHA, 2002, p. 60).

No decorrer da história, a educação formal das crianças passou por diversas fases, nas quais o modelo de ensino seguia os padrões de cada época, sendo cada fase abrangido por diversas práticas de ensino. Em certos períodos da história, as práticas educacionais eram rígidas e de certo modo violentas, em função da sociedade considerar a criança uma miniatura do adulto. Com o passar do tempo e a evolução dos conhecimentos e conceito em relação a pedagogia e psicologia infantil, essa situação foi mudando, agora a criança é vista como um sujeito em desenvolvimento, em um universo singular, com necessidades e realidades distintas (QUEIROZ, 2017).

Ainda nesse contexto, Queiroz (2017) ressalta que atualmente existe uma padronização das diretrizes educacionais a serem seguidas no Brasil, entretanto elas não conseguem eliminar as peculiaridades e singularidades culturais de cada região. Nesse contexto, as práticas educacionais não são de todo homogênea, variando de um ambiente para outro. Nesse sentido, a educação atual é fortemente voltada para o lúdico, asando práticas pedagógicas mais flexíveis, levando em consideração a particularidade infantil, além de promover o crescimento e possibilitar que a criança expresse suas vivências e conhecimento, de modo a formar sua própria visão de mundo. 

Segundo Rau (2013), a ludicidade é uma área que na educação trata de jogos, brinquedos e brincadeiras, com isso ela estimula os profissionais dessa área a melhorarem suas práticas educacionais, contribuindo de modo significativo para o desenvolvimento da criança.

Práticas mediadas pelo lúdico transformam o caráter da ação humana, porque minimiza a consciência das implicações para as crianças, e porque é motivada por uma gama de emoções mais comuns que geram prazer, “[...] o jogo atua sobre emoções [...] que aparecem ao longo do desenvolvimento, cumprindo com a função de satisfazer algumas, bem como modificar ou criar outras.” (PIMENTEL, 2008, p.125).

No Brasil, em função do processo de urbanização e industrialização, no final da década de 20 e início da década de 30, as mulheres passaram a trabalhar fora de casa, com isso tiveram a necessidade de um local para deixar seus filhos durante o horário de expediente. Desse modo, no final do século XIX surgia as creches no Brasil, as quais visavam basicamente cuidar da criança. Nesse contexto, a Educação Infantil surgiu com o intuito de somente prestar assistência à saúde e preservação da vida, não tendo caráter educativo. Já na década de 80, cresceu exponencialmente o número de mulheres que trabalham fora, desse modo aumentou a demanda por creches. (ASSIS, 2016).

Nesse contexto, foram criadas legislações que “regulamentassem” e assegurassem a educação infantil as crianças de 0 a 6 anos de idade. Conforme discorre Assis (2016), a Constituição Federal de 1988, o Estatuto da Criança e do Adolescente de 1990, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1996 e atualizações posteriores, que determinaram como sendo obrigatória a primeira etapa da educação básica.

Estudiosos como Vygotsky, Piaget e Wallon, apontam que no desenvolvimento físico, moral e social da criança, é importante salientar que elas são influenciadas pelo meio em que estão inseridas, e isso contribui para a formação integral da criança Maluf (2003).

Nesse contexto, a educação infantil tem por objetivo, prover para a criança um ambiente em que ela possa desenvolver suas habilidades, minimizando assim as diferenças e possibilitando a aprendizagem de todos os envolvidos. No âmbito escolar, é indispensável trabalhar com atividades lúdicas.

Nos dizeres de Vygotsky (1998), o lúdico atua como libertador das amarras da realidade em que a criança está inserida. Ao brincar, a criança socializa e interagem com o meio em que está inserida, a criança aprende com mais facilidade quando é estimulada e o uso de atividades lúdicas promove esse estímulo, os quais não são favorecidos por atividades escolares tradicionais.  (KISHIMOTO, 2002).

Segundo Morais (2017), quanto maior a diversidade e oportunidade de atividades lúdicas a criança puder vivenciar, maior a qualidade do seu desenvolvimento social.

Estudiosos como Vygotsky (1991), Kishimoto (2003) e Azevedo (2008), ressaltam sobre a importância do brincar, com ênfase no lúdico, sendo este um instrumento que facilita o processo de aprendizagem e desenvolvimento da criança. A brincadeira é vista como a peça principal para o desenvolvimento da criança, pois permite uma relação de significados e valores, uma vez que ao brincar elas imitam os adultos e suas regras, como também sentem no mundo real (ALMEIDA, 2017).

De acordo com Altman (2007), nos momentos de brincadeiras lúdicas, a criança aprende a conviver com a perda e a vitória, questiona regras e determinada por elas, incorpora as regras do jogo, modifica-as. Nesse contexto o jogo tem por objetivo proporcionar diversão a criança e complementar o conhecimento adquirido pela criança. 

O lúdico contribui fortemente para os processos de ensino e aprendizagem da criança, trazendo implicações social, afetiva e cognitiva. Uma vez que o desempenho dessas atividades lúdicas promove o interesse e envolvimento, além de possibilitar a ampliação dos conhecimentos orais, escritos e gestuais, além de melhorar a percepção de espaço e instiga a criança a socializar. (MARQUES, 2016).

Nesse contexto, o papel do professor torna-se de suma importância. No âmbito escolar, as atividades lúdicas devem ser planejadas e executadas de modo a suprir as necessidades de cada criança, respeitando cada fase de desenvolvimento e contribuindo para a construção da autonomia desse individuo em formação. (MIRANDA, 2010). De acordo com Cunha (1994), ao aplicar o lúdico no contexto escolar, não somente há a contribuição para a aprendizagem da criança, mas também possibilita que o educador torne suas aulas mais interessantes e dinâmicas, para isso tal profissional deve possibilitar que a criança se envolva na atividade, respeitando e nitrindo o interesse dessa criança.

Há diversas formas de introduzir a ludicidade nas atividades educacionais, no entanto é de suma importância que ela possibilite a socialização e autonomia das crianças, a curiosidade e a investigação, a escolha. (CORSINO, 2006).

A inserção do jogo e de atividades lúdicas nos processos pedagógicos podem implicar beneficamente em outras dimensões da formação da criança, como sejam: o trabalho com a ansiedade, apreensão de regras e reflexão do limites, mais autonomia e seguranças nas decisões e atividades, aprimoramento da coordenação motora; desenvolvimento da noção e organização espacial e da discriminação auditiva; melhora do controle segmentar; aumento da atenção e a concentração; desenvolvimento da antecipação e estratégia; ampliação do raciocínio lógico; desenvolver a criatividade entre outros.

Nos dizeres de Kishimoto (2003), o brincar e o jogar são atividades praticadas pelas pessoas desde os primórdios da humanidade. Diante da necessidade de estimular a aprendizagem, foi possível para os estudiosos observarem como as crianças se comportam diante das brincadeiras. Com isso foi possível verificar que as atividades lúdicas agem como estimulo no processo de aprendizagem. Desse modo, essas atividades devem ter destaque na educação infantil, com isso há a necessidade de o educador escolha materiais lúdicos adequados e de acordo com a idade e necessidades de cada aluno. 

A atividade lúdica associada aos processos de ensino, ajuda a criança a desenvolver sua capacidade criativa, auxilia na autorrealização, na interação com o meio em que está inserido, sendo a prática de brincadeiras um dos mais eficientes instrumentos que possibilitam a interação do interior da criança com o mundo exterior. (LUCKESI, 1994).

Segundo Medeiros (2017), utilizar a ludicidade como uma estratégia pedagógica prioriza e estimula a liberdade de expressão e criatividade da criança. Com a ludicidade, a criança aprende de modo menos agressivo, de forma mais prazerosa e tranquila, o que possibilita o alcance de um desempenho maior. 

 

Considerações Finais

 

Por meio da revisão bibliográfica realizada foi possível perceber que o lúdico é uma importante ferramenta no processo de aprendizagem da criança, uma vez que se pode trabalhar de modo individual ou em grupo, permitindo a sua interação com o meio em que está inserida. 

Atividades lúdicas estimulam a socialização e fortalece suas relações, além de permitir que o aprendizado ocorra de maneira mais efetiva e prazerosa, de forma a estimular o interesse da criança. Nos dizeres de Vygotsky (1989), a origem e o motor da aprendizagem e do desenvolvimento intelectual da criança é a interação social, situação essa promovida pela ludicidade. 

Pode-se considerar que o lúdico é um importante instrumento a ser utilizado na educação da criança, principalmente no que se refere a alfabetização, uma vez que é uma fase de formação de conceitos.

Portanto, percebe-se a importância do lúdico no processo de ensino e aprendizagem, uma vez que o mesmo facilita a aprendizagem e desenvolvimento da criança, nos mais diversos aspectos, tais como: físico, social, cultural, afetivo e cognitivo, sendo assim uma ferramenta de suma importância na educação infantil. Por fim, verifica-se a necessidade de realização de mais estudos acerca da temática, bem como a divulgação dos mesmos.

 

REFERÊNCIAS

 

ALMEIDA, I. R. O papel da ludicidade na educação infantil na perspectiva de professora de uma escola pública do interior do estado de Mato Grosso. Revista Eletrônica da Faculdade de Direito de Alta Floresta – MT. v.6, n.2 (2017).

 

ALTMAN, R. Z. Brincando na história. São Paulo: Contexto, 2007.

 

ANDRADE, Lucimary Bernabé Pedrosa de. Educação infantil: discurso, legislação e práticas institucionais. São Paulo: Cultura Acadêmica, 2010. pp. 18-68. 

 

ARANHA, M. L. A importância da ludicidade e da psicomotricidade para a educação infantil. 2016. 33f. Monografia (Licenciatura em Pedagogia) Centro de Educação da Universidade Federal da Paraíba. João Pessoa – PB.

 

ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. História da educação e da pedagogia: geral e Brasil. – 3. ed. – rev e  ampl. – São Paulo: Moderna, 2006.

 

ARIÈS,Philippe. História social da criança e da família. Rio de Janeiro, LTC, 1981

 

ASSIS, C. A. Ludicidade na educação infantil. 2016. 24f. Artigo científico (Licenciatura em Pedagogia) Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Nova Cruz – RN.

 

CORSINO, P. As crianças de seis anos e as áreas do conhecimento. In: Brasil, Ministério da Educação. Ensino Fundamental de nove anos: orientações para a inclusão da criança de seis anos de idade. Secretaria de Educação Básica. Departamento de Educação Infantil e Ensino Fundamental. Brasília: FNDE: Estação Gráfica. 2006.

 

CUNHA, N. H. Brinquedoteca: um mergulho no brincar. São Paulo: Matese. 1994

 

KISHIMOTO, T. M. Jogo, brinquedo, brincadeira e a educação. 7º Ed. São Paulo: Cortez, 2003.

 

KUHLMANN, JR.M. Infância e educação infantil: uma abordagem histórica. Porto Alegre: Mediação, 1998.

 

MALUF, A. C. M. Brincar: prazer e aprendizado. Petrópolis, Rj: Vozes, 2003.

 

MARQUES, J. V. L. Contribuições das atividades lúdicas para o ensino e aprendizagem na educação infantil. 2016. 23f. Artigo científico (Licenciatura em Pedagogia) Centro de Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Natal – RN.

 

MEDEIROS, J. M. L. Aprender brincando através da ludicidade na educação infantil. 2017. 33f. Artigo científico (Licenciatura em Pedagogia) Centro de Educação, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Macau – RN. 

 

MIRANDA, A. C. B. Alfabetização ecológica e formação de conceitos na educação infantil por meio de atividades lúdicas. Investigações em Ensino de Ciências – V15(1), pp. 181-200, 2010.

 

MORAES, M. A. J. Ludicidade na educação infantil: Contribuindo para a construção da aprendizagem. 2017. 30f. Monografia (Graduação em Pedagogia) Faculdade Anhanguera Educacional. Pirassununga – SP.

 

PIMENTEL, Alessandra. A ludicidade na educação infantil: uma abordagem histórico-cultural. Psicol. educ.,  São Paulo ,  n. 26, p. 109-133, jun.  2008 .   Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-69752008000100007&lng=pt&nrm=iso>. acessos em  03  nov.  2019.

 

QUEIROZ, E. F. M. Ludicidade na educação infantil: uma experiência na zona urbana e rural do município de São Fernando/RN. 2017. 82f. Monografia (Licenciatura em Pedagogia) Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Caicó – RN. 

RAU, M. C. T. D. A ludicidade na educação: uma atitude pedagógica. 2º Ed. Curitiba - PR Editora IBPEX, 2013. 

 

SANTOS, S. M. Brinquedoteca: o lúdico em diferentes contextos. 14º Ed. Petrópolis: Vozes, 2011.

 

VYGOTSKY, L. S. A Formação Social da Mente. 6º ed. São Paulo – SP. Martins Fontes Editora LTDA, 1998.